sábado, 31 de julho de 2010

Pensamentos de um final de recesso...

Leiam também a entrevista da candidata Vanessa Portugal, do PSTU ao jornal Hoje em Dia. Vejam no final da matéria.


Sexta-feira, 30. As férias ou o minguado recesso de julho vai se aproximando do fim. Só um final de semana me separa agora da retomada do batente e do cotidiano em um arraial que virou cidade quase grande, sem se dar conta disso. Dois dias apenas. Parece pouco. Pode ser. Ou nem tanto. Em dois dias é possível fazer e viver coisas e momentos que ninguém imagina. Ou nada.

Embora seja um confesso inimigo do trabalho enquanto fardo, peso, escr
avidão, não nego que as atividades que me colocam em contato com os colegas, com os alunos, com as pessoas, enfim, são extremamente importantes e necessárias e às vezes prazerosas, também. O que chamanos de trabalho acaba tendo então estes dois sentidos, entre outros: de um lado, provoca a socialização, o contato, a interação com pessoas, o que é bom; de outro, impõe esforço repetitivo, estressante, regido por normas e hierarquias quase sempre voltadas para a punição.

O ideal de "trabalho" seria quando as partes envolvidas tivessem prazer de se encontrar num dado local para passarem o dia todo junt
as, numa relação de construção e fazeres coletivos e individuais, sem subordinação hierárquica entre os colegas. Mas, acho que aí já não seria mais um trabalho tal como conhecemos, mas uma relação que transcenderia os limites do mercado. A escola talvez seja aquela entidade que em tese mais se aproxime deste ideal - coisa impensável numa fábrica capitalista ou num banco ou mesmo numa loja, cujo objetivo é a venda, o lucro, o negócio. A mercantilização da vida ali está exposta demais ao frio cálculo de um negócio. A escola pública, pelo menos em tese, é o espaço do encontro para o aprendizado e a reflexão.

Mas, a escola reflete a sociedade em que vivemos, com suas quali
dades e "defeitos". E mesmo um espaço assim, que não é inteiramente voltado para o mercado (pelo menos a escola pública no ensino básico deveria ser assim), as coisas se reproduzem com o mesmo espírito daquele tipo de trabalho que é sinônimo de sacrifício. Tive uma excelente professora que me disse certa vez que lecionar é também um ato de sacrifício, mais até do que de prazer. E olha que ela tinha (tem) prazer em lecionar. Nunca concordei com ela, embora a considerasse bem realista.

A escola tem um quê de disciplina militar, de prisão, de fardo, de sacrifício e até de missão - daí porque os governos adoram tratar os educadores como aqueles que cumprem uma "importante missão", qu
ase voluntária. Nem quero mencionar aqui um "modelo" ideal de escola, como já fizera algumas vezes o brilhante escritor e pensador Rubem Alves, quando menciona uma escola de Portugal, onde alunos e professores entram e saem quando querem, não existe sala de aula, nem tampouco hierarquia rígida etc. Não. Esta realidade está muito distante dos contextos com os quais convivemos. Seria um paradoxo até imaginar uma sociedade tal como a nossa proporcionando uma escola que contrariasse todos os valores e práticas vivenciados no dia-a-dia pelos sujeitos - educadores, alunos e pais de alunos - desse enredo.

Mas, se ela
não pode ir ao paraíso, também não precisa viver no inferno, um local onde as pessoas não tenham prazer algum em para lá se dirigir; onde se esforcem para fugir daquele local; onde se reproduzem pessoas que adoecem de corpo e de alma. Construir uma escola onde os momentos de sacrifício sejam menos dolorosos e que os momentos de prazer, de emoção, de alegria, do partilhamento de compromissos e de sonhos sejam maiores do que aqueles é o grande desafio.

É uma mudança cultural, mais até do que da falta de equipamentos, por mais que estes sejam importantes também. Uma escola pode ser a mais bem equipada do mundo, mas se os sujeitos que
nela trabalham não construírem entre si uma relação de respeito pelo outro, de busca pelo novo, de troca, de perseguição de objetivos e de apropriação coletiva e individual dos tempos e espaços, ela acabará por reproduzir os mesmos problemas. Métodos burocráticos, no lugar do convencimento e da abertura para entender o outro; tempos preenchidos pelo fazer repetitivo em lugar da criatividade, da descoberta e do improviso que transcende e enriquece o planejado; espaços limitados aos fazeres individuais burocratizados, ao invés da incorporação de todo o espaço - da sala, da escola, do bairro, da cidade, do país, da virtualidade, da casa, etc. A construção enfim de um trabalho interdisciplinar que consiga romper as rígidas barreiras das diferentes disciplinas.

Contudo, estas diferentes perspectivas estão intimamente ligadas ao que se pretende produzir com ou na escola. Por exemplo: para a formação de pessoas voltadas para o mercado teremos um tipo de escola - aquela mesma, da disciplina rígida, do toque de recolher, do aprendizado matematizado inclusive nas matérias "humanas", etc. É o método de certa escola privada aqui de Minas, que vende projetos para as prefeituras, que obriga os professores a passarem o dia inteiro preenchendo estatísticas. Ao contrário, para a formação de seres humanos, com a complexidade, valores éticos e visões múltiplas dos problemas e do mundo, então a outra escola é aquela que mais se aproximaria deste objetivo.

Enquanto não resolvemos estes dilemas - entre tantos outros - vamos sobrevivendo aos muitos pequenos grandes infernos que trazemos dentro de nós e com os quais convivemos no dia-a-dia. E nesse emaranhado de coisas e de idéias, ou nesse desencontro entre as
coisas e as pessoas, saber extrair o que há de melhor e mais rico na nossa convivência cotidiana.

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Leiam também:

- Fazer valer a luta com o nosso voto
- do blog Mulher com multifacetas

- Retorno as aulas
- do blog Raio de Luz

- SOY LOCO POR TI LATINOAMÉRICA - do blog S.O.S. Educação Pública

- FOTOS DE ALGUNS EVENTOS DO INVERNO CULTURAL
- do blog Proeti no Polivalente

-
A Sociedade Consumista - do blog Informe e Crítica

- Blog Em Busca do Conhecimento - Um abraço ao nosso bravo colega Sebastião Gonçalves, coordenador do blog que completou 100 postagens, e a toda turma de educadores de Conselheiro Lafaiete.

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Tal como foi anunciado pelo blog, as entrevistas dos candidatos ao governo de Minas, especialmente na parte dedicada à Educação, serão publicadas aqui. Leiam a seguir a entrevista da candidata Vanessa Portugal do PSTU ao jornal Hoje em Dia. Para ler a entrevista completa clique aqui.

"Hoje em Dia:
Nós sabemos da experiência da senhora em relação à área da educação. Quais são os planos de Governo em relação à educação e quais são na prática as mudanças que pretende fazer?


Vanessa Portugal: A primeira coisa é investimento. Não dá para discutir mudança em relação à educação por meio de indicadores de avaliações externas que discutam os índices que os estudantes atinjam ou não sem que tenha uma mudança na estrutura educacional, e para isso preciso de dinheiro. É necessário, no mínimo, em Minas, dobrar o investimento em educação. Isso parece muito, porque dobrar custa. O problema é que o que se gasta para um Estado da proporção de Minas com déficit educacional que existe no Estado é muito pouco. Em 2009 se gastou por volta de R$ 4,75 bilhões, o que representa 11% da arrecadação. No mínimo, teria que dobrar isso para que se tenha o início de uma discussão. É preciso valorizar o salário do trabalhador em educação. Eu não digo isso para mais uma apologia. O Estado de Minas paga um dos piores salários do país. Na verdade, hoje com o plano que o atual governador soltou, o Estado terá um teto salarial de R$ 1.320.00, que não é um piso, é um teto. É o salário máximo que o trabalhador em educação pode atingir. Isto é um crime. Você dizer para um profissional que começa a vida funcional com R$ 1.320,00 e depois de 20 anos ele também vai continuar recebendo R$ 1.320,00. A política nacional para educação também é muito ruim, porque o piso nacional do Governo Lula é muito ruim. É R$ 1.200,00 mais ou menos para 40 horas de trabalho. A reivindicação dos trabalhadores em educação são 24 horas. Isso tem uma razão de ser. Porque isso tem haver com o nível de estresse com o qual a profissão está submetida. A ampliação das vagas. Hoje em Minas deixa de fora das escolas uma parte significativa dos estudantes que têm idade para cursar o ensino médio e deixa uma parte significativa das crianças de 0 a 6 anos. Em particular há uma concentração grande das crianças de 0 a 3 anos que, em geral, nesta faixa etária não é considerado educação. E é. A criança precisa ter escola, um processo educacional importante. O Estado tem que investir em formação técnica de qualidade, porque é responsabilidade do Estado fazê-lo. E também ensino superior. A UEMG tem hoje uma participação no cenário educacional ridícula em virtude do que poderia ter. Não que os profissionais não atuem com competência, mas é insignificante. Existe uma luta grande e necessária de que o profissional de educação do ensino fundamental, médio tenha um percentual de sua jornada de trabalho destinado ao planejamento de suas atividades, Hoje não é assim. Praticamente toda a jornada de trabalho é executada dentro da sala de aula. No Estado de Minas tem um peso grande a bandeira da democratização das escolas. Eleição de diretores era para ser uma bandeira conquistada há, pelo menos, 20 anos no Estado de Minas. Mas a cada ano tem um debate para ver se vai ter ou não eleição e só pode candidatar ao cargo de diretor de escola quem é aprovado em uma prova pré-definida pelo Estado. Primeiro trata-se de aumentar os investimentos para a educação. Segundo melhorar o salários dos profissionais e a nossa meta é o piso do Dieese que é por volta de R$ 2.700,00. Um plano de carreira que faça com que o trabalhador tenha incentivo em estudar e em permanecer carreira. E ampliar as vagas no ensino médio, para a educação infantil e os cursos profissionalizante."

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Um legado que deve nos orgulhar


Tinha preparado um texto de reflexão sobre a escola que temos. Mas, achei melhor deixar para publicar outro dia. É que ao mesmo tempo em que eu me preocupo com o tipo de escola que temos e a que queremos - preocupação que é por demais reflexiva e às vezes acadêmica, embora seja de extrema importância -, sinto-me atraído pelos combates imediatos que temos que travar.

Espero que esta minguada semana de recesso tenha dado um lapso de tempo para o merecido descanso dos nossos/nossas guerreiros/guerreiras. E também para os colegas refletirem sobre os encaminhamentos que temos que dar ao movimento que construimos com a nossa maravilhosa revolta dos 47 dias.

Um movimento tal como o que construímos não pode ser esquecido nem negligenciado na nossa memória. É um feito histórico a ser lembrado e comemorado em todos os momentos da nossa vida de educadores e de seres humanos pensantes.

Por isso, quero aqui trazer novamente à lembrança dos colegas e demais visitantes deste blog, um pouco do que fizemos e das expectativas que geramos.

Entre 2002 e início de 2010, o faraó e seu afilhado (para os novatos do blog, esta é a alcunha atribuída ao governador e seu vice) criaram e impuseram um esquema de governo calcado em políticas neoliberais, cuja essência foi o achatamento salarial dos servidores públicos, especialmente os da Educação, para a construção de obras faraônicas. A execução dessa política foi realizada com o silêncio da mídia, comprado a peso de ouro e que trabalhou diuturnamente na formação e blindagem da imagem do faraó. Os demais poderes e instrumentos de poder - judiciário, legislativo, TCE, etc - foram um a um se submetendo às vontades do faraó e do seu grupo.

Essa unanimidade das elites durou todos estes anos inclusive em função da parceria não assumida entre o governo federal e o governo mineiro, cujos eventuais interesses eleitoreiros, apesar da aparente oposição, se harmonizavam, como ocorreu em 2006. Por isso, praticamente o governo do faraó não teve oposição durante este longo período, a ponto inclusive do ex-prefeito de BH entregar de bandeja a prefeitura da Capital mineira para um aliado do faraó.

Em 2010, após sete anos de arrocho salarial em cima dos educadores, que esboçaram algumas poucas tentativas frustradas de reação, a coisa começa a mudar. O faraó e seu afilhado, que chegaram a prometer em 2008 que pagariam o piso do magistério mais as gratificações existentes em 2010, descumprem o prometido e anunciam uma mixaria de reajuste de 10% sobre o vergonhoso vencimento básico praticado em Minas Gerais. Foi a gota que faltava.

Com uma direção renovada e combativa, o Sind-UTE convoca a assembléia da categoria que decide, no dia 08 de abril, pela greve geral por tempo indeterminado. A reivindicação principal: o piso salarial de R$ 1.312,00 para uma jornada de 24 horas. O faraó se afasta do governo para se candidatar ao senado e viaja para a Europa, onde ficou durante 40 dias mais ou menos, de um passeio faraônico. [E nós aqui, com salário-de-professor-de-Minas (assim mesmo, tudo junto) curtindo o nosso minguado recesso de uma semana].

Foram 47 dias de greve - do dia 08 de abril ao dia 25 de junho, data da última assembléia que decidiu pela suspensão da nossa paralisação. A este movimento, pela sua força, alcance e significado eu dei o nome de "A Revolta dos 47 dias". E o que ocorreu nestes dias?

Assembléias gigantescas - entre 10 e 20 mil educadores - realizadas semanalmente e que produziram passeatas maravilhosas pelo centro de Belo Horizonte, ocupando quilômetros de ruas e avenidas até a parte central da Capital mineira, que era ocupada e onde eram realizados os atos públicos. Ocupamos rodovias em vários pontos de Minas Gerais, inclusive parando o trânsito da Linha Verde, em frente à Cidade Administrativa - também conhecida como "Cidade do Faraó" ou "Balança, mas não cai" ou "A Brasilinha que não deu certo", à escolha de cada um.

Mas, o mais importante dessa maravilhosa revolta/greve, foi o quanto ela mexeu com as estruturas de Minas Gerais. Conseguiu vencer o cerco da mídia que inicialmente impôs total blindagem para não atingir os planos do faraó e seu afilhado. O nosso movimento enfrentou corajosamente os petardos vindos de um judiciário a serviço do faraó, que decretou a ilegalidade da greve - de forma ilegal! - impondo multas diárias ao sindicato e concedendo ao governo o direito de demissão dos grevistas. Nada disso intimidou os trabalhadores, que continuaram (continuamos) em greve, cada vez com maior adesão. As TVs e rádios e jornais (à exceção do jornal que se diz "o grande jornal dos mineiros", que se tornou pequeno após a nossa greve) acabaram tendo que falar da nossa paralisação. E através da Internet, quebramos o silêncio da mídia, através de uma rede de blogs e troca de e-mails. O nosso blog deu uma modesta contribuição, pois funcionou 24 horas por dia durante todos os dias da greve recebendo milhares de visitas.

O governo usou de todos os mecanismos de coerção e intimidação a seu alcance, mas mesmo assim não conseguiu dobrar a disposição de luta de valentes educadores, que se entregaram de forma apaixonada às mais diferentes iniciativas. Toda a sociedade mineira, pela primeira vez, teve contato com a realidade vergonhosa dos salários praticados em Minas, especialmente o dos educadores. Reuniões nas escolas, assembléias por toda parte, ocupação de ruas, passeatas, visita às emissoras de rádio, pressão sobre os deputados, corrente de e-mails, assembléias gigantescas em cidades como São João del-Rei - terra do faraó (mas principalmente do Vander, e da Vanda e dos avós de João Paulo, etc.). Enfim, foi o mais expressivo e bonito movimento construído por milhares de trabalhadores nos últimos 10 anos, pelo menos, em Minas.

O final da greve foi acompanhado de um acordo firmado pelo governo do afilhado do faraó, já desgastado ao extremo, que resultou em novas tabelas salariais que foram aprovadas na ALMG, para o início de 2011, com subsídio de R$ 1.320,00 para jornada de 24 joras, coisa até então impensável pelo governo. Claro que o governo não atenderia a todas as reinvindicações dos educadores e acabou por aprovar o tal reajuste, de um lado, mas confiscando, do outro, o tempo de trabalho dos mais antigos servidores, coisa que teremos que travar nova batalha para recuperar. E vamos recuperar, não tenho a menor dúvida a este respeito. Além disso, o governo pagou antecipadamente a reposição dos dias parados, além de assumir o compromisso da não demissão dos grevistas e da realização de concurso público, entre outros pontos acordados.

A situação de miserabilidade dos educadores mineiros foi, portanto, como a realidade demonstrou, resultado principalmente da política de achatamento salarial - o tal choque de gestão - do grupo do faraó e do seu afilhado; mas, por outro lado, a nossa anterior incapacidade de nos unirmos e partirmos para a luta, como fizemos em 2010, também contribuiu para esta realidade. Ficou este aprendizado, entre outros: sem organização, sem unidade e luta não há conquistas! O nosso movimento produziu e revelou também dezenas - talvez centenas - de lideranças dos educadores, espalhadas por toda Minas Gerais, que se mostraram capazes de aglutinar e mobilizar os colegas e a comunidade para os embates contra o governo e seus instrumentos de dominação.

Desse legado de luta devemos nos orgulhar e nos preparar para os novos combates.

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Leiam também:

- O CONTROLE DO PETRÓLEO NA ORIGEM DO CONFLITO ENTRE VENEZUELA E COLÔMBIA - por Wladmir Coelho


- A LEI DA PALMADA - Blog S.O.S. Educação Pública

- Correio Brigadista: Massacre Anunciado
- Blog Ocupação Dandara

- CONSIDERAÇÕES SOBRE A GREVE E SEU CONTEXTO
- Blog do Claudio Professor de Mutum (um abraço aos bravos colegas de Mutum)

- Serra está sendo cristianizado?
- Blog do Miro

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Devemos nos preparar para colocar o bloco na rua...


Pinduca, aquele que votou contra as emendas dos educadores de Minas - um deles - foi barrado pela lei da Ficha Limpa. Leia matéria completa clicando aqui. É um a menos na nossa lista de Ficha Suja da Educação!

Achei por bem deixar a roupa suja para amanhã e me concentrar pelo menos durante um pedaço de hora neste texto. Estou preocupado. Com os rumos da nossa luta, com o que virá no próximo governo estadual, cujos primeiros sinais não são os melhores. O afilhado do faraó já deu mostras da insensibilidade para com os problemas sociais e com a Educação em especial. O outro, mesmo em campanha, mostra-se incapaz de assumir compromissos bem definidos - imagine-se depois de eleito. Por isso eu não vou assumir compromisso com estes candidatos.

Não podem estar descartadas pelo menos duas possibilidades em relação às eleições para o governo do Estado: o voto em um(a) candidato(a) com perfil ideológico de esquerda, mesmo sabendo de sua derrota eleitoral, ou mesmo o voto nulo para o governo de Minas.

Dirão: isso vai favorecer o afilhado do faraó. Bom, se temos essa força - e eu acho que temos - então merecemos mais respeito por parte dos candidatos, especialmente do candidato do PMDB-PT. Se ele pretende receber o voto de 400 mil educadores e mais familiares e influência na comunidade ele deve assumir compromissos públicos e formais com a Educação e especialmente com os educadores. Nada menos do que isso: a) pagar as novas tabelas já em janeiro de 2011, b) posicionar os educadores nas tabelas de acordo com o tempo de serviço no estado, no máximo em até 03 meses de governo, c) pagar o quinquênio para todos os servidores da Educação (inclusive os novatos, que já tenham cinco anos de casa e aos demais quando completarem este tempo), d) não mexer na jornada de trabalho e comprometer-se a aplicar o terço de tempo extraclasse como manda a lei do piso aprovada em 2008 e até agora não aplicada. As demais reivindicações podem ser discutidas durante o governo, mas estas, são básicas. Sem compromisso formal e público, não há apoio.

Então devemos nos preparar, inclusive convocando os trabalhadores da Educação para que, na última semana que antecede as eleições, utilizarmos as duas últimas aulas para discutir com pais e alunos sobre as realidades eleitorais e conjunturais no Brasil e em Minas. Não se trata de campanha eleitoral para este ou aquele candidato, mas de um projeto de cidadania, que temos autonomia para realizá-lo.

Temos obrigação moral de conversar com os alunos e pais de alunos sobre a realidade política do nosso país, do mundo e do estado de Minas Gerais. Discutir com eles, por exemplo, como são aplicadas as verbas públicas, que deixam de fora a Saúde, a Educação e o saneamento básico, enquanto se constroem obras faraônicas e privilegiam interesses de grupos que detém o poder. Mostrar o papel da mídia que entorpece as mentes das pessoas todos os dias, em troca de muitos milhões que caem nos bolsos de alguns poucos proprietários desta mídia, de editores e jornalistas de aluguel. Mostrar como a Justiça só prende pobres e negros, enquanto livra a cara de bandidos de colarinho branco.

Nada impede que fora da escola os educadores apoiem os seus candidatos. Deveríamos até formar uma lista de candidatos a deputado estadual e federal e ao senado absolutamente comprometidos com a luta dos educadores e com os movimentos sociais, como os sem-terra e os sem-teto, entre outros. Não precisamos de mais representantes bundões, mauricinhos, pois isso todos os partidos têm de sobra. Precisamos de lutadores sociais a nos representar com dignidade, testados na luta, que não se vendam e que não se deixem embriagar e lambuzar com os banquetes palacianos da burguesia, negociando a alma com o demônio.

Nós, educadores, precisamos mostrar a nossa força, inclusive eleitoral, mas não somente. Nossa principal força reside na nossa capacidade de mobilizar a comunidade, de paralisar as escolas e convocar a comunidade contra as injustiças cometidas pelos governos, a começar pelos baixos salários praticados na própria Educação.

Não podemos de maneira alguma assistir passivamente à utilização eleitoreira da causa da Educação pelos candidatos em véspera de eleição. Nenhum dos candidatos preferenciais nas pesquisas têm até o momento moral para falar em nome dos educadores. Ou mesmo para os educadores. E isso a comunidade precisa ter consciência. Só nós, educadores, falamos em nosso nome. E estamos cobrando compromissos, que é a única coisa que alguns candidatos ainda podem assumir.

E a par disso, como tenho dito aqui, devemos nos preparar para enfrentar o próximo governo, seja ele quem for. Manter os tambores lustrados, os apitos por perto, as bandeiras ao alcance das mãos, os uniformes de batalha limpos e a disposição de combate acesa, pronta para enfrentar e vencer o inimigo.

É com essas palavras que faço o meu cumprimento matinal aos lutadores da Educação: força na luta, camaradas, até a nossa vitória! Não vamos esperar em silêncio e acomodados que pisem novamente na nossa garganta. Temos a nos inspirar a nossa maravilhosa revolta dos 47 dias. Precisamos manter a nossa unidade, fortalecer a nossa organização e nos preparar para as próximas lutas.

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Links com temas associados ou não:

- Site oficial do Sind-UTE - que cobra do governo a promessa da publicação, até o final de julho deste ano, do edital do concurso público para as diversas carreiras da Educação.

- Blog do Miro - falando sobre a necessidade de uma auditoria no Datafolha - ou "Datafraude".

- S.O.S. Educação Pública - bom artigo sobre o "bicho papão MST" no inconsciente de eleitores desavisados.

- Blog do COREU - com sua equipe de primeira linha de articulistas, sob a coordenação do colega Wladmir Coelho.

- As nossas combativas colegas Cristina (Blog da Cris) e Vanda Sandim (Blog Proeti no Polivalente) estão curtindo o que resta das nossas férias. Vale a pena revisitar o blog dessas guerreiras.

- Não deixem de acompanhar também a grande lista de blogs que indicamos ao lado. A rede de comunicação virtual virou a mais confiável fonte de informação das pessoas que não se guiam pelas desinformações da mídia burguesa.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Na rotina de uma quarta-feira de recesso...


Quando levanto hoje (28/07) às 10h e abro o guarda-roupa, dou conta de que o estoque de roupas limpas está no osso, bem baixo mesmo. Telefono para a casa da minha mãe e pergunto se dá pra lavar as roupas por lá, na máquina, claro. É que o meu bunker ainda não dispõe de tanque de lavar, nem mesmo de um tanquinho. E nas pias da cozinha e do banheiro não dá, né gente. Minha mãe diz que coincidentemente ela tinha lavado as roupas hoje pela manhã, razão pela qual os varais estavam ocupados. Fica para amanhã, então. Mas, o grande culpado dessa minha pequena grande tragédia pessoal de uma quarta-feira de recesso é o faraó e seu afilhado, pois, com o salário-de-professor-de-Minas (assim mesmo, tudo junto) simplesmente não dá para contratar um pedreiro e instalar um tanque e depois comprar uma máquina de lavar roupa. Nem à prestação dá.

Inviabilizada esta minha tentativa de primeiro movimento matinal vou até o barbeiro para aparar o cabelo, pois muita gente anda reclamando que os meus cabelos estão por demais longos. Então, para o bem geral da nação, fui até o barbeiro, pois, parodiando os ex-candidatos a prefeito de BH em véspera de eleição, "isso dá pra fazer". Banho tomado, cabelo cortado, agora só falta a barba, que ainda está curta e pode esperar mais uns dias.

Nas ruas da cidade, todos os dias encontro uma dúzia pelo menos de alunos, antigos e atuais. Por toda parte por onde ando encontro com eles. Nos supermercados, farmácias, loterias, papelarias, posto de gasolina, enfim, por toda parte tem sempre um ex-aluno a trocar cumprimentos, às vezes parando pra conversar, contando-me um pouco de suas proezas ou expectativas. No ano passado, resolvi dar uma volta noturna no pátio da rodoviária onde acontecia o carnaval do povão e o local estava bem lotado. E quando passei pelas barracas de comida e bebida e depois arrisquei-me a passar no meio da multidão, onde as pessoas dançavam e pulavam e cantavam, percebi que quase a metade dos foliões tinha sido meus alunos. Portanto, estava protegidíssimo!

Já havia almoçado e pensava chegar em casa e fazer a minha ronda virtual. Mas, lembrei-me do texto que publiquei ontem, que dá conta de que dormir faz bem para a memória. Logo, decidi fazer o quilo, já que o clima era muito bom, com um friozinho adequado e o sol batia suavemente no meu quarto. Este ano ainda não gripei e nem pretendo gripar. Menos ainda pegar dengue, pois há dois anos fiquei seis ou sete dias de cama por causa da dengue. Ninguém merece!

Liguei a TV, não para assistir a programação da tarde, que invariavelmente é pobre, mas para dormir. Li na Internet alguma coisa sobre uma TV do Trabalhador - TVT, que estaria por ser inaugurada. Espero que não seja mais uma emissora a abafar as rebeldias e manifestações que ocorrem nas ruas e nas praças e nos campos. De mídia domesticada já basta a que existe.

Passava das 5 da tarde quando acordei. Preparei um café, alguns biscoitos e pão de mel banhado em chocolate. Esperava a visita de um eletricista que vai instalar uma ou duas tomadas, pois, desde que me instalei no bunker, no final do ano passado, improvisei as ligações elétricas com fios que atravessam todo o espaço a partir de uma única tomada. Outro dia queimou o estabilizador, que durou até muito. Mas, pelo menos não queimou meu computador que já dura quatro anos, nem minha TV de 20 anos, nem a geladeira de uns 30 anos, mais ou menos. Comprei outro estabilizador e tudo funciona às mil maravilhas. Por via das dúvidas, quero corrigir estes problemas com os serviços de um técnico, que por sinal me ligou dizendo que só amanhã poderá aparecer aqui. Então, a quinta-feira vai estar ocupada: a roupa por lavar na parte da manhã e o eletricista que diz que virá na parte da tarde para corrigir as gambiarras do meu bunker.

Fui até o supermercado agora no final da tarde comprar o lanche da noite e o de amanhã. Quando retorno, faço a visita de rotina na Internet. O Boletim nº 19 do Blog do COREU já está disponível, com boas matérias e artigos. Entre eles, o do professor Wladmir Coelho, que dá uma aula sobre o governo João Goulart e o Golpe de 64, enquanto o jornalista Pedro Porfírio fala sobre o discurso de direita do candidato Serra e também sobre a Colômbia, as Farc, etc. Já havia comentado sobre isto ontem, aqui no blog, mas não com a riqueza de detalhes do jornalista.

Como estamos de recesso em casa - no meu caso, no bunker sem copa e sem tanque de lavar, graças ao salário-de-professor-de-Minas (assim mesmo, tudo junto) - quero aproveitar a noite para ver algum filme, ainda não sei qual, mas tenho uma coleção de bons filmes. De madrugada volto a navegar, pois tenho muitos blogs e portais para visitar. E textos pra ler, também. Se houver novidades eu passo aqui e faço o registro, pois o Blog do Euler não tem férias, nem recesso. Um bacio, então, ao som de uma cantiga italiana ou de uma música francesa, ou de uma canção brasileira mesmo, se assim preferirem. E até mais ver.

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Leiam também o Boletim Nº 19 do Blog do COREU clicando aqui.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Leituras - sem fronteiras e sem frescuras - de mais um dia...


Foi um dia muito parado (27/07), talvez por conta do recesso minguado, de tempo e de grana. Quando acordei já passava das 11h, o que não é comum no meu dia-a-dia. Um rápido café instantâneo, pão com margarina, um pão de mel pra combinar com o café e um pote de iogurte. Primeira alimentação concluída, passo a visitar alguns blogs e portais para ver as novidades.

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Nessas visitas, o que vejo? No cenário nacional, Serra assume cada vez mais a condição de representante da direita neoliberal. Critica a Venezuela como se estivesse participando de eleições naquele país, contra o presidente Chávez; diz que o MST vai invadir mais terras caso Dilma seja eleita. Terrorismo puro; e para concluir, reforça a acusação do seu desconhecido vice, um tal de Indio da Costa, que de índio só tem o nome, mas que na realidade não passa de mais um desses demos que sonham 24 horas por dia com golpes e derrubada de governos constitucionais para servir aos ricos, nacionais e internacionais. Vade retro, coisa ruim!!!

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O governo da Colômbia, como sabem as mentes mais lúcidas - o que exclui automaticamente os comentaristas da mídia brasileira e internacional - não passa de um governo fantoche a serviço de interesses do império norteamericano e do narcotráfico. Abriu o território para as bases militares dos EUA e realiza todo tipo de provocação contra os vizinhos, numa clara tentativa de desestabilizar a unidade latino-americana. O sonho de Serra e demais demotucanos é imitar Uribe no Brasil. Quem sabe a gente não exporta o faraó para a Colômbia? Um amigo meu lá de Fortaleza, que eu não vejo há uns 10 anos mais ou menos, dizia-me: Euler, devemos fazer todo esforço para que os afins se encontrem. Uribe, Bush, Obama, Serra, o faraó, têm tudo a ver. Que eles se encontrem e vivam felizes... longes de Minas e do Brasil!

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Em Minas, o pior jornal dos mineiros, aquele que escondeu a nossa greve, nada diz sobre o paradeiro do faraó. Quem sabe dizer por onde ele anda? E o afilhado não diz mais uma palavra sequer sobre o pagamento do reposicionamento prometido e não cumprido. Já o candidato do PMDB-PT anda com um discurso preocupante para a Educação. Num dado momento ele diz que precisa rever as novas tabelas salariais e que para isso vai conversar com as lideranças dos professores. Por essa frase pode-se entender que ele não vai pagar as novas tabelas enquanto não negociar com "as lideranças" da categoria (nem é com o sindicato, pelo visto) um novo acordo. Poderia ser mais objetivo e dizer: vou pagar as novas tabelas, mas quero, além disso, aprimorá-las, garantindo o tempo de efetivo exercício dos servidores no posicionamento, entre outras conquistas históricas, como o quinquênio para todos. Simples assim. Duvido que o PT de Patrus e de Pimentel arranque este compromisso formal e público do candidato do PMDB. Tá feito o desafio.

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Além disso, o candidato do PMDB-PT vem fazendo um outro discurso preocupante, que aponta um viés privatista da Educação pública, no ensino médio. Ele fala em investir no ensino profissionalizante, que ocorreria, pelo visto, em parte, nas escolas públicas, mas em parte seguindo o que ele chama de "exemplo do governo federal" com o Prouni. Ou seja: garantiria bolsa de estudo para os estudantes de baixa renda cursarem em escolas particulares, o que devemos bater o pé contrariamente. Esta é uma forma de retirar dinheiro da Educação pública e jogar em escolas particulares. Se quer investir em ensino profissionalizante, tudo bem; mas que o faça exclusivamente nas escolas públicas, dotando-as de equipamentos adequados e pagando bons salários para os profissionais da Educação.

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Mais algumas visitas virtuais e torno a encontrar no jornal O Tempo a notícia de suspeitas de possíveis irregularidades no concurso de juízes substitutos para o TJMG. Nenhum outro jornal fala nada a respeito. A coisa está no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a denúncia é de que parentes dos desembargadores estariam sendo beneficiados. Caso se confirmem as denúncias não seria o caso de verificar todos os processos anteriores de escolha e promoção dos nobres desembargadores? É só uma opinião de leigo, de um educador que, como todos os colegas, foi (fomos) vítima(s) de desembargadores que julgaram a nossa greve ilegal por considerar a Educação um "serviço essencial", mesmo quando a Lei dizia o contrário. Ainda que fosse um serviço legalmente essencial, quem presta este serviço pelo visto não tem essa essencialidade toda. Um professor com curso superior em Minas continua recebendo em torno de 3,74% do salário de um desembargador - isto sem os penduricalhos deste. Ou de um deputado. Ou de um conselheiro do TCE (que aliás, sobre alguns dos quais pesam também suspeitas levantadas há um tempo pelo jornal oficioso do faraó).

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A parte criminal eu não leio, embora seja impossível não ouvir ou ler ou ver alguma coisa sobre a novela do jogador Bruno, que tende a ter o seguinte final: sem corpo, o jogador escapa e é vendido para uma equipe da Rússia. O tal Bola com Macarrão pegam alguns anos de cana, recebem um prêmio pela fidelidade ao mandante, e todos vivem felizes para sempre, menos a pobre da Eliza, num país que a cada dia mais a vida humana banaliza.

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Entre os blogs, muita coisa boa. Morri de rir de uma montagem (vídeo) que fizeram com o Serra no Blog Cloaca News, do Rio Grande do Sul (está na lista que recomendamos aí na coluna do lado direito). Gostei do artigo da professora Graça Aguiar, do Rio de Janeiro, que lembra os bons tempos em que as férias de julho duravam o mês inteiro e nem por isso o ensino era pior do que hoje. Ela fala uma coisa importante, entre outras: o grande número de reuniões burocráticas nas escolas, só para cumprir horário. Seria melhor deixar o tempo livre para o lazer, ou pesquisa, etc. Além dos conteúdos das matérias que precisam realmente passar por um processo de enxugamento, já que há muita coisa que não faz o menor sentido, dada à falta de ligação com os contextos vividos, com a nossa história, com as realidades existentes, etc.

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Uma visita ao Blog Proeti no Polivalente, da professora Vanda Sandim, de São João del-Rei, que nos brinda com um poema, além de divulgar o Inverno Cultural que ocorre por lá, na terra do faraó. Que pena que não estamos em greve, para podermos realizar a nossa assembléia lá em São João novamente e participar das oficinas e shows. Mas, a Vanda e o Vander e os demais colegas vão nos contar depois um pouco de tudo. Se encontrarem por aí com o faraó, nos avisem, pois ele anda sumido. Ele e seu afilhado, kkk.

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Já o Blog do COREU do nosso amigo e colega Wladmir Coelho enriquece o quadro de colunistas com o jornalista Pedro Porfírio e ainda traz a profunda crônica de Marly Gribel. O time de colunistas do Blog do COREU é da pesada! Aliás, aproveito para agradecer ao Wladmir que carregou nas tintas para elogiar o nosso modesto blog, por ter contribuído, junto com tantos outros, como o próprio Blog do COREU, para quebrar o silêncio da mídia mineira e nacional. Só fizemos a nossa obrigação e nada mais - como educador e como indivíduo comprometido com as lutas dos de baixo.

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E para completar as rápidas leituras, descubro, numa matéria da Agência Estado, que dormir após as aulas é bom para o aprendizado. Gostei da idéia. Aliás, a-d-o-r-e-i-!!!!, kkkk. Deveríamos implantar algo do tipo na rede pública: uma hora de aula, meia hora de sono, com música clássica ao fundo, e depois um lanche. Aposto que os alunos iam aprender muito mais. E nós nos estressaríamos muito menos, hehe.

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Finalmente, encerro o meu dia de hoje com um telefonema que fiz para um sobrinho e afilhado que mora em BH e que hoje completou mais um ano de vida. O parabéns foi duplo: pelo aniversário e pelo fato de que ele passou no vestibular da PUC (Direito - ou seja, já tenho a quem recorrer quando for preso). E ele me disse que deseja se preparar para fazer também o curso de História na UFMG. Muito chique este menino! Deve ter puxado o tio (pela parte da mãe dele, claro, pois só tem um tio, kkkk).

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Uma boníssima noite para todos e até amanhã com as novidades e expectativas e novas lutas que virão!


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um projeto que balançou a Câmara Municipal de Vespasiano


O ano era 2006 e eu acabara de assumir um dos cargos de professor de História da E.E. Machado de Assis. Último professor a chegar na escola na área de História, era normal que ficasse com as turmas que por exclusão são "entregues" aos professores novatos na escola. O meu cargo de 18 aulas foi distribuído entre manhã, tarde e noite, o que me fez comentar com alguns colegas que eu era o primeiro a chegar e o último a sair da escola. Para um cargo, em torno de 500 alunos distribuídos em 12 turmas. Os intervalos eram preenchidos com o meu então segundo cargo, na rede municipal.

Foi no Machado de Assis, ou "Machadão", como dizem alguns, que eu estudei de 5a a 8a série e também o Segundo Grau completo. Acompanhara portanto como aluno muitas mudanças físicas no colégio, que é considerado a escola-polo de Vespasiano. Pode-se dizer que fui aluno num tempo em que a maioria dos estudantes morava na parte central da cidade, incluindo o Célvia antigo e o Caieiras Velho, já que ainda nem existiam os conjuntos habitacionais Caieiras e Morro Alto e nem tampouco a maioria dos bairros, como: Jardim da Glória, Vila Esportiva, Gávea I e II, Jane, Vale Formoso, Vista Alegre, entre outros.

Na condição de professor, duas décadas depois, notei que a grande maioria dos alunos, para a honra e glória da escola, era originária justamente destes novos bairros, já que os moradores da parte central envelheceram, ou se reproduziram em menor número, ou mudaram-se para as franjas da cidade, dando lugar ao comércio.

Mas, aluno é sempre aluno, embora os contextos sejam outros. Minha relação com os alunos sempre foi muito boa, de respeito e de conquista mútua de confiança, descobertas e trocas de conhecimento. Claro que há sempre exceções, de alunos que em dados momentos estão mal humorados, ou da nossa parte também, que nem sempre estamos inspirados e pacientes como deveria ser. Mas, são conflitos que a gente sempre resolve nos limites da sala de aula, ou, no limite, convidando o aluno a uma cordial visita à sala da vice-direção ou da supervisão. Até nessas situações é importante manter o respeito e a dignidade, de ambos. Não posso reclamar quanto a isso: em todas as escolas que lecionei (no Renato Azeredo, no Machadão, no Padre Senabre, no José Paulo, no Cesec Vila Esportiva e por poucos dias no Francisco Viana) nunca tive grandes problemas na relação com os alunos, embora reconheça que haja uma grande mudança de contextos e comportamentos em relação à minha época enquanto aluno do ensino público básico.

A desestruturação das famílias em função mesmo das realidades marcadas pela correria do mundo atual, com o aprofundamento dos problemas sociais, das enormes desigualdades, e também pelas mudanças de valores, acabaram por transferir para as escolas - ou para os/as professores/as- responsabilidades e encargos que antes ficavam a cargo dos pais. O professor hoje é um pouco pai, mãe, psicólogo, disciplinador, babá, separador de brigas, e de vez em quando ele consegue ser professor, aquele que consegue passar o conteúdo no processo de ensino-aprendizagem dentro dos contextos vividos pelos alunos.

São os tais ossos do ofício, de um ofício que reluta em mudar, em avançar para além do pó de giz, cuspe e quadro, além da separação mecânica das disciplinas, dos tempos divididos em módulos e enquadrados em fraçoes fixas de tantos minutos, quando se deveria ter avançado para projetos que envolvessem todas as disciplinas em torno de conteúdos que pudessem ser trabalhados em diferentes espaços, tempos e equipamentos múltiplos, respeitada a autonomia de cada escola para organizar sua política pedagógica. Isso sem falar no salário... Salário? Que salário? Enfim, algum dia isso muda e chegaremos lá.

Enquanto isso, nos limites dados ao professor e no cumprimento daquilo que foi estabelecido formalmente no início do ano, vamos adaptando os nossos fazeres às realidades encontradas. No segundo semestre de 2006 eu acompanhava à distância o desenrolar da grande rebeldia liderada inicialmente pelos professores de Oaxaca, no México. Uma verdadeira revolução estava em marcha naquela região do México. Uma revolta contra o governo, contra o sistema, bem maior e mais radical do que a nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias, aqui em Minas.

Pela Internet, acompanhava as manifestações, os vídeos e fotos produzidos, de uma história de rebeldia contra um governo truculento e criminoso. Achei que era uma boa oportunidade repartir a percepção daquela realidade com meus alunos. Mas, era uma realidade muito distante geograficamente daquela vivida por eles, embora pudesse guardar semelhanças em muitos aspectos.

Ao invés de levar as informações prontas e acabadas, com a minha visão de mundo, achei por bem pedir para os alunos pesquisarem a respeito e produzir trabalhos em grupo. Como um dos focos da pesquisa conduziria necessariamente à relação de poder entre a população de baixa renda e o poder estabelecido, ligado a determinados grupos sociais, considerei por bem estimular os alunos a uma pesquisa paralela, mais próxima do nosso cotidiano. Desta feita, seria realizado um trabalho de visita à Câmara Municipal de Vespasiano, cujos edis se reúnem uma vez por semana (na época, toda 2ª feira, às 15h ou 15h30 mais ou menos).

A primeira pesquisa, a da revolta em Oaxaca, seria feita basicamente através da Internet, complementando com o parco noticiário da mídia. A outra, ao contrário, era um trabalho de campo, extraclasse, onde os alunos teriam que visitar pessoalmente o parlamento local, assistir a uma reunião, pelo menos, observar e anotar os temas discutidos, o posicionamento dos vereadores, se havia presença de populares durante às sessões, etc. Caso houvesse possibilidade, convidaríamos os vereadores, ao final das sessões, para responder às perguntas ou dúvidas dos alunos.

O resultado das pesquisas seria levado para a sala de aula, discutido entre os diversos grupos, que produziriam relatório e o apresentariam para as respectivas turmas. Este projeto, ao qual dei o nome de "Cidadania e poder", envolveu turmas do 1º grau (duas turmas da 8ª série) e várias turmas do 2º grau, incluindo alunos dos turnos da manhã, tarde e noite. Os alunos do 1º grau eu os acompanhei até a Câmara, enquanto os do 2º grau, até porque eu lecionava na hora das sessões da Câmara e não estava liberado para acompanhá-los, foram sozinhos àquela Casa, apenas com as recomendações de costume: "meninos e meninas, comportem-se bem, saibam ouvir, anotem tudo, se puderem entrevistem os vereadores e a comunidade presente, mas sejam educados". Ponto.

É bom destacar que eu não combinei nada com os vereadores, pois queria que os alunos acompanhassem a realidade tal como ela é e não algo artificial, como, de certa forma, aconteceu na minha época, quando era ainda aluno do Machado. Fui a uma reunião na Câmara com meus colegas de turma numa sessão que foi toda preparada para nos receber, com direito a lanche ao final e tudo mais. Mas, eram outros os tempos e mesmo assim, apesar do cenário artificial, lembro-me que captamos detalhes que à época geraram debates entre os alunos e a professora de História que proporcionou aquele instigante trabalho.

Assim, lá vou eu com a cara e a coragem conduzindo uma turma de 8ª série para uma primeira visita à Câmara. Esperamos o recreio terminar e fomos direto para o legislativo local. A turma era bem agitada, mas se comportou bem no trajeto, considerando que eu estava sozinho a conduzi-los. Ou seria o contrário? Chegamos por volta das 16h para assistir à reunião que normalmente começaria por volta das 15h30m. Para nossa surpresa, assim que chegamos a sessão foi encerrada e um grupo de pessoas da comunidade que assistia a reunião nos informou que o término da mesma tinha sido provocado por nós, pois os vereadores souberam da nossa visita àquela Casa e o presidente teria "apressado" o final da sessão. Não sabíamos que a nossa presença era tão assim, digamos, indesejada (kkk).

Mas, tudo bem, não poderíamos perder a caminhada, nem a paciência. E também não poderíamos decepcionar os alunos que alimentaram grande expectativa para aquele acontecimento. Imediatamente pedi aos alunos que sentassem nas cadeiras da frente do espaçoso auditório da Câmara e fui até onde os vereadores costumam se reunir após as sessões para o lanche e convidei-os para um diálogo com os alunos. Fiz o mesmo convite aos poucos moradores que lá estavam assistindo às reuniões, entre eles a professora Santuza e o Rogério do PT, que marcavam presença em quase todas as reuniões da Câmara.

Santuza e Rogério toparam na hora e apenas dois dos 10 vereadores se dispuseram a dialogar com os alunos, um deles ligado ao governo e a outra da oposição ao então prefeito. Portanto, um grupo bem representativo: dois líderes da comunidade, um vereador do governo e uma vereadora da oposição. Fizeram uma exposição inicial rápida sobre os problemas da cidade e também sobre o papel do poder legislativo e sua relação com o poder Executivo. Os alunos ouviram em silêncio e em seguida fizeram questionamentos. É importante frisar aqui algumas observações que colhemos para nossa avaliação do trabalho. Por exemplo: um dos alunos que em sala de aula tinha baixa produção e geralmente conversava muito, naquele momento assumiu uma postura de liderança, fazendo muitas perguntas de forma coerente e inclusive chegando a deixar o vereador do governo de "saia justa". O estudante insistiu para que o vereador apontasse uma obra pelo menos que ele tivesse levado ou indicado para o bairro que ele representava e o vereador não conseguiu atender a esta pergunta. Enrolou, enrolou e nada. Vários alunos fizeram perguntas interessantes, demonstrando o quão importante é este contato fora da sala de aula.

As visitas dos alunos do 2º grau foram emocionantes, embora eu só ficasse sabendo por meio dos relatórios que eles produziram e do ti-ti-ti que gerou na cidade. Houve um caso, por exemplo, de uma turma que combinou de assistir em grupo à reunião da semana seguinte. Quando lá chegaram, os alunos presenciaram um bate-boca entre alguns vereadores e cidadãos que assistiam à reunião. O presidente da Câmara, ao perceber a presença dos alunos testemunhando o inflamado debate ficou preocupado. Na condição de alunos, mas também enquanto cidadãos, os estudantes acabaram se envolvendo na polêmica, aplaudindo ou vaiando o que acharam importante, de acordo com o critério deles. Diante disso, o presidente da Câmara tratou logo de encerrar a sessão. Neste momento, disseram-me que uma das estudantes levantou-se lá de trás do auditório e disse em voz alta:

- Não senhor, você não vai encerrar esta reunião não! Nós viemos aqui para assistir os debates e produzir um relatório e vamos fazer isso". Todos os presentes aplaudiram-na.

E em seguida a referida aluna chamou todos os colegas para irem para a frente do auditório próximo dos vereadores e exigiu a continuidade da reunião. O fato é que a coisa rendeu. Esta mesma aluna foi atrás de alguns vereadores para entrevistá-los, visitou vários moradores que estavam na Câmara, inclusive a combativa professora Santuza, numa iniciativa pessoal, sem qualquer orientação da minha parte, que havia pedido aos meus 500 alunos apenas que eles comparecessem a uma das sessões semanais, anotassem o que estava sendo discutido e se possível conversassem ali mesmo com moradores e vereadores após o término da sessão. Tudo como parte do projeto "Cidadania e poder" que havíamos preparado em sala.

O fato é que a presença dos estudantes do Machado durante três ou quatro semanas incomodou os vereadores, a ponto do presidente daquela Casa ter reclamado diretamente com a diretora da escola, afirmando que "os alunos do Machado estão fazendo baderna na Câmara". A diretora da escola me procurou e eu esclareci sobre o trabalho e seus objetivos. Ela pediu que eu redigisse um ofício formal respondendo à fala do presidente da Câmara, o que eu fiz imediatamente, destacando a minha estranheza para com a atitude do nobre edil, que deveria estimular a presença e a participação cidadã dos estudantes, ao invés de criticá-los. A diretora encaminhou o ofíco para a presidência daquela Casa, dita do povo.

Mas, quem realmente lavou a minha alma foi um estudante do 1º ano do 2º grau (que coincidentemente tinha sido meu aluno na 6ª série no Padre José Senabre), ao participar de uma conferência na Câmara, que discutia as diretrizes e bases do orçamento municipal, com a presença de todos os vereadores e de lideranças de todos os bairros. Este estudante, brilhante aluno, foi eleito lá mesmo para representar a comunidade na apresentação das propostas formuladas pelos grupos de trabalho. E como ele havia participado do nosso projeto, não deixou barato e aproveitou a oportunidade para "lembrar" aos vereadores que aquela Casa era do povo e narrou a experiência que os alunos viveram. Puxou literalmente as orelhas dos vereadores, mostrando que a cidadania se constrói assim, com a participação e com o devido respeito à comunidade. Mereceu palmas de todos os presentes.

O projeto "Cidadania e poder", envolvendo a rebeldia em Oaxaca e as visitas à Câmara de Vespasiano foi para mim e para meus alunos uma importante experiência. Diferentes análises foram realizadas; os alunos produziram belíssimos relatórios e muitos se interessaram em conhecer melhor a vida política da cidade, do Brasil e do mundo, pois o contato prático com alguns instrumentos de poder - para além daqueles que no cotidiano todos nós estamos submetidos - colocou-os na "linha de fogo", digamos assim, enquanto pesquisadores, mas também enquanto cidadãos.

Dadas às limitações a que fiz referência no início do texto, não pudemos desenvolver e explorar ainda mais o projeto, mas, dentro desses limites colocados, o projeto cumpriu plenamente seus objetivos. E até hoje vários ex-alunos com os quais encontro nas ruas da cidade comentam comigo aqueles momentos e me perguntam (ou cobram de mim) se eu estou realizando o mesmo trabalho com os atuais alunos. Enfim, foi uma experiência que marcou positivamente as nossas vidas. E que de alguma forma foi possível perceber o quanto, seja em Oaxaca ou em Vespasiano, a participação - ou a omissão - direta das pessoas pode fazer toda a diferença.


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Leiam também no blog S.O.S. Educação Pública o artigo "Férias Relâmpago", da nossa colega professora Graça Aguiar, que corretamente reclama mais tempo livre para professores e alunos.


Acompanhem também o Boletim Nº 18 do Blog do COREU sob a coordenação do nosso amigo e colega Wladmir Coelho. A partir de agora o Blog do COREU publica também os artigos do jornalista Pedro Porfírio.

sábado, 24 de julho de 2010

Propostas da Educação para a candidata Dilma


À exceção do suspeitíssimo instituto Datafolha, a serviço da Folha de S. Paulo e da Rede Globo, que teima em apontar o candidato dos demotucanos Serra ainda com ligeira dianteira, todos os demais institutos apontam um claro crescimento da candidata Dilma Roussef nas pesquisas de opinião. Há uma grande possibilidade da candidata Dilma vencer no primeiro turno. As últimas pesquisas apontam uma vantagem de 8 pontos em favor de Dilma (41% a 33%), percentual que tende a crescer na medida em que Dilma for identificada como a candidata do presidente Lula, que goza de enorme popularidade, especialmente entre as camadas mais pobres da população brasileira.

A candidata Marina Silva aparece em terceiro lugar com percentuais entre 8 e 9 pontos, enquanto os candidatos com um perfil ideológico mais defininido, como José Maria do PSTU e Plinio Arruda do PSOL aparecem ainda com algo próximo de 2%. É grande ainda o número de indecisos. Estes são os dados. Passamos agora à análise, provocado que fui pelo colega João Paulo Ferreira de Assis, que nos deixou a seguinte mensagem:

"Temos que fazer com que a Dilma, logo depois de eleita, (se Deus assim o permitir, no 1º turno) faça uma reunião com os governadores eleitos e lhes fale da necessidade de cumprir a lei do Piso Salarial.

Outrossim, eu penso numa idéia para persuadir esses governadores. Conceder um prêmio na forma do aumento de repasse de verbas para o Estado do Espírito Santo e algum outro Estado que cumpra a referida lei. Assim, os governadores, se convenceriam melhor. Peço aos prezados colegas de magistério que deem suas opiniões, e bem assim quero o parecer do Professor Euler."

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Portanto, atendendo ao pedido do bravo colega João Paulo vou falar sobre este assunto, com enfoque geral primeiramente para depois tocar especificamente nas questões ligadas à Educação.

Salvo algum acidente de percurso de grande alcance, a próxima presidente do Brasil deve ser mesmo a candidata Dilma Rousseff. Uma improvável vitória do candidato Serra representaria um enorme retrocesso para o Brasil. Os demotucanos têm um legado de destruição do serviço público, de corte de direitos históricos dos trabalhadores, de implementação enfim de políticas neoliberais voltadas para as minorias privilegiadas. A política do faraó aqui em Minas é um pouco a expressão dessas práticas demotucanas quando estão no governo. Não negociam com movimentos sociais, se alinham ao imperialismo norteamericano e europeu na política externa, privatizam e vendem até a alma se possível for. São os criadores da famigerada Lei de (ir)Responsabilidade Fiscal, que garante verba para empreiteiras, enquanto pune os servidores da Educação e da Saúde, etc., etc., etc. No governo de SP, Serra tratou a greve dos professores com gás de pimenta e tropa de choque. Portanto, o educador que votar em Serra merece viver e morrer com salário mínimo, ou menos. Essa é minha opinião inicial.

Agora, falemos sobre a Dilma. Pessoalmente, tem todas as qualidades para ocupar a presidência e fazer um governo mais voltado para os de baixo. Quando falo "pessoalmente", estou delimitando a pessoa das circunstâncias. Dilma tem passado de resistência contra a ditadura militar e seu presente está associado ao governo Lula, aos pontos bons e também aos ruins. O arco de alianças realizado pelo PT desde a primeira eleição de Lula inclui acordos com setores privilegiados, grupos econômicos, banqueiros, agronegócio, etc. E o desdobramento desses acordos pudemos perceber na manutenção de boa parte da política neoliberal da época de FHC, com a brutal transferência de renda para banqueiros e proprietários da dívida pública.

A par destes compromissos negativos, o governo Lula desenvolveu também um leque de políticas públicas voltadas para o social, como o Programa Bolsa Família, que beneficia cerca de 11 milhões de famílias de baixa renda, o Prouni, o Luz para todos e o programa Minha Casa Minha Vida, entre outros, que são programas de grande alcance social. Pela manutenção e aprimoramento destes programas já valeria a pena, numa eleição plebiscitária, eleger a candidata Dilma em oposição ao candidato demotucano.

Mas, é preciso que se diga: o governo Lula tem uma enorme dívida com a Educação pública na modalidade ensino básico. Se os educadores de Minas e do Brasil recebem a miséria de salário que recebem (recebemos), o governo federal é co-responsável por isso, ao lado dos governadores e prefeitos. Em oito anos de governo era tempo suficiente para que Lula tivesse realizado uma real política de valorização dos educadores e não apenas fazer aprovar uma lei do piso que, apesar do valor ridículo, sequer é praticada nos estados e municípios. Claro que os governantes como o faraó e seus colegas têm uma parcela majoritária de culpa, pois poderiam muito bem pagar o piso independentemente de quaisquer processos de enrolação na Justiça brasileira. Mas, o governo Lula poderia ter chamado para si esta responsabilidade, inclusive colocando os governantes locais contra a parede: ou vocês pagam, ou abrem mão dos 25% da Educação e transferem tudo para a União que ela pagará.

Acho, aliás, que Dilma precisa assumir um compromisso deste porte com os educadores. Não basta reconhecer que os educadores ganham mal e que precisam ser valorizados. Palavras ao vento e promessas ocas já estamos de saco cheio. Queremos propostas concretas - aliás o pessoal mais chegado na cúpula do governo federal, tipo a CNTE e outros, bem que poderia mandar este recado diretamente para a candidata Dilma: queremos propostas concretas para assegurar um salário digno para os educadores
do ensino básico no Brasil .

Eu chamo de propostas concretas algo mais ou menos assim: a) o piso passará em janeiro de 2011 ao valor de R$1.800,00; b) vamos assegurar o pagamento pelo menos do piso salarial para todos os educadores do Brasil, independentemente da jornada praticada; c) vamos aprovar no primeiro ano de governo um plano de carreira nacional, com a valorização do tempo e do título acadêmico, jornada de trabalho comum em escala nacional (por exemplo: 30 horas semanais) com tempo extraclasse mínimo de 1/3 da jornada; d) vamos desvincular se necessário for a folha de pagamento do pessoal da Educação nos estados e municípios da Lei de Responsabilidade Fiscal; e) o estado ou município que não conseguir pagar o piso e gratificações previstas no plano de carreira perde automaticamente os recursos do FUNDEB em favor da União que ficará responsável por assumir integralmente o pagamento da folha de pagamento dos educadores.

Somente com propostas deste porte deixaremos de assistir a esse jogo de empurra onde uma esfera do governo coloca a culpa na outra e nós, os educadores, ficamos no meio deste jogo com cara de idiotas e recebendo os piores salários de todas as carreiras públicas para profissionais com a mesma formação acadêmica.

Claro que há muitas outras demandas sociais pendentes no Brasil e que merecem também grande atenção como prioridade no lugar das enormes riquezas transferidas para os ricos. Mas, o nosso foco aqui é a Educação. E espero sinceramente que Dilma faça mais do que Lula para o ensino básico. E que apresente propostas e compromissos concretos para essa área, que está ligada diretamente com o presente e o destino de milhões de pessoas, especialmente as de baixa renda. Os números da Educação são robustos: somos 3 milhões de educadores em escala nacional e lidamos com 50 milhões de crianças, jovens e adultos. Pelo peso numérico e pelo significado essencial da Educação pública, não há nada - nem copa do mundo, nem qualquer outro projeto - que mereça maiores investimentos do que esta área. Para hoje e não para daqui a 10 ou 20 anos, como gostam de fazer os políticos com as demandas sociais.

Estaremos acompanhando o desenrolar dessa novela nos próximos meses, com novas análises e perspectivas. Mas, como tenho falado em todos os meus textos, acredito mesmo é na força da nossa luta, da nossa união, organização e mobilização para o combate quando necessário, seja contra quem for o próximo governante.

* * *

Leiam também a entrevista do candidato Hélio Costa no jornal Hoje em Dia deste domingo. Vou colocar aqui os links das entrevistas de todos os candidatos, para que os educadores conheçam as propostas e promessas dos candidatos. Ou a ausência de propostas e compromissos. Transcrevo abaixo apenas a parte dedicada à Educação e a seguir colocarei o link para que nosso ilustre visitante possa ler a entrevista na íntegra, se assim o desejar:

"Hoje em Dia: O orçamento do Estado está chegando ao seu limite para a área de educação. Queria saber do senhor sobre o aumento para os professores da rede estadual e de onde o [senhor] retiraria os recursos para as escolas técnicas?

Hélio Costa:
Temos um compromisso com a área de educação que começa pela revisão da proposta que foi feita para os professores [grifo do Blog do Euler] depois de uma greve que aconteceu neste ano, logo no início do governo do meu adversário. Entendemos que a proposta que foi feita precisa ser revista, porque pode aparentar um ganho para os professores iniciantes, mas não é. Se ele tem um salário que vai ser elevado de aproximadamente R$ 900 para R$ 1.300, ele vai ficar condenado, dali para a frente, a não ter uma progressão na carreira. Vai ficar preso àquele salário. Vai perder todos os ganhos que os professores tiveram no decorrer desses anos, especialmente aqueles que estão com 20, 25, 30 anos de serviço, que não têm mais, a partir de agora, o seu quinquênio, todos os seus benefícios. Ele perde esses benefícios. É uma proposta meio ingrata. Ela resolve um problema: o do candidato que é governador de não ter o professor em greve durante o período de campanha, mas não resolve o problema do professor. Não resolve a questão salarial do professor. Achamos que devemos rever essa proposta, até porque ela foi feita de uma forma que não é a mais elegante de se fazer em um período eleitoral, ou seja, decidir agora para pagar no ano que vem. Tudo que se decidir nete momento tem de ser pago agora. Tem de pagar neste ano, neste governo. Para o próximo governo, quem for o governador, deve ter o direito de sentar com as lideranças dos professores e discutir um caminho para resolver o problema, porque, do contrário, vamos ficar sempre limitados. Com respeito ao recurso para a educação técnica, é muito importante lembrar que a receita de Minas vem crescendo de uma forma espetacular nos últimos anos. Em 2002, quando começa o governo atual, ela era de R$ 12 bilhões. Hoje, estamos fechando o orçamento do ano que vem em R$ 46 bilhões. Quer dizer, não é possível que não se encontre recursos com esse crescimento de receita para poder fazer o que estamos pretendendo, que é dar à escola de segundo grau, também - não é mudar ou trocar a escola, não é fazer só uma escola como os antigos ginásios polivalentes, não é isto que estamos propondo -, a opção de fazer a formação profissional dos nossos jovens. Isto, o orçamento do Estado tem de prever. Não vamos ter de retirar (recursos) de lugar algum, Vamos ter de, simplesmente, acomodar essa proposta."

Para ler a entrevista completa clique aqui.

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Leiam também a mini-entrevista feita com a candidata Vanessa Portugal do PSTU pelo jornal O Tempo. Transcrevemos abaixo a parte dedicada à Educação e em seguida o link da matéria completa:

"O Tempo: Qual é a sua principal proposta para as áreas de educação e saúde?

Vanessa Portugal: É importante que se diga que qualquer proposta passa por um aumento substancial dos investimentos do Estado nessas áreas. Hoje, Minas Gerais não gasta sequer o mínimo previsto pela Constituição Federal nesses setores. Para a educação e saúde defendemos o aumento imediato dos salários dos trabalhadores rumo ao piso do Dieese, que é de R$ 2.157, e o fim das contratações irregulares, com a realização de concursos públicos que cubram 100% das vagas, além da implementação de um verdadeiro plano de carreira no Estado.
"

Para ler a íntegra da entrevista clique aqui.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A pão e água



Com pouca grana, as férias dos educadores mineiros serão regadas a pão e água. Mas, as dos desembargadores, deputados, senadores, governador, ex-governador, secretários de estado...

Final de mês, salário de fome e poucos dias de férias ou recesso escolar. É este o presente do faraó e do seu afilhado para os educadores mineiros. O recesso dos desembargadores que votaram a ilegalidade da nossa maravilhosa greve dos 47 dias, ou o dos parlamentares que votaram contra as emendas dos educadores, geralmente é de 30 dias e banhado a vinho, champanhe e muita grana. Salários que ultrapassam a casa dos 30 mil, entre o básico e os penduricalhos. Enquanto isso, os professores de Minas sobrevivem com um salário mínimo e mais alguma coisa de complemento.

É o retrato estampado de um país cuja elite, cínica e hipócrita, não queima a cara ao prometer e mentir em época de eleição enquanto pratica, no governo, políticas de arrocho salarial contra os servidores públicos para encher os cofres de minorias privilegiadas. Onde estão os 46 bilhões anuais da receita total de Minas? Boa parte desse dinheiro está no bolso de empreiteiras que financiam as campanhas do faraó, do afilhado e da sua base de apoio; ou da mídia, que é paga para nos roubar a liberdade de expressão e de opinião. Outra parte está no bolso de deputados, desembargadores, conselheiros do TCE, enfim, de uma elite privilegiada. Já os professores, com curso superior e tudo mais, recebem menos que dois salários mínimos.

Não é a toa que o Brasil foi apontado hoje como o 3º país da América Latina em matéria de má distribuição de renda, aquele que possui portanto um dos maiores abismos entre ricos e pobres (vejam reportagem a respeito aqui, no jornal Hoje em Dia). O serviço público é um bom exemplo desse mau exemplo. Enquanto um professor em Minas com ensino superior recebe menos que dois salários, um desembargador, ou deputado estadual / federal, ou conselheiro do TCE, entre outros, recebe em torno de 60 salários mínimos mensais. E são eles que decretam as ilegalidades das nossas greves; são eles que votam contra as emendas de reajuste dos nossos salários; são eles que aprovam as contas do estado e dos municípios.

Tudo isso um dia tem que acabar. Talvez seja por isso que a elite brasileira e mineira tenha tanto medo de uma educação de qualidade, que obviamente pressupõe a valorização do profissional da Educação. Eles temem que a população mais pobre se torne uma cidadania crítica, capaz de cobrar organizadamente seus direitos, ao invés de optar pelo crime comum como falta de alternativa.

Façamos, portanto, dessa minguada semana de recesso, com bolso vazio, a pão e água, um momento de reflexão crítica dessas realidades que nos circundam. Para que isso se transforme não um motivo de desânimo ou desespero, mas de estímulo à nossa luta, à nossa unidade e à nossa capacidade de organização e mobilização contra todas as forças demoníacas que atormentam a população mineira e brasileira. Eles podem confiscar por um tempo parte do nosso salário, dos nossos meios de sobrevivência, mas não podem roubar os nossos sonhos, que hão de se transformar em força viva e organizada na construção de uma Minas Gerais melhor, mais justa e solidária.

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- Leiam também artigo da colega Marly Gribel no blog Proeti no Polivalente clicando aqui.

- E diretamente do Blog do COREU a Coluna do Sofressor com o artigo: "A frase do ano para os professores de São Paulo! Mas cabe aos de Minas também...".

- E ainda do Blog do COREU a coluna do nosso combativo amigo e colega Sebastião Gonçalves: "Sind-UTE-MG precisa melhorar em que?".

Os educadores precisam se preparar para enfrentar o próximo governo



Com a proximidade do final do governo do faraó e seu afilhado, e tendo em vista algumas conquistas arrancadas durante a nossa maravilhosa revolta-greve dos 47 dias, torna-se necessário que nos preparemos neste segundo semestre para enfrentar o próximo governante, seja ele quem for.

Fiz questão de colocar esta palavra - enfrentar - porque não enxergo entre os principais concorrentes ao palácio do governo facilidades e sensibilidade para com a Educação pública e os educadores de Minas Gerais.

De um lado nós temos a continuidade da política de arrocho salarial e choque de gestão do atual governo. Do outro, um candidato que faz críticas à política do atual governo, mas que até o momento não apresentou propostas concretas, nem disse que vai acatar as propostas do nosso sindicato. Ao dizer, por exemplo, que vai manter o pagamento de quinquenios e bienios é preciso que se esclareça pelo menos duas questões: vai estender estas gratificações para todos? Segundo, vai elevar o vencimento básico ao valor do piso nacional do magistério? Sem essas questões respondidas fica difícil acreditar que se fará mudanças que nos favoreçam.

Mas, se do lado dos candidatos prevalecem até o momento as promessas e a ausência de compromissos com os servidores da Educação, do nosso lado, ao contrário, precisamos nos entender sobre o que queremos, quais são as prioridades da nossa luta, as nossas bandeiras e os nossos métodos de ação.

E aqui eu volto a alinhavar algumas questões que precisamos responder para nós mesmos. Primeiramente, é preciso ter clareza de que não dá mais para aceitar a divisão da categoria como tentou provocar a política neoliberal do faraó, que dividiu os educadores entre os mais antigos com algumas conquistas históricas e os novatos sem nenhuma conquista, e depois igualou todos por baixo. Isso nós não podemos mais permitir.

Portanto, colegas, nós temos que ter em mente as carreiras que queremos, com critérios bem claros, que garantam a isonomia no tratamento dos profissionais numa mesma situação. Não dá para uns terem quinquênios e outros não. Também não dá para uns terem muito tempo de casa e receber o mesmo salário de quem está ingressando agora na carreira.

Na minha opinião, a questão principal nem é se a pessoa vai ganhar ou perder as gratificações (quinquênios e biênios), até porque essas gratificações, aplicadas a um vencimento básico ridículo como o atual, perdem a substância. Mais importante do que isso é garantir cinco coisas básicas numa carreira:

1) um salário inicial razoável para quem está iniciando a carreira. Que seja um fator de atração de novos e valorosos quadros de educadores. As novas tabelas ainda estão aquém do que merecemos, mas já representaram uma pequena conquista;
2) uma política de valorização pelo tempo de serviço, que pode ser ou a volta do quinquênio e do biênio para todos, sem exceção, aplicados ao salário inicial; ou a progressão na carreira com o índice do plano de carreira atual (3% a cada dois anos) combinada com outro índice, que pode ser o quinquênio ou até mesmo o pó-de-giz. Isso consiste ainda no imediato reposicionamento de todos de acordo com o tempo de serviço;
3) uma política que estimule o aprimoramento profissional e acadêmico, através da mudança de nível pela titularidade acadêmica, com o percentual do nosso atual plano de carreira (22%). Mas, é preciso reduzir o tempo de interstício entre uma e outra promoção, ou pelo menos de uma primeira promoção, pois cinco anos é muito tempo;
4) a manutenção do cargo de 24h com a ampliação do tempo extraclasse (16 h/a de docência e 8 h extraclasse) com a possibilidade de extensão de aulas com pagamento proporcional. A possiblidade de uma jornada de 40h (com um terço do tempo extraclasse) para quem tenha dois cargos também deve ser considerada;
5) reajuste anual dos salários com correção pelo menos da inflação do ano anterior.

Estes pontos devem ser discutidos pela categoria para que se construa um programa comum de reivindicações iniciais com o novo governante.

De imediato, no primeiro dia de governo do novo ocupante do palácio do governo de Minas - seja na Cidade do Faraó ou no Palácio da Liberdade -, além de exigir o pagamento das novas tabelas em janeiro de 2011, devemos estabelecer uma estratégia de cobrança que assegure de imediato pelo menos o reposicionamento dos educadores de acordo com o tempo de efetivo exercício na carreira, incluindo o tempo de estágio probatório, de contrato, etc. Esta primeira conquista com o novo governante será o início de um resgate histórico em relação às grandes perdas salariais ocorridas ao longo dos últimos 10 anos, pelo menos.

As demais reivindicações podem ser conquistadas durante o ano de 2011. Mas, imaginemos que o novo governante não queira ceder em relação às reivindicações colocadas e demonstre interesse em jogar pesado contra os educadores. Temos que estar preparados para responder a esse desafio com a linguagem prática que todo governante sabe ouvir: uma forte greve por tempo indeterminado, ainda mais organizada do que a atual. Para isso, é preciso preparar as bases da categoria, envolver a comunidade e corrigir as fragilidades apresentadas na greve deste ano.

Se o novo governante for o atual, afilhado do faraó, podem esperar o endurecimento para cima do nosso movimento. Vamos ter que jogar pesadíssimo, pois mesmo em final de mandato e às vésperas da eleição ele demonstrou que não é afeito à negociação com o nosso movimento e que lançará mão de todos os mecanismos de coerção para tentar destruir o nosso movimento.

O outro candidato nós ainda não sabemos como se comportará. Pode ser que ele queira ceder alguma coisa no imediato para fazer esfriar o movimento e depois articular para dividir ou enfraquecer o nosso movimento. Quem está no poder não costuma conviver com movimentos sociais autônomos e tudo faz para cooptar lideranças, perseguir outras, dividir a categoria com propostas que favoreçam parcela dos trabalhadores, como fez o faraó em relação aos quinquênios e biênios que foram confiscados de quem ingressou na carreira em 2003 - ou de quem ficou um ano afastado da sala de aula.

Nós podemos até manifestar - individual ou coletivamente - a preferência por este ou aquele candidato, mas não podemos perder de vista que a conquista das nossas reivindicações depende diretamente da nossa força, da nossa união e capacidade de mobilização, e nem tanto da benevolência ou sensibilidade deste ou daquele governante. Claro que com um governante que tenha maior sensibilidade para com os problemas sociais será melhor para se negociar. Mas, mesmo em relação a este governante, devemos manter a nossa postura de autonomia e independência, sempre prontos para o combate.

É dessa forma que nos faremos respeitar. É dessa forma também que a comunidade nos respeitará. No próximo texto, que pretendo redigir talvez neste final de semana, quero abordar um tema caro para todos nós, que é a autonomia e democratização nas escolas, que está relacionado também com as condições de trabalho do educador. Salário justo, condições dignas de trabalho, autonomia e democracia, são partes que constituem a valorização das carreiras da Educação.

Um abraço a todos e força na luta.