Estou impressionado com a repercussão da coluna da semana passada sobre a diferença de tratamento na política salarial do Governo do Estado em comparação dos professores com outras categorias. E não é com o número de e-mails ou comentários pessoais, o que me assusta é o estado de desânimo em que se acham nossos mestres.

Maria Arlinda Lopes de Oliveira, professora de História da rede estadual, recém afastada de dois cargos por diversos razões – “dentre elas a perda da esperança e do ideal que norteou minha vida profissional” – é o melhor exemplo. Ela escreveu: “Cansei de ver o professor ser protagonista da educação quando tudo dá errado e, quando há bons resultados, o mérito é da secretaria ou do sistema: cansei de ver propagandas milionárias e mentirosas mostrando professores e pais felizes, quando isso, na maioria das vezes, não existe e grande parte das escolas não tem sequer o mínimo necessário para seu funcionamento; durante décadas assisti a todo tipo de injustiça contra os profissionais da educação, porém, o nível de desrespeito de que estamos sendo vítimas nos últimos anos não tem classificação”.

Depois de reclamar da confusão que o governo Aécio criou com o “piso remuneratório” no lugar de “piso salarial”, gerando reajuste zero para professores que estão começando e achatamento nunca antes visto para os aqueles que estão na carreira há mais tempo, a professora faz um comentário definitivo quanto à ausência das manifestações que fizeram história na categoria: “A antiga UTE tinha credibilidade junto aos professores e governo, mas, infelizmente, seus idealizadores tornaram-se políticos profissionais e esqueceram-se das suas origens no magistério”.>>

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Agora, os nossos comentários:

Para quem não sabe, Maria Arlinda é professora aqui, de Vespasiano, e tive a grata felicidade de lecionar junto com ela na EE Machado de Assis. É uma profissional séria, dedicada, preparadíssima, e que doou algumas décadas de vida ao magistério. Tem a professora Maria Arlinda autoridade moral para dizer o que diz e é uma pena que profissionais do magistério como Maria Arlinda, após quase três décadas de dedicação apaixonada à causa da Educação, não seja valorizada adequadamente. Mas, esta é a realidade de todos os profissionais do magistério, na modalidade Educação básica.

Como disse em outro espaço deste blog, os governos de diferentes matizes ideológicas não respeitam e não valorizam a Educação e os profissionais da Educação. Aqui em Minas mesmo, o Governo Aécio Neves, como disse o corajoso jornalista Eduardo Costa no seu comentário de hoje, passou o piso inicial da Polícia Militar para cerca de R$ 2.050,00, enquanto que um professor com curso superior receberá 10% de aumento sobre o piso de R$ 500 reais. Não que os policiais não mereçam piso até mais elevado do que o citado. Merecem. O problema aqui é a diferença de tratamento dado pelos governos, que demonstra com isso o quão pouco vale um professor e a Educação pública para estes governantes.

O governo mineiro criou o chamado piso remuneratório de R$ 850 reais e que vai para R$ 935 reais, mas que é, na verdade o teto salarial do magistério. Para se ter uma idéia, quem tem quinquênios, ou biênios (coisas que Aécio cortou dos novos servidores) continuará recebendo o mesmo teto, pois as gratificações e vantagens acumuladas incidem sobre o piso de R$ 500 reais e não sobre o teto salarial de 850 reais. Com este tal teto, o governo mineiro praticamente aboliu o plano de carreira que ele próprio criou, pois igualou por baixo todos os professores, tenham eles formação de ensino médio, superior ou mestrado. Todos recebem igualmente o mesmo teto salarial de R$ 850 - que em maio passará para 935 reais - não havendo estímulo algum para a formação continuada dos profissionais.

Infelizmente, à exceção de poucas vozes como a do jornalista Eduardo Costa, paira um silêncio cúmplice por parte da mídia mineira e nacional, que tenta a todo custo poupar o governador de Minas, que tem reconhecido prestígio nacional e cujo apoio é disputado pela cúpula dos demotucanos e até do PT, de forma disfarçada.

Enquanto isso, a carreira do magistério continua em queda livre, tanto em Minas, como no Brasil, onde a Educação pública de qualidade é motivo de discursos eloquentes e promessas, mas está muito longe de se tornar uma realidade. Enquanto o professor continuar recebendo salário de fome e precisando acumular dois ou três cargos para sobreviver com dignidade; e tendo que lidar com as condições de trabalho que o Brasil já conhece, fica difícil imaginar uma Educação que mereça este nome.

O resultado disso é o que vemos no nosso cotidiano: falta de expectativa de trabalho e de sonhos para milhões de jovens e adolescentes, aumento da violência urbana e destruição de valores humanistas essenciais para um convívio respeitoso e fraterno entre as pessoas. Todos nós somos vítimas desse descaso.