quarta-feira, 7 de julho de 2010

Com a mixaria no bolso, ouvindo Milton e lendo Pessoa


Quem disse que eu preciso de mais? Já passa da meia-noite, o silêncio noturno eu quebro com uma faixa da música do CD Sentinela, de Milton Nascimento - "Um cafuné na cabeça, Malandro, eu quero até de macaco". Composição de Milton e Leila Diniz, a melodia é suave e profunda. A letra idem. Vale a pena transcrevê-la:

"Brigam Espanha e Holanda / Pelos direitos do mar / O mar é das gaivotas / Que nele sabem voar / Brigam Espanha e Holanda / Pelos direitos do mar / Brigam Espanha e Holanda / Por que não sabem que o mar / Por que não sabem que o mar / Por que não sabem que o mar / É de quem o sabe amar".

A voz de Milton, sempre bela, está especialmente bonita na faixa original, doce (ou seria salgada como as águas do mar?) feito brisa. A brisa não tem gosto, dirão. Pode ser que para mim tenha. E quando falamos em mar, não podemos deixar de reler o poeta português Fernando Pessoa. Que profundidade, que sensibilidade, que alcance, que coisa MARavilhosa, reparem:

"Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena. / Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor. / Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu."

Nosso Bojador, é a política neoliberal que os governos aplicam contra a Educação em Minas e no Brasil. Para ultrapassá-la, temos que ir além da dor, o que se faz com luta, unidade e organização. Foi a nossa greve dos 47 dias. Serão as novas batalhas que travaremos contra o governante de plantão, seja quem for o eleito.

Foi no mesmo mar de terríveis riscos e temores, que Deus espelhou a beleza do céu. É na situação trágica da Educação em Minas e no Brasil, que espelhamos a beleza da nossa luta.

Brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar. Brigam empreiteiros, banqueiros e políticos profissionais pelos direitos das receitas do estado. Por que não sabem que estes recursos são daqueles que os produzem, e que deveriam retornar em forma de educação de qualidade, saúde, saneamento, e não de migalhas.

Devolvam o mar, ó Holanda e Espanha, às gaivotas e aos poetas que nele sabem voar e amar! Devolvam os recursos que arrecadam, ó senhores governantes, aos assalariados da Educação e a todos os demais assalariados-explorados! Por que não sabem que o mar de recursos é de quem o sabe produzir, e não de vocês, que sabem apenas dele se apropriar.

Por isso, vale a pena a nossa luta, quando a alma não é pequena.

Um comentário:

  1. José Alfredo Junqueira7 de julho de 2010 às 10:38

    Caro Euler,por falar em Holanda,Espanha e Portugal,em censura de imprensa(menos na internet,pelo menos por enquanto)e em descaso com o meio ambiente(assim como a educação)fiquei estarrecido quando por acaso navegando vi o que a mineradora RPM está fazendo com a outrora sossegada PARACATU.A região está arrasada,o ar e as águas que ainda restam contaminadas com ARSÊNIO.Este flagelo é devidamente autorizado pelos órgãos ambientais.Que nojo destes órgãos.Voces estão sabendo disto?Passe para frente!

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