Na calada da noite, governo preparava demissões. Outra ilegalidade?

O governo Aécio-Anastasia ao que parece não tem limites para aplicar o receituário do neoliberalismo, de cunho autoritário e escravocrata.

Ontem ficamos sabendo de mais um capítulo deste viez golpista e autoritário deste governo. Na calada da noite o governo engendrava mais um pacote de terror, o da demissão de designados em greve. Isso em plena greve, com uma liminar da Justiça proibindo qualquer forma de demissão, e em pleno ano eleitoral, o que seguramente traria sérias repercussões políticas.

Quem primeiro informou sobre a existência de demissões foi o porta-voz oficioso do governo Aécio-Anastasia, o jornal Estado de Minas, que, dando cobertura à visita do presidente daquela entidade dita dos pais de alunos - e que só aparece nas greves, contra os trabalhadores - destacou que o senhor Filocre mostrou ao presidente da infeliz entidade um conjunto de demissões.

Se for verídica a informação do jornal, publicado anteontem, dia 11, o sind-UTE precisa tomar sérias providências jurídicas. Primeiro porque o governo estaria prestes a cometer um ato ilegal, já que existe uma liminar proibindo qualquer demissão dos grevistas.

Ou será que a antecipação de tutela do desembargador pró-Aécio-Anastasia, que decretou a ilegalidade da nossa greve - por ser a educação, na interpretação dele, como legislador e como jurista a um só tempo, um setor "essencial" - um fator que anula automaticamente a decisão de outro desembargador - este sim, isento e fiel à lei?

Além disso, não nos pareceu uma atitude ética e até mesmo legal um subsecretário da educação exibir para um dirigente da entidade anti-greve os documentos de demissões que atingem trabalhadores. O que ele quis provar com isso? Que com aquelas medidas os trabalhadores em greve se intimidariam e voltariam a trabalhar?

Minas Gerais está vivendo um momento de crise moral, em que as instituições e os órgãos da imprensa estão comprometidas com práticas altamente lesivas às conquistas da cidadania. Praticamente se aboliu em Minas o direito de greve, consagrado na Cosntituição Federal.

Não demorará muito e vão proibir atos públicos e passeatas, abolindo de vez outro mandamento constitucional, que é o direito das pessoas se reunirem livre e pacificamente em praça pública.

O direito à livre expressão do pensamento já há muito ficou restrito aos espaços como este, da Internet, já que a grande mídia, monopolizada por poucas famílias, controla, ao sabor dos interesses de governantes e grandes grupos econômicos, o que deve e o que não deve ser dito.

A greve dos educadores de Minas acabou desnudando mais este traço da realidade mineira na atualidade: liberdade é palavra oca, quando as pessoas não têm direito à greve, à opinião e à reunião pública.

Ao invés de chamar os trabalhadores para dialogar, apresentando uma proposta concreta de melhoria salarial e criando um clima positivo de retorno ao trabalho, o governo prefere manter a truculência de quem não negocia, não faz concessões e mantém a postura de senhor de engenho em relação aos escravos.

O que eles querem provar com isso? Que são durões? Com quem? Ahhhh, entendi, são durões com os educadores - aliás uma categoria que tem 70% de mulheres-, porque com a polícia eles viram gatinhos. Por que será? Por que eles andam armados? Ou será que eles esperam que a polícia cumpra o papel de capitão-do-mato a perseguir e torturar os escravos revoltosos? É bom que eles não se esqueçam que todas as grandes rebeliões tiveram adesões inclusive nas fileiras militares.

Mas, o gesto de querer o retorno ao trabalho com a faca da demissão e do corte de salário no pescoço dos grevistas não engrandece este governo. Aécio e Anastasia saem diminuídos desse episódio, pois espera-se de governantes gestos de grandeza, de concessão, de sensibilidade política e não a truculência própria de regimes autoritários.

Não sei qual será a decisão da assembléia de terça-feira, que eu já disse, acatarei, seja qual for, mas o clima criado pelo governo é ruim e acaba incentivando a continuação da greve ou o retorno dos trabalhadores num abiente de frustração.

Mas, ao que parece o governo não está preocupado com isso. O esquema Aécio-Anastasia acredita piamente que a blindagem da mídia amordaçada e vendida, somada ao suporte da justiça (que justiça!) é o suficiente para manipular a opinião pública e garantir altos índices de popularidade.

Contudo, a história tem demonstrado que as realidades nem sempre ou quase nunca podem ser controladas matematicamente dessa forma. A complexidade humana escapa a estes esquemas pré-montados e talvez os agentes deste governo só aprendam essa lição quando já for tarde demais.

Por enquanto, ainda há tempo para melhorar as relações com os educadores, apresentando propostas concretas de aumento salarial e desfazendo esse clima de terror criado pelo governo. Pois, quando pensamos que a ditadura militar acabou e que as nossas lutas de rua nas últimas décadas não foram em vão, aparecem personagens que publicamente se apresentam como democratas, mas na calada da noite preparam os mesmos expedientes do autoritarismo.

Resistimos no passado e vamos resistir agora!