quinta-feira, 27 de maio de 2010

Imagens do dia! E a imprensa do faraó.


Façam um bom uso deste balde de lixo

Agora que a greve acabou, o jornal do faraó fala todo dia da gente. Ontem anunciou na capa, com letras garrafais: A C A B O U. Hoje, falou sobre a reposição das aulas, que será, segundo o jornal, aos sábados. Na matéria da página interna o título é "Reposição sacrifica alunos". Estou comovido com a preocupação deste e de outros jornais, revistas, rádios e TVs com a Educação pública em Minas e no Brasil.

Geralmente abrem espaços para "especialistas" botarem a culpa de todos os problemas da educação e do mundo pra cima dos professores. Gente que nunca pisou numa sala de aula da periferia dos grandes centros urbanos arrota lições de como deve ou não deve ser uma "boa" aula. Ninguém merece, né gente?

E ainda tem alguns caras de pau que dizem: a qualidade do ensino não tem nada a ver com o salário. Eu ouvi isso de um "professor" (com todas as aspas) em palestra a serviço de uma dita conceituada empresa de consultoria, que presta serviço para as redes municipais de ensino. Claro que ele não cobra salário de professor. Lógico que não ouvi aquilo calado. E contestei. Daí pra frente ele mudou um pouco o discurso, pelo menos naquele local (em Vespasiano, há uns cinco ou seis anos).

Um outro especialista, cujo nome nem me lembro, veio direto de São Paulo para falar do "modelo" de bom profissional. Falou por mais de uma hora, não abriu espaço para qualquer pergunta - e olha que falou sobre a importância do professor saber ouvir os alunos, coisa que, ao que parece, ele não aprendeu a praticar - e nem tocou no assunto salário.

Vejo às vezes as comissões do Senado, da Câmara, das assembléias legislativas, quando falam na Educação, repetem sempre a mesma ladainha, que é importante pagar um salário melhor para os professores e blablablá. Os radialistas repetem: que absurdo, que se pense pelo menos para o futuro... sempre o futuro...

Acho que deveríamos fazer o seguinte pacto: como os nossos salários estão colocados para o futuro, vamos também colocar as nossas aulas para o futuro. Eles nos pagam a mixaria atual a título de subsídio a fundo perdido, nós arranjamos algum outro bico para sobreviver e quando resolverem nos pagar um salário digno nós passaremos a lecionar.

Esta é a única profissão que nem Marx estudou. Karl Marx estudou a compra da força de trabalho dos operários pelos patrões, revelando a fonte de riqueza e exploração do capital sobre o trabalho. Mas, o caso do professor é sui generis. O serviço é prestado sem a contrapartida necessária para a sobrevivência, que, de acordo com os governantes, será pago no futuro. Logo, a relação trabalho agora X um salário melhor no futuro é coisa que só as Minas do Faraó Neves e o Brasil de Serra, Dilma e Lula conhecem.

Deveriam pelo menos transformar o nosso salário futuro, aquele que prometem pagar algum dia, em dívida pública do estado. Assim, pelo menos receberíamos parte dos bilhões de juros que pagam aos banqueiros, empreiteiras, grandes empresários, etc.

Mas, como mudei de assunto, pois falava sobre o jornal do faraó, que agora descobriu a rede estadual de Minas, volto dizendo que: senhores jornalistas, se não for para destacar as condições de salário e de trabalho dos educadores de Minas e do Brasil, favor não mencionarem o nosso nome em vão. Não somos Deus, longe disso, mas também não queremos ser lembrados por quem não tem autoridade moral para falar da nosa realidade, geralmente contra os educadores. Quem sabe os editores deste e de outros veículos não se habilitam a lecionar no nosso lugar?

12 comentários:

  1. Olá Euler parabéns!

    Estou sempre acompanhando o que vc escreve no blog. É muito emocionante.
    Você tem o dom da escrita e deveria, acho eu, escrever um livro contando todos os desmandos desse governo em cima da nossa greve. Será um registro inestimável e histórico.

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  2. Euler,

    Eu ouvi na CBN, hoje, que o Aécio irá com o AnastaZISTA (rsrsrsrs...) às cidades do interior de Minas para ver se consegue avalancar e melhorar o índice de aceitação do mesmo para as eleições.
    Acho que é uma ótima oportunidade para que voltemos à ativa mostrando aos eleitores quem realmente é este sujeito que nos faz de palhacos
    há anos e anos.

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  3. Olá Euler , foi com muita dor no corãção q ontem retornei à sala de aula. Ontem , pois a minha escola nem esperou para nos reunirmos antes.Foi logo avisando aos alunos q já haveria aula.Mas, fiquei emocionada também ao perceber q muitos entenderam a nossa luta e estão do nosso lado.Mesmo com uma imprensa suja e comprada , não teve como esconder , maquiar, a realidade do salário em Minas.Todos reconhecem q nosso salário é absurdamente baixo.Espero verdadeiramente q continuemos assim ,unidos e q o sindicato não se manifeste somente em ano eleitoral.Na situação em q estamos , precisamos parar , pressionar TODOS OS ANOS,para que não piore o que já etá muito ruim.Talvez se já estivéssemos unidos dessa forma,parando, protestando há mais tempo não estaríamos na situação calamityosa que vivemos atualmente.
    abraços,

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  4. Apoiado Professor Euler. Eu também já ouvi, ou melhor, já li, uma opinião no blog Cremilda dentro da escola, a me dizer que melhoria salarial para os professores, não garante a qualidade de ensino. Eu discordo e apresento argumentos, chegamos a começar uma discussão dentro do melhor nível, eu opondo meus argumentos, mas de repente os outros comentaristas deixaram de comentar e a discussão morreu. Eu mostrei que uma carga horária menor e um salário maior, com dedicação exclusiva, melhoraria a qualidades das aulas.

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  5. Prezada Professora Elaine

    Nenhuma das duas alternativas postas em votação na assembleia de 25 de maio nos servia inteiramente. A proposta de suspensão da greve nos coloca à mercê de uma comissão, e da boa vontade dos deputados em votar em tempo hábil o projeto a ser elaborado pela comissão. Por outro, se continuássemos, haveria o risco de as negociações serem encerradas pelo governo, talvez definitivamente. Veríamos outros ocupando nossas cátedras, sem contar que poderíamos ser obrigados a voltar por algum juiz de 1ª instância (devidamente provocado pelo Ministério Público). Aí sim, seria pior, pois todos saberiam que voltamos para não ser presos. Mas é claro que a luta vai continuar. Vamos acompanhar as reuniões da comissão, e a votação da Assembleia. E é claro, aconselho a companheira [se me permite assim chamá-la]a ler outros comentários de minha autoria, [na postagem A luta continua]e vermos que temos de acompanhar a votação da lei orçamentária pela Assembleia. Pois é dela que iremos saber se vamos ter o piso em 2011 ou não. Se acompanhamos a tramitação de toda a lei, podemos influir na reserva de uma boa quantia para que se nos pague o vencimento básico de 1312,00.
    Força, Professora Elaine. Não podemos nos deixar vencer pelo desalento.

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  6. Euler,

    Os seus posts despensam comentários.São sempre

    ótimos.

    Só para constar, eu fui com a minha filha de 9

    anos na Bienal do Livro.Rapaz... que vergonha!

    Eu tinha comigo R$60,00 (esperava voltar com

    boa parte do dinheiro). Com este valor eu tive

    que pagar as passagens (02 de R$2,30; 04 de

    R$1,80 e 02 de R$1,65), paguei R$ 15,00 para

    entrar.Você está fazendo a conta? Nem vi a cara

    dos livros e já gastei R$15,00 (Um pouco de

    exagero, nada. Pois tenho que deixar reservado

    o retorno. Portanto, eu tinha R$ 49,00 para

    investir no conhecimento da minha filha.

    Que ginástica.Andei para encontrar algo que eu

    pudesse comprar. Que não fosse aqueles livros

    infantis (crianças de 0 a 6 anos). Não

    encontrei nada interessante. Então resolvi

    comprar um dicionário (que estava com o preço

    ótimo) R$19,00, e um outro que que custou

    R$39,00 sobre o corpo humano (muito bom). Tá

    fazendo a conta? Chego numa banca resolvo

    comprar um livro para mim (eu já tinha até lido

    o livro "xerografado").

    Só sei que gastei o que eu tinha. E joguei

    R$52,00 para o "F U T U R O".

    Será que a operadora vai aceitar? Já que no

    vencimento não terei o meu minguado salário?

    Abraço a todos.

    Se for para perseguir o Faraó é só chamar.

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  7. Euler parabéns pelo ótimo artigo. Realmente, a realidade dos profissionais do magistério é sempre despachada para o futuro, já estou ficando com complexada, me sentido protagonista do Juízo Final. Sobre essa indefinição a tudo que nos diz respeito foi tema do meu artigo “Nem anjo nem sacerdote: apenas seres de carne e osso ...” postado em meu
    blog – S.O.S. Educação Pública http://soseducaopblica.blogspot.com .
    Só somos notados no presente quando servimos de bode expiatório para justificar as deficiências produzidas pela incompetência das autoridades responsáveis pela educação.

    Gostaria de parabenizar a todos os colegas professores e professoras de Minas Gerais, pelo exemplo de dignidade, cidadania e responsabilidade para com a Educação , pois é esse o significado da greve que a mídia cativa insiste em negar.

    Abraços,

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  8. Oi Euler,sou aluna de Cristina sei que os professores são pouco valorizados,estou do lado dos professores,os governates desse estado não se importão com os alunos,muito menos com professores.Para fazer propagandas mostrando o suposto avanço de minas e para construir o centro adiministrativo eles tem dinheiro,mas para pagar um salario justo aos professores que tanto tempo dedicam a arte de educar,eles falam que não tem.Ficam dando varias desculpas e tentando jogar os professores contra o sindicato e tambem a população contra os professores.
    Abraços

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  9. Olá, pessoal! Desculpem estar respondendo assim no coletivo, mas é que estou com grande número de e-mails para ler e agora, com o retorno às aulas, o nosso tempo ficou menor. Mas, quero agradecer a todos que nos honram com sua visita a este blog e o enriquecem muito com os comentários. Eu leio e saboreio cada palavra que vocês escrevem. Vocês são a minha fonte de inspiração.

    Um forte abraços,

    Euler

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  10. Ah, voltei para cumprimentar a Shayane, aluna da professora Cristina (que privilégio, heim!). Que bom saber que alunas e alunos conscientes como vc, Shayane, estão do nosso lado e têm uma visão tão avançada sobre o que se passa em Minas Gerais. E é por vocês, também, que nós realizamos a nossa luta: por uma educaçã de qualidade para todos, coisa que o Governo de Minas parece não querer.

    Um abraço e obrigado pela visita!

    Euler

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  11. Euler,
    Eu leio e saboreio cada palavra que você escrevekk
    Isso mesmo, usei suas palavras. Agora não tem mais jeito...todos os dias venho aqui. Força do hábito...que quero e faço questão de manter. Assim ficaremos incentivando-nos a continuar na luta. O que conquistamos foi exatamente isso:o desejo em continuar na luta. O recuo, a divisão de opinião quanto a ele...nos entristeceu. Mas não deve nos paralisar. ACREDITO EM NÓS MESMOS e NA CAPACIDADE QUE TEMOS DE NOS MANTER DE PÉ E EM ALERTA. a IDÉIA DO LIVRO É POSITIVA. Registre pois vale à pena!!
    Se for pra perseguir nosso alvo...a nossa valorização. Estamos, agora, DE PÉ e ATENTOS!

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  12. Quando vi na capa daquele jornal a palavra "ACABOU" e todo tamanho, tive lá minhas dúvidas se estavam se referindo a greve ou a nós, professores. Pois foi assim que me senti naquela noite onde tive que ver pessoas que foram convencidas por nós a participar do movimento, pois não acreditavam nele, levantar a mão apoiando o fim da greve.É uma traição, pessosas que só passaram a ir nas manifestações no finalzinho da greve, quando foram convencidas que haveria resultado foram as primeiras a se manifestar a favor do fim do movimento.

    Aproveito para fazer um comentário em relação ao calendário de reposição: Naquele papelzinho cor de rosa (nunca gostei de rosa), que "Bia" nos entregou falava-se da autonomia das escolas para eleborar o calendário de reposição, e mal as aulas voltaram e o Vicente (diretor do Elias) está recebendo várias "instruções" a respeito. E a autonomia? E ainda tem quem acredite nesse papelzinho...tenho lá minhas dúvidas.

    Um abraço a todas as pessoas que passei a conhecer durante o belo período da greve e aqueles que passei a conhecer melhor.

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