quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sem algum aumento salarial, não dá para voltar ao trabalho



Pessoal da luta, boa noite!

Todos nós dormimos a noite passada sonhando com alguma negociação entre o sindicato e o governo. Já estamos há 34 dias de greve. Uma greve histórica, marcada por momentos de grandes emoções. Muitas coisas foram feitas por milhares de trabalhadores em educação.

Em grande medida, podemos dizer que durante este período nós exercemos de fato uma aula pública de cidadania, interagindo com os pais e alunos e com toda a comunidade; questionando o papel da mídia, da justiça, do parlamento e cobrando do governo maior investimento na Educação.

O resultado da reunião ocorrida hoje, dia 12, entre o sindicato e o governo, mediada por deputados estaduais, não nos animou. O governo ofereceu a não demissão dos grevistas, a possibilidade de não cortar o ponto e a promessa de estudar alguma forma de incorporação de gratificações ao piso básico dos professores. Claro que não se pode dizer que não houve nehuma conquista. Mas, é pouco.

Faltou ao governo, que tem sido insensível com a Educação desde o primeiro mandato de Aécio-Anastasia, dar um passo a frente e oferecer uma proposta concreta em termos salariais. O governo dispõe de estudos das possibilidades existentes; sabe que este ano tem ocorrido crescimento na arrecadação e que uma proposta de aumento na nossa remuneração, ainda que não fosse integralmente aquela que reivindicamos, teria um significado muito importante, inclusive ou sobretudo para o governo.

Mas, o governo joga com a capacidade que pensa ter de mobilizar a comunidade contra os educadores, criar um clima de culpa pra cima dos trabalhadores e levá-los a um desgaste emociomal e financeiro que provoque o fim da greve na sua pior forma: com as pessoas voltando a trabalhar isoladamente, sem uma decisão em assembléia.

A intransigência do governo em não fazer concessões salariais para os educadores - o governo não tem sido assim, por exemplo, com a polícia, ou com a justiça, ou com os defensores públicos - revela a face cruel e desumana da política que impera em Minas Gerais.

Revela este governo não ter o menor sentimento de respeito pelos educadores do ensino básico e pelas crianças das famílias que mandam os seus filhos para as escolas públicas. Na maioria, são famílias de baixa renda, que merecem uma educação de qualidade, da qual estão sendo privadas em função do baixo investimento no ensino básico por parte do governo.

A situação de quem está em greve, neste momento, é marcada por grande sacrifício. A começar pela quebra da rotina diária, de quem está acostumado ao trabalho duro - e é esta a realidade dos educadores -, e que, momentaneamente, muda completamente os hábitos do dia-a-dia. Além disso, pesa sobre cada um o temor do corte de salário, que é a fonte de subsistência da maioria dos educadores, que são arrimo de família. E finalmente, existe também uma pressão, em grande parte orquestrada pela mídia, de uma parcela de pais de alunos e até dos familiares dos grevistas.

Aguentar toda esta carga de pressões durante estes 34 dias tem sido um feito heróico até, que merecerá um registro nas mais bonitas páginas da nossa história. Tantas vezes celebram homenagens a canalhas e se esquecem daqueles que realmente constroem o presente e o futuro de Minas e do Brasil. Os educadores não são os únicos, mas ocupam um lugar de destaque neste grandioso papel.

Mas, nós estamos cansados de ser lembrados nos eloquente discursos políticos e totalmente esquecidos quando os governantes destes países estabelecem e praticam as prioridades de governo. Agora mesmo, somos testemunhas de que o governo Aécio-Anastasia, quando interessou conseguiu recursos para investir muitos bilhões (eu disse isso mesmo: bilhões!) em estradas, em obras como a Cidade Administrativa, em viadutos e até em reajustes salariais para algumas carreiras do Estado. Mas, para os educadores, promessas vãs, sempre assim.

Depois de 34 dias de greve, com tudo o que fizemos - ocupação de rodovias, passeatas gigantes pelas ruas de BH e todo interior, reportagens cavadas na luta, assembléia em São João del-Rei, intervenção no ExpoZebu em Uberaba e na ExpoMinas em BH -, depois de tudo o que fizemos, o governo não alterou um nervo sequer da face. É algo que o sentimento humano não alcança, tamanha a frieza demonstrada com os educadores de Minas Gerais.

Se o governo tivesse pelo menos apresentado uma contraproposta concreta, do tipo: vou dar um auxílio-alimentação de R$ 350,00 para todos os educadores com o compromisso de, a médio prazo, estudar a incorporação desses penduricalhos no piso básico, nós até poderíamos estudar essa proposta. Mas, dizer: será formada uma comissão para estudar quais as gratificações podem ser incorporadas ao salário, é o mesmo que nada. Não há prazo, não há valores, não há definição de objetivos a alcançar. Isso e nada se diferem muito pouco.

Nós sabemos que boa parte da categoria em greve está cansada, está irritada até, alguns até deprimidos, com tudo o que assiste: de uma mídia bandida que distorce, mente e não oferece espaço adequado de resposta - salvo raras exceções; de uma justiça que se revela a cada dia anos-luz de distância com a realidade dos de baixo; de um parlamento que consome grandes recursos públicos para apresentar pouquíssimos resultados; e de um governo frio, cruel e insensível com a educação.

Tudo isso causa desânimo nos trabalhadores, especialmente em quem não está tão acostumado como alguns aos combates de longa duração. E o governo conta com isso. Ele sabe que tem uma parcela de trabalhadores doida para voltar para a sala de aula, até mesmo com perda salarial, e que a parcela mais engajada na luta é aquela que em grande parte segura a barra. É o pessoal que vai na assembléia, os 10 ou 15 mil trabalhadores que semanalmente comparecem nas assembléias estaduais, que mantêm as mobilizaçẽos e que animam parte das pessoas que balançam entre continuar a greve ou voltar a trabalhar.

É uma disputa dura: da comunidade, principalmente, e entre as nossas próprias fileiras. E é bom que se deixe claro: não é porque um companheiro deseja voltar a trabalhar e por fim à greve que ele é um traidor ou um fraco. Não. É um direito das pessoas fazerem as suas análises. Mas, o importante é que qualquer decisão seja tomada em assembléia, e não isoladamente.

Pessoalmente, sou favorável à continuação da greve. Se dependesse de mim, vou ser muito sincero com vocês que visitam este blog, se dependesse de mim nós levaríamos esta greve até as últimas consequências. Ou seja, até mesmo ao ponto de inviablilizar o ano letivo. Sei que isso teria um custo altíssimo em matéria de pressão social, ataque da mídia, pressão do governo ainda maior, etc. Mas, acho que essa seria, no limite, a única forma de levarem a sério a educação pública em Minas e no Brasil.

Mas, não sei se a maioria está disposta a este grau de sacrifício. E eu respeito e vou acatar a posição tomada pela maioria em assembléia, seja ela qual for.

Estou convencido de que este governo se preparou para o confronto com os educadores desde o primeiro mandato de Aécio-Anastasia. Enquanto com a polícia o governo se preparou para apaziguar, fazendo concessões, com os educadores, ao contrário, ele se preparou para massacrar. As carreiras da Educação, inclusive pela força numérica e de organização, sempre foram aquelas que apresentaram maior resistência e cobrança aos diversos governos. Por isso Aécio-Anastasia iniciou (assim mesmo, no singular) o governo massacrando os trabalhadores da Educação. Da nossa parte, houve também problemas na direção sindical, que não vem ao caso agora, especialmente porque a atual direção está correspondendo às expectativas dos trabalhadores.

Por isso, só há uma forma de arrancar conquistas salariais deste governo: se a greve chegar ao ponto de ameaçar os projetos político-eleitorais de Aécio-Anastasia. E a continuação desta greve, se se der com grande adesão, pode produzir esta ameaça ao projeto aeciano.

O outro caminho é voltar ao trabalho, sem conquistas salariais, ainda que não se corte o ponto e não se demita ninguém. Reconheço que não será de todo uma derrota, já que pelo menos a categoria se mobilizou, se esforçou, foi a luta, mostrou que não está morta, arrancou algumas conquistas, embora não tenha demonstrado, neste caso, força suficiente para alcançar os objetivos principais. Entre os culpados desta não vitória completa estão aqueles que furaram a greve, que agiram de forma egoísta, demonstrando baixo compromisso com a carreira da Educação.

Mas, de qualquer forma, voltando ao trabalho, estaremos com a mesma condição de um salário de fome, tendo que repor aulas aos sábados e nas férias, vivendo a expectativa de um outro arranjo que a tal comissão mista sindicato-governo produzirá ou não ao longo do tempo.

As duas posições - continuar a greve e forçar uma negociação melhor ou recuar momentaneamente de cabeça erguida sem conquista salarial - são aceitáveis, na minha opinião, desde que tomadas em assembléia e desde que se consiga manter a unidade de classe conquistada durante a greve. A minha posição é pela continuidade da greve, quando devemos estudar estratégias de mobilização ainda maiores com o claro objetivo de denunciar o governo Aécio-Anastasia e seu descompromisso com a Educação pública. Contem comigo e com este blog para esta tarefa. Pois, na minha modesta opinião, respeitando e acatando o que for decidido pela maioria, eu repito: sem algum aumento de salário não dá para voltar para a sala de aula.

P.S. Clique aqui para copiar e ler a circular que o Sind-UTE produziu sobre o encontro com o governo na manhã do dia 12.

8 comentários:

  1. Euler,

    Eu quero é o piso salarial implementado. Demissões e pagamento dos dias cortados todos nós sabemos que seriam contornados. Essa de estudar a incorporação de gratificações ao piso é pura enganação, não acredito nesse governo.

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  2. Euler,

    Estou com você!!!!!

    Ë isto mesmo que acho!!! O que a maioria decidir está decidido, mas confesso, se não conseguirmos
    NADA em relação ao vencimento, pra mim, será uma derrota lamentável!!!!

    Sei que serÁ muito difícil para mim voltar e falar com meus alunos, que lutamos, lutamos, mas não foi o o suficiente...

    ELES FORAM frios,fortes, USARAM o dinheiro público em propagandas enganosas e o PODER sensibilizando boa parte da população, inclusive alguns EDUCADORES. Porque além de tudo isto, são muito cruéis E desprezam a EDUCAÇÃO !!!

    TEMOS QUE CONTINUAR ESTA LUTA OU MELHOR "GUERRA"

    Até quando???? As últimas consequências...

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  3. Euler,
    Faço das suas palavras as minhas e acredito que só a continuação da greve por tempo indeterminado
    poderá fazer com que algum resultado mais perto do que esperamos possa acontecer. Não é o momento para retrocedermos nas nossas decisões e acredito que esta atitude desses "escravocratas" não foi suficiente para nos fazer curvar diante de tamanha falta de sensibilidade com esta classe tão desprestigiada pelo governo aécio-anastasia(com letra minúscula mesmo, que é o que eles são-seres despresíveis. A luta tem que continuar até a vitória.

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  4. Pra mim, voltar ao trabalho significa uma derrota sim. Todo esse esforço pra não conquistar nada? O fato de não cortar o ponto não é uma conquistapois e sim esmola pois ao entrar em greve já esperavamos que ficariamos sem receber.

    Para mimseria uma vergonha voltar pra sala de aula e ao ser questionada pelos alunos ter que dizer que não alcançamos o que esperavamos.

    Karina Cristina

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  5. Não!!! A eles nas urnas!!! Vamos divulgar nosso repúdio onde alcançar nossa 'voz'.

    Só quem participa ativamente de movimentos como esse ...sabe quais são os ganhos!!! Quem está dentro das escolas olhando a paisagem poderia ter a dignidade de calar-se. Digo isso porque onde há divisão...as chances diminuem...mas não evitam os avanços ocorridos durante a greve.
    São muitos. Um deles: a categoria está viva!!!
    Quando se falar posteriormente em GREVE!!...FIQUEM ATENTOS. Continuamos a gritar por aí que esse governinho...aécio..anastasia e muitos outros...tem , agora, muito mais BANDERIAS levantadas contra eles. Na verdade..só aumentou!! Não é de hoje o descaso em relação aos educadores...e não é de hoje nosso repúdio.
    Cresce na mesma proporção.
    Vamos juntos!!

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  6. Não nos deixemos abater pelos "companheiros" que nos abandonaram na luta. Os fura-greve estão em todas as instâncias do poder. A pelegada está alienada e não se incomoda em servir de massa de manobra para o governo. Trabalhar na Educação é uma paixão. Um dia conseguiremos alcançar nossos objetivos. Há muito que lutar para isso.

    Abraços da Silvia.

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  7. A greve deve ser levada até as últimas consequências, com esse salário miserável. Os professores são heróis , pois viver , ou melhor , sobreviver com esse salário é uma luta diária. Tenho vergonha quando abro o contrcheque para abrir um crediário .

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  8. Após estas lamentáveis passagens da História da Educação em Minas Gerais, envolvendo políticos picaretas que só pensam em suas carreiras, penso de forma muito séria em deixar o Magistério, pois qualquer outra atividade me renderia mais que esta miséria. Apesar do respeito pelos alunos e colegas, estou sem nenhum estímulo, pois o tratamento que recebemos nos deixa à margem da sociedade. Lamentável!!!!

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