domingo, 29 de setembro de 2013

Domingo com chuva, e mais uma análise do descaso com os educadores de Minas

Domingo com chuva, e mais uma análise do descaso com os educadores de Minas

O domingo é de chuva, muito bem vinda, por sinal. Lavou um pouco a poeira das ruas, e especialmente no meu bunker, que passa por modesta reforma. Em todo canto do meu pequeno canto se encontra com pó. "Pó pará, governador". Cinco por cento de reajuste para receber em novembro é tudo o que sua excelência, o afilhado do faraó, ofereceu aos sofridos educadores. Carreira destruída, piso sonegado, salário congelado, e agora, para passar a imagem de preocupação com a área da Educação, toma 5% ao final de quatro anos de governo (quatro mais oito do faraó candidato a presidência, com muitos toques na madeira). E o pior são as assessoras, berrando aos quatro ventos que Minas paga até 55% a mais do que o piso nacional dos educadores. Ai, ai, ai, isso dói nos ouvidos.

Como o sindicato da categoria tem dificuldade de esclarecer para a sociedade que a versão do governo não corresponde à realidade, e a nossa mídia tem dificuldade de entender aquilo que desagrada aos governantes de plantão, vamos tentar desenhar abaixo, explicando a realidade do piso em Minas - que, diga-se, se estende à realidade brasileira, já que Educação não é prioridade em nenhum estado. Nem a saúde pública, embora os médicos contratados pelo governo federal - e que sejam bem-vindos os médicos cubanos! - pelo menos receberão um pouco mais do que os professores do ensino básico - R$ 10 mil contra R$ 1,5 mil.

Vamos enumerar para facilitar a compreensão geral da nação. Mas, antes, contudo, porém, entretanto, quero fazer três rápidos registros, de uma linha apenas, e em seguida volto ao tema central, qual seja, o de como o governo de Minas não paga o piso e ainda diz que paga até 55% a mais.

Primeiramente, nosso renovado repúdio contra a criminalização dos movimentos sociais, o que resultou em prisão de vários combatentes que se manifestaram nas ruas no dia 7 de Setembro. Dois destes jovens lutadores - Ameba e Rodrigo - continuam presos - presos políticos, diga-se. Minas, com sua parafernália estatal ditatorial, dá mau exemplo para todo o país - de intolerância, de desrespeito aos direitos civis e às liberdades democráticas duramente conquistadas pelos lutadores sociais. E que em todas as nossas manifestações e diálogos cotidianos possamos condenar essas práticas que agridem nossos direitos: pela liberdade imediata do Ameba e do Rodrigo, e pela descriminalização dos movimentos sociais, incluindo o caso do professor André, de Juiz de Fora, indiciado durante a nossa greve de 2011.

A segunda nota de registro é de pesar, pelo falecimento do ator, diretor de teatro e um dos coordenadores do Arena da Cultura de BH, Marcos Vogel, a quem tive a honra de conhecer recentemente nas minhas atividades profissionais. Vogel era uma pessoa extremamente dedicada, sensível e atencioso com todos. Natural do Rio de Janeiro, transferiu-se para BH na década de 90, dedicando-se apaixonadamente à vida cultural da cidade, contribuindo inclusive com a criação do Arena da Cultura, uma escola de artes, nas suas diversas linguagens. Aos familiares e amigos de Marcos Vogel, os nossos sentimentos. Sem dúvida, ele fará muita falta no cenário cultural de BH - cenário este sempre rico e desafiante.

A terceira e última nota é sobre o acampamento dos educadores, organizado pelo sindicato da categoria, nas proximidades da residência do governador. Pelo visto - que local mais sombrio e isolado do mundo! -, finalmente resolveram torná-lo itinerante. Considero uma boa iniciativa, já que o local escolhido inicialmente tem pouca visibilidade. Ou seja: o povão não passa na porta do Palácio das Mangabeiras. E como a mídia mineira não noticia praticamente nada, e o sindicato tem dificuldade de comunicação e expressão, penso que é exigir muito dos colegas que se disponham a acampar naquele local. Algumas sugestões de locais para a itinerância do acampamento: assembleia legislativa, cidade inadministrável, em frente à sede dos grandes (em poder econômico) meios de comunicação - quem sabe assim eles descobrem que há um acampamento de educadores na cidade? -, na Praça Sete, enfim, há muitos locais que podem ser "ocupados" por um tempo. Infelizmente, não tenho podido participar pessoalmente dos acampamentos, mas me sinto representado pelo comandante João Martinho, sempre presente em todas as lutas dos educadores de Minas e de outros movimentos sociais também. O correto é participar diretamente - como sempre fiz - mas, como não está sendo possível acompanhar as movimentações, já elegi o comandante Martinho meu representante junto aos movimentos dos educadores. Na ausência dele, o Rômulo me representa. E mais ninguém, rsrs (ah, claro, se morasse em Montes Claros tal atribuição caberia à combativa colega Marly, que merecidamente está se aposentando de um cargo. E em outras cidades de Minas, tal fardo caberia aos combativos colegas do NDG). 

Agora voltemos ao tema-tese inicial: o governo de Minas paga o piso salarial nacional aos educadores? Vejamos:

1) pela Lei do Piso - 11.738/2008 - o piso é vencimento básico, sobre o qual devem incidir as vantagens e gratificações conquistadas pelos educadores ao longo da sofrida carreira. Em Minas Gerais, para não cumprir a lei federal, o governo alterou (destruiu) a carreira dos educadores. Para isso, o governo de Minas criou o subsídio, uma forma de pagamento usualmente utilizada para remunerar os altos cargos comissionados do estado. Professor é cargo de carreira, de baixa remuneração, mas mesmo assim, para não pagar o piso salarial corretamente, o governo de Minas implantou o subsídio, acabando com o vencimento inicial, incorporando todas as gratificações ao baixo valor nominal do subsídio (e com isso eliminando estas gratificações) e alterando, inclusive, e para pior, a estrutura das carreiras dos educadores. Por exemplo: uma mudança de nível, que para qualquer outra carreira do estado corresponde a 22%, para os educadores foi rebaixada para algo próximo de 10%; na progressão, houve mudança também de 3% (comum a todas as carreiras do estado) para 2,5% apenas para os educadores. Não bastasse tudo isso, a carreira foi congelada até 2016.

2) foi graças a este tremendo confisco e arrocho nos salários dos educadores, que a longa gestão faraó-afilhado pode realizar algumas poucas obras faraônicas, tipo cidade inadministrável, além de poder remunerar melhor a polícia militar, responsável pelo choque aos movimentos sociais. Como já dissemos aqui, não somos contrários a uma remuneração digna aos policiais, ou a qualquer outra carreira do estado, mas seria importante que houvesse uma isonomia no tratamento entre as carreiras. A PM receberá, em 2015, como vencimento inicial, algo próximo de R$ 4.000,00. Os educadores, nesta mesma data, receberão, como salário total, algo próximo de R$ 1.500,00. Em 2010 a PM ganhava, como salário inicial, em torno de R$ 2.000,00, enquanto os educadores recebiam, como salário total, em média cerca de R$ 1.000,00. Isso nos dá a medida de como o governo de Minas, nas gestões tucanas, trata (destrata) a Educação no estado: com total descaso, como elemento de quinta importância, quando muito.

3) o governo diz aos quatro cantos do planeta que paga aos professores até 55% a mais do que o piso salarial nacional. Então resolvemos fazer umas continhas, para que o leitor possa entender a essência e a diferença entre o que se diz e o que se pratica. O valor do piso salarial nacional atualmente é de R$ 1.567,00. Este é o valor mínimo e por isso tem o nome de piso. O governo de Minas tem a cara de pau de pagar como teto praticamente R$ 1.400,00 e ainda diz que paga até 55% a mais do que o piso. Vejamos: R$ 1.567 mais 55% é igual a R$ 2.429,00. Quase R$ 1.000 de diferença entre o discurso e a prática, em desfavor dos educadores.

4) o governo alega que paga sobre uma jornada menor, de 24 horas de trabalho. Tal argumento é falacioso, pois a Lei do Piso diz que o valor do piso deve ser pago para uma jornada de até 40 horas, podendo, os governantes, pagá-lo de forma proporcional às jornadas praticadas. Logo, o governo de Minas pode até lançar mão deste expediente negativo para os educadores, de pagar um valor menor pela jornada menor, mas de maneira alguma pode dizer que paga a mais, já que, como demonstraremos a seguir, o governo sequer paga o piso corretamente. Para ser coerente, já que o governo sonegou o piso e paga teto salarial, em forma de subsídio, deveria pelo menos cumprir o que diz, e pagar R$ 2.429,00 de salário inicial para os educadores, ao invés dos R$ 1.400 e poucos reais de salário total.

5) como dissemos antes, o governo burlou a Lei do Piso. Se tivesse aplicado corretamente a lei federal, inclusive com o valor proporcional à jornada de 24 horas, teria feito da seguinte forma (pela tabela antiga, que foi rasgada): para o professor com formação em ensino médio, R$ 940,20 de vencimento básico, mais as gratificações (biênios, quinquênios, pó de giz, etc.);  para o professor com licenciatura curta, R$ 1.146,00 mais as gratificações mencionadas; para o professor com curso superior, R$ 1.399,40 mais as gratificações; para o professor com especialização, R$ 1.707,26 mais as gratificações; para o professor com mestrado, R$ 2.082,85 mais as gratificações; e finalmente, para o professor com doutorado, R$ 2.541,08 mais as gratificações. Reparem que o valor do piso (vencimento básico) do professor com curso superior para a jornada de 24 horas deveria ser de R$ 1.400,00 sem as gratificações, valor este que o governo paga atualmente como remuneração total e ainda diz que paga até 55% a mais do que o piso. Ora, onde está o jurídico do sindicato que não consegue questionar estes dados na justiça? Onde está o Ministério público, ou a imprensa de Minas, tão atenta a todos os problemas da humanidade, que não consegue desnudar estes dados explicados aqui de forma detalhada, tolerante, até.

Conclusão: Minas não paga nem o piso, quanto mais os aludidos 55% a mais do que o valor nacional do piso dos educadores. Quaisquer que sejam os ângulos que analisemos a questão - pela aritmética, pela jurisprudência, pela ética ou pelo bom senso -, veremos que o estado de Minas está em débito eterno com os educadores, pois trata com descaso a área da Educação pública, e especialmente aos profissionais da Educação, vítimas de sucessivos desgovernos estaduais e federais - já que, infelizmente, este descaso com a Educação pública não é privilégio do reinado de Minas.

Neste domingo calmo e chuvoso, eram essas as considerações que gostaria de trazer à análise dos nossos fiéis e valentes leitores.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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domingo, 22 de setembro de 2013

Direito de manifestação ameaçado em Minas, outro país


Direito de manifestação ameaçado em Minas, outro país

Na propaganda, Minas é o paraíso, já dissemos antes aqui no blog. Na vida real, Minas é um estado quase policialesco, arremedo mal feito da ditadura militar, que persegue jovens e idosos idealistas, que lutam por realidades diferentes daquela imposta pela roda demoníaca do sistema do capital. Tudo bem que grandes mudanças ocorrem ao longo de muitas décadas e séculos. São culturais as amarras que prendem as pessoas aos grilhões. Mas, no meio do caminho, além das pedras, há também conquistas, como as que ocorreram no Brasil no processo de luta contra a ditadura civil-militar. Essas conquistas democráticas são hoje negadas, sonegadas por governos como o de Minas Gerais, que bota tropa de choque nas ruas toda vez que jovens e idosos sonhadores ousam ocupar as praças e ruas para reivindicar direitos que as elites subtraem da maioria explorada dos de baixo.

Nas manifestações de Junho, boa parte delas espontâneas, que reuniram milhares de pessoas nas ruas, o governo de Minas e sua polícia tremeram nas bases. Ficaram de joelhos, literalmente, a ponto de mudarem o discurso e a prática em relação a esse movimento. Num primeiro momento, o governo tentou, através da justiça, proibir manifestações durante os jogos das confederações. Parte da Justiça mineira, como é totalmente servil aos governos (vejam, eu disse parte da justiça, pois nem todos os juízes têm essa conduta submissa), acatou o pedido do governo, decretando a abolição do direito constitucional dos cidadãos se manifestarem livremente. Tanto a intenção ditatorial do governo, quanto a equivocada decisão judicial foram rasgadas em praça pública quando centenas de milhares de jovens ocuparam todo o centro da capital mineira marchando livremente até os arredores do estádio de futebol reformado para os jogos da copa.

Passados os ventos de junho, com toda a carga de manipulação que a imprensa mineira e brasileira tentou dar ao movimento - tentaram mostrar que tal movimento era apenas contra o governo Dilma, contra os "mensaleiros do PT", escondendo que era um movimento contra TODOS os governos, independentemente da cor partidária -, o governo de Minas ainda ficou apreensivo por um tempo, chegando, de forma inédita, após 10 anos de gestão Aécio-Anastasia, a receber um grupo de jovens que manifestaram em praça pública, representantes da Assembleia Popular Horizontal.

Mas, como o movimento de rua perdeu força, temporariamente, como é comum acontecer, já que a vida prossegue e as pessoas precisam sobreviver, submetidas à roda-viva que rola sobre nossos pescoços, o governo voltou a mostrar as suas garras afiadas. Na manifestação de 7 de setembro, por exemplo, quando poucas dezenas de manifestantes voltaram às ruas de BH foram recebidos com tiros de borracha, armas de choque, cassetetes e gás de pimenta. Quase cinco dezenas de jovens foram presos. E ao contrário das manifestações de junho, não se tem notícia de que tenha havido quebradeira de vitrines de bancos e lojas de carros importados. No máximo, pelo que se viu ou pelo que se pode ler ou ouvir na própria imprensa dos de cima - Itatiaia, Estado de Minas, TV Globo, entre outros - o máximo que ocorreu foi um jovem fazer o tal "bundalelê" para a polícia, fator que teria despertado a ira da tropa que prendeu o tal jovem e todos os que estavam a sua volta, ou que tentaram defendê-lo.

A mídia mineira, como sempre, com raras exceções, cumpriu o seu papel de posto avançado do golpismo no Brasil, porta-voz da direita mais atrasada, recalcada e infeliz. Passou a condenar sem provas aos manifestantes de 7 de Setembro, elogiando a ação da polícia de choque, sem dar qualquer destaque aos abusos cometidos pela tropa de choque, e apresentando os jovens manifestantes como se fossem bandidos. O governo de Minas, por meio do seu órgão de repressão, chegou até a ensaiar um ato que seria a sua desmoralização total, o de apresentar os jovens presos à comunidade - cerca de 15 deles - como se fossem todos vândalos, bandidos, quando na verdade são jovens idealistas, sonhadores. Mas Minas não convive bem com o sonho, ou com o direito de sonhar, pelo menos. Minas tornou-se o estado da ditadura disfarçada por uma mídia cínica, que vive pendurada nos cofres do estado e das generosas verbas de grupos empresariais que são ligados aos governos de plantão.

Um dos jovens presos, que conheço pessoalmente, e é filho do amigo professor João Martinho, conhecido lutador das melhores causas, incluindo a do Movimento Negro, teve o seu cabelo raspado e foi agredido fisicamente. Uma agressão inaceitável, tanto a física quanto a moral e cultural, já que se ataca, com este ato, a cultura afro-brasileira. Um outro jovem, que está entre os dois que são mantidos presos, tive a oportunidade de conhecer e com ele dialogar em mais de uma oportunidade, há coisa de uma década, e também antes disso. Depois perdi o contato com vários colegas que, como ele, faziam parte dos movimentos libertários, ligados à esquerda mineira - comunistas, anarquistas, punks, jovens que sonham com um mundo diferente deste que a realidade do capital nos legou, marcado por cercas, grades, impedimentos, restrições, e uma brutal diferença social que separa o mundo entre dois extremos. Pode-se até não concordar com as ideias e os métodos que tais jovens defendem, que aliás não são consensuais entre eles. Mas não se trata de "vândalos" (no sentido pejorativo que mídia tenta dar), bandidos ou coisa do tipo.

Agora mesmo surgiu essa coisa de que os manifestantes não podem usar máscaras. Ora, a polícia usa máscara o tempo todo, esconde o rosto, e às vezes até o nome. E usa arma para se proteger. Usa gás de pimenta para despejar nos manifestantes quase sempre sem qualquer critério - lembro-me na nossa greve de 112 dias, em 2011, quando a tropa de choque despejou gás de pimenta em cima dos professores em algumas ocasiões, sem que tivéssemos feito nada que agredisse a qualquer outra pessoa, e até mesmo ao sagrado patrimônio privado de alguns. Como os jovens vão se proteger desses gases senão com máscaras embebidas em vinagre?

Mas, Minas tenta intimidar justamente estes jovens mais aguerridos, numa espécie de mensagem para a grande massa que foi para as ruas em junho. No Brasil Colônia, era comum aos agentes da Metrópole sacrificar de forma exemplar aos rebeldes de origem pobre. Eram torturados, enforcados e esquartejados para servir de exemplo aos outros pobres, sobretudo aos negros escravos. Minas tenta fazer com os jovens do 7 de Setembro algo parecido, um enforcamento moral, para servir de exemplo para outros manifestantes, que a imprensa chama de "a maioria ordeira". Nos cálculos do governo de Minas e de sua imprensa, manifestante bom é aquele que sai para a rua discretamente, sem atrapalhar o trânsito, de preferência gritando palavras de ordem contra o governo Dilma, apenas.

Na prática, estes atos do estado mineiro - e que vêm acontecendo em vários outros estados - representam a cassação de direitos democráticos duramente conquistados por manifestantes como estes que agora são apresentados como bandidos. Foi graças à luta, ao sangue e ao suor de muitos jovens e idosos idealistas, sonhadores, que as liberdades, as poucas que ainda restam, foram conquistadas. Foi graças à luta de milhares de sonhadores que todos os direitos que conhecemos e experimentamos foram arrancados dos governos e das elites - que tentam de todas as formas sequestrar dos de baixo.

Por isso, em nome dos direitos democráticos e humanos ameaçados, pelas liberdades de manifestação, de opinião e de imprensa atacadas, é preciso que tenhamos a coragem de nos manifestar, denunciando, por onde quer que andemos, essas práticas lesivas aos interesses da maioria dos de baixo. Excluindo-se a propaganda paga nos grandes (em poder econômico) meios de comunicação, que mostra Minas como paraíso, a realidade é de descaso e agressão aos movimentos sociais, às lutas de jovens e idosos idealistas, que são aqueles que resistem a aceitar aquilo que a maioria de nós se submete no dia a dia. Que vivam os manifestantes de rua, que Minas, outro país, com seus governos e sua mídia, jamais calará.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Educadores acampam em frente ao palácio do governador. Parte da imprensa mineira finge que não vê. Até agora, pelo menos.



A "democracia" de Minas:



Educadores acampam em frente ao palácio do governador. Parte da imprensa mineira finge que não vê. Até agora, pelo menos.


O comandante Martinho, durante as manifestações de Junho. Ao seu lado, mais dois quadros do NDG: Sô Geraldo e Claudia Luiza. Martinho pernoitou esta madrugada no acampamento dos educadores de Minas na Casa do Governador. Esperava tomar o café da manhã com sua excelência. Contudo, este, arisco, saiu mais cedo, de helicóptero. Mas, uma turma permanece lá, até que ele retorne. No meio da semana, Martinho pretende levar nova turma, de Vespá, para passar o dia no acampamento. O blog será devidamente informado pelo comandante.

Atualização em 05/09/2013 - Em contato telefônico, o comandante João Martinho informa que nos dias 13 e 18 uma comitiva de educadores da subsede de Vespasiano e São José da Lapa se encarregará do acampamento na Casa do Governador, durante todo o dia e noite. Haverá inclusive um momento musical, com a possível participação de um artista e educador da cidade. O comandante pede a todos/as os/as educadores/as da região para reforçarem o acampamento. Os interessados podem entrar em contato com ele para viabilizar o transporte, se necessário.

URGENTE: Ação arbitrária da polícia de Minas contra os manifestantes do dia 07 de Setembro. O Blog foi informado que cerca de 15 pessoas, entre elas o filho do nosso comandante professor Martinho, foram e continuam presas na Ceresp da Gameleira. Segundo informações, a prisão ocorreu nas manifestações pacíficas do dia 07 de Setembro. É mais um ato arbitrário, que agride a democracia brasileira, cujas leis federais, teoricamente, asseguram aos cidadãos o direito de livre manifestação, de opinião e de ir e vir. Consta, segundo ainda os informes recebidos, que os manifestantes tiveram o cabelo raspado, o que constitui uma agressão moral e física, e inclusive agride aos elementos constituintes da cultura afrodescendente - no caso do filho do Martinho. Aguarda-se a manifestação da comissão dos Direitos Humanos, bem como de toda a sociedade contra mais este ataque aos direitos dos cidadãos brasileiros e mineiros.

Este vídeo aqui, publicado no portal do jornal O Tempo, nos dá uma noção da violência praticada pela tropa de choque contra os manifestantes. E neste link aqui é possível acessar a campanha pela liberdade do estudante de História Leonardo Martins, que teria sido detido e espancado. É a democracia da elite mineira e brasileira, branca, racista, preconceituosa e sempre servil aos piores interesses.

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Acordei ontem com diarreia. Sem apetite algum. Mas como estava sem febre, descartei a dengue. O que seria doloroso, pois seria a terceira, em poucos anos. A diarreia hoje prossegue menos intensa. E eu, à base de chazinho, soro caseiro e maçã, vou levando o dia, em casa, pois ninguém é de ferro para ir trabalhar nessas ocasiões, né? Mas, o que tem a ver a minha diarreia com o título do post? Nada. Ou será que tem? Bom, continuemos.

Na sexta-feira, bem de noitão, já no final do dia 30, o comandante Martinho bate na porta do meu bunker. Foi ele quem trouxe a informação do acampamento de um grupo de educadores de Minas na porta do Palácio das Mangabeiras, sede oficial do governador de Minas. Ele esteve lá, de passagem, e disse que passará todos os dias por lá. Ele e Sô Geraldo, outro valente da nossa greve de 112 dias. E disse mais: está recrutando colegas educadores que se disponham a acompanhá-lo nas suas idas e vindas - ou dormidas - no acampamento. Infelizmente, dada à minha condição de trabalhador em tempo integral, inclusive fora da rede estadual, não poderei participar desta iniciativa louvável, que tem o meu apoio. Disse-lhe que o blog está à disposição para divulgar o que ele enviar - ele ou qualquer outro ilustre visitante deste espaço.

Mas, o que me chamou a atenção neste final de semana, enquanto descurtia minha diarreia, que na verdade começou no sábado, foi a omissão - mais uma, aliás - de parcela da mídia mineira, quase toda ela bancada com recursos públicos do governo de Minas, sempre generoso com a imprensa que lhe devota total subserviência. Pelo que andei lendo nos portais, somente o jornal Hoje em Dia teve coragem de publicar uma matéria, inclusive reproduziu um vídeo oficial do sind-UTE. Quando houve a ocupação da Câmara de Vereadores de BH, ou mesmo da Prefeitura de BH, houve grande divulgação na mídia mineira. Agora, quando se trata do governo do estado de Minas, o buraco é mais embaixo. Se o acampamento durar um tempo maior, pode até ser, com toda a má vontade do mundo, que a imprensa mineira descubra que a morada do governador está ocupada por dezenas de educadores. E o que pedem estes educadores?

Em primeiro lugar, o cumprimento de leis federais. Uma delas, o pagamento do piso salarial nacional, que em Minas foi burlado, nas barbas de um Ministério Público omisso, de um legislativo estadual mais omisso ainda, e de uma imprensa igualmente omissa. Sou eu quem estou com diarreia, mas quem despeja excremento pelas ruas e esquinas do país e de Minas são eles. Ou o que seria a programação dessa mídia eletrônica senão algo similar a uma diarreia? - mental, inclusive. Em segundo lugar, o cumprimento da lei no que tange aos 25% da receita, que não são aplicados na Educação. Com as bençãos de um Tribunal de Contas cujo conselho é político, mais do que técnico. Traduzindo: seus membros, com exceções, são indicados quase sempre pelos bons serviços prestados aos governantes de plantão. Se estiver errado, corrijam-me.

E agora, passados os primeiros ventos das rebeliões de junho, o governo de Minas já pode se dar ao luxo de voltar a desprezar o sindicato, como sempre fizera. Tudo bem que o sindicato tem seus defeitos. Que sua direção é monopolizada pelo mesmo grupo há 30 anos, e que, em função de sua incapacidade de ouvir as bases, dialogar com as bases, e abrir espaços para a diferença, acabou contribuindo com sucessivas derrotas da categoria. Mas, quando toma a iniciativa de acampar na frente (ou seria no fundo?) da casa oficial do governador, o sindicato pelo menos dá um passo para romper com o imobilismo. E o governo de Minas precisa urgentemente dar outro passo, nessa dança, chamando o sindicato para negociar os justíssimos pleitos da categoria. Quais são eles? Descongelamento e devolução da carreira roubada, pagamento do piso salarial, e, se possível, devolução das gratificações roubadas desde 2003, quando o faraó, então governador, e hoje senador pelo Rio de Janeiro, assumiu o governo do estado.

A Educação pública, ensino básico, em Minas e no Brasil, está indo para o buraco, tamanho o descaso de governantes dos diversos partidos, sem exceção. Mas, ao contrário da Saúde, em cuja área se pode contratar médicos de outros países - que viva a medicina cubana, que dá de dez a zero no Brasil e no mundo! -, na Educação, o buraco é literalmente mais embaixo. Quem, de outro país, vai se dispor a trabalhar aqui ganhando R$ 1.000,00 por mês, sem direito a qualquer outra ajuda - transporte, moradia, alimentação, etc.? Acho que nem a generosa alma do povo cubano, herdeiro da revolução de 1959, daria conta de tal missão. Missão. Sim, sempre disseram que lecionar no Brasil era coisa de missionário, obra generosa e voluntária. Pena que o aluguel, o transporte, a alimentação, o vestuário, e outras tantas despesas diárias não se curvam às práticas benevolentes. A lei do Deus Mercado dita as normas, criando um descompasso entre o minguado salário dos professores e demais educadores e a dura realidade ditada pelas normas do mercado - sujeito oculto, inculto, que se torna onipresente e onipotente. Reparem como os economistas-comentaristas se referem ao "mercado", com a mesma reverência que um religioso presta aos seus deuses.

Enquanto isso, eu aqui com a minha diarreia, talvez por comer fora de casa todos os dias, comida de boteco e outras mais. E os educadores, alguns poucos, acampados em frente a casa do governador, enquanto a mídia de Minas finge que não vê. E o restante da humanidade, na expectativa de mais uma agressão imperialista dos EUA contra a Síria, naquela guerra insana, como todas as outras, sonha, quando sonha, com um amanhã livre das algemas, dos podres poderes que conspiram o tempo todo contra a humanidade.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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