Diário de bordo - 09.03.2010 - Escravidão, latifúndio e outras cositas

Havia redigido um outro texto, algumas horas atrás. Mas, não sei porque cargas dágua o sistema ou programa deste blog não o salvou. Assim, vou alinhavar outro texto sem a mesma inspiração de antes, mas procurando recuperar alguns temas que andei lendo pela Internet. Que coisa!

Gerou polêmica o discurso do senador do DEMO, DEMOstenes Torres - nome apropriadíssimo, por sinal - que, para combater a política de cotas raciais, tentou minimizar a escravidão no Brasil, quase colocando a culpa nos próprios escravos vindos da África pela sua condição. Dois repórteres criticaram o discurso do senador. Em seguida, a Folha de S.Paulo publicou artigo de um sociólogo de aluguel, que saiu em defesa do senador. Dessas coisas comuns aqui no Brasil, onde comentaristas e colunistas precisam mostrar serviço para seus chefes e agradar aos de cima em troca de vantagens, empregos ou destaque na mídia bandida.

Quem quiser acompanhar mais de perto a polêmica acima poderá visitar os blogs dos jornalistas Azenha (Vi o mundo) e Leandro Fortes (Brasília, eu vi), cujos links estão na lista de blogs que recomendamos aí oh, bem ao lado, à direita geograficamente falando. Não deixem de visitar também o Cloaca News e RS Urgente, entre outros, ambos do Rio Grande do Sul, com ótima qualidade.

Essa inversão das coisas não se limita ao fato narrado, onde os ex-escravos seriam os culpados pela sua escravidão. Também no campo, o latifúndio, proprietários de grandes áreas rurais, procura culpar os sem-terra pela violência que eles provocam. Quem denuncia este fato é o jornalista Rodrigo Vianna do blog Escrevinhador (também incluído aí ao lado). Vianna denuncia a campanha orquestrada pelo latifúndio através da mídia bandida com o intuito de incriminar o MST e demais movimentos de sem-terra. Geralmente eles pegam um fato isolado - por exemplo, um sem-terra que recebe um pedaço qualquer de terra e vende em seguida ao invés de plantar. Este fato isolado, de maneira nenhuma reflete a realidade de milhares de sem-terra, que vivem em acampamentos à espera da reforma agrária que não acontece, do apoio financeiro, de equipamentos e condições escoamento do que é plantado e que não vem.

E esse discurso falso-moralista em favor da sagrada propriedade privada consegue sensibilizar parte da classe média e até as camadas mais pobres da população, que não tem sequer um palmo de terra para viver. As campanhas contra os movimentos sociais e contra as reformas em favor dos de baixo começam assim: a Veja (porta-voz da direita golpista no Brasil) publica um artigo sensacionalista acusando o MST. Em seguida a TV Band e a Rede Globo, ambas envolvidas com o latifúndio e agronegócio, reproduzem a matéria criando novas versões sensacionalistas, sem nunca dar chance em igualdade de espaço ao outro lado de se manifestar de forma adequada. Para completar, a Folha de S.Paulo e outros jornalecos regionais, como o Estado de Minas aqui, ou o Zero Hora no Rio Grande do Sul, formam coro às denúncias sacanas dirigidas pelas elites dominantes.

A Internet se tornou um dos principais territórios livres para se combater essa tropa golpista, que é inimiga da maioria da população. Todo o lixo produzido pela mídia bandida tem sido desmascarado por meio da Internet, através dos blogs e sites de pessoas e coletivos independentes. Claro que isso não substitui a necessidade de se fortalecer as lutas sociais e pode até fortalecer essas lutas. Mas, num país onde a chamada cidadania, a organização popular, ainda é muito frágil, como aqui, a internet assume uma posição ainda mais relevante para dar uma resposta imediata a cada tentativa de golpe da direita. Estejamos atentos, acompanhando, denunciando e fortalecendo a organização social dos de baixo para que um dia possamos varrer de vez esses grupos que nos exploram e nos oprimem.