Julho, nos dias que quase abalaram Minas
Mês de julho. Os dias vão se fechando. Altos e baixos, como todo mês. Mas, um tom acima do tom, que aparentemente deveria ser o normal. Normal? Estou de férias. Vamos por partes. Minhas férias são curtidas em parte, apenas. Durante o dia, trabalho; à noite, breve descanso. Isso me impede de participar de perto de muitos momentos de luta dos educadores e de outras demandas. Problemas em casa. Quem não os tem? Alguns, às vezes apertam. Mas passam, como todos os outros. Até o nosso piso acredito que um dia será pago. Não passará. "Eles passarão, nós passarinhos". Tim-tim por tim-tim, o piso dos educadores um dia será pago. Mas vai demorar, isto é evidente. Distante das coisas, mas próximo das movimentações, especialmente graças ao Mídia Ninja, a verdadeira imprensa livre hoje no Brasil. Itatiaia, Globo, Band, Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia... com momentos de raras exceções, lixo jornalístico. Mercado de notícias: quem paga mais, leva. O Ninja não. Primeiramente, a preferência por acompanhar as lutas e movimentações de estudantes, professores, sem-teto, sem-nada. Isto faz muita diferença. O Brasil merecia uma imprensa realmente democrática, e não essa farsa, movida a negociatas ligadas a interesses escusos dos de cima. Caminhemos. Cantemos. Mas sem seguir a canção.
Julho chega ao fim. Teve muita coisa. Soube do falecimento do combatente dirigente sindical Osmir, do Marreta. Uma perda para a luta de classes em Minas, já tão carente de bons lutadores. No mesmo dia, no final da noite, uma vitória sonhada: a do Galão da massa. Que título suado, o de Libertadores da América. Já disse aqui que sou um atleticano não-fanático, mas foi impossível deixar de assistir aquela disputa. Como meu bunker fica encravado na área central de Vespó, dá pra imaginar o barulho na minha janela, que foi até às 4h da matina. Tudo bem, a torcida do Atlético bem que mereceu aquele título. No domingo seguinte, a derrota para o Cruzeiro nem doeu, embora tenha sido importante para o arquirrival do Atlético.
Julho foi também o mês da vinda do Papa Francisco ao Brasil. É um papa conservador, é fato, com o mérito de tentar mostrar simplicidade, e de apregoar a caridade, no lugar da ostentação. Minha família é católica, mas eu não acompanho nenhuma religião. Mas, sou devoto de Nossa Senhora de Lourdes, e confesso uma certa simpatia pelos muçulmanos. Menos pelo teor do Alcorão, e mais pela antipatia aos dogmas da medieva cultura ocidental, com as cruzadas do terror estatal lançadas pelo império norte-americano e seus aliados ricos da Europa. Sou mineiro, acima de quase tudo. E isso não é pouco. Nem muito. Que tanto? Ora, é querer saber demais, né? - Como me responderia, sorridente, uma senhora de quase 100 anos, já falecida, a quem entrevistei para saber sobre causos de Vespá, em outros tempos.
Julho vai se fechando com o povo nas ruas. Pequenas grandes manifestações. No Rio, quase todos os dias: Fora Cabral! Em Goiás, em São Paulo e em Brasília, idem. Em BH, uma importante vitória dos moradores das ocupações urbanas. Com a prefeitura ocupada, o prefeito da capital mineira recebeu e assinou uma ata se comprometendo a suspender temporariamente as liminares de reintegração de posse, além de formar uma comissão com a participação do poder público e dos moradores para negociar soluções para os justos pleitos dos moradores. A mídia Ninja estava lá, mostrando tudo ao vivo pela Internet. Com o governo de Minas, a coisa foi diferente. A reunião com os sindicalistas foi a portas fechadas, e uma próxima reunião foi marcada, sem qualquer garantia de que haja avanços. Tudo bem que Minas está quebrada. É fato. Mas bem que o governo de Minas poderia envolver o governo federal e pelo menos assumir um compromisso moral de pagar o piso e devolver a carreira roubada dos educadores. Já seria uma luz, no lugar das trevas do subsídio: sem reajustes, sem carreira, com salário congelado até 2016. Que coisa.
Julho de 2013, enfim, fecha-se, dando asas a um agosto, que se espera seja menos doloroso do que a lenda. Não sou supersticioso... Toc toc na madeira! Estamos na verdade numa espécie de compasso de espera - usei este termo um tempo atrás para escrever um arremedo do que seria o rascunho de um livro não publicado. Ou seja, estamos naquele intervalo entre dois tempos distintos, que se completam, mas que guardam entre si diferentes perspectivas. E que lapso de tempo é este? É aquele entre as manifestações de junho e o que virá. Passamos por um lapso diferente anteriormente, com a queda do Muro de Berlim, lembram-se? Crises nas ideologias, sonhos despedaçados, a doutrina neoliberal se impondo como dogma absoluto. Durou pouco, até que as frágeis premissas dessa nova velha doutrina fossem derrubadas. Mas um vazio permaneceu. A velha esquerda repetia as mesmas práticas, da busca pelo poder como fim em si mesmo. Os jovens das manifestações de Junho mostraram que o poder instituído, corrompido, é frágil. E que as ondas que se formaram nas ruas podem varrer tudo. Ou nada. Passada a primeira onda, ficaram bons frutos: Mídia Ninja, grupos e coletivos que se organizam de forma horizontal, não mais para tomar o poder, mas para ocupar os poderes constituídos, e durante algum tempo, ser o poder, sem personalismos, sem muita centralidade. Mas não desprezemos as forças dos de cima. Eles continuam controlando os instrumentos diabólicos de poder. O que será daqui para frente, o tempo dirá, sempre a depender do protagonismo que os de baixo possam ou não assumir. E viva a incerteza do que virá!
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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