terça-feira, 4 de maio de 2010

Somos nós que corremos o risco de não sobreviver, sr. desembargador!

Um e-mail que acabo de receber (Igor/Eurides/Erica Rangel) chama a atenção para o absurdo cometido pelo desembargador que declarou a nossa greve ilegal. Prestem atenção neste trecho da nota divulgada pelo serviço de comunicação do TJMG (clique aqui para ler a nota na íntegra):

"O desembargador observou que o artigo 11 da Lei 7.7783/1989 [na verdade a lei é 7.783] prevê que, nos serviços essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação de serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da sociedade. Como há informações no processo de que a paralisação supera 45% das escolas, o magistrado entendeu que a continuidade do serviço de educação está afetada."

Agora vejam o que diz o artigo 11 da referida lei:

Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população."

kkkkkkk, não consigo parar de rir, desculpem, mas desde quando a greve dos educadores coloca em "perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população."?

Eu disse: só pode ser piada! Certos juízes estão mesmo precisando voltar pra sala de aula. Se tivessem estudado nas escolas onde nós lecionamos, mesmo ganhando a mixaria que ganhamos, jamais fariam interpretações de texto dessa forma! Quem corre risco de sobrevivência, como ressaltou a Erica Rangel, somos nós educadores de Minas, com este salário miserável que recebemos.

Conheça a Lei de Greve

E mais. Consultando a Lei de Greve - 7.783 (clique aqui para conhecer o texto completo), observamos, no artigo 10, quais são as atividades tidas como essenciais. Reparem:


" Art. 10 - São considerados serviços ou atividades essenciais:

I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo;

XI compensação bancária.
"

Portanto, como eu havia desconfiado, em nenhum momento o legislador lembrou da Edcuação como alguma coisa próxima de algo essencial para a sociedade. Mas, o nosso desembargador descobriu que somos essenciais. Só que recebemos salár... ops, ajuda de custo de quem não tem qualquer importância.

Mas, por outro lado, acho até que Anastasia e Aécio arranjaram o argumento que precisavam para pagar o piso de R$ 1.312,00. Eles agora podem até ultrapassar a tal lei de responsabilidade fiscal com o argumento de que tiveram que pagar o piso para os educadores uma vez que o desembargador determinou que a educação, em Minas, é produto essencial.

Logo, pague o piso e nós voltamos ao trabalho. Do contrário, deixa-nos com a nossa não-essencialidade em paz, ou melhor, em greve, até que o governo queira realmente negociar. Querem o fim da greve? É simples: cumpram a lei e paguem o nosso piso!

7 comentários:

  1. É isto aí: "CUMPRAM A LEI E PAGUEM O NOSSSO PISO"

    Esta é nossa principal reevindicação no momento!!!

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  2. Muito bom Euler. Vamos continuar a nossa luta!
    De acordo com o desembargador a GREVE prejudica a qualidade da educação, e o salário de fome? Concordo com você,esse desembargador está precisando voltar para a escola.

    NÃO PODEMOS SAIR DESSE MOVIMENTO SEM ATINGIR NOSSO OBJETIVO: PISO SALARIAL JÁ!!!!

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  3. A luta dos professores do Estado de Minas Gerais é justa.
    Quanto tempo que não ocorre um aumento salarial
    Pelas mãos dos profissionais da educação passam todos,médicos,dentista,advogados,juízes,promot ores,etc.Este profissional merece respeito do Estado.

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  4. Companheiros, recuar jamais. A luta continua.
    Cambuí-MG

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  5. alex silva nogueira21 de maio de 2010 às 11:19

    Não vai ser um desembargador que ganha 30 mil por mês, trabalha em uma sala confortavel e tem a sua disposição todo um aparato de mordomias que vai colocar fim a nossa luta!!!

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  6. Carta às professoras das séries iniciais
    Sou professora alfabetizadora e gosto do que faço há exatamente 29 anos. Me orgulho de ser mediadora no processo de alfabetização de uma criança. Ainda me fascina ver meus alunos escrever, ler e interpretar.
    Como alfabetizadora, conheço as capacidades que devem ser desenvolvidas indissociavelmente nos processos de alfabetização e letramento.Mas pra mim, alfabetizar é muito pouco. É preciso ir além. É preciso letrar, informar e estar a todo momento preocupada com a formação cidadã da criança. Fazer parte dessa formação é algo indescritível. Afinal temos o “poder” em nossas mãos.
    Não menosprezando os outros profissionais da educação, nós alfabetizadoras, somos as privilegiadas neste sentido. Convivemos mais tempo com os alunos. Conhecemos suas famílias e acompanhamos diariamente suas dificuldades, avanços e retrocessos no processo da alfabetização. E o melhor de tudo: Somos quase sempre, as primeiras formadoras de opiniões na vida dos nossos alunos.
    Você já pensou que somos a base da educação? Somos as primeiras a mostrar um caminho o qual não tem fim, pois o conhecimento é infinito?
    Você tem noção do quanto você é importante no processo de formação do aluno? Acredito que não!!!
    O porquê de tantas indagações?
    Sempre participei dos movimentos de greve e nunca entendi a posição da maioria das professoras das séries iniciais. São sempre as mesmas desculpas, as mesmas queixas, o mesmo lamento.
    Você queixa sempre do salário, da ausência da família dos alunos, do descaso do governo, das condições de trabalho, da falta de segurança, da falta de apoio pedagógico, da falta de limite do aluno, das avaliações externas ... Enfim, queixa de tudo, mas no momento em que deveria participar, mostrar o quanto está insatisfeita, se esconde, se esquiva.
    Você tem medo de que? De quem?
    O que faz você lutar contra a sua categoria, indo para uma sala de aula, enquanto seus companheiros e companheiras estão na rua lutando por algo que você também vai usufruir?
    Enquanto educadora e mulher, que exemplo de luta, dignidade e cidadania você está transmitindo aos seus alunos com seus atos e atitudes?
    Como você ensina seus alunos a lutarem por seus direitos?
    Ao agir desta forma, você está exemplificando para todos que não precisa lutar. Há alguém mais forte que pode lutar por você.
    Alicia Fernández, em seu livro, “A mulher escondida na professora”
    diz que: “ Se as professoras escutassem seus próprios protestos , ou inclusive simplesmente suas perguntas, isso bastaria para provocar um estalo na armadura do sistema educativo”
    Quando abro o meu contra cheque, o valor não é o que eu mereço ou gostaria de ganhar, mas sei que o mínimo daquela remuneração teve uma parcela da minha luta. Eu não fui covarde, eu não me escondi.
    Fico triste e amargurada quando escuto de outros profissionais da educação que a professora das séries iniciais “tem a mente fechada”.
    O que me consola é que toda regra tem exceção.
    Não sou melhor, nem pior. Citando Paulo freire:” Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que em comunhão, buscam saber mais.”
    Edineia Lopes, professora alfabetizadora da rede estadual.

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  7. Edinéia, a melhor aula que um professor pode dar é a de Cidadania. Embora enfrentemos toda essa adversidade fica a certeza que não diremos aos nossos alunos que eles devem esperar que os outros façam por eles. Também fica a lição que nossas limitações são superadas pela união. Jamais construiremos um mundo melhor se não houver luta. Sempre nos encontramos por aí e continuaremos a nos encontrar, na LUTA!


    "Há pessoas que lutam um dia, e são boas
    Há outras que lutam um ano e são melhores
    Há aquelas que lutam muitos anos, e são muito boas
    Mas há aquelas que lutam toda a vida, e essas são as imprescindíveis"

    Parabéns a companheira Edinéia e ao companheiro Euler pelo blog que se tornou referência para os educadores.

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