quarta-feira, 12 de maio de 2010

Visões distorcidas do nosso cotidiano


Cartaz dos bravos moradores da Ocupação Dandara, que o nosso blog apoia.

O jornal Estado de Minas, publicou hoje, dia 12, mais uma matéria atacando os movimentos sociais e em greve. Este jornal, como sabemos, é saudosista e respira ainda os ares da ditadura militar e merece o desprezo dos leitores mineiros. Mas, nós vamos aproveitar um trecho da dita matéria publicada pelo jornal para fazer um breve comentário de como uma leitura pró-governo pode distorcer os fatos e apresentá-los de modo a culpar as vitimas. Vejam:

"Manifestações sufocam BH

Moradores de áreas invadidas e professores da rede estadual em greve há mais de um mês param a cidade, da manhã até a noite, complicando a vida de milhares de pessoas
Paulo Henrique Lobato, Daniel Antunes e Amanda Almeida

Belo Horizonte viveu ontem mais um dia tumultuado. Protestos de três comunidades ligadas aos movimentos sem-teto e sem-terra, com a invasão de um prédio público, e dos professores da rede estadual, mesmo com a decisão ontem, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), mantendo a ilegalidade da greve, deixaram o trânsito mais uma vez caótico em grandes corredores. Os movimentos prejudicaram muita gente. Trabalhadores bateram cartão atrasados ou não conseguiram chegar ao serviço, estudantes tiveram dificuldade para chegar às salas de aula, motoristas ficaram parados nas ruas e avenidas e dezenas de policiais militares e guardas municipais precisaram ser deslocados para acompanhar os manifestantes.(...)"

Análise dos fatos e das versões

Reparem que o jornal toca em problemas sociais sem apontar as possíveis causas. No caso dos sem-terra e sem-teto, trata-se de uma omissão dos governos em resolver problemas estruturais antigos, de falta de terra e de moradia para milhares de cidadãos.

Não tendo onde morar, milhares de pessoas precisam ocupar terras improdutivas e usadas para a especulação. A nossa Justiça, que já deu provas de que age quase sempre ao arrepio da Lei Federal, que prevê o papel social da propriedade, manda sempre reintegrar a propriedade da terra ocupada por centenas de pessoas para o proprietário do imóvel, que é usado com fins de especulação. E não apresenta alternativa alguma: milhares de seres humnanos, cidadãos braisleiros, devem simplesmente viver nas ruas da cidade, pois não têm onde morar. E quando fazem um movimento de protesto, para esta mídia serviçal dos de cima, atrapalha o trânsito.

No caso da greve dos professores, trata-se igualmente de uma expressão do descaso do governo Aécio-Anastasia com a Educação pública e com os educadores, que recebem salário de fome. Sem canais de negociação, os trabalhadores lançam mão da greve. A justiça rasga a constituição, diz que o serviço da Educação é essencial - menos o salário dos profissionais - e manda os grevistas voltarem ao trabalho. Como não aceitamos esse descumprimento da lei pela justiça - a ilegalidade não é dos professores, mas dos desembargadores, coisa que a mídia sequer questiona - continuamos a greve.

A mídia não nos vê. O próprio jornal Estado de Minas passou praticamente 30 dias escondendo a greve, a não ser para criticá-la. Quando vamos para as ruas protestar e mostrar para a comunidade aquilo que a mídia esconde, novamente o jornal diz que estamos atrapalhando o trânsito e pertubando a paz existente na cidade. De forma oportunista, tenta envolver trabalhadores e estudantes, cujos problemas nunca são lembrados pelo jornal, como vítimas da nossa paralisação.

E é assim que a nossa mídia funciona - não apenas o Estado de Minas, mas também a Veja, a Folha de São Paulo, a Rede Globo, as rádios, etc., etc. Distorcem os fatos. Ou melhor, vêem as coisas com os olhos dos de cima, não apresentando qualquer sensibilidade para com os problemas dos de baixo. A lógica deles é a mesma das elites truculentas que governam o Brasil e especialmente Minas Gerais: problema social é caso de polícia e não de mais investimento social para reduzir as desigualdades. É a lógica dos tempos de Brasil colônia, que sobrevive na mentalidade e na prática dessa elite atrasada e mesquinha.

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