Era uma vez uma carreira...
...que em Minas deixa de existir a cada dia. Uma carreira que deveria ser a mais bela, a mais cobiçada, a mais respeitada. A carreira do professor, ou do profissional da Educação, hoje em fase de extinção, graças aos permanentes ataques impostos pelos governos, especialmente pela gestão do faraó e seu afilhado e também pelo governo federal.
O caso de Minas é emblemático, foi pensado de forma fria e calculada. Desde de 2003 que a dupla faraó e afilhado vinha retirando direitos dos educadores, dia após dia. Cortaram os quinquênios e biênios dos novatos; depois reduziram o período de férias prêmio, até abolir tal direito; depois, por ocasião da Lei do Piso, aboliram de vez todas as gratificações dos profissionais da Educação - quinquênios, biênios, pó de giz -, e congelaram os salários até 2015. O mesmo governo que concedeu reajuste de 100% no salário base dos policiais até 2015. Que diferença de tratamento! Claro que os profissionais da segurança também merecem melhores salários, mas o que chama a atenção aqui é a diferença de tratamento: para os policiais, a simples ameaça de greve resultou na concessão do reajuste; para os professores, nem uma greve de 112 dias para que o governo cumprisse uma lei federal - a Lei do Piso - foi capaz de impedir o maior confisco da história de Minas contra os educadores.
Os atuais professores e os mais antigos estão desmotivados em relação à carreira, que foi destruída, com os índices de progressão e promoção reduzidos, com o não cumprimento das regras do piso salarial nacional. Minas pisoteou a Lei do Piso, com a indiferença do Ministério Público e da Justiça - e a cumplicidade de um legislativo servil e inútil. Com a indiferença também do governo federal. Dilma esteve em Minas durante a greve dos educadores e o que fez foi visitar as obras do Mineirão. Outro gesto emblemático. Foi incapaz de dar uma palavra sequer sobre a dramática situação vivida pelos profissionais da Educação. Mostrou-se mais preocupada com a passageira Copa do Mundo do que com o destino, o presente e o futuro de milhões de crianças, jovens e adultos que frequentam a escola pública. Quanto ao faraó-senador, este, como é sabido, desapareceu de Minas, o que não constitui novidade. O único senador que fez alguma referência à situação dos educadores de Minas e do Brasil foi o representante do Distrito Federal, Cristovam Buarque.
Os professores de Minas recebem dois salários mínimos de valor total por um cargo completo - e a situação dos demais trabalhadores da Educação é ainda pior. Se considerarmos o grau de exigência que é feita aos professores, incluindo a formação de nível superior, podemos concluir que os professores de Minas - e do Brasil também, claro - não recebem salário, mas ajuda de custo. Não é razoável supor que algum estudante minimamente atualizado queira, hoje, concluir a licenciatura plena por uma carreira e um salário como os dos professores de Minas e do Brasil. É uma vergonha para um estado como Minas Gerais, e para o Brasil, continuar pagando os piores salários do planeta para os profissionais da Educação, enquanto as elites dominantes adoram exibir, através da mídia, realidades fantasiosas.
Que futuro podemos esperar para a Educação básica se os professores, na sua maioria, já não acreditam mais na possibilidade de mudanças em favor dos profissionais da Educação? Considero uma enganação essa história de que nos próximos 20 ou 30 anos haverá mais investimentos na Educação. Por que não aplicam essa mesma lógica de investimentos futuros em relação aos banqueiros, aos empreiteiros, e outros beneficiários dos cofres públicos?
Talvez, no futuro, o Brasil consiga importar cérebros para produzir educação de qualidade, pois em breve não haverá mais, internamente, quem queira trilhar por este espinhoso caminho. Os educadores estão desiludidos, desencantados em relação ao que sobrou da carreira do magistério público. E não é por acaso que se assiste no Brasil ao fosso crescente entre ricos e pobres - a pior distribuição de renda da América Latina! Ou que se observa, no dia a dia, o aumento da criminalidade, da opção pelo crime por falta de opção pela vida, por uma perspectiva de vida baseada no respeito ao próximo, na efetiva participação da população de baixa renda nos destinos e no controle das receitas que deveriam ser públicas, e não privatizadas por alguns poucos, como acontece.
Minas tornou-se um estado emblemático, a produzir a fantasia de que tudo vai bem, enquanto a realidade nua e crua é o inverso. E a extinção da carreira dos professores em curso talvez seja a pior consequência dessa tragédia.
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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