sábado, 3 de julho de 2010

Mais um dia comum, com boas lembranças. E um balde de roupas por lavar.


Manifestação do Anti-BID em 2006 em BH

Manhã e tarde marcadas por uma monotonia que é quase comum aos sábados e domingos. Tinha uma pilha de roupa para lavar. Na máquina de lavar, onde eu jogo roupa para 20 dias e depois coloco para secar e colho sem precisar passar. Já era mais de 9 da matina, o pequeno café já havia sido degustado e haviam três opções nesta manhã de sábado: o jogo da Argentina e Alemanha, uma boa caminhada pela rua para desenferrujar o corpo, ou a cesta de roupas para lavar.

O frio ajudou-me a decidir o que fazer. Entrei debaixo da coberta, liguei a TV e assisti todo o jogo do campeonato. A Argentina foi guerreira, lutou até o fim, mas a máquina de contra-ataque alemã e a retranca na defesa mandou de volta pra casa o time de Maradona. Da América do Sul só resta agora o Uruguai. E a minha roupa suja ficou para outro dia.

Após o almoço, uma leve caminhada, uma viagem pela Internet e um breve cochilo, antes da reposição de aulas prevista para a parte da tarde. O tanque de guerra na estrada, lá vamos nós. Tô precisando arrumar este freio. Tem hora que funciona bem, mas tem hora que funciona, mas não tão bem. E também o marcador de combustível deixou de funcionar. Deve ser porque o tanque vive sempre vazio. Mas, o tanque de guerra anda só com o cheiro de gasosa e aproveita bem as descidas, com a ajuda de todos os santos. Amém!

De volta para o bunker, de noite já, ouço o som que vem da praça. Pensei em ir até lá. Mas, soube que haverá apresentações artísticas durante vários dias. Vou me guardar para os momentos mais emocionantes. Neste inverno sinto falta de canjica e fogueira. E não é que numa das assembléias dos educadores eu comi canjica às 17h, enquanto assistia ao forró no pátio da ALMG?

Mas, o que escuto à distância não parece música de festa junina; nem tampouco sinto cheiro de canjica, quentão e pipoca. Por isso vou ficar no meu bunker, me guardando para outro dia, quando, dizem, haverá canto coral, banda de música e coisa e tal. Disso eu gosto. Como gosto também do congado.

E por falar em congado, lembrei-me de um dia, há um pedaço de tempo isso, quando andava pelas ruas de BH acompanhado de duas dezenas de anarquistas, punks e outras correntes, todos mais doidos do que eu. Decidimos fazer uma espécie de "Jornada libertária" - parece coisa de igreja evangélica, né? rsrs -, com apresentação de vídeos, debates, shows, etc. Dei a idéia de fazer tudo num local só, em Vespasiano, numa escola estadual. E o pessoal topou a parada.

Conseguimos a escola emprestada para um domingo, convidamos os alunos da escola e preparamos tudo. Rolou uma comida vegan - o veganismo é radicalmente contra qualquer forma de exploração animal, por isso não alimenta nada que contenha algum derivado animal, como queijo, ovos, leite, etc. Ou seja, foi uma comida a base de soja, fubá e tomate, mas estava deliciosa. Eles sabiam que muitos de nós ainda são / somos carnívoros, mas tudo bem. Eles entendiam os nossos limites e fraquezas humanas.

Decidimos convidar um grupo de congado para participar. João Martinho lecionava nesta escola e deu todo apoio. O Rogério do PT de Vespasiano foi outro que eu conheci ali, praticamente, e ele entrou de cabeça na organização do evento. Contactamos o líder do congado no dia do evento pela manhã e ele me disse: pode me aguardar que daqui a uma hora eu e meus meninos aparecemos lá. E não deu outra. Foi uma tarde inteira de canto, de dança e de encanto, coisa maravilhosa.

A comida foi distribuída para todos os membros do congado, mas o líder, numa certa altura do acontecimento me chamou num canto e disse: tá tudo muito bem, tá tudo muito bom; os meninos comeram, tão satisfeitos, mas nós, os mais velhos, precisamos de algo mais... Eu disse: pois diga lá o que é que vocês estão precisando. E ele respondeu na lata:

- Meio litro da branquinha, Euler, só isso! Sem isso, num dá pra aguentar o batido.

Respondi: deixa comigo. Se é este o seu problema eu resolvo em 15 minutos. Mas, tem uma coisa: para os meninos é comida e refrigerante. "Claro, Euler, claro", respondeu todo atencioso.

Com a chegada da noite, a escola parecia um halloween, com dezenas de rapazes e meninas, todos vestidos de preto, produzidos, uma coisa até interessante. Lógico que entre os colegas haviam aqueles que não curtiam essa produção estética, mas respeitavam. As bandas de música tinham os nomes os mais engraçados do mundo, tipo "Ranger de dentes". E o som era da pesada. Não fazia muito meu estilo não, mas, tudo bem. A meninada adorava, jogava tudo para o alto e o clima esquentava.

Abro um parêntese: uma lembrança puxa a outra. Certa feita, no centro de Vespasiano, deram de realizar uma missa para uma platéia de senhoras bem idosas. E após a missa, estava previsto um show com música punk. Foi o contraste mais engraçado que eu presenciei naquela praça. As senhoras acabaram de rezar e cantar músicas religiosas e imediatamente após começou o som com três dezenas de moleques de preto jogando a blusa pra cima, se agarrando e empurrando um ao outro. Ouvi apenas o comentário de uma senhora: "Santíssimo sacramento, isso é coisa do demo".

Há várias correntes anarquistas, desde aquelas tidas como mais moderadas, de filhinhos de papai, até os mais radicais, como os punks. Detestam pagar lotação. Pregam a desobediência civil e costumam praticar parte daquilo que pregam, quando não são tragados pela máquina de moer gente do sistema capitalista. Em BH as correntes anarquistas realizaram várias movimentações, como "Um dia sem compra", na porta de um shopping em pleno período natalino; ou o "anti-BID", que ocorreu em várias partes do Brasil, inclusive em BH, do qual participei de algumas atividades. Destaco aqui a participação do CAP - Coletivo Acrático Proposta, composto por uma turma muito combativa.

Tínhamos planos de montar uma Rádio Livre, mas só encontramos barreiras na nossa frente. Todo mundo, fora do universo anarco-punk, quando era convidado a participar do projeto, só pensava em ganhar dinheiro, vender coisas pra gente, ou usar o projeto para faturar. E isso contrariava os princípios propostos, de uma rede de comunicação totalmente autônoma, não vinculada a partidos, aos governos e ao mercado. Depois, com a rotina diária de trabalho e compromissos outros, os contatos foram se perdendo. De vez em quando encontro um ou outro camarada nas ruas de BH e a gente bota a conversa em dia. Alguns desses camaradas eram muito jovens mesmo, meninos até, mas já com disposição de luta e cabeça muito boa. Seguramente encontraremos com alguns deles nas futuras lutas dos educadores.

Lembrar desses momentos me fez bem. Tive até vontade de ir para a praça. Mas, o som que ouço daqui, daquelas batidas eletrônicas repetitivas, quebra toda a minha animação. Acho melhor ficar por aqui mesmo, ver um filme, ler um livro, ouvir uma música, escrever alguma coisa. Amanhã talvez me anime a lavar a roupa para os próximos 20 dias. Que seca a base de sol, sem precisar passar. Em mais um dia sem grandes novidades.


Não deixem de ler também o Boletim Nº 17 do Blog do COREU, sob a coordenação do nosso amigo e colega Wladmir.

P.S. Tô pagando a língua. O som que agora escuto na praça melhorou. Quase meia-noite. Tô pensando em ir pra lá, o que vocês acham?

P.S.2: E não é que, vasculhando a Internet acabei encontrando um relato que escrevi, em 2002, sobre a tal Jornada Libertária? Quem desejar ler o relato, clique aqui.

5 comentários:

  1. Dorme Euler.

    Você precisa descansar.

    Abraços

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  2. Oi Denise!

    Acabei ficando em casa mesmo, pois o som parou por volta de meia-noite, rsrs. E como eu disse, no dia seguinte (hoje) tinha um balde cheio de roupas pra lavar. O que fiz hoje, na parte da tarde. Agora é preparar para a segunda-feira, que traz sempre novidades.

    Boa noite e bom descanso!

    Euler

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  3. ESSE BALDE DE ROUPAS SUJAS TÁ ME CHEIRANDO AÀ METÁFORA... O ESTADO TEM MUITA ROUPA SUJA PRA LAVAR E VAI LAVAR ESCONDIDO!

    EULER,
    POR GENTILEZA, GOSTARIA QUE DESSE UMA OLHADA NO MEU BLOG PRÁ OPINAR SOBRE O QUE EU POSTEI LÁ HJ, SOBRE O FIM DO 13 SALÁRIO. MUITO OBRIGADA!
    ABRAÇÃO!

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  4. Euler,

    Tá me dando uma agonia o silêncio do Sindute.

    A hipotese que não possa existir uma saída, é

    terrível.

    Na escola o pessoal fica perguntando o que devemos fazer. Se ficamos na carreira atual ou vamos para o que está sendo proposto; e qual é a posição do sindicato.

    Amanhã vou ligar para Idalina e buscar mais informações para nos acalmar.

    E ai? Lavou as roupas? E camisa verde? Tá no meio das roupas sujas?

    Pelo menos a camisa verde tem que está pronta(limpa).Caso tivermos que de entrar novamente em campo.

    Abraços.

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  5. João Paulo Ferreira de Assis6 de julho de 2010 às 11:33

    O fim do 13º salário é um boato. Precisamos ter cuidado na hora que recebermos esses emails, mesmo porque, o Deputado Mendonça Prado, do DEM de Sergipe já apresentou uma notícia crime à Polícia Federal. Ou seja, a PF está investigando a origem do email. Assim, quando recebermos uma notícia igual, devemos averiguá-la. É fácil. É só pedir no Google ''fim do 13º salário'' que a gente tem acesso a vários sites, uns dizendo a verdade (que os deputados não aprovaram o fim do 13º), como o do DIAP. E outros, infelizmente, espalhando a mentira.

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