terça-feira, 3 de agosto de 2010

Gregório Bezerra e Carlos Marighella: heróis do povo brasileiro



"Mas existe nesta terra muito homem de valor que é bravo sem matar gente, mas não teme o matador, que gosta da sua gente e que luta a seu favor, como Gregório Bezerra, feito de ferro e de flor". (Ferreira Gular)

“Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella”. (Jorge Amado)


Outro dia o presidente Lula, num dos seus discursos, disse que era necessário que o povo brasileiro, mais até do que ficar lembrando dos carrascos, passasse a homenagear a memória dos verdadeiros heróis do povo brasileiro. E de forma muito feliz citou o nome destes dois combatentes: Gregório Bezerra e Carlos Marighella.

Bezerra e Marighella foram dirigentes comunistas, homens da linha de frente no combate aos grupos dominantes. Numa época dominada pela Guerra Fria, pela disputa ideológica de vida e de morte entre esquerda e direita, estes personagens deixaram uma marca inconfundível de coragem, bravura e compromisso ético com a causa que defendiam. Num país de elites truculentas e atrasadas como o Brasil, educadas para tratar os de baixo como escravos, figuras como Marighella e Gregório Bezerra estavam condenadas a pagar um alto preço. Insubmissos, ambos foram presos várias vezes e duramente torturados nas duas maiores ditaduras do século passado no Brasil - a de Getúlio Vargas e a de 1964.

Gregório tinha origem camponesa e formação militar, tendo partipado das mais importantes lutas travadas pelo então PCB - Partido Comunista Brasileiro -, ao tempo em que este partido gozava de grande prestígio e força social. Ajudou a formar dezenas de sindicatos de trabalhadores rurais e era perseguido pelas elites conservadoras. Com o golpe civil-militar de 1964, já com mais de 60 anos de idade, Gregório Bezerra foi preso e passou por sessão de tortura pública que ficou conhecida pela covardia dos seus algozes. Já preso e dominado, foi brutalmente espancado e em seguida foi covardemente arrastado pelas ruas de Recife com uma corda amarrada ao pescoço. Em 1969 foi libertado em troca do embaixador norteamericano sequestrado por militantes de duas das muitas organizações armadas criadas após o Golpe de 1964 para combater a ditadura - a Dissidência da Guanabara, que depois se tornaria o MR-8, e a ALN - Ação Libertadora Nacional. Gregório viveu vários anos na URSS e retornou ao Brasil em 1979 com a anistia e a reabertura política. Bezerra passou 22 anos de sua vida preso em diferentes momentos por motivos políticos - tempo este que quase se equipara aos 27 anos de prisão de outro grande herói: Nelson Mandela.

Marighella foi outro personagem cuja coragem não tinha limite. Preso várias vezes, torturado das mais cruéis e variadas formas, jamais se deixou abater ou desistir de lutar. Era poeta, um organizador político de grande habilidade e acima de tudo um valente. Após o golpe civil-militar de 1964, não concordando com a linha adotada pelo PCB de resistência não-armada, rompeu com o partido e fundou aquela que seria talvez a mais forte organização armada dos anos de chumbo - a ALN. Tornou-se o maior líder da esquerda após o golpe - até então Carlos Prestes era a grande estrela da esquerda brasileira e até mesmo latinoamericana. Em novembro de 1969, Marighella foi executado numa emboscada montada na cidade de São Paulo, quando teve o corpo cravado de balas pela equipe da repressão dirigida pelo chefe do Esquadrão da Morte, delegado Fleury.

Num país onde muita gente é educada para valorizar e idolatrar canalhas, espertinhos, aqueles que levam vantagem em tudo, quase sempre pisando no pescoço alheio, estes personagens destoam deste cenário. Claro que eram outros os contextos históricos, dominados ou vividos por alguns com uma profunda paixão ideológica. Marighella e Gregório encarnaram no seu tempo o que havia de melhor como combatentes sociais, incansáveis lutadores em prol de um Brasil e de um mundo melhor para os de baixo. Aqui não se discute o mérito das lutas e dos posicionamentos assumidos por estes personagens, mas o compromisso moral com a causa que abraçaram. E neste ponto em particular estou de acordo com Lula: é preciso lembrar e homenagear os nossos heróis. Que são muitos, dezenas, centenas, milhares até, de homens e de mulheres, do valente Zumbi dos Palmares a todos aqueles e aquelas que lutaram (e lutam) bravamente por um mundo mais justo.

Num tempo em que o neoliberalismo procura anular a capacidade libertadora dos de baixo, ideologizando o mercado como tábua de salvação para tudo e todos - enquanto alguns poucos apenas se dão bem nessa disputa de mercado - nunca é demais lembrar daqueles que lutaram apaixonadamente contra a corrente. Eles estão vivos na nossa memória e na nossa ação, toda vez que nos colocamos igualmente contra essa corrente que nos prende aos grilhões do capital.

Gregório e Marighella
, perseguidos pela ditadura civil-militar de 1964, odiados pelas elites, combatidos pela mídia burguesa: heróis do povo brasileiro!

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O nosso colega e amigo João Paulo Ferreira de Assis fez dois comentários que merecem a apreciação e o juízo de todos os que visitam o nosso blog. Vou abrir a próximo post, amanhã à noite, com os textos do colega João Paulo. Os dois temas abordados por ele - as propostas da Coordenação Intersindical na reunião com Hélio Costa e o roubo de computadores e a falta de segurança nas escolas públicas de Minas - são de grande relevância para todos nós. Não adianta nada equiparem as escolas com laboratório de informática se não conseguem manter a proteção dos prédios escolares. Voltaremos então a estes dois temas amanhã, pois agora são 2h23m da madrugada e como eu dormi muito pouco ontem, preciso renovar as energias com uma boa madrugada e manhã de sono. Uma ótima madrugada para todos, especialmente ao João Paulo, bravo educador, que aproveita um passeio por várias cidades mineiras para observar atentamente e criticar as fragilidades das nossas escolas públicas. Pena que não tenhamos governantes e seus assessores com esta sensibilidade!

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Outras notícias associadas ou não ao tema:

- Sind-UTE participa do Conselho Nacional de entidades da CNTE. (Rápido comentário do Blog do Euler: Aproveitem e critiquem a omissão desta entidade - CNTE - durante a nossa greve. Além, é claro, de cobrar uma postura combativa na luta pela implementação do nosso piso, para além da babação de ovo com os membros do governo federal e do legislativo. Nós precisamos é de multidões de educadores em greve em escala nacional e não de acordos palacianos!).

- Funcionalismo estadual entrega propostas a candidatos ao governo de Minas. (Rápido comentário do blog: As propostas são boas, necessárias até, mas há muita coisa não inclusa que é específica para a categoria dos educadores que terá que ser negociada diretamente. Além disso, infelizmente existem alguns sindicalistas e sindicato(s) do servidor(es) público(s) que não merecem a nossa confiança e são pelegos e atrelados ao governante mineiro de plantão. Faltou ainda incluir coisas específicas como o reposicionamento não pago pelo atual governo, entre outros. Por que será que não mencionaram este ponto????).

- Eis aqui na íntegra o documento da Coordenação Intersindical entregue ao candidato Hélio Costa. (documento em pdf).

4 comentários:

  1. João Paulo Ferreira de Assis3 de agosto de 2010 às 01:35

    Prezado amigo Professor Euler:

    concordo plenamente com as referências a Gregório Bezerra e a Carlos Marighella. Ambos são nossos heróis. Eu tenho apenas o primeiro volume das memórias do Bezerra. Do Marighella tenho a referência no Batismo de Sangue, da famosa prova de química em versos, feita por Marighella.

    Mas eu tenho outro assunto para mencionar. No blog do Nilmário há uma referência ao encontro de Hélio Costa e Patrus Ananias com a Coordenação Intersindical dos servidores públicos mineiros no comitê da Conde de Linhares. Os pontos centrais da proposta dos servidores foram ali colocados: concurso público em todas as áreas, fim das terceirizações, ter REAJUSTES ANUAIS, fortalecer o IPSEMG, com hospitais regionais, tratar os aposentados com respeito, rever as avaliações individuais de desempenho. Fim da GTE, gratificação de cooptação de chefes. O choque de gestão feito à custa da remuneração de servidores e aposentados, foi devassado. Foi mostrado com números, gráficos, como a redução dos gastos sociais atingiu em cheio a educação, que emprega 72% dos 470 mil servidores. A intersindical pediu diálogo, respeito às lideranças e organizações dos servidores.
    Penso que você poderia nos emitir um juízo de valor a respeito.

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  2. João Paulo Ferreira de Assis3 de agosto de 2010 às 01:55

    Prezado amigo Professor Euler:

    Agora quero levar ao seu conhecimento e de todos os professores uma denúncia, a da insegurança dos nossos prédios escolares. Minha escola, a EE Deputado Patrús de Sousa, de Carandaí, que ficou entre as 10 melhores de Minas, foi arrombada na madrugada de 20 de julho do corrente ano. Os ladrões eram pertencentes a uma quadrilha de profissionais, que não deixaram pista nenhuma. Levaram todos os computadores, notebooks e data-show de última geração que a Escola havia adquirido. FICAMOS APENAS COM AS SUCATAS. Dias antes já haviam sido visitadas pelos amigos do alheio as EE Sísipho Campos, de Bias Fortes, e Santo Antônio, de Ibertioga, todos os três municípios da SRE de Barbacena. A Polícia até hoje não tem nenhuma pista. Incrível, que além dos governantes, agora o crime organizado também investe contra a Educação Mineira.

    O pior de tudo, e vou novamente te pedir um juízo de valor, a você e aos colegas professores, é que muitas das nossas escolas estão com um aspecto bastante convidativo para os ladrões. Veja-se o exemplo da EE Dr.Mariano Rocha, de Teixeiras, SRE de Ponte Nova. Na 3ª feira dia 27, embarquei em Viçosa, no Ubá-Belo Horizonte. O ônibus entra em Teixeiras, e passa defronte à referida escola. Pois não é que ela está com a parede da frente com queda de reboco e tijolos expostos? Penso que com algumas marretadas de madrugada, o ladrão ou os ladrões poderá(ão) abrir um buraco e saquear a escola como fizeram com a minha. É muito triste, ver o pouco ou nenhum caso com que o poder público trata os nossos prédios escolares.
    O pior de tudo é que minhas surpresas não pararam por aí. Ao adentrar Ponte Nova, vi uma escola, a EE Coronel Cantídio Drummond, construída em frente ao presídio da referida cidade. Olha o risco, se houver uma grave rebelião dos presos, no tiroteio que certamente haverá (Deus livre e guarde), os alunos e os professores poderão levar as sobras.
    Desculpe a prolixidade, mas eu gostaria que você pusesse esse assunto em discussão. Afinal, se as escolas são saqueadas por ladrões, ficamos com menos condições ainda de inovar nossas aulas.
    Atenciosamente João Paulo Ferreira de Assis.

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  3. Nas minhas "andanças" pelos blogs "da vida", me deparei com esse:http://foracollor.webs.com/index.htm
    Pensei em algo assim com relação ao faraó e seu afilhado. Onde os profissionais da educação se juntassem, e convocassem tb a juventude para opinar. Pena que aqui( na minha cityzinha) só tem "lentiunet"...Mas fica aí uma ideia a ser melhor estudada pelos colegas.A União dos Blogueiros da educação,certamente pode ser uma das grandes armas de manifestação...Se em cada escola, um professor cuidar de "espalhar O MOVIMENTO...( só uma sementinha de ideia...quem sabe alguém consiga regar e juntos criamos uma grande rede para defender nossa EDUCAÇÃO. Abraços aos colegas

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  4. Cara Ivone

    A sua idéia é viável, criei meu blog com essa proposta.Creio que essa é a melhor maneira de nos unirmos para lutarmos pela educação. Sonho e espero, para um futuro bem próximo, com uma rede de blog's de docentes sintonizados no mesmo ideal em todo o Brasil.
    Povo unido não é vencido.

    Abraços

    Graça Aguiar

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