sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mais um lamento de uma educadora

Publico a seguir mais uma das muitas cartas que tenho recebido de educadores de todo o estado de Minas. A carta que transcrevo é de autoria da colega Maria Divina, aqui de Vespasiano, que eu conheço pessoalmente e que para sobreviver está produzindo e vendendo bombons, já que o salário de professor não dá para garantir as despesas da casa dela. Nem da minha e de nenhum outro educador de Minas. Por isso a nossa luta. Eis a carta:

"PRECISAMOS, QUEREMOS E MERECEMOS UMA ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE

Estamos em greve há exatamente um mês, e até o momento as manifestações do governo tem sido repressoras e ditatoriais. Nossas condições de trabalho são desumanas, nossa profissão atualmente é de risco, e não recebemos salubridade, sem falar do salário vergonhoso, indigno e insuficiente para nossa sobrevivência.

A Situação está insustentável, somos desrespeitados há todo momento, por alunos, pais e principalmente por essa política, se é que se pode chamar de política essa politicagem, que não investe na educação e nem um outro setor, e nós temos que suportar calados, se vamos para as ruas reivindicar nossos direitos, somos tratados como bandidos, vagabundos que reclamam sem motivo parece até que nossos governantes não sabem o valor, nem mesmo a abrangência da palavra educação e respeito.

Educar não é tão somente transmitir conteúdo, é principalmente investir no ser humano como um todo. Nos deparamos ha todo momento com pais desequilibrados emocionalmente, crianças e adolescentes da mesma forma, e em questão de tempo, nós professores ficamos do mesmo jeito. Essa greve retrata exatamente isso, pelo que tenho percebido, eu e meus colegas estamos saturados, amamos nossa profissão, estudamos tanto e não conseguimos sobreviver com dignidade do nosso trabalho. Estamos cansados de sermos bodes expiatórios, de ver a palavra educação ser utilizada em campanhas eleitorais, fundamentando promessas medíocres e mentirosas, que jamais serão cumpridas, uma afronta a nossa inteligência.

Absurdo mesmo é ver um governo como o de Minas entrar na justiça para não pagar aos professores o piso salarial nacional que ainda não é o justo, mas já se aproxima, e ao mesmo tempo este mesmo governo constrói em tempo recorde uma cidade administrativa, que pode até ter alguma utilidade, mas não vi e não vejo a real necessidade desta obra, é um absurdo, enquanto pagamos para trabalhar, isso mesmo pagamos pois eu recebo de auxílio transporte R$ 33,00 mensais, dinheiro insuficiente para uma semana de trabalho.

Nossa luta é duríssima e injusta, pois a imprensa só aparece, para dizer que atrapalhamos o trânsito, ou para dizer qualquer outra coisa que favoreça o governo, e reduz a pó nossa categoria. manifestação, nenhum representante do governo nos faz uma proposta descente, nossos Nossos representantes (deputados), na Legislativo como sempre com raríssimas exceções, parecem estar inerte com relação há nossa causa, só olham para o próprio umbigo, preparando seus discursos com intuito de serem reeleitos, ir para Câmara ou Senado Federal, por isso precisamos tanto do apoio popular, Rosseau já dizia “O PODER EMANA DO POVO”, vamos juntos fazer bom uso desse poder, tenho certeza que alcançaremos a vitória. Apesar de tudo amo minha profissão, tenho orgulho em ser professora, porém estou muito indignada com tanto descaso por parte das autoridades, que parecem não enxergar que estamos perdendo nossas crianças e adolescentes para o crime de maneira geral. (Tráfico, furto, prostituição........) porque não é oferecido a eles o direito de sonhar. Nossos políticos são exemplos que não devem ser seguidos e o pior, exemplo de impunidade. Como Trabalhar uma educação de valores éticos e morais, em um país onde vemos todos eles serem desrespeitados ha todo momento, por quem deveria ser os primeiros a respeita-los?. O Estado é super exigente com empresas particulares, mas não cumpre sua obrigação com o funcionalismo público e a população em geral. Vemos diariamente, pessoas morrendo nas filas dos postos de saúde, escolas sendo invadidas, professores ameaçados e até mesmo assassinados, e sempre aparece um representante dizendo que está tudo sob controle, só não sei que tipo de “controle” eles se referem.

Pais, estudantes, colegas precisamos nos unir, não só para seu filho ocupar uma carteira na escola, mas por uma educação de qualidade pois “UM REINO DIVIDIDO NÃO SUBSISTE”.

Não sou a primeira professora a expressar minha indignação, só espero sinceramente não ser a última.

Maria Divina
Professora Vespasiano – MG"

Um comentário:

  1. Eu afirmo o que diz a colega em relação ao Auxílio Transporte. Sempre recebemos valores que não cobrem nem uma semana de trabalho. Recebo valores variados de acordo com o mês de R$27,00, R$30,00, R$31,50 e por aí vai indo. Sabem quanto gasto por mês para trabalhar e inclusive para cobrir móduloII aos sábados(pelo qual não recebo pagamento e sou obrigada a estar presente ao trabalho)? Mais de R$130,00 por mês e isso utilizando um ônibus para ir e voltar, ou seja duas passagens por dia. É incrível,porque as empresas privadas são obrigadas e cobradas por lei a garantia do Vale Transporte integral por mês aos seus funcionários. Gostaria de saber por que o serviço público tudo pode em relação ao servidor e o servidor nada pode em seu direito por lei? Se dependermos do auxílio transporte, só poderemos trabalhar por uma semana ou menos.
    Parece piada gente, mas é verdade. Os contra-cheques podem provar tudo isso. Eliane

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