Dando sequência ao post anterior. Sete e meia da manhã o telefone toca. Habitualmente, este horário para mim é madrugada. Mas, como havia o encontro dos candidatos ao governo de Minas, eu já estava de pé. O colega que me telefona trabalha na escola onde o corte de pessoal contratado e a minha remoção estão em curso, num flagrante desrespeito às leis eleitorais vigentes no país. Na terra do Faraó e afilhado é assim: as leis são criadas ao bel-prazer dos detentores do poder regional.
O colega que me telefonou pediu que eu redigisse um texto com as citações legais para que seja apresentado à SRE Metropolitana C. Eu o convidei para o encontro em BH e ele de fato acabou aparecendo por lá. Encontrei com ele no começo e no final do encontro e ele disse que gostou muito.
Um encontro dessa natureza é sempre um momento importante para rever conhecidos, colocar a conversa em dia. Havia em torno de 600 pessoas, pelos meus cálculos. Lá no fundão do espaço, assistimos às exposições dos candidatos ao Governo de Minas que por lá compareceram. Estava bem acompanhado: João Martinho, Carminha, Wladmir e Rômulo. Um time de primeira. De vez em quando passavam por lá vários e combativos colegas, alguns e algumas que eu não me lembro dos nomes, mas cujas fisionomias são conhecidas. Uma turma testada na luta.
O primeiro a falar foi o Fabinho do PCB, que logo na entrada do evento me garantiu que virá ao encontro do dia 25 em Vespá. Fábio é educador da rede estadual, tem identidade com os colegas presentes e sua fala é marcada pelas propostas de mudanças na sociedade, rumo ao socialismo. Enfatizou a necessidade de se criar uma frente anticapitalista e anti-imperialista.
Quando eu era militante dos Coletivos Gregório Bezerra na década de 80, que depois fundiram-se nacionalmente num partido, o PLP - Partido da Libertação Proletária - já defendíamos algo assim, uma frente popular, antimonopolista, anti-imperialista e anti-latifundiária. Depois houve um racha, o muro de Berlim foi derrubado e todos nós tomamos rumos diferentes na vida. Muitos continuam na luta, nos descaminhos da vida, com ou sem partido - meu caso -, mas comprometidos com os sonhos libertários. Vamos pra frente!
Em seguida falou a Vanessa Portugal, do PSTU, que é também educadora. Estava um pouco rouca, mas passou o recado sem grandes problemas. Criticou o governo FHC, o governo Federal e o governo do Faraó. Trouxe números, dados e fez uma falação bem articulada. Tanto a Vanessa quanto o Fábio reclamaram da exclusão por parte da mídia burguesa, que elege quem é mais importante para ser entrevistado, antes mesmo que o povo se manifeste nas urnas. Claro, para a mídia, povo é só um detalhe.
Logo após falou o candidato do Psol, professor Luis Carlos, com um discurso muito próximo dos dois que o antecederam. Também ele se comprometeu com João Martinho de participar do encontro em Vespá. Cada candidato teve 50 minutos para a exposição inicial e para responder às perguntas. Quero abrir um parêntese nesse ponto.
O encotro foi marcado pelo respeito e garantia de fala para todos os candidatos que lá compareceram. Mas, manteve uma característica muito comum aos moldes tradicionais, onde uns falam e a maioria escuta, com direito apenas de formular uma pergunta. Isso impossibilita um diálogo mais horizontal, o questionamento e até a compreensão daquilo que as pessoas propõem ou deixam de propor. Quando saio desses eventos - não é só deste encontro em particular -, não sei por que carga d'água, sinto-me não-realizado. É como se me tivessem roubado a cidadania, me deixado diante de alguém que pode me dizer muitas coisas - algumas até interessantes - mas sem direito de resposta, do contraditório, que é da essência formal do direito burguês. Talvez seja a falta de tempo, o número de candidatos, de participantes, enfim. E até mesmo o comodismo da nossa parte.
Fato é que candidato a uma representação para mim deveria ser colocado contra a parede. E quanto maior a chance de se eleger, maiores também deveriam ser os questionamentos. Mas, da forma como são os debates - e não só o encontro que analiso - o candidato acaba podendo tergiversar, encontrar saídas para não responder concretamente ao que se deseja saber ou fazer.
No fundo, isso está relacionado com a educação que recebemos e que repassamos, nos moldes burgueses. Para um público exigente, combativo, como é o caso dos educadores de Minas e do Brasil, creio que será preciso repensar os modelos tradicionais de encontros. Um desafio para nós, também, aqui de Vespá e região, que teremos a oportunidade de fazer a mesma coisa ou, com base nas experiências anteriores, inovar. Vamos pensar nisso. Quem tiver sugestões, favor enviar cartas para a redação do blog.
Logo depois foi a vez dos candidatos do PMDB-PT, Hélio Costa e Patrus Ananias, que lá compareceram. O candidato afilhado do faraó, como já se esperava, não compareceu. Aliás, não é prática do faraó e do afilhado participarem de debates e encontros onde exista a mínima possibilidade de fazerem cobranças e questionamentos fora do padrão combinado. Para isso eles têm o escudo da nossa servil imprensa.
Hélio Costa fez uma exposição inicial aproveitando bem politicamente o espaço e o público presente, formado de educadores, majoritariamente ligados ao PT. Por isso mencionou inúmeras vezes sua ligação com o governo Lula, com Dilma e com Patrus. Prometeu pagar salários melhores, criticou a política do faraó e afilhado, sem citar o nome do faraó; criticou a isenção fiscal para a exploração do minério, por conta da Lei Kandir, coisa que infelizmente não depende só do governo de Minas. Leu os 15 pontos do programa da Educação, entre os quais a distribuição de um computador para cada aluno do ensino médio.
Na parte das perguntas, um educador cobrou um computador para os professores, também. Na resposta ele disse: claro, se vamos dar um computador para cada estudante, por que não garantir um para os professores também? Neste momento eu comentei com os colegas: já não vou mais precisar juntar dinheiro para comprar um notebook. Para quem já tem um novo salário para janeiro de 2011, nada mal, né? Salário novo, notebook, tô aguardando agora a minha casinha do programa "Minha Casa, Minha Vida", que a Dilma diz que vai fazer (são dois milhões, ela disse).
Ao final do evento, já aproximando das 14h, a coordenadora-geral do Sind-UTE, Beatriz Cerqueira, agradeceu a todos e destacou a importância da categoria participar também da vida política do estado e do país, pois a omissão poderá contribuir para que governantes que não tenham compromisso com a Educação pública sejam eleitos. Enfatizou ainda, sem mencionar nome de candidatos ou partidos, que Minas não deseja mais um segundo governo de choque de gestão.
Ah, detalhe: o candidato do PMDB-PT assumiu o compromisso em palavras de que, se eleito, vai nomear como secretário da Educação um professor - "um colega de vocês" - ele disse. E eu brinquei com os colegas: "pode ser você João Martinho, ou quem sabe você, Carminha, e por que não você, Wladmir?", kkk. Eles adoraram a idéia.
E finalmente, encerrado o evento, recebemos de brinde uma camisa vermelha do Sind-UTE, com os dizeres: "Dê um basta ao choque de gestão. Vote em quem tem ficha limpa com a Educação". Taí uma coisa que eu gostei. Da camisa vermelha, que vai deixar morrendo de inveja meus colegas de Vespá e São José, cuja camisa de luta é verde-abacate. Era isso o que eu vi e vivi na manhã do encontro com os candidatos ao governo de Minas.
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Leiam também:
- Blog do COREU - Artigo do professor Wladmir Coelho: "VERGONHA: PERSEGUIÇÃO AO PROFESSOR EULER CONRADO REVELA A FRAGILIDADE DA DEMOCRACIA NO BRASIL".
Comentário do Blog: Agradecemos ao colega e amigo Wladmir Coelho pela solidariedade. E a todos os demais colegas que nos enviaram comentário, e-mails e até por pensamento manifestaram seu apoio. Estamos na luta e não vamos nos curvar para as práticas autoritárias e ilegais. Este deve ser um alerta também para toda a categoria. Mexeu com um de nós, mexeu com todos!
Se não conseguirmos reverter a situação das demissões e da remoção de forma legal e amigável vamos convocar a comunidade, que fica no entorno da Linha Verde, bem próxima da Cidade do Faraó. Se querem sacanear conosco, não o farão na surdina.
Euler Pq nos professores nao abraçamos o Candidato Hélio Costa, pois só dele dialogar com os professores já nos mostra um candidato diferente do atual. Acredito q está na hora de sermos políticos no sentido de apoiar um candidato ao governo somos cerca de 400 mil educadores, mais familiares, alunos e pais de alunos que sempre nos apoiam.
ResponderExcluirEstamos pensando em entregar uma carta aos alunos pedindo aos pais que nao votem em Aécio e Anastasia.
O que vocês vao fazer contra o Faraó e seu afilhado??????
Euler,essa situação que ocorreu com você me deixou com mais odio do grupo do faraó e do afilhado,mesmo sem apresentar uma proposta concreta agora mais do nunca vou entrar de cabeça na eleição do Helio.O terror aecista tem que acabar em nosso Estado.
ResponderExcluirEuler, ontem mesmo eu conversava com um amigo também professor de História, sobre esse momento político de Minas, certas práticas que acreditávamos já abolídas estão de volta, esta estratégia que conta com o apoio da imprensa consegue, num marqueting perverso, ludibriar grande parte da opinião pública despreparada. O sucesso deste projeto político nas urnas só contribuirão para a cristalização desta política em Minas, com tendência a uma expansão nacional.
ResponderExcluirPor falar em ditadura, a superintendente de Araçuaí convocou os diretores e especialistas de sua jurisdição para mandar um recado para os professores sobre as "realizações" do governo, exibindo as tabelas do subsídio, como se fossem novidades e um presente do governo (esquecendo a Greve Histórica e prometendo aos "efetivados" que só esse governo vai garantir sua continuidade no trabalho. Com esse discurso afinado acham que somos burros, que em véspera de eleições vamos engolir 8 anos de indiferença e humilhação.
Sou solidário à sua causa companheiro, vamos fazer uma grande campanha contra a injustiça da qual você está sendo alvo.
Um grande abraço.
Euler, é claro que o afilhado do faraó não participaria do debate. Estamos parados, não estamos militando. Precisamos assumir esa eleição ou o afilhado irá continuar a andar de jatinhos e a fazer choque de gestão. Ah, adoro saber que, apesar do choque do carro do João, cãibras, possível demissão, você ainda não perdeu o humor. Fale a verdade, você quer ser o secretário estadual de educação, não é? Adriana
ResponderExcluirTemos que entrar na campanha ou irremos ser derrotados pela mídia.
ResponderExcluirOs pais odeiam greve e temos que mostrar que o responsável por isso é o atual governo.