quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dandara, Palestina e um relato



Sem-terra e sem-teto na luta aqui no Brasil pela sobrevivência com dignidade. Covarde matança de palestinos pelo estado terrorista de Israel com o apoio de outro estado igualmente terrorista, os EUA. Como a nossa mída é totalmente domesticada e vendida, é preciso buscar outras fontes de informação na Internet. Vamos fazer uma ronda pelas ondas virtuais? Indico a seguir algumas poucas matérias sobre os temas citados. Em seguida, transcrevo um relato que fiz do ato em solidariedade aos palestinos em BH que aconteceu em 2009.

Eis os textos e respectivos links dos blogs:



- Todos na Palestina são assassinados por serem chefes do Hamas. Será que todos os americanos são o Obama?

do Blog Não te calas, educador!

- ESTUPRARAM A JUSTIÇA EM ISRAEL

do Blog Náufrago da Utopia

- Mídia ocul
ta presos políticos dos EUA

do Blog do Miro


- Dandara resiste!

do Blog Dandara - ocupação Rururbana

* * *

E a seguir, o relato que fiz do ato e passeata em solidariedade aos palestinos em BH:



"Gaza: Ato em BH mobilizou dezenas de pessoas

O ato em solidariedade aos palestinos e contra o criminoso massacre que o estado de Israel vem realizando em Gaza aconteceu em BH nesta quinta-feira, dia 15/01.

O palco inicial do ato foi a Praça Sete, que até o final da década 80 era local de manifestações de protestos de toda natureza: estudantes, ecologistas, professores, sem-terra etc. O ato em solidariedade aos palestinos teve, também, este elemento saudosista, dos tempos em que a militância de esquerda, dos sindicatos, dos grêmios estudantis saíam às ruas para protestar.


O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Al Zeben, compareceu ao ato e usou da palavra, denunciando o massacre em Gaza e pedindo paz no Oriente Médio. Ele chegou acompanhado de Tildem Santiago, atualmente trabalhando no Governo de Minas, mas que foi embaixador do Brasil em Cuba ao tempo em que o embaixador da Palestina no Brasil exercia função diplomática naquele país. Consta que Tildem residiu um tempo na Palestina ocupada.


Os representantes das entidades organizadoras do ato - partidos políticos e entidades sindicais -, usaram da palavra no palanque montado, para expressar o repúdio à Israel e solidariedade aos palestinos. Infelizmente, neste tipo de ato, não muito horizontal, prevalece um protocolo muito comum à esquerda tradicional / oficial, de não liberar o microfone para quem quiser se manifestar, e assim só falam "democraticamente" as mesmas pessoas que falam em todos os atos.

Além do palanque, que causa uma distância entre os ouvintes e os oradores, tem essa coisa de não democratizar o microfone. Eu e outros companheiros que estavam próximos de mim, gostaríamos de ter falado, caso houvesse clima e ambiente para a intervenção autônoma de pessoas e coletivos e grupos não ligados às entidades que estavam em cima do palanque.
Mas, a par dos limites destacados acima, o ato representou um momento de protesto e reflexão sobre o que acontece em Gaza.

As dezenas de pessoas que lá compareceram, muitos organizadamente com seus partidos e outros de forma autônoma, durante as três horas de duração do evento entre a concentração da praça Sete e a passeata até a União Israelita, para nova concentração, de alguma forma demonstraram que as melhores tradições de luta em BH não estão sepultadas.


Eu mesmo, que há duas décadas cansei de participar de mais de uma dezena de atos na praça Sete, seguidos de passeatas, encontrei com alguns antigos camaradas de luta, com os quais repassamos alguns momentos de antigos embates. E senti a falta de muitos outros camaradas, inclusive das novas turmas de coletivos e indivíduos libertários, que conheci posteriormente. Minas tem um contingente de indivíduos de formação anarquista e punk que não aparece em atos organizados pela esquerda oficial. Pelo menos nesses momentos acho que se deveria quebrar a regra.


Encontrei com um camarada ligado ao movimento anarco-punk, que não via há muito tempo, e que teria falado no ato se tivesse tido o espaço que manifestei acima. Tudo bem, camaradas, a presença e os contatos e os debates no chão, nas ruas, na base, serão sempre melhores e mais ricos do que qualquer fanfarrice de palanque. Sem tirar o mérito das pessoas sérias e de bem que usaram do microfone e são de fato ligadas às lutas sociais de Minas e do Brasil e do mundo.


Na passeata, bandeiras de muitas cores, faixas, tambores e palavras de ordem condenando Israel e sua política sionista de ocupação da Palestina e outros territórios, apoiada pelos EUA com sua política igualmente criminosa de invasão do Iraque, Afeganistão, entre outros.

Durante o ato, houve quem, ainda que de forma muito ideológica e pouco fundamentada, tivesse ligado o que acontece em Gaza com a crise do capitalismo. O socialismo, concluiu o orador, é a única saída. Depende de qual socialismo, meu caro. Com estado, economia de mercado, patrões, chefes, etc, nem pensar, já basta o que existe agora. Poderiam ter dito que Gaza é uma espécie de expressão concentrada do terror capitalista e o massacre que ora ocorre naquele território deve nos fazer refletir sobre o mundo em que vivemos. Faltou um pouco este espírito de questionamento sobre o nosso papel na realidade em que vivemos, no lugar de frases que apenas repetem afirmações que se perdem no ar, tamanho o sentido sem sentido algum que elas se apresentam. Os tais dogmas que não comovem pessoas de carne e osso que trabalham no dia a dia pra sobreviver. Para destoar desse contexto, uma placa com as imagens que vêm de Gaza e que falam por si. Num texto que publiquei no CMI - Centro de Mídia Independente - (Gaza: as imagens que não calam) procurei expressar o sentimento de indignação com as realidades que são transmitidas pelas imagens que vêm de Gaza.


A caminhada até a sede da União Israelita ocupou uma faixa da Avenida Afonso Pena durante muitos minutos. A polícia acompanhou o ato, sem intervir. Nem havia necessidade. A frente dos manifestantes, o trio elétrico puxava as palavras de ordem com os representantes das entidades de sempre. No chão da fábrica, ou melhor, no asfalto, nós, os manifestantes da base caminhávamos, cantando, e não seguindo canção alguma, mas apenas aquelas que nos pareciam mais apropriadas, ou aquelas que nós mesmos formulávamos.

O fato de participarmos de atos liderados por entidades com as quais não nos indetificamos não significa que tenhamos atitude passiva e obediente. Ao nosso redor, formamos grupos, questionamos isso ou aquilo, criticamos, xingamos, damos as costas, deixamos de bater palmas e as vezes até aplaudimos, quando dizem coisas que têm a ver.


No caminho íamos encontrando novos antigos militantes, todos de cabelo branco, alguns engordaram, outros se inclinaram por absoluta falta de atividade, revolucionária ou não, e houve quem se manteve na militância, me passando até jornal. Os tempos em que as pessoas estão em ação parece não querer passar. Embora no meu caso, que estou em ação quando estou dormindo, lendo, lecionando e me alimentando, os fios brancos da barba por fazer e a insistente queda dos cabelos que eram longos demonstram que o tempo tem passado, mesmo que eu não tenha me dado conta disso. Teimosia. Coisa de palestino, que somos todos.


Várias pessoas nos pontos de ônibus observavam a passeata. Algumas acenavam aprovando; outras, pensavam: que gente é essa? Seria uma nova seita? Como disse, BH deixou de ser uma cidade que era palco semanal de atos e passeatas. A lógica do neoliberalismo, somada à cooptação de lideranças sindicais, partidárias e estudantis para as asas dos governos e dos parlamentos mudaram esse cenário. É grande a distância entre o poder e a rua, por mais que nos discursos as pessoas queiram negar. Não têm o que falar. A vida, a prática, já o fez.

Ao final do ato, despedi-me dos colegas conhecidos, com a promessa de que voltaríamos a nos encontrar em outros embates. Sequer trocamos telefone. Coisa de mineiro. A gente se encontra por aí, camarada! Passei no Maleta para ver se encontrava outros conhecidos, o que não aconteceu - era cedo ainda, cerca de 7 da noite, mas os pés já me cobravam o caminho de casa. No boteco da esquina tomei um caldo de cana e num outro bar comi um pedaço de pizza feito na hora, ainda com a bandeira da Palestina Livre impressa num papel adesivo que continuava presa na minha camisa.

Antes de desaparecer das ruas e embarcar no primeiro ônibus, longe já de todo o cenário da passeata, ouvi uma cidadã dizer no celular: "Pois é, vou atrasar um pouco porque um pessoal resolveu protestar na Afonso Pena". Sinal de que o ato repercutiu!


Assim, até o próximo, camaradas! E viva a Palestina! Abaixo Israel! E que cessem o massacre e o cerco aos palestinos de Gaza. E abaixo o capitalismo!
(Em 16/01/2009)"

2 comentários:

  1. Não concordo com essa política de Israel( lembra em até certo ponto o holocausto sofrido especialmente por eles) mas não podemos ter apenas um ponto de vista.A ONU em 1948 estabeleceu que seria criado dois Estados na região e a liga árabe liderada pelo Nasser(Egito) foi contra iniciando a primeira guerra árabe-israelense, a consequência disso é que foi criado apenas o Estado de Israel.Os judeus também tem direitos naquela região pois afinal foram expulsos de lá em 70dc, além do mais, os grupos que lideram o processo de libertação da palestina alimentaram ao longo dos anos o ódio em relação aos judeus e o fim de Israel(acho que um povo tem direito de defender seu Estado e os judeus fizeram isso).Depois de vários fracassos para acabar com Israel é que a OLP passou apenas a defender a criação do Estado palestino.Continuar alimentando o ódio em relação à Israel não vai resolver nenhum problema.
    Luciano, História
    Um abraço Euler

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  2. Olá, Luciano!

    Que os judeus merecem ter o seu próprio estado, nisso concordamos; mas, não em cima de um massacre ao povo palestino, que não apenas merece ter o seu próprio estado também, como deveria ter sido ouvido no processo de implantação do estado de Israel, pois os palestinos representavam a imensa maioria no território da Palestina (hoje Israel).

    O fato é que o estado de Israel (não confundir estado com todo o povo judeu) representa hoje o que há de mais nocivo para a região do Oriente Médio e pratica uma política criminosa contra os palestinos. Algo típico daquilo que, como vc disse corretamente, lembra o holocausto de que foram vítimas os próprios judeus durante a segunda guerra mundial.

    A criação do estado de Israel, como sabemos, tem uma história bem complexa, que envolveu o movimento sionista e acima de tudo resolveu um problema europeu e não propriamente uma demanda judaica - por mais legítima que fosse.

    Ocorre que neste momento não dá para tratar como dois pesos iguais as realidades dos palestinos e dos judeus em Israel. De um lado nós temos um estado armado até os dentes, apoiado irrestritamente pela maior potência do mundo, com práticas de terrorismo, que não respeita qualquer fronteira e que sai impune de quaisquer atos graças ao incondicional apoio dos EUA e países ricos da Europa.

    Por outro lado, o povo palestino, que é massacrado, diariamente destruído, seus líderes são presos, torturados, executados sem qualquer julgamento. Claro que um ambiente deste provoca o ódio e atitudes desesperadas como os "homens-bomba". É a luta da pedra e do estilingue rudimentar contra sofisticados mísseis teleguiados.

    Para nós, nada disso se justifica, mas para quem vive naquele ambiente, que perdeu as famílias destruídas em ataques covardes de um poderoso exército é difiícil esperar que eles não reajam daquela forma. Caberia ao estado mais poderoso estender as mãos, e não o inverso.

    Israel é o único país na região que tem bombas atômicas, enquanto os EUA invadem o Iraque em nome de bombas que nunca existiram e fazem chantagem contra o Irã, que foi vítima de uma guerra provocada pelos EUA (guerra Irã-Iraque).

    Em suma, o quadro ali é o pior e envolve interesses geopolíticos da disputa pelo petróleo e de domínios estratégicos em relação a países como Rússia e China. Os palestinos são uma das grandes vítimas desses processos que envolvem os interesses econômicos e geopolíticos das grandes potências e dos mega capitalistas.

    Não dá, portanto, para colocar numa mesma balança e dizer que os palestinos têm o mesmo peso que o estado de Israel. Não há interese, mesmo por parte de vários países árabes (dos estados, não os povos) em resolver aquele problema. Pois, ele atende às políticas de guerra que fazem com que se gastem trilhões de dólares com a indústria da guerra, que mantém o preço do petrõleo elevado, enquanto os povos da região vivem na miséria. Por isso, a luta dos palestinos é parte de uma causa pela emancipação humana destes grilhões que nos prendem e nos massacram. É o terror capitalista.

    Mas, respeito as suas opiniões que em muitos pontos convergem com as minhas.

    Um forte abraço e força na luta!

    Euler

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