Entre 2010 e 2012, este blog estava a serviço dos profissionais da Educação de Minas. Posteriormente, o blog ampliou os temas, sempre na defesa das melhores causas. A partir de outubro de 2023, demos especial destaque à corajosa resistência do povo palestino contra o sionismo e o imperialismo. Além disso, produzimos um combate sem trégua ao capitalismo, apresentando como saída a construção de uma outra relação social, solidária, horizontal, mundial: comunista. (contato: euler.conrado@gmail.com)
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Será que ficaram com medo do meu blog?
O caso seria para rir, não fosse o drama vivido por praticamente todos os educadores que estiveram em greve durante 47 dias. Refiro-me ao corte nos vencimentos, em função dos dias parados. No meu contracheque o corte foi... Calma gente, antes de contar, quero narrar a história toda, senão não tem graça, né?
Antes do dia 31 de maio, todo mundo já comentava sobre o corte que haveria nos salários e o que ficaria para ser pago na folha extra que o governo prometeu de pagar entre os dias 20 e 30 de junho. Já é difícil imaginar um corte num salário tão baixo, pois o que sobraria para receber é tão pouco que mal daria para pagar ao primeiro credor que se aproximasse.
O suspense então era grande. Alguns me disseram que suspeitavam que o corte seria de 50%. Eu disse: 50% de 800 e poucos reais dá pra pagar uma conta de telefone, mais a de água e luz (dependendo do consumo e do tamanho da família) e fazer uma pequena feira, para uma semana, no máximo. E as outras contas? Ficam para o final do mês. Se o governo pagar, é claro.
Aliás, uma parte das contas já ficará mesmo para o mês seguinte simplesmente porque não cabe na remuneração total, já incluindo os 10% do reajuste de junho.
Quando se aproxima do horário que atravessa a meia-noite do dia 31, respiro fundo e tento consultar o contracheque no portal dos servidores de Minas. Tento uma vez, a resposta vem mais ou menos dizendo que meu login estava errado. Que coisa é essa de login errado, indaguei enfurecido. Pelo que sei, no portal dos servidores pede-se o masp e a senha e estes dados já estão lá, gravados há um século e meio, mais ou menos. Tentei duas, três, quatro vezes, e já ia desistir, imaginando que naquele momento milhares de pessoas estariam acessando e talvez por isso o sistema tenha entrado em pane.
Como sou um noctívago incorrigível, fui fazer outras coisas. Preparei um chá para tomar com biscoitos, enquanto ligava a TV - já havia tomado mais de quatro cafezinhos durante o dia e isso atinge a cota que eu estabeleci para mim mesmo. Enquanto sorvia o chá, deliciosamente, parecendo um lorde inglês, cismei de conferir a caixa de embalagem do chá e vi que estava vencido há alguns meses. Mas, meu estômago não embrulhou, minha língua não reclamou e aí imaginei: estou pronto para o que der e vier. Passei a tentar novamente acessar o tal portal dos servidores e ver o meu simplório contracheque.
Bingo! Desta vez consegui sem problema. Lá estava o meu contracheque... Imaginei encontrá-lo varado de "falta-greve", "falta-grave", "falta-gravíssima", mas, qual o quê! Para minha surpresa, o contracheque veio normal, com o reajuste de 10% incluso e zero de desconto. Isso mesmo, pessoal: zero de desconto. Será que é o meu mesmo, heim, indaguei. Pior que era. Afinal, só tenho acesso ao meu contracheque, e olhe lá. Valor líquido a receber, já descontadas as taxas de Ipsemg, Previdência e Sind-UTE: R$ 826,03. Estes 0,3 centavos no final fizeram toda a diferença. Eu não viveria sem eles!
Pensei comigo: o governo quis fazer uma surpresa agradável para os servidores. Ô governo bom, gente! Acho que nem vou dormir esta noite. Mas, acabei dormindo, assim mesmo, certo de que pelo menos daria para pagar as três contas mencionadas e fazer a feira para duas semanas. As duas outras restantes são um problema futuro, para duas semanas após o recebimento do salário e portanto, algo para se preocupar num tempo distante, não agora. Mereço um final de madrugada tranquilo, bem dormido.
Quando acordei, por via das dúvidas fui consultando os colegas da greve que encontrei pela frente. Liguei pro João Martinho:
- E aí João, blz? E o contracheque, teve corte?
Cá pra nós, eis aí uma forma surper desagradável de cumprimentar alguém por telefone. Mas, dirigente sindical acostumado a todo tipo de encheção de saco, João Martinho respondeu simplesmente:
- Ah, não sei não, pois não costumo olhar meu contracheque antes, não.
Que coisa, meu Deus, pensei. Ele só pode tá ganhando bem. Dois cargos, quase aposentando, casa própria, pra quê olhar contracheque? Tem razão.
Liguei pro Alex, também com dois cargos, mas está ainda na metade da carreira, mora com os pais e ainda faltam algumas prestações do carro usado para pagar. Aí a resposta foi outra: o corte foi por volta de 50%, me disse ele, com raiva. À noite, na escola, as respostas eram as mesmas: houve corte, mas com variação percentual: uns mais, outros menos. Só eu é que havia sido premiado, me disseram gozando.
- É o seu blog, Euler, ficaram com medo de você! - diziam
No dia seguinte, comecei a ler o artigo escrito pelo professor Wladmir Coelho, editor do ótimo blog do COREU (clique aqui para conhecê-lo), e que é também ótimo orador, radialista e uma das lideranças da nossa greve. No artigo do Wladmir, intitulado "Crueldade", ele critica o governo por não ter pago o salário completo já no quinto dia útil do mês, pois teve tempo para fazê-lo. Além do que, diz Wladmir, boa parte dos professores são arrimo de família e depende deste minguado recurso para custear as despesas da casa.
Aí eu pensei: por que será que o meu contracheque não foi cortado? Pensei em protestar na Justiça, mas fui aconselhado a não fazê-lo. Lembrei-me de uns anos atrás, num destes muitos dias de paralisação de um dia só dos quais participei nos últimos anos, e que já estavam cansando a minha beleza e a de todos também. Para-se um dia, vem o corte, e nada se resolve. Até que fizemos essa greve histórica, criando um outro cenário para os educadores de Minas, a depender da nossa capacidade de manter a união e a disposição para novas lutas.
Mas, o fato é que, algum tempo atrás, como dizia, numa dessas paralisações de um dia não houve corte no meu contracheque. Todos os colegas que participaram tiveram o ponto cortado e no livro de ponto constava a anotação de "falta-greve" para todos, para mim inclusive. Fui até o departamento pessoal da escola e reclamei:
- Por que não cortaram o meu ponto?
- Ah, Euler, deve ter sido algum "erro" nosso, mas não preocupa não que mês que vem o seu dia cortado virá, com certeza.
- Ah bom, respeirei aliviado.
Era o primeiro caso em que um servidor ia reclamar o não corte de ponto ao invés de cobrar alguma coisa não paga pelo governo, o que é comum na vida funcional de todos os servidores.
Mas, agora a situação é diferente. Se cortarem mês que vem o que deixaram de cortar neste mês, quando é que eles vão me pagar? E será que vão pagar mesmo o que cortaram dos colegas?
Fato é que, concordando plenamente com o Wladmir, considero um absurdo o governo não ter feito o pagamento integral já no quinto dia útil de junho, com a desculpa de que não houve tempo para isso. Ora, a folha normal fica pronta com dois meses de antecedência. Era só cancelar a folha de pagamento com as tais faltas-greve e colocar a folha normal, que aliás, segundo o governo, já estava até pronta uma semana antes da suspensão da greve, quando o governo e a mídia decretaram o final da paralisação sem combinar antes conosco. Terá sido um castigo?
Por isso, salvo algum erro na transmissão de dados entre o departamento pessoal da minha antiga escola e a atual (mudei de escola no começo do ano e houve um período em que os papéis eram encaminhados pela antiga escola. Não sei se ainda continua assim, pois essa parte burocrática passo bem longe), a única justificativa que encontro para que o meu rico salário viesse cheio é esta: será que o governo ficou com medo do meu blog?
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Que bom que não cortaram seus dias, eu já não tive a mesma sorte. Meu corte foi por volta de 60% nos dois cargos. Mas aconteceu uma coisa estranha: sabe aquele pessoal que estava na tal greve branca, que assinava o ponto todos os dias? lá na escola eles receberam normalmente.
ResponderExcluirSerá que vc não estava na greve branca também não? kkkkkkkkk...............................
Brincadeira!
VEJA! Manifestação pacífica de professores estaduais na cidade de Pirapora, termina com um professor preso e os outros espulsos do centro de convenções onde o atual governador Anatasia era recebido pelo prefeito da cidade e partidários.
ResponderExcluirEuler, foi medo do blog. Eu já havia lhe alertado. Proxima situação, não se assuste, será o patrocínio e sua transferência para a cidade adminsitrativa. É, o pessoal está querendo você bem calminho... Vai tomando chá, que eles vão te pegar. Quem sabe você não é afilhado da Nenê???
ResponderExcluirAdriana,
ResponderExcluirkkkk Transferência pra cidade administrativa é boa. Mas, professor só entra ali quando está em greve, com cerco policial e tudo mais. Além disso, eu que não quero ficar passando debaixo daquele prédio suspenso... Agora, como governador, posso até repensar o assunto, hehe. Será que o faraó me apoiaria?
Karina,
ResponderExcluirCortaram tanto assim do seu salário? Que absurdo. Estranho, pois a maioria das pessoas com as quais conversei disse que cortaram entre 40 e 50%. Da próxima vez vc diz pro pessoal da sua escola que vc frequenta o nosso blog. Pode ser que eles mandem te pagar em dobro o que cortaram. kkk
Brincadeira à parte, espero que vc sobreviva com o que restou do salário pelo menos até o dia 20. O governo pensa que educador não tem gastos com a sobrevivência.
Anonimo,
ResponderExcluirNão encontrei nada sobre o assunto na grande mídia - o que aliás já era de se esperar. Se tiver mais informações, mande aqui para o blog.
Abraços,
Euler
É Euler,
ResponderExcluirexistem muito mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia...
Se você recebeu o seu total sem cortes, que bom para você.
No meu contracheque tem um valor descontado que me pareceu ser mais ou menos 1/3 do total, outros da minha escola tiveram valores descontados, diferentes... O que a gente não pode deixar acontecer é a perda do foco da nossa luta e não nos iludirmos com os 10% que já sabíamos que sairia, não é mesmo?
E quanto ao que a Adriana disse sobre a manifestação em Pirapora é que precisamos fazer alarde e continuar mostrando à população o que o faraó continua fazendo...
Euler quero ficar coladinha em você para ver se eles terão medo de mim também kkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirNo meu contra choque cortaram 50% o IPSEMG AUMENTOU DE VALOR. MENINO TIVE UM AUMENTO E TANTO NO AUXÍLIO CONDUÇÃO, PASSOU PARA R$35,00, gasto R$152,20 por mês. Negócio da China amigo. Estou esperando o resto da grana preta, caso não venha vou para a Praça Sete pedir ajuda da população. Quem sabe receberei o real necessário para sustentar minha família? Querido conta isso direito pra nós, como conseguiu dobrar Anastasia e sua curriola?KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Sou sua amiga do peito e tenho o direito de receber em dobro. E as lagrimas que derramei na última assembleia? Não contam? KKKKKKKKKKKK Aí tem maracutaia rsrsrsrsrsrsrs. Bjs te admiro muito pela honestidade, coleguismo e sou sua parceira viu.......... Ei pessoal do SEPLAG SOU AMIGA DO EULER RSRSRSRSRSRSRS
Circe,
ResponderExcluirTem toda razão em relação ao nosso foco principal. Os 10% e o pagamento do corte já eram coisas esperadas. O principal mesmo é um real e substancial aumento no nosso piso salarial. Não podemos nos afastar nem um centímetro sequer deste objetivo.
Estou tantando fazer um levantamento das tabelas de salários de algumas carreiras no estado de Minas para podermos comparar e ver o tratamento diferenciado que o governo deu aos servidores.
Por exemplo: carreiras do TCE (tribunal de de contas), Ministério Público, Tribunal de Justiça, tiveram aumentos, entre o ano passado e o início deste de 17,5%. No caso do TCE ainda dão um abono de R$ 1.000,00 que com o tempo é incorporado ao salário base. Há também o caso da PM, que teve mais de 100% de aumento no governo do faraó.
Claro que não estamos criticando os aumentos salariais de outras carreiras, mas apenas mostrando a diferença de tratamento e de como a educação e os educadores foram (fomos) sacrificados nos últimos anos.
Um abraço,
Euler
O blog do euler é mesmo um terror. Agora amigo que você escreve bem é uma verdade. Que é um bravavo guerreiro é verdade. Que tem seus seguidores é verdade. Basta uma palavra de comando e estaremos lá. Mas frear Anastasia não sabia, ensina-me esse poder KKKKKKKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluirenganar as vezes faz parte da estratégia do governo.Ele quer mesmo é te calar..........Quero estar coladinha em vc.
Eliane,
ResponderExcluirkkk Pois é, eles não sabiam que vc estava perto da turma de Vespasiano e São José durante as assembléias senão o corte seria menor ou nem existiria, hehe.
Mas, deixando de lado a brincadeira, a idéia de montar a barraca na Praça Sete teve o meu apoio durante a greve. Acho que chamaria a atenção da comunidade e até da mídia.
Por agora, espero que vc gaste com bastante critério e juízo a parte do salário que vai receber na terça-feira. Não gaste tudo de uma vez só, kkkk. Pena que eu não posso te fazer um vale porque como vc viu no contracheque, mal dá para pagar as três contas básicas (água, luz e telefone) e uma feira básica de arroz, feijão, macarrão, óleo e um quilo de frango em promoção.
Abraços, colega.
Euler
Só vou receber R$ 100,00 Euler um absurdo amigo este governo e dose !!!
ResponderExcluirUm abraço
Roberto
É Euler,
ResponderExcluirEu já falei antes, em outras palavras:
"Você tem estrela"!!!!
Rsrsrssrsr...
A minha opinião a respeito do não corte em seu salário é CLARO:
"SEU BLOG CHEGOU AO CONHECIMENTO DO FARAÓ e ele em um dos poucos momentos de lucidez disse:
"ESSE TAL EULER DE VESPASIANO, TRABALHOU MUITO DURANTE A GREVE... DEVE GANHAR "DOBRADO".
Amigo, não se assuste se receber a reposição junto conosco!!!! Eu acho justo e concordo com ele e Adriana! Rsrsrsrs
BOM DOMINGO!
Cristina,
ResponderExcluirHehehe, ganhar dobrado seria muito bom, rsrsrs, principalmente se fosse para todos os educadores, especialmente os que fizeram greve, como vc Cristina, que merece muito mais do que o dobro do nosso atual salário.
Um abraço e bom domingo!
Euler
Euler,
ResponderExcluirA cada leitura que faço do seu blog (sim! Leio o seu blog diariamente, e não foi somente em período de greve!)fico surpresa por você conseguir manter o seu bom humor inteligente, mesmo à beira de um colapso financeiro!
Um beijo grande... Parabéns pelos textos-fenômeno!
Caro Betão,
ResponderExcluirRealmente é um absurdo o tão pouco que vc vai receber. O governo deveria ter vergonha de pagar essa mixaria de salário para os educadores. Mas, haveremos de conquistar dias melhores, com muita luta e perseverança.
Abraços,
Euler
Oi Rose,
ResponderExcluirObrigado pelas generosas palavras. Mas, o melhor deste blog são as pessoas maravilhosas, como vc, que frequentam este espaço virtual.
Um forte abraço,
Euler