De volta ao tema comunismo: a esquerda brasileira e mundial abandonou a perspectiva de construção coletiva e mundial de uma outra relação social, comunista?
"Vejam o absurdo: enquanto a criminosa máquina de guerra conhecida como "israel" mata impunemente em genocídio milhares de palestinos e libaneses, em outra parte do mesmo planeta as pessoas estão preocupadas com o resultado das eleições municipais; ou com as eleições nos EUA, para saber quem vai continuar financiando esse genocídio; ou mesmo com a própria sobrevivência individual, uma vez que esse sistema não assegura uma vida digna para a maioria da humanidade. Eis o terror do capital."
Este é um tema que cada vez mais se apresenta como algo estranho. Talvez eu seja, hoje, uma das poucas pessoas do planeta a falar sobre isso: a construção de uma outra relação social, mundial, solidária, comunista. Num dado momento histórico, houve uma capitulação inconsciente da própria esquerda. A origem dessa capitulação está, talvez, na aposta irrefletida que quase toda a esquerda fez - eu inclusive, durante muitos anos de militância - nos processos revolucionários iniciados em 1917, com a tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia. Foram dias que literalmente abalaram o mundo, como estampou na capa do seu livro o jornalista e escritor estadunidense John Reed. Era uma aposta justificada: o proletariado russo, os soldados e os camponeses, liderados pelo partido bolchevique (comunista) - e consequentemente por lideranças testadas como Lênin, Trotsky e Stálin, entre outros, estavam diante de um desafio novo: derrotar e superar a tragédia da guerra e do terror capitalista. Na Rússia, especificamente, sob o tacão do czarismo, que internamente mantinha um sistema semifeudal de poder monárquico, enquanto externamente mandava os soldados de origem camponesa e proletária para a guerra, ou para a morte. Miséria, fome e guerra (ou morte), eis o que havia. Em oposição à essa tragédia, os bolcheviques propunham: "paz, pão e terra" e "todo poder aos sovietes" (conselhos populares formados por soldados, camponeses e operários). A Rússia, na efervescência revolucionária, era apresentada pelos teóricos marxistas, que até então imaginavam que a revolução socialista começaria inicialmente nos países mais desenvolvidos da Europa - Inglaterra, França ou Alemanha, ou mesmo nos EUA -, como o "elo mais fraco" da cadeia imperialista. A Rússia soviética tornara-se a vanguarda desse processo, que daria início a um novo mundo, ao comunismo, num longo processo que libertaria a humanidade da longa e tenebrosa noite do terror capitalista.
Infelizmente, as coisas não acontecem tais como imaginamos na nossa nem sempre vã filosofia. Havia ali a esperança de que a revolução se espalhasse, tornando-se mundial, cumprindo aquele heroico chamado de 1948, que Marx e Engels fizeram no mais propalado texto comunista da história: "proletariado do mundo, uni-vos!". Da parte dos dois fundadores da crítica radical da economia política do capital, a expectativa era sempre a de uma superação sistêmica do capitalismo, em escala mundial, e nunca o gerenciamento nacional do estado burguês, como, finalmente, acabara acontecendo.
A revolução russa ficou isolada, como, aliás, acabou acontecendo com todas as outras revoluções nacionais, restando aos revolucionários a ingrata tarefa não mais de superar o capital, mas, o de administrá-lo, usando os aparatos de estado, que, pela teoria marxiana deveriam definhar-se, como instrumentos que são de repressão e de gerenciamento local das crises inerentes à acumulação capitalista. Era preciso ao mesmo tempo garantir o desenvolvimento das forças produtivas para concorrer com os países capitalistas mais desenvolvidos e com isso garantir melhores condições de vida para o conjunto dos trabalhadores. Esse compromisso, a liderança dos processos revolucionários da esquerda conseguiu cumprir, pelo menos parcialmente: houve avanços sociais reais, com a garantia de serviços públicos e gratuitos para todos: saúde, educação, transporte e moradia. Conquistas essas que, aliás, forçaram o chamado mundo do capital - na verdade, hoje sabemos que nenhum país saiu do capitalismo - a fazer concessões aos seus trabalhadores, com o receio de que eles pudessem aderir ao fantasma do comunismo - ou daquele modelo de gestão proletarizada conhecida como "socialismo real" ou algo semelhante, inaugurado com a revolução russa de 1917, e que, posteriormente, incorporou vários países do Leste europeu, após a derrota do nazismo pelo exército vermelho - que o Ocidente tenta esconder -, na segunda guerra mundial. Além da vitória posterior da revolução proletária e camponesa na China (1949), cujo processo, ao contrário do que aconteceu na Rússia a partir de 1989, que se desfez quase totalmente, na China, o "socialismo de estado" - para sermos generosos - se mantém até hoje. Outras experiências, como Cuba, Vietnã, Moçambique, Angola, Nicarágua, Venezuela, entre outros, inclusive em processos eleitorais, como no Chile de Allende, se inserem nessa luta comum de uma perspectiva que era apontada como emancipatória, mas, que, na prática, analisando agora de forma retrospectiva, aparecem, todas elas, como momentos de resistência e de conquistas no interior do capital. Nenhuma dessas experiências, objetivamente - e não se trata aqui de discursos e desejos, mas de análise objetiva - nenhuma delas, repito, conseguiu sair um centímetro sequer da dominação mundial do sistema capitalista.
A esquerda mundial não assimilou bem todo esse processo. Não houve, salvo exceções isoladas, uma crítica radical, refletida, sobre os rumos desses processos, ricos em experiência, e que deveriam proporcionar uma leitura mais atualizada da teoria marxiana e da perspectiva de superação do capital. Até o momento, contudo, a esquerda local e mundial se deixou capturar pelo automovimento do mercado, do estado, no que eu tenho denominado como sendo uma "força centrípeta" do sistema capitalista. Essa minha alusão a essa expressão figurativa que cunhei, leva em conta aquela imagem singela que assistimos nos circos do Interior, quando montam o "Globo da morte", onde os pilotos circulam com suas motocicletas e são mantidos girando em círculo, mesmo de cabeça para baixo. Assim, de certa forma, se comporta o automovimento da reprodução capitalista, puxando a tudo e todos para dentro desse círculo, de forma alienada e ao avesso, como um fim em si mesmo. Quase não deixando brechas para uma saída dessa relação, marcada pelo "fetiche da mercadoria". (Marx).
Em tese, o instrumental teórico riquíssimo que Marx nos legou seria o suficiente para que a humanidade, consciente, coletivamente organizada, sobretudo os de baixo, o proletariado, que sobrevive da venda de sua força de trabalho - a enorme maioria da humanidade, portanto - e que teria (tem) todas as condições para destruir e superar o capital, erigindo uma outra relação social, solidária, associativa, comunista, enfim.
Destacamos aqui, como rápida menção honrosa, apenas três revelações feitas pelo genial teórico e revolucionário Karl Marx: a mais-valia, a teoria do valor e o papel do estado burguês. A primeira, a descortinar o conteúdo da exploração a que os trabalhadores são submetidos nas suas longas jornadas de trabalho, quando a burguesia apropria-se da maior parte do tempo de trabalho acumulado - e não pago, ou seja, roubado! - nas mercadorias produzidas pelos trabalhadores. A segunda, e talvez a mais importante, o fetichismo da mercadoria na mediação das relações humanas. A relação entre capitalistas e burgueses - ou seu estado - é mediada pelo feitiço da mercadoria, que ganha vida própria e coisifica as relações humanas. Ao invés de uma relação solidária, consciente e direta entre as pessoas para a produção de bens e a satisfação das necessidades humanas comuns - o que acontecerá no comunismo -, essas relações mediadas pelo dinheiro, pela mercadoria, empanam a exploração e as torna enviesada, ao avesso, naturalizando a apropriação privada, por alguns poucos, de toda a produção social realizada pelo conjunto dos trabalhadores. Ou seja, a produção social (coletiva, portanto) das riquezas na forma-mercadoria é apropriada privadamente por alguns poucos, que nada produzem, nessa relação coberta pelo fetiche, pela alienação própria da forma-mercadoria, ou do capitalismo, enfim. Sobre o Estado, Marx e Engels não apenas enxergaram seu conteúdo de classe burguesa, mas, principalmente, a sua característica de expressão concentrada dessa relação alienada. Cabe ao estado, portanto, a gerência dos conflitos inerentes ao processo de reprodução fetichista do capital, que provoca acumulação e concentração de capitais em poucas mãos, e a miséria e a fome para a maioria dos trabalhadores. Por isso, Marx e Engels previam o definhamento do estado - e obviamente também do mercado - como consequência da superação consciente do capital.
A esquerda brasileira e mundial, ao invés de proceder a uma crítica necessária ao longo processo de luta de classes que produziu as ricas experiências revolucionárias que mencionei - iniciadas em 1917 -, infelizmente se acomodou e se agarrou, ou foi agarrada, capturada, pelas categorias próprias do capital, incluindo o Estado. Hoje, a esquerda mundial está empenhada em conquistar o poder, seja via eleições ou de forma revolucionária; não como forma de resistência e conquista no interior do capital, mas, como promessa de que, por esse meio, será possível constituir um "novo sistema", o socialismo. A experiência prática de 100 anos ou mais, que lançou mão dessa mesma perspectiva, e cujos resultados não estão nem próximos do que seria uma emancipação humana do terror do capital, não ensejou à maioria da esquerda uma reflexão crítica mais acurada.
No fundo, a tomada do poder na fração nacional pela esquerda resultará, no máximo, na gestão proletarizada da reprodução do capitalismo no âmbito nacional. Claro que haverá diferença entre a gestão neoliberal dos setores da direita e a gestão proletarizada das esquerdas. No primeiro caso, eles defendem a redução ou corte de gastos nas políticas públicas em favor dos mais pobres e a desregulamentação no mundo do trabalho, para facilitar ainda mais a exploração dos trabalhadores. Na gestão proletarizada do capital no âmbito nacional, haverá a possibilidade de políticas públicas mais generosas nas áreas sociais. Claro que, como o estado na fração nacional está subordinado à dinâmica do capital mundial, dependerá sempre da concorrência interna e externa; das sanções feitas pelos países imperialistas e das leis inerentes à forma-mercadoria. A tomada do poder pela esquerda, seja ela de forma revolucionária ou via eleitoral não anula automaticamente as leis férreas da forma-mercadoria. Somente um processo que envolvesse refletidamente o proletariado mundial, que se organizasse para sair do capitalismo - e não querer administrá-lo nacionalmente - seria possível superar as categorias próprias desse sistema.
Um terrível dilema, para nós, que somos e defendemos o comunismo - e não isso a que chamam de socialismo, mas, verdadeiramente uma outra relação social - é observar que praticamente ninguém, hoje, nenhuma liderança ou força política discute a necessidade de superação do capitalismo. Boa parte da militância engajada nas lutas sociais de resistência e de conquista está confusa em relação a essa perspectiva. Muitos consideram a tomada revolucionária do poder como o marco inicial para a construção de um outro sistema. A experiência histórica de mais de 100 anos, repito, em diferentes processos revolucionários nos demonstrou que esse caminho - da tomada do poder - não conduz a nenhum outro sistema, mas, a mais do mesmo. Todas as categorias do capitalismo - estado, mercado, mão de obra assalariada, hierarquias de poder e chefias e seus privilégios, e o principal, o fetiche da mercadoria na mediação entre as pessoas, estão mantidas. Logo, não há que se falar em "outro sistema" com a tomada do poder numa dada fração nacional do capital mundial.
Inclusive, boa parte das lideranças da esquerda brasileira que se consideram "radicais" - não citarei nomes para não fulanizar - abraçou apaixonadamente a perspectiva nacionalista como sendo o caminho "brasileiro" para um outro sistema, o socialismo. Chegam a falar em "soberania nacional", o que, por si, já se contradiz à perspectiva classista e internacionalista que sempre caracterizou a crítica marxiana. Alguns falam da importância do desenvolvimento tecnológico e industrial brasileiro como forma de preservar os empregos aqui mesmo, e não lá fora. Vejam o nível teórico, de concorrência de mercado, absolutamente afastado da perspectiva emancipatória! Os comunistas defendem não a preservação de empregos assalariados, mas o fim da exploração assalariada em escala mundial! Não a concorrência de mercado entre países ou grupos estatais e privados, mas o fim dessas estruturas próprias do capital, com a associação livre dos trabalhadores do mundo, não para produzir mercadorias, mas bens úteis, para atender as necessidades de TODA a humanidade - e não do lucro ou do mercado ou do estado. "Nem pobres, nem ricos! Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo amanhã. Basta de escravos! Um mundo sem senhores e sem escravos! Um mundo de irmãos". Essa linda mensagem, por incrível que possa parecer, foi dita não por um comunista, mas por um bispo católico, Dom Hélder Câmara, na Missa dos Quilombos, na década de 80. Hoje, os nossos comunistas têm a ilusão de poder "humanizar" o capitalismo, ao invés de destrui-lo mundialmente, através de um forte movimento internacional e local ao mesmo tempo, que reúna o proletariado com esse objetivo: o de construir uma outra relação social, solidária, associativa, não mediada pelo dinheiro, pelo mercado, pelo estado ou quaisquer outras formas estranhas e fetichizadas.
É fato que o capitalismo, na sua reprodução cotidiana, baseada na exploração e na mediação da mercadoria, reproduz também os mecanismos de alienação e de cooptação das pessoas. O parlamento burguês, por exemplo, consegue fisgar e quase sempre disciplinar as vozes antes mais aparentemente revoltosas. Os "tapetes palacianos", como dizia o Brizola, conseguem amaciar os pensamentos mais revoltosos. Foi o Frei Betto quem disse a frase: "a cabeça pensa onde os pés pisam". Esses tapetes!... completaria o Brizola. Não é de estranhar que muita gente que veio do chão de fábrica ou da favela adote outra postura, outra visão de mundo, quando passa a frequentar ambientes mais sofisticados e atraentes, em vários sentidos.
Contudo, nem precisaríamos apelar para essas mudanças bruscas nas vidas pessoais de várias pessoas. Basta lembrar que o capital absorve tudo, em todos os poros dessa relação. O que significa dizer que mesmo no chão de fábrica ou na favela encontraremos pessoas que, ainda que por intuição de classe repudiem a injustiça, estão ligadas a propostas ou projetos que reforçam a dinâmica do capital. Inclusive muitos apoiam projetos da extrema-direita, como o bolsonarismo. O que é compreensível, uma vez que, dentro do universo do capital, tanto os projetos da atual esquerda quanto os da direita navegam na mesma frequência da mediação do dinheiro, do mercado, do estado, do sucesso individual. Com algumas diferenças perfumáticas.
Nesse caso, para superar essa realidade, é preciso que ocorra um longo processo educativo - não qualquer forma de educação, mas uma educação emancipatória. Um processo em que as pessoas sejam provocadas e convidadas a refletir criticamente sobre o mundo do capital em que vivemos. Entender suas entranhas e como resposta a essa reflexão, a construção da unidade dos de baixo, em escala local e mundial. Nada menos que isso. Vejam o absurdo: enquanto a criminosa máquina de guerra conhecida como "israel" mata impunemente em genocídio milhares de palestinos e libaneses, em outra parte do mesmo planeta as pessoas estão preocupadas com o resultado das eleições municipais; ou com as eleições nos EUA, para saber quem vai continuar financiando esse genocídio; ou mesmo com a própria sobrevivência individual, uma vez que esse sistema não assegura uma vida digna para a maioria da humanidade. Eis o terror do capital.
As formas de luta atuais - greves, ocupações, protestos pela falta de água ou de moradia - e também a conquista de poder nacional - devem ser encaradas exatamente como aquilo que são: formas de resistência no interior do capital; de resistência, de combate classista e de conquistas no interior desse sistema, para algum nível de sobrevivência com um pouco mais de dignidade. Nada mais que isso. Contudo, e por isso mesmo, paralelamente a essas formas de resistência, a principal luta dos comunistas deveria ou deve ser, sempre, a denúncia desse sistema como um todo, e a construção de um forte movimento tendo em vista não a administração do capital, mas a saída desse sistema. E como sair dessa relação tão profundamente introjetada na vida de todos nós?
Esse deveria ser o grande desafio a ser colocado nas mesas de discussão. Mas, parte da esquerda tem medo de fazer essa discussão, pois teme perder o domínio que tem sobre grupos de pessoas, ou sobre as áreas de influência, ou sobre teses transformadas em dogmas que não podem ser questionadas, como acontece com os dogmas. Algo mais próximo de religiões e seitas do que de política emancipatória.
Afinal, como sair desse sistema? Falar mais sobre isso já seria um grande avanço, coisa que ainda não acontece. O desafio colocado para a humanidade dos de baixo é ao mesmo tempo complexo e muito simples. Primeiro, o entendimento de que somos nós, trabalhadores assalariados ou sem-salários que produzimos TODAS as riquezas do mundo. Mas, quem se apropria da maior parte dessas riquezas não somos nós, mas uma minoria que nada produz - a burguesia diretamente ou seus aparelhos de dominação, como o estado. Se houvesse a clareza do que somos, da força que temos e do que queremos - uma outra sociedade ou forma de relação social - nada no mundo poderia nos deter. Bastaria cruzar os braços em escala mundial: três ou quatro bilhões de trabalhadores de braços cruzados, não mais dispostos a vender sua força de trabalho, nem tampouco a comprar mais nada do mercado. Em poucos meses, acredito eu, assistiríamos ao derretimento dos estados, dos mercados, das fortunas acumuladas em dólares por alguns poucos, que perderiam a razão de ser. E a partir de então, de forma organizada, consciente, planejada, nós, os antigos trabalhadores explorados do mundo, daríamos início a uma nova sociedade, desta feita não mais mediada pelo dinheiro, pelo estado, pelas hierarquias, pelo trabalho assalariado, pela mercadoria, enfim. Nada disso!
Aí, sim, ganharia vida com pleno vigor a linda canção: "Bem unidos façamos, nessa luta final, uma terra sem amos, a Internacional!" Uma associação local e internacional de homens e mulheres livres, que passariam a produzir as coisas - não mais mercadorias - para o atendimento de todas as necessidades básicas de toda a humanidade. De forma planejada, consciente, ecologicamente correta, racional e sensível. Num mundo sem fronteiras, "sem ricos, nem pobres", sem operários, nem burgueses, mas um mundo de seres humanos, que têm diferenças e necessidades comuns, que produzem todas as riquezas do mundo para a satisfação das necessidades de todos e de cada um ao mesmo. Através de uma pequena jornada de trabalho (não assalariado) semanal, algo próximo de 8 horas semanais, será possível produzir tudo o que precisamos. [Nota: Essa jornada média foi uma atualização que fiz da tese marxiana das duas fases do comunismo, sendo a primeira ainda regida pelo direito burguês da troca equivalente entre a quantidade de trabalho dado e os bens recebidos por cada indivíduo; e a outra, seria a fase da abundância, "de cada um, segundo a sua capacidade, a cada um segundo as suas necessidades". Na minha avaliação, dado ao desenvolvimento técnico e a produtividade mundial alcançada pelos trabalhadores, podemos resolver a equação de forma simples: uma jornada média atual de 8 horas semanais é o suficiente para a produção dos bens necessários para atender a toda a humanidade. Com o passar do tempo, essa jornada média poderá reduzir ainda mais, garantindo mais tempo livre para todas e todos.].
A partir de agora, todos nós temos poder, e por isso mesmo, ninguém tem poder; todos nós somos os donos de tudo, e por isso mesmo ninguém é dono de nada. Não é preciso mais acumular riquezas, nem roubar: não haverá mais dinheiro e nada faltará para ninguém: comida, transporte público, moradia, vestimenta, saúde, educação, lazer e toda a riqueza cultural produzida pela humanidade. Tudo ao alcance de todos, gratuitamente; o que cada um precisa e deseja consumir cotidianamente. Não estamos mais falando de privilégios, cargos comissionados ou de políticas de estado, nem tampouco de oportunidades de mercado, como empregos, empreendimentos ou até mesmo títulos acadêmicos ou do tesouro. Nada disso existirá no comunismo! Estamos falando de uma relação direta, horizontal, entre pessoas, que terão a perfeita compreensão de que são elas (somos nós) que socialmente construímos, através de uma pequena jornada de trabalho, tudo o que precisamos para compartilhar também diretamente entre nós, "sem rodeios e sem arestas", para a satisfação das nossas necessidades. Tudo muito mais simples, direto e sem essa engenharia da enganação própria da reprodução fetichista do capitalismo, onde os nossos fazeres são apropriados por outrem, transformados em mercadorias que nos transformam em objetos, matando a nossa humanidade. Nada disso! Somos todos absolutamente dependentes uns dos outros. Não sobrevivemos fora da sociedade, e na sociedade que queremos construir a burguesia - tanto quanto o mercado e o estão - é absolutamente dispensável. E não temos o direito de arrastar por mais tempo, de forma indefinida, o peso da nossa alienação e ignorância. É preciso que sejamos capazes de refletir sobre o mundo do capital e do trabalho, para nos unir e nos livrar para sempre das algemas do terror capitalista!
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler Conrado, em 04/11/2024 - data em que foi assassinado pela ditadura o grande revolucionário brasileiro Carlos Marighella, no ano de 1969.)
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O massacre dos palestinos continua, enquanto governos e entidades internacionais fazem cara de paisagem. O sionismo e o imperialismo são ameaças reais à existência humana
Oficialmente já são 42 mil palestinos mortos na Faixa de Gaza em um ano de genocídio. Na realidade, contudo, esse número é muito maior. Milhares de palestinos estão mortos nos escombros dos prédios friamente destruídos pelas mãos criminosas do exército sionista (ou nazista) que ocupa a Palestina histórica desde 1948, quando, de forma irresponsável, a ONU decidiu criar um estado racista para um único povo nas terras já ocupadas há mais de 3 mil anos pelo povo palestino. Antes dessa data, judeus e árabes ali conviveram tranquilamente. Aliás, era justamente nessa região onde os judeus eram acolhidos e respeitados pelos muçulmanos, ao contrário do que acontecia na Europa cristã, que tratava os judeus com práticas de perseguição e humilhação, culminando com o holocausto nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Ironicamente, ao invés de cobrar a compensação por esse massacre ao Ocidente, boa parte da população judia, iludida pela doutrina sionista - que é colonialista, racista, genocida e imperialista - acabou embarcando nessa odiosa prática de ocupação colonial da Palestina, cuja população era (é ainda) majoritariamente formada por árabes-palestinos. Milhões de palestinos foram expulsos de suas terras, perseguidos covardemente, massacrados, violentados e humilhados de todas as formas. A entidade de ocupação colonial conhecida como "israel" implantou um regime de terror contra os palestinos. Ocupou suas terras, expulsou a maioria da população, destruiu mesquitas, escolas, hospitais e se apropriou dos espaços e das riquezas da região.
No dia 07 de outubro de 2023, quando centenas de militantes do Hamas e demais organizações da resistência palestina derrubaram as muralhas da Faixa de Gaza - que fora transformada pelo governo sionista na maior prisão a céu aberto -, os palestinos tiveram condições de mostrar ao mundo o que vinha acontecendo há décadas. Sob o silêncio cúmplice da mídia ocidental e dos governos e da ONU, os palestinos têm sido perseguidos, mortos, seviciados, expulsos e massacrados há décadas. O governo de genocidas e psicopatas dirigido pelo criminoso de guerra Netanyahu retomou o plano, que nunca foi abandono por eles, de eliminar fisicamente todos os palestinos, sobretudo as crianças e as mulheres. Um genocídio que acontece em tempo real, transmitido por canais de TV do Oriente Médio e reproduzido nas redes sociais. Boa parte da humanidade pode finalmente conhecer a verdadeira face de terror dessa entidade sionista e nazista e imperialista que covardemente massacra - e comemora! - milhares de crianças e mulheres e idosos. Até mesmo os palestinos que tiveram que abandonar suas casas e passaram a viver em tendas improvisadas no entorno de hospitais e escolas são atacados diariamente pelo covarde exército sionista, que não respeita nenhuma ética ou valor humanista.
A entidade conhecida como "israel" é a expressão concentrada do terror capitalista, que durante os últimos quatro séculos eliminou milhões de seres humanos em todos os continentes em busca de riquezas, de terras, de poder, de exploração de mão de obra barata ou escrava, e de dinheiro. Com o apoio incondicional dos EUA e dos países ricos da Europa, "israel" pratica genocídio contra o povo palestino de Gaza e também da Cisjordânia. E agora também realiza massacres no Líbano e na Síria, cujos territórios já foram ocupados pela entidade sionista. No Líbano, por exemplo, não fosse a atuação corajosa do Hezbollah, esse país teria sido totalmente incorporado ao território israelense, que pertence na verdade aos palestinos e está sob criminosa e ilegal ocupação.
O Ocidente procura justificar essa criminosa ação de ocupação das terras palestinas com os mais absurdos pretextos. Dizem, por exemplo, que os judeus têm direito a ter sua própria terra. Ora, nesse caso, por que não ofereceram um pedaço da Europa ou dos EUA? Aliás, a maioria dos judeus não quer viver em "israel", pois está muito bem na Europa, nos EUA, no Brasil, etc., convivendo com outros povos, sem distinção. Dizem ainda que se trata de uma terra prometida por Deus. Outra falácia. Mesmo no Antigo Testamento ou Torá, que já foi reinterpretado e alterado centenas de vezes, a promessa de uma terra ocorreria após a volta do Messias. Esses mitos tribais construídos há milênios não podem ser levados a sério numa realidade que nada tem a ver com religião ou com esse ou aquele povo ou etnia. Ali, trata-se de uma ocupação colonial, racista e imperialista, que faz o jogo sujo dos EUA e países europeus no Oriente Médio. Trata-se, em verdade, de uma base militar povoada por milhares de colonos trazidos de toda parte do mundo com a promessa de vantagens e de uma vida segura e com padrão europeu, às custas do massacre dos árabes palestinos e da ocupação de suas terras.
Além da importância geopolítica da região do Oriente Médio, que acaba ligando diferentes continentes - Europa, Ásia e África -, há também o interesse nas riquezas energéticas da região, como Petróleo e gás. A Faixa de Gaza, inclusive, na área litorânea, é muito rica em reserva gasífera, que o Ocidente quer se apropriar (roubar) sem precisar indenizar os palestinos. Além do complexo bélico-militar estadunidense e europeu, que precisa fabricar guerras e destruição para angariar lucros.
Essa guerra, aliás, esse massacre, esse genocídio, não começou no dia 07 de outubro de 2023. E se nas últimas décadas a humanidade se sentiu condoída e culpada pelo holocausto contra os judeus - o que é compreensível, dado ao terror de que foram vítimas - está na hora da humanidade, sobretudo os governos e entidades internacionais, assumirem sua culpa pelo que vem acontecendo com os palestinos, um povo simples, que mal algum fez para a humanidade, e que heroicamente vem resistindo com uma bravura e firmeza de fazer inveja a qualquer outro povo.
Os palestinos não merecem pagar a conta do antissemitismo ocidental que ceifou a vida de milhões de judeus e agora está dizimando as vidas de milhões de palestinos. Com a diferença de que os palestinos não contam com banqueiros e poderosos lobbys que contratam (compram) políticos, militares, jornalistas, artistas e tecnocratas do mundo inteiro. Os palestinos contam apenas com sua própria resistência, com sua coragem e com o apoio de alguns poucos governos - como do Irã -, dos aliados do Eixo da Resistência islâmica e com a solidariedade de vários povos e movimentos sociais em todo o planeta. Os palestinos não merecem, também, pagar com a própria vida pelas disputas de domínio geopolítico entre as potências mundiais.
Precisamos falar todos os dias sobre a causa palestina e sobre seu martírio. Diariamente a entidade criminosa conhecida como israel massacra as famílias dos palestinos. Dezenas de famílias, inclusive, perderam TODOS os seus entes queridos. O exército de israel é covarde e apanha dos guerrilheiros do Hezbollah e do Hamas no campo de batalha. Ele é muito valente quando ataca tendas de civis palestinos, hospitais, escolas, mesquitas; quando mata dezenas de jornalistas e médicos, ou seja, quando mata covardemente a população civil da Palestina, do Líbano e da Síria. Além dos mísseis e bombas lançadas por aviação contra alvos civis, "israel" proíbe a entrada de alimentos e medicamentos em Gaza, o que já está provocando a morte de milhares de palestinos por doenças, por fome ou por sede. É uma ação lesa-humanidade que, se fosse praticada por qualquer outro país, seus governantes já teriam sido condenados. Mas, "israel" é o filho paparicado do imperialismo estadunidense e europeu, uma espécie de imagem e semelhança do terror próprio desses agentes.
A humanidade não pode continuar aceitando isso passivamente. É a morte da humanidade ou do que restou de sentimento humano. A insensibilidade com a qual os governos assistem a esse massacre sem nada fazerem é a prova da falência absoluta desse ordenamento jurídico, político, social e econômico em escala mundial.
É preciso dar visibilidade e discutir Gaza e refletir criticamente sobre todo esse sistema de terror capitalista - e sionista, e colonialista, e imperialista - tendo em vista superá-lo. Numa Palestina livre, diferentes povos viverão em paz e harmonia.
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler, em 16/10/2024).
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Numa democracia que reflete a relação capitalista - alienada, espetaculosa e fetichista - a melhor candidata para São Paulo é a cadeira
Euler Conrado, em 17/09/2024
Os pacatos eleitores de São Paulo, capital, e até mesmo do Brasil, presenciaram e apreciaram, no último dia 15, uma cena um tanto quanto espetacular. Provocado pelo candidato da extrema-direita conhecido como (la)Marçal, o candidato também do campo da direita Datena, em pleno debate na TV Cultura, arremessou uma cadeira em direção ao opositor-provocador. Tudo ao vivo e imediatamente reproduzido nas redes sociais do país, a revelar o baixíssimo nível das campanhas eleitorais - e dos próprios eleitores, diga-se, como reflexo dessa sociedade alienada, irrefletida e espetaculosa.
A democracia ocidental é isso: um espetáculo vazio, onde os supostos atores principais - os eleitores - são meros expectadores de um jogo de cartas marcadas onde os personagens em disputa, cada vez mais descolados das realidades concretas da maioria da população, participam de uma espécie de BBB, aquele show de baixaria que enche a Globo de grana, enquanto esvazia a cabeça de quantos acompanham esse lixo televisionado.
No fundo, como já dissemos em outros textos, seria um paradoxo que uma sociedade como a capitalista, marcada pela reprodução do valor-dinheiro e do lucro como fim em si mesmo, uma relação, portanto, irrefletida e fetichista, fosse representada, no âmbito do poder político, por mecanismos não alienados e igualmente fetichistas. A representação de uma relação alienada se torna, portanto, um espetáculo vazio, absolutamente descolado das reais necessidades da população.
Não é por acaso que, em pleno processo eleitoral, o país vive momentos de grande tragédia ecológica e humana, com queimadas provocadas pelo agronegócio e pelo latifúndio, enquanto tal tema passa praticamente despercebido pelas campanhas eleitorais. Também não é por acaso que mesmo os candidatos da esquerda não façam qualquer menção ao genocídio que ocorre em Gaza, na Palestina ocupada, onde mais de 40 mil palestinos, principalmente crianças, mulheres e idosos foram covarde e brutalmente assassinados pela entidade de ocupação nazifascista conhecida como "israel".
Ao mesmo tempo, bem ao nosso lado, a vizinha Venezuela é vítima de novos ataques e chantagens do imperialismo estadunidense, enquanto os candidatos da esquerda, com medo de travarem a luta ideológica com a extrema-direita, fingem desconhecer tal assunto. Mesmo os problemas locais, que deveriam ser tratados com mais seriedade e com soluções mais criativas, que envolvessem consultas populares, são tratados de forma superficial, com soluções prontas retiradas de algum manual.
Já se sabe, a priori, que no mundo dominado pelo capital são poucas as margens de manobra e de autonomia dos poderes constituídos. A reprodução fetichista do capital, do mercado, já está posta e é ela que determina o ritmo da vida cotidiana, do que deve ou não ser consumido, reservando aos aparatos do estado o papel de gerenciamento dessas relações irrefletidas. Governos mais progressistas acabam transferindo um pouco mais de recursos para as áreas sociais - o que, no limite dado, até justifica o voto nesse ou naquele candidato mais à esquerda, com as devidas ressalvas. Já os governos de extrema-direita adotam as cartilhas do neoliberalismo com políticas recessivas de cortes nos salários, privatização de tudo e a destruição das poucas conquistas arrancadas nas duras lutas de classes do proletariado. Tudo em nome de um falso moralismo, banhado a cobre e a enxofre.
Mas, mesmo o campo progressista ou de esquerda, quando chega ao poder, cada vez mais é forçado - e às vezes nem é forçado, já houve capitulação mesmo - a fazer grandes concessões à direita, para atender ao apetite insaciável do mercado e seus agentes. O Brasil tem assistido esse cenário de pequenas e importantes conquistas sociais - bolsa-família turbinada, aumentos salariais, mesmo tímidos, e políticas de geração de empregos formais - combinadas, essas pequenas conquistas, com grosseiras concessões, como o absurdo de colocar os beneficiários do BPC - idosos de baixa renda que recebem um salário mínimo mensal - como alvo de um tal "pente fino", tendo em vista reduzir gastos na área social para manter o tal arcabouço fiscal. Uma política neoliberal, gerida pela dupla Haddad-Tebet, com a aquiescência do presidente Lula.
No plano internacional, o Brasil piorou muito. Com o falecimento de diplomatas como Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia, que davam uma orientação menos alinhada com as diretrizes do imperialismo estadunidense, a política externa brasileira está cada vez mais à reboque do império. A covarde posição assumida em relação ao pleito presidencial venezuelano é uma prova disso. O Brasil quis se mostrar valentão com o país vizinho, exigindo atas e até propondo novas eleições, numa total quebra de respeito com a norma defendida teoricamente, de autodeterminação dos estados nacionais. Ao mesmo tempo, faz vista grossa em relação às trapaças do governo Macron na França, que golpeou a frente de esquerda, aspas, vencedora das eleições legislativas. Também não cobrou atas ao ditador Zelensky da Ucrânia, cujo mandato presidencial expirou e ele continua presidente, sem eleições nem nada, e sendo recebido pelo ocidente hipócrita como democrata e defensor das "liberdades". E a Arábia Saudita, que nem eleições tem, e tanto os EUA quanto seus capachos nunca cobram do governo daquele país qualquer mudança de regime?
Fato é que o governo brasileiro tenta sobreviver às disputas geopolíticas entre o bloco liderado pela China e o bloco ainda hegemônico liderado pelo imperialismo estadunidense. Todos eles, sem exceção, absolutamente dominados pela revalorização do valor-dinheiro.
Nesse cenário, as formas políticas dos países tidos como socialistas - e que eu classifico como formas de gestão proletarizada do capital nas respectivas frações nacionais -, como China e Cuba, são bem menos hipócritas do que o espetáculo vazio da chamada democracia clássica ocidental. Nos EUA, por exemplo, a disputa se dá sempre entre dois candidatos - republicanos e democratas - cuja diferença, na essência, fica nas filigranas que possam favorecer este ou aquele setor do capital. São todos representantes do grande capital e dos interesses estratégicos imperialistas de dominação, de rapina, de promoção de mais guerras e de destruição humana e ambiental como mecanismo de manutenção de poder e de mais lucros. Não há nada de realmente democrático, considerando os interesses de classe do proletariado, nos EUA ou na Europa. Um grande circo vazio, espetaculoso, a refletir a forma de sociedade absolutamente alienada e coisificada própria do capitalismo.
A cadeirada do Datena no provocador da extrema-direita acaba se mostrando assim o grande acontecimento das eleições em São Paulo e talvez no Brasil. É a expressão materializada de uma disputa vazia, onde os reais interesses dos de baixo estão a priori sequestrados, sobrando apenas a torcida pelo show de horrores, de acusações e de troca de cadeiradas. Onde, qual relação mediada pela mercadoria, o objeto - a cadeira - se torna a figura central enquanto os candidatos, meros representantes dessa. Se deixarem uma cadeira vazia governando, pode ser que ninguém note a diferença nesse jogo que já está dado.
Somente o surgimento de um forte movimento crítico, local e mundial, dessa forma de sociedade alienada, fetichista, que caracteriza a relação capitalista - e não apenas a crítica formal e ingênua e isolada das práticas políticas, como fazem os desavisados da direita e da esquerda - poderá criar a possibilidade de superação emancipatória desse terror.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
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A dupla dimensão da luta de classes - uma contribuição à teoria marxiana
"Talvez seja a única possibilidade que a humanidade terá de se livrar de um sistema - e não apenas de um governo ou projeto nacional de poder -, o capitalismo, que, ao se reproduzir, reproduz também a destruição do planeta e da vida humana."
Euler Conrado, em 30/08/2024
A luta de classes, ao contrário do que pensa a idiotice da extrema-direita, não é uma invenção das esquerdas ou dos comunistas: ela é inerente a uma sociedade dividida em classes sociais, como a capitalista, cujos interesses entram em conflito permanentemente. A luta por aumentos salariais, por exemplo, mobiliza os trabalhadores de uma categoria ou de uma empresa ou de um serviço público contra seus patrões. No caso da empresa privada, aumentar salário implica diretamente numa redução da margem de lucro dos patrões.
O marxismo mais avançado sempre entendeu as lutas de classes como momentos em que o proletariado se organiza para arrancar conquistas imediatas, geralmente conquistas econômicas, salariais ou de melhores condições de trabalho. Essas lutas sempre foram entendidas como lutas limitadas ao universo do capitalismo. Ou seja: embora o proletariado, para travar essas lutas tivesse que se organizar coletivamente enquanto classe, percebendo a divisão social, classista, existente na sociedade capitalista, ele precisaria avançar na consciência política e crítica, a ponto de querer não só lutar por melhorias imediatas, necessárias para sua sobrevivência com dignidade, mas, também, lutar contra o sistema que o mantinha (mantém) preso a essa lógica de exploração e de opressão própria do capital.
Para o marxismo tradicional ou histórico, as lutas de classes levariam o proletariado a entender, quase que de forma automática, os limites desse sistema, até transformar essas lutas em lutas revolucionárias, pelo rompimento com o capitalismo.
Dez em cada 10 militantes dos chamados partidos da esquerda radical ou revolucionária apostam nessa perspectiva ou dimensão das lutas de classes: é preciso organizar nacionalmente o proletariado para a conquista do socialismo - dizem. E o que seria esse socialismo? - poderá indagar alguém mais curioso. A resposta é simples: a tomada do poder pelo proletariado ou pela sua direção política e a implantação do que chamam de um programa radical. Esse programa reúne, entre outras, as seguintes medidas: a expropriação dos latifúndios, a estatização dos bancos, das grandes empresas ou dos monopólios e o controle proletário do novo estado.
No final, essa tese acaba confessando que se trata de um projeto nacional, ou nacionalista, que busca criar uma suposta "soberania" nacional, implantando o que se conhece como socialismo, nos marcos de um país, voltado para proporcionar melhorias nas condições de vida dos trabalhadores, com políticas públicas sociais mais arrojadas, como: saúde, educação, moradias, transporte público, tudo gratuito ou a um custo baixo.
A esquerda tradicional considera essa conquista do poder com a implementação desse programa avançado como sinônimo de um outro sistema, não mais capitalista. Há, aqui, da nossa parte, uma profunda divergência com a esquerda tradicional. Na nossa compreensão, baseando-nos na experiência histórica de mais de 100 anos de revoluções proletárias e populares - e que envolveram países que chegaram a representar um terço do planeta -, não houve, de maneira alguma, em nenhum país, um rompimento com o sistema capitalista. Houve, na verdade, por parte desses países ditos socialistas, uma gestão diferenciada do estado capitalista na fração nacional desse ou daquele país. Ou seja, o que a esquerda tradicional chama de socialismo, considero que seja uma gestão proletarizada, ou progressista ou avançada, ou um pouco mais "humanizada", do próprio sistema capitalista neste ou naquele país.
A essa conclusão chegamos levando em conta que o capitalismo é um sistema mundial, e não nacional. É um equívoco absolutizar as diferenças existentes no desenvolvimento do capitalismo em cada país, como pretexto para se criar uma teoria própria, um projeto nacional, de construção de um suposto regime socialista. Nesse erro, toda a esquerda mundial embarcou quase que acriticamente. É fato que a experiência da revolução russa soviética de 1917 acabou inspirando as diferentes correntes de esquerda. A expectativa desenvolvida pelo líder revolucionário Lênin era a de que ali se rompia o elo mais fraco do sistema mundial do capitalismo. E uma vez iniciado o processo naquele território, o proletariado do mundo inteiro acabaria acompanhando, pela força do exemplo e da inspiração revolucionária dos valentes bolcheviques, que teriam assaltado os céus com as mãos, realizando, cada qual em seu país - lembrei agora da música de Chico Buarque: "...E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar, cantando coisas de amor..." - a tão sonhada revolução proletária. Infelizmente, não foi isso o que aconteceu. A revolução soviética se manteve isolada, atacada de todos os lados por forças internas e externas e acabou tendo que fortalecer o nascente estado operário para esmagar esses tenebrosos inimigos.
Depois de haver socializado ou estatizado quase tudo, Lênin se deu conta de que era preciso "recriar" o mercado, com a NEP (Nova Economia Política), como forma de incentivar o desenvolvimento das forças produtivas, até então incipientes da antiga Rússia dos czares.
Na verdade, depois de muitas décadas se percebeu que a Rússia nunca saiu do capitalismo. E nem teria como fazê-lo isoladamente. Várias correntes da esquerda criticam a burocratização do estado, ou a retirada do poder dos conselhos ou sovietes e a transferência de todo poder ao partido comunista - e deste, especificamente, ao comitê central, uma espécie de direção verticalizada e centralizada de poder político.
Considero que essas críticas são superficiais, apenas arranham a essência real do que se passou não apenas na antiga União Soviética como também em todas as outras experiências, como: Cuba, Vietnã, Angola, Moçambique, Nicarágua, Coreia do Norte, China, Venezuela, os países do Leste europeu durante o período do pós-segunda guerra, até a queda do Muro de Berlim. Em menor ou maior grau, todas essas experiências, e podemos incluir também o Chile de Allende, colocaram como objetivo a construção de um outro sistema, o socialismo, que seria aquilo que a esquerda pós-Marx considera como sendo um estágio, uma fase intermediária entre o sistema capitalista e um futuro sistema comunismo.
Ou seja, para os teóricos e militantes das diferentes organizações de esquerda mais avançadas, as lutas de classes levariam à construção de um sistema socialista e depois, muito depois, ao comunismo.
Infelizmente, mesmo após o fracasso da experiência soviética que teve 70 anos de existência - e há quem até hoje culpe o coitado do ex-presidente Gorbachev por esse fracasso. Nada mais simplório! -, as esquerdas, em geral, não conseguiram analisar criticamente, com profundidade, os motivos desse fracasso. Ficam nas críticas periféricas, de sintomas isolados, sem atingirem a essência, o fundamento mesmo de uma perspectiva equivocada. A gestão proletarizada na Rússia soviética acabou cumprindo o papel de desenvolver as forças produtivas do capitalismo, não de outro sistema, de forma mais acelerada, tendo em vista o atraso em relação aos países mais desenvolvidos. Embora tenha proporcionado importantes conquistas sociais para a população - moradia, educação, saúde e etc., inclusive forçando os países ricos do Ocidente a fazerem concessões ao proletariado local -, não conseguiu superar os limites impostos pela revalorização do valor-dinheiro ou das categorias próprias do capital, tais como: o mercado, o estado, a força de trabalho assalariada, além dos óbvios privilégios da casta dirigente.
A experiência histórica nos mostra que as lutas de classes não conduzem necessariamente à superação do capitalismo. Isso o marxismo sempre soube, não há nenhuma revelação nova aqui. Mas, a aposta de que essas lutas de classes, quando radicalizadas, levariam à tomada de poder em escala nacional e à conquista de um outro sistema, o sistema socialista, também se mostrou um equívoco. A conquista do poder numa fração nacional do sistema mundial do capitalismo não representa a superação do capitalismo, mas apenas uma gestão diferenciada, proletarizada, avançada, progressista - ou qualquer outra adjetivação que queiram dar - desse mesmo sistema. Não há, portanto, um rompimento com o capitalismo mundial, mas uma outra forma de dirigir o estado moderno, que é um instrumento ou categoria própria do sistema capitalista, proporcionando ganhos, quando possível, ao conjunto do proletariado. E tendo que enfrentar, obviamente, os ferozes ataques das expressões mais reacionárias do capital, como o fascismo e o imperialismo. Embora as experiências de socialismo tenham representado um avanço em relação às gestões burguesa e neoliberal do estado, isso nada tem a ver com o comunismo! Entendo essas experiências como estando no campo da resistência e das conquistas de parcelas do proletariado no interior do capital. E também no enfrentamento ao imperialismo, o que, por si, não representa um outro sistema, mas a manutenção do mesmo sistema mundial.
Para facilitar a compreensão do que estou afirmando, vou reduzir o problema a uma escala ainda menor. Imaginemos uma grande fábrica num país entra em crise, seja na concorrência com outros capitalistas, ou provocada por alguma crise mais geral, que atinge a todas as empresas. O patrão decreta falência e passa a não pagar os salários dos trabalhadores. Estes, revoltados, legitimamente, claro, ocupam a fábrica e assumem a gestão direta dessa fábrica. Organizam uma direção coletiva, rediscutem a jornada, os salários, as relações de companheirismo, no lugar da perseguição de chefes carrascos que antes serviam aos patrões. Isso pode ser considerado um nível elevado de consciência dos trabalhadores, que radicalizaram e ocuparam a fábrica e passaram a tocá-la, diretamente, desta feita sem patrões.
Ocorre, porém, que, embora seja uma ação avançada e radicalizada, não significa que esses corajosos operários romperam com o sistema capitalista. Para sobreviverem terão que produzir e vender suas mercadorias para o mercado capitalista. Terão também que comprar matéria-prima e até mesmo buscar recursos adicionais, geralmente via empréstimos bancários, para novos investimentos, sob o risco de serem esmagados, não pela repressão policial, como sói acontecer, mas pelas leis férreas da concorrência de mercado. Muito provavelmente, a depender das circunstâncias, esses trabalhadores terão jornadas de trabalho ainda maiores do que antes e talvez tenham que concordar com esporádicas reduções salariais.
Embora seja uma comparação grosseira ou simplista entre uma empresa e um estado nacional, muito mais complexo, não se pode negar que haja, aqui, uma similitude: ambos continuam presos ao sistema capitalista, apesar de haverem passado por processos radicais de mudança de gestão. No caso de um estado nacional, quando o proletariado assume o poder político, ele terá que lidar com os mesmos problemas enfrentados durante a gestão neoliberal ou burguesa desse estado. Isso porque ele está diante das mesmas relações alienadas, irrefletidas, fetichistas, que são próprias da valorização do valor-mercadoria. Ainda que não haja mais burgueses formais num dado país, as relações mediadas pelo dinheiro continuam, com o estado assumindo o papel coletivo da burguesia, a garantir a reprodução do valor-mercadoria. Inclusive com a reprodução da repressão, quando necessário, uma vez que este novo poder terá que enfrentar tanto os inimigos de classe internos quanto os inimigos externos.
Isso porque o capitalismo é um sistema mundial, absolutamente interligado. E mais: é preciso considerar que se trata de uma relação fetichista, baseada, portanto, na alienação, na irreflexão crítica das relações que as pessoas estabelecem para sobreviverem. A tomada nacional de poder não muda essa característica alienada e irrefletida dessas relações. Tanto assim que as categorias próprias do capitalismo, como o mercado, o estado, a mão de obra assalariada, as hierarquias de poder - que criam privilégios -, entre outras, tudo isso continua existindo no chamado sistema socialista. Na China, por exemplo, que poderia ser considerado o melhor modelo de "outro sistema", nada mais é do que o velho e mau capitalismo. Com todos os requintes dos modelos tradicionais de capitalismo de estado. É fato que o governo chinês, dirigido pelo partido comunista, promove grandes melhorias para a maioria da população. Ao mesmo tempo, convive com empresas privadas, empresas estatais e um forte poder centralizado. É o segundo país do mundo com o maior número de bilionários - que têm um ou mais bilhão de dólares, segundo a revista Forbes. São 400 bilionários, enquanto o primeiro país com maior número, os EUA, tem 800, entre os quais o conhecido fanfarrão Elon Musk com seus 200 bilhões de dólares de patrimônio pessoal, o equivalente no Brasil a mais ou menos 1 trilhão de reais! [Parêntese: num cálculo que fiz, concluí que se Musk morasse no Brasil e gastasse 1 milhão de reais por mês levaria 83 mil anos para consumir todo o seu patrimônio!].
O capitalismo é uma relação social mundial e por mais que haja diferenças na produtividade e no desenvolvimento da técnica e no valor da mão de obra (ou da força de trabalho) em cada país, isso não altera a essência: todos os países do mundo, sem exceção, jamais saíram do domínio da forma-mercadoria capitalista. Houve até experiências, como a Albânia, que tentaram se isolar do mundo. O resultado foi um fiasco. O que caracteriza o capitalismo, entre outras coisas, é a relação alienada, fetichista, mediada pelo valor-mercadoria. Além de outras características e suas leis, como a da acumulação de capitais através da exploração da força de trabalho via mais-valia, da concorrência de mercado e da busca de mais lucro como fim prioritário dessa relação.
Além disso, é preciso considerar que todo o desenvolvimento tecnológico e científico e cultural mundial foi produzido e pertence à humanidade, embora esteja temporariamente sob o controle de interesses privados mercadológicos próprios da disputa capitalista. Quando a esquerda fala em tomar o poder para desenvolver um projeto "soberano", nacional, próprio, esse projeto continua inserido externamente no processo de concorrência do mercado mundial; e, internamente, em relações fetichistas.
No mundo atual, dificilmente se poderá falar em "soberania", uma vez que os países estão absolutamente subordinados à dinâmica da disputa de mercado e do domínio geopolítico. Vejam o exemplo de países ricos como Inglaterra, Alemanha e França. Não têm qualquer soberania e estão totalmente subordinados às orientações impostas pelo país imperialista que atualmente tem a hegemonia, os EUA. E no interior desse país, o domínio de grandes grupos econômicos, do complexo industrial militar, dos serviços de inteligência (CIA, FBI e grupos privados de mercenários) em conluio com a mídia, com os tribunais (departamento de justiça e etc.), com o controle das redes sociais e com quadrilhas de políticos profissionais, que passam dias e noites a programarem guerras, golpes de estado e invasões em territórios alheios. Não apenas para roubar as riquezas desses países, ou explorar mão de obra barata, sustentando o alto padrão de consumo interno para uma parcela da população; mas, também, para manter em funcionamento, como fim em si mesmo, a lucrativa máquina de guerra e de genocídios. Os palestinos são um exemplo, enquanto vítimas desse covarde sistema de exploração, de opressão e de prática genocidária do capitalismo. Israel nada mais é do que uma base militar avançada do imperialismo no Oriente Médio, povoada por colonos que foram atraídos pela promessa sionista e racista e colonialista de uma terra prometida, terra esta habitada há séculos pelos palestinos. Viva o povo palestino! Abaixo o sionismo! A maior democracia do Ocidente é uma democracia de gangsteres!
Continuemos. Do ponto de vista teórico, considero que uma das expressões de virada para explicar esse dilema, a partir do fracasso da experiência soviética, foi aquela formulada pelo sociólogo alemão Robert Kurz, que escreveu, entre outros, o "Colapso da Modernização". Um dos méritos dessa crítica foi o de colocar em relevo a teoria do valor formulada pelo grande e genial Karl Marx. É a parte em que Marx fala sobre o fetiche da mercadoria, de como esse sistema inverte as coisas, com as mercadorias quase que ganhando vida própria e seus produtores se tornando uma espécie de representação dessas mercadorias. É como se houvesse uma relação social entre mercadorias, e não entre pessoas. É a coisificação das relações humanas. Ou, se preferirem, a desumanização das relações sociais próprias do capitalismo.
Contudo, Kurz comete o equívoco, na minha modesta avaliação, de separar mecanicamente essa parte da rica teoria marxiana do seu conjunto. A ponto de considerar como equivalentes as diferentes classes, a burguesia e o proletariado, cujos embates de classes, por estarem subordinados à mesma lógica da reprodução da mercadoria como fim em si mesmo, não levaria à superação do sistema capitalista. Por isso, ao contrário de Marx, de Engels e da maioria dos marxistas, ele despreza o papel do proletariado como força social interessada em romper ou superar o capitalismo.
Kurz chega a falar em dois Marx: o exotérico e o esotérico. O primeiro, seria o Marx da luta de classes, de fácil entendimento, que empolgou a militância de esquerda e que inspirou as revoluções proletárias que conhecemos. O segundo Marx, segundo ele, o Marx esotérico, é aquele que permanecia oculto, praticamente desconhecido da maioria dos seguidores de Marx. É o Marx da teoria do valor, do fetichismo da mercadoria.
Na minha interpretação - e confesso que há duas década atrás, numa leitura inicial, me empolguei com essa tese - vejo que não há esse recorte radical entre dois Marx, no que seria uma espécie de bipolaridade marxiana kakaka. Na verdade, é o mesmo Marx: tanto o da teoria do valor, quanto o da luta de classes. Se alguma contribuição eu puder modestamente acrescentar à teoria marxiana, sempre atualíssima - enquanto houver capitalismo -, é a conclusão empírica ou intuitiva a que cheguei: a luta de classes (não Marx) tem uma dupla dimensão: a dimensão imediata, intestina, que é aquela ligada às lutas por melhorias salariais, de resistência e de conquistas imediatas, e até mesmo pela conquista de poder nacional, como forma de resistência às expressões mais atrasadas do capital - o imperialismo, o fascismo, o sionismo, o colonialismo e o neoliberalismo; e uma segunda dimensão, que é a dimensão emancipatória do capital. Esta, infelizmente, ainda continua realmente desconhecida ou pouco explorada pelo proletariado mundial, incluindo os grupos mais radicalizados da esquerda.
Não se trata, nesse caso, de negar o papel de protagonismo do proletariado, como única força capaz de golpear de morte o capitalismo, como defendera corretamente Marx e todos as forças de esquerda que buscam o comunismo. Mas, de reconhecer que o proletariado ainda não adquiriu consciência crítica da sua própria força - como aquele produz todas as riquezas do mundo - e do papel histórico que lhe está reservado, qual seja, o da saída definitiva do capitalismo. Saída consciente, planejada, auto organizada em escala mundial. Se o proletariado mundial conseguirá resolver ou não esse desafio, isso só o tempo dirá!
Quando a esquerda aposta na tomada nacional de poder como fim em si mesmo, inconscientemente contribui para manter o embaçamento próprio das relações alienadas, fetichistas, do capitalismo. Ao contrário disso, é preciso construir um forte movimento internacional - e não se trata aqui de criar associação de partidos comunistas pelo alto, como aconteceu com as internacionais pós-Marx -, mas, sim, de uma unidade horizontal do proletariado mundial, uma unidade dos de baixo, dos assalariados e sem-salários. Neste caso, objetivando não a tomada de poder neste ou naquele país, mas o esmagamento de todos os poderes e das demais categorias próprias do capital: o mercado, o estado, a mão de obra assalariada, as hierarquias de poder, etc. Usei a expressão esmagar até como força de expressão. Na prática, essas categorias do capital tendem a se dissolverem, a se desmancharem no ar como castelos de areia à beira da praia, a deixarem, enfim, de existir, quando a maioria da humanidade - o proletariado, de forma organizada, planejada e consciente, decidir sair do capitalismo. É uma luta direta, sem rodeios, voltada para esse fim: superar o capitalismo e não administrá-lo nas frações nacionais do sistema mundial do capital.
Não há intermediação ou estágio entre o capitalismo e o comunismo - são dois sistemas que se excluem. Ou se supera de forma definitiva as relações fetichistas e alienadas próprias do capital em escala mundial, construindo outras relações, solidárias, horizontais, ou continuaremos subordinados a essa forma de existência irrefletida, mediada pela mercadoria e pelo estado, e marcada pela exploração e pela opressão do valor-dinheiro. Claro que para isso, o proletariado mundial tem que se unir, tem que organizar bases locais - como conselhos populares - e construir um forte movimento capaz de interromper, por tempo indeterminado, toda a máquina capitalista voltada para a reprodução do valor-dinheiro. Só o proletariado mundial tem tal força para realizar esse objetivo estratégico e definitivo, embora não tenha adquirido, ainda, consciência crítica para tal.
Alguns poderão indagar: então, nenhuma dessas lutas de classes que travamos de forma intestina - a primeira dimensão - tem importância para nós? Respondo: claro que têm importância, sim, fundamental, na nossa sobrevivência dentro do capitalismo. É a luta contínua e sem trégua de resistência e de conquistas dos de baixo dentro do capitalismo. Enquanto a maioria da humanidade não estiver preparada para sair do capitalismo e construir conscientemente outras relações solidárias e não fetichistas, a luta continua, companheiro. Sempre!
O importante, nesse caso, é termos a correta dimensão dessas lutas, para não nos perdermos e não nos afastarmos do objetivo estratégico mais importante que é a emancipação humana do terror capitalista. E sobretudo nos prepararmos e contribuirmos para a construção desse objetivo maior. É preciso organizar local e mundialmente a reflexão crítica acerca do que representa o capitalismo nas nossas vidas - o que é diretamente percebido por todos, ainda que se trate de uma percepção invertida - e, ao mesmo tempo, nos prepararmos para construir outras relações sociais, solidárias, horizontais, conscientes, comunistas, enfim. Uma associação livre, mundial, não mais mediada por coisas estranhas, como o mercado e o estado, mas, de forma direta, sensível, nos apropriando, de forma consciente e coletiva, de todas as riquezas culturais e materiais e espirituais produzidas pela humanidade. Nada temos a perder, a não ser as algemas, como diziam Marx e Engels.
Em textos anteriores, eu abordei, de passagem, como uma relação social solidária em escala mundial não mediada pelo valor-dinheiro proporcionaria de imediato uma redução na jornada de trabalho para algo próximo de 8 horas semanais, para atender a todas as necessidades básicas da humanidade. Uma relação solidária, horizontal, cuja produção das coisas (não mais de mercadorias) seria realizada para atender diretamente as necessidades humanas, sem a mediação do dinheiro, do mercado e do estado, obedecendo critérios sensíveis, ecologicamente corretos e humanistas. Nesse projeto, ao mesmo tempo desafiador, sedutor, encantador e humano. Talvez seja a única possibilidade que a humanidade terá de se livrar de um sistema - e não apenas de um governo ou projeto nacional de poder -, o capitalismo, que, ao se reproduzir, reproduz também a destruição do planeta e da vida humana. Urge, portanto, que o proletariado do mundo, atendendo ao apelo feito no Manifesto Comunista produzido por Marx e Engels, se una, na dimensão emancipatória da luta de classes.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
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Semente de Adão e Viramundo - Geraldo Azevedo e Xangai
"Mas inda viro este mundo em festa, trabalho e pão"
Só o comunismo poderá oferecer a realização humana plena, através de uma relação solidária e horizontal, não mais mediada por categorias estranhas, como o mercado e o estado; num mundo sem fronteiras, que respeite a riqueza e a diversidade cultural e que proporcione às pessoas uma nova experiência, de uma vida de saberes e fazeres compartilhados, de sonhos e de poesias; de uma relação sensível e refletida, que reúna a festa, a arte, o pão e o trabalho num estado permanente de confraternização. Sem amos, nem escravos.
Euler Conrado, em 23/08/2024
A aventura humana atravessou muitos séculos de história marcada por grandes tragédias e também por grandes conquistas e descobertas. Diferentes civilizações e povos vivenciaram experiências ricas e complexas, com distintas relações sociais, desde as formas coletivas primitivas, passando pelas formas de divisão social e domínio de clãs, grupos, estamentos ou classes. No modelo ocidental, mais próximo de nós, a humanidade experimentou o escravismo, o feudalismo até atingir a forma atual, que se impôs em escala mundial: o capitalismo.
Este sistema, baseado na produção e reprodução de mercadorias, constituiu-se num processo de permanente acumulação de riquezas por alguns poucos e de expansão sem limite. O capitalismo se construiu num intenso processo de genocídios e de destruição de povos originários e de antigas civilizações, de domínio sangrento sem pudor, de colonização e de apropriação violenta de terras e de riquezas alheias. A humanidade foi subordinada a esse sistema a ferro e a fogo, e com as bênçãos das igrejas. Embora a forma atual das relações capitalistas, sobretudo nos países mais ricos, procure vender a ideia de um sistema generoso, que defende a "democracia" e a "liberdade" como princípios permanentes, a história do capitalismo foi sempre marcada por um profundo processo de exploração alheia, com a total submissão da maioria da população às mais variadas formas de opressão, de coerção e de espoliação, em benefício da acumulação de riquezas e privilégios para alguns poucos.
O nascente proletariado experimentou, nas condições mais inóspitas e insalubres, as mais cruéis e humilhantes formas de exploração, com intensas e exaustivas jornadas de trabalho, que atravessavam dia e noite sem quaisquer direitos a folgas, descansos remunerados, férias, aposentadorias, conquistas essas que somente bem mais tarde foram arrancadas, em processos de grandes e heroicas lutas de classes; lutas essas realizadas por valentes trabalhadores (as), muitos(as) dos(das) quais pagaram com o próprio sangue para que outros pudessem usufruir dessas importantes conquistas.
Mas, o capitalismo não se limitou a explorar ao extremo a mão de obra assalariada barata, aparentemente livre, quando o proletariado, já apartado dos meios e das ferramentas de trabalho, era (é) obrigado a oferecer seu tempo, seu corpo e sua vida para garantir uma miserável sobrevivência. O capital lançou mão também de trabalho escravo como meio de acumulação para sustentar os processos europeus de industrialização e o padrão de vida sempre mais elevado da nobreza e da elite capitalista. Milhões de africanos foram mortos nos navios tumbeiros e lançados ao mar sem quaisquer cerimônias ou consequências. Os povos asiáticos, igualmente herdeiros de ricas tradições culturais, foram invadidos, submetidos ao consumo do ópio e de guerras de dominação colonial e imperialista, como acontecera em outros continentes. As Américas, além da pilhagem das riquezas minerais e da destruição de culturas seculares dos povos originários, o capitalismo exportou também, para o norte, a semente do mal, que mais tarde se tornaria a sede do mais arrogante e genocida dos países: os EUA, cuja riqueza e padrão de consumo são mantidos sobretudo com as guerras de destruição, de ocupação e de rapina, sempre em parceria com os aliados europeus que lhes legaram a inspiração espiritual de um mundo sem espírito: o capitalismo na sua fase imperialista.
Além dos mais horrendos massacres e da destruição de países e de povos ao longo dos últimos três ou quatro séculos, a humanidade experimentou também as duas grandes guerras mundiais, guerras de rapina e de disputa de mercados e de domínio entre os principais atores. Nenhum desses atores da morte, filhos legítimos do capital - o nazismo, o fascismo, o colonialismo, o imperialismo e posteriormente o sionismo - jamais lutou pelo bem comum da humanidade. Na pauta, a disputa de mercados, de riquezas, de lucros, de terras, de poder, de ganância, de privilégios, sempre em favor de alguns poucos às custas do sofrimento e da morte de milhões de pessoas.
Essa é a história bem resumida do capital, de papel passado e tudo mais. Uma história de opressão, de terror, de sangue, de dor, de lágrimas e de sofrimento coletivo de bilhões de pessoas. E no meio dessa tragédia, o grande encantamento e a beleza nós encontraremos nas lutas de resistência dos de baixo. Em todas as formas de luta e de resistência e de conquistas também. Inclusive nas festas, nas artes, enquanto resistência cultural ao padrão imposto pela lógica do terror capitalista. A luta e a resistência dos povos oprimidos, dos povos colonizados (viva o povo palestino, que simboliza na atualidade toda essa bela e trágica história de resistência!), dos proletários explorados, dos de baixo, enfim, constituem o que há de mais belo, de mais humano e do mais rico legado que a história da humanidade inscreveu nas suas gloriosas páginas. Num futuro emancipado do terror capitalista, essas sublimes páginas de resistência serão comemoradas e lembradas eternamente, cada personagem, cada lágrima, cada gota de sangue derramado. Que viva os que sonham, os que resistem e os que lutam por um mundo melhor para todas e todos!
O capitalismo jamais cumpriu o que, em teoria, prometeu: um mundo livre, democrático e de oportunidades para todos. Prometeu que a mão livre do mercado resolveria todos os problemas da humanidade. O que se testemunhou, na prática, até o momento, foi a acumulação e a concentração de riquezas em poucas mãos. Riquezas essas produzidas por bilhões de trabalhadores, que ficam com as migalhas em forma de salários, enquanto a burguesia que nada produz se apropria de tudo. E a "democracia", essa promessa oca que os agentes do estado a serviço do capital adoram idolatrar? Uma relação alienada como a capitalista não poderia oferecer, na política, outra coisa senão uma forma alienada e espetaculosa de enganar, de iludir, de reprimir e de manipular a maioria dos povos, com promessas que jamais serão cumpridas, pois o movimento de reprodução do valor-dinheiro, próprio do capitalismo, está voltado para a não-realização humana; para explorar, humilhar, oprimir, para discriminar e para colocar todos em disputa egoística e carregada de ódio e frustração.
O capitalismo nada tem a oferecer para a humanidade, a não ser as tragédias das guerras, da destruição do meio ambiente, da desumanização das pessoas, da miséria e da fome para amplas parcelas da sociedade. E a permanente ameaça de uma nova guerra mundial, nuclear, o que poderá causar a destruição do planeta Terra.
Por isso, é preciso que a humanidade supere essa forma alienada e fetichista de relação social. Sobretudo os de baixo, o proletariado, que nada têm a perder a não ser as suas algemas. É preciso urgentemente retomar a luta emancipatória, voltada para unir o proletariado de todo o mundo, não para continuar submetido a esse sistema, mas para construir uma outra relação social, solidária, sem explorados nem exploradores, a relação comunista.
Só o comunismo poderá oferecer a realização humana plena, através de uma relação solidária e horizontal, não mais mediada por categorias estranhas, como o mercado e o estado; num mundo sem fronteiras, que respeite a riqueza e a diversidade cultural e que proporcione às pessoas uma nova experiência, de uma vida de saberes e fazeres compartilhados, de sonhos e de poesias; de uma relação sensível e refletida, que reúna a festa, a arte, o pão e o trabalho num estado permanente de confraternização. Sem amos, nem escravos.
Forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
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A relação capitalista tende a idiotizar as pessoas...
o que explica o crescimento da extrema-direita...
e a capitulação de boa parte da esquerda
Euler Conrado, em 21/08/2024
Todos nós, de alguma forma, nos espantamos com o crescimento da extrema-direita e de personagens bizarros e ridículos como Milei na Argentina, Marçal e Bolsonaro no Brasil, Trump nos EUA, entre outros. Contudo, qualquer iniciado no marxismo (meu caso), saberá entender tal fenômeno como uma expressão das relações alienadas, fetichistas, irrefletidas, próprias do sistema capitalista. No mundo do trabalho alienado, ou do capital, se preferirem, as pessoas estabelecem relações sociais - e econômicas e políticas - absolutamente impensadas: é como se as mercadorias ganhassem vida própria enquanto seus produtores se tornam uma representação coisificada dessas relações. Uma verdadeira inversão: ao invés de uma relação social entre pessoas para atender necessidades comuns, ocorre uma relação mediada pelo valor-dinheiro. As pessoas se relacionam na economia enquanto portadores ou possuidores de valor-mercadoria, seja enquanto trabalho abstrato vivo (trabalhadores) ou de trabalho abstrato "morto", coagulado nas mercadorias (capitalistas), ou de sua expressão monetária, o dinheiro.
Na aparência, essas relações não são percebidas facilmente, pois são relações enviesadas, enfumaçadas, fantasmagóricas, a que Marx chamava de relações "fetichistas". Há uma naturalização da desumanização ou da coisificação própria da relação capitalista. Ufa! Frase carregada de conceitos sociológicos... mas, tinha que resumir, kakaka. Esse embaçamento próprio da forma-mercadoria é que permite que as riquezas produzidas pela maioria dos trabalhadores sejam apropriadas pela minoria burguesa que nada produz. Numa relação que tem a aparência de total liberdade de escolha por parte dos trabalhadores, quando na verdade eles estão (estamos) submetidos ao mais férreo domínio da ditadura da reprodução do valor-dinheiro. Ao contrário do escravo que era propriedade particular do senhor de engenho, por exemplo, ou do servo de gleba que tinha uma relação de dependência para com o proprietário das terras, o trabalhador moderno tem total liberdade para escolher qual patrão irá explorá-lo! Ou qual político eleito por ele poderá retirar seus direitos no próximo mandato.
- Alto lá! - dirá algum trabalhador bolsonarista - Não me sinto explorado e tenho prazer em trabalhar em troca de um justo salário". Eis aí uma frase que talvez vocês já tenham ouvido e que expressa a total ignorância em relação ao mundo do capital e do trabalho alienado a que estamos submetidos nesse período histórico da nossa existência.
Claro que este feliz trabalhador não usa algemas visíveis e se sente livre inclusive para se demitir e procurar outro emprego. Mas, a essência das relações que ele estabelece com quaisquer dos patrões não mudará: ele será contratado para uma jornada de trabalho de tantas horas por mês em troca de um salário x. Aparentemente, uma troca justa: ele entra com a força de trabalho, com seu cérebro de poucos neurônios e sua energia braçal fortalecida pelo culto à estética bombada. E o generoso capitalista lhe oferece o galpão, as máquinas, a matéria-prima e ainda lhe paga um salário no final do mês. Esta é a aparência... para quem vive de aparências. Na prática, contudo, o feliz trabalhador da extrema-direita (infelizmente isso se aplica a todos os trabalhadores e não apenas aos da direita, kakaka) começa a trabalhar. Transforma uma matéria-prima, por exemplo, uma prancha de madeira em uma mesa. Em dois dias de trabalho, por exemplo, ele já terá produzido o suficiente para pagar o seu próprio salário. Reparem que, quem está pagando de fato o salário desse trabalhador é ele mesmo, quando, através do seu trabalho vivo, transformou a madeira em mesa, ou seja, numa nova mercadoria cujo valor de venda (ou de troca) é a quantidade de trabalho abstrato (socialmente necessário) que esse feliz trabalhador transferiu para essa nova mercadoria. Nos outros 28 dias de trabalho este feliz trabalhador continuará produzindo mais mesas. Quanto mais produzir, mais elogios receberá do seu generoso patrão, mas, não receberá um centavo a mais por tão dedicado empenho. Todo esse tempo extra de trabalho não pago - que chamamos de mais-valia - e que ele transferirá graciosa e inconscientemente ao capitalista, será usado por este para pagar o banco pela compra das máquinas, o aluguel do galpão, os impostos e a taxa de lucro - nesse particular, quanto maior, melhor para o capitalista, claro.
Esse exemplo individual, estendido aos milhares e milhões de trabalhadores nos dá a ideia de como o capitalista se enriquece sem precisar produzir um parafuso sequer: ele apenas gerencia e se apropria privadamente do conjunto de trabalho abstrato produzido individual e socialmente por milhões e bilhões de trabalhadores. Claro que existem pequenos capitalistas, alguns tão pequenos que sobrevivem como qualquer trabalhador; e os grandes empresários, como Elon Musk, dono de uma fortuna de 200 bilhões de dólares em patrimônio. Num cálculo que fiz em outro texto, concluí que, se Musk vivesse no Brasil (batam na madeira! kaka) e gastasse 1 milhão de reais por mês ele levaria 83 mil anos para gastar a fortuna acumulada através da exploração de bilhões de trabalhadores das mais variadas formas. É bem provável que no caso dele seja herança, dada à total incompetência com que ele se apresenta. Mas, a mera administração e reprodução do que ele recebeu de presente como herdeiro já lhe rende alguns milhões de dólares de lucro todos os meses.
Mas, o importante aqui é sabermos que as relações que estabelecemos para sobreviver dentro do sistema capitalista são relações alienadas, irrefletidas, que nos passam uma falsa ideia de uma justa troca de mercadorias, quando na verdade é uma relação de exploração que se baseia numa incompreensão coletiva ou numa relação totalmente irrefletida, fetichista, própria da forma-mercadoria ou do capitalismo. De fato há uma troca de mercadorias, de forma dominante, o que imprime essa forma coisificada nas relações, que não estão voltadas, de forma prioritária, para a satisfação das necessidades humanas, mas para a obtenção de mais lucro, de valorização do valor-dinheiro como fim em si mesmo.
Seria contraditório imaginar que essa relação social e econômica alienada, irrefletida pudesse produzir, no campo político, uma relação consciente, refletida. A forma política não está dissociada das relações econômicas. Pelo contrário, ela é a expressão da alienação própria dessas relações. Daí ser compreensível que haja, de tempos em tempos, ou de crise em crise, o crescimento dessa idiotização de amplas parcelas da sociedade, incluindo os trabalhadores. Ao não conseguirem resolver as crises pessoais, existenciais, materiais e sociais engendradas por essa forma alienada de sociedade - onde cada indivíduo aparece isolado em disputa egoística contra tudo e todos nas relações de mercado - as pessoas tendem a buscar respostas em coisas estranhas, em propriedades místicas, religiosas ou até mesmo em tipos bizarros como esses ridículos personagens que surgem e desaparecem de tempos em tempos na política, como na vida cotidiana. Um espetáculo vazio próprio da "democracia" como expressão política de uma relação fetichista, alienada.
Claro que nesse processo de exploração capitalista sobrevêm o que conhecemos como as lutas de classes. Ou seja, parcela do proletariado se dá conta da exploração a que está submetida, se organiza, resiste e luta de todas as formas, primeiramente para conquistar mais direitos e espaços dentro do capitalismo; e, nesse embate de classes, descobre que é necessário, para se libertar definitivamente dessa exploração, lutar também para superar o capitalismo. É graças a essas lutas de classes que os trabalhadores, ao longo dos últimos séculos, arrancaram grandes conquistas, como: melhores salários e redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias - antes não tinha limite, as pessoas trabalhavam até 16 horas diárias! Férias remuneradas - coisa que no Brasil e no mundo, com o processo de uberização está quase em extinção. Décimo terceiro salário - igualmente em extinção para boa parte dos trabalhadores; e aposentadoria, cada vez mais difícil. Além das conquistas políticas, ampliando os espaços de participação popular e incluindo os mais pobres no orçamento através de políticas públicas nas áreas sociais: Educação, Saúde, assistência social, moradia própria, etc.
Entretanto, esse processo de luta de classes do proletariado contra a burguesia não se dá de forma retilínea. Há altos e baixos. E mesmo assim, mesmo quando está em alta, como a experiência histórica mundial nos demonstrou, as conquistas obtidas pelos de baixo, embora proporcionem melhorias na qualidade de vida para amplas parcelas da sociedade, não representam uma superação do sistema capitalista. Ao contrário: elas acabam contribuindo com a reprodução do capital através de mais consumo, o que gera um novo ciclo de acumulação capitalista. Daí eu haver concluído que as lutas de classes podem e devem ter uma dupla dimensão: interna, voltada para conquistas no interior do capitalismo, e emancipatória, voltada para sair do capitalismo. O proletariado mundial precisa urgentemente descobrir essa segunda dimensão!
Como afirmei na crônica anterior, o capital, ao se reproduzir, tem uma força centrípeta, ou seja, quando se movimentam, as pessoas são literalmente "puxadas" para o centro, um automovimento, que gira em torno da reprodução da forma-mercadoria como fim em si mesmo. Isso se aplica inclusive aos processos nacionais revolucionários, dirigidos por movimentos ou partidos de esquerda, cujos povos têm a impressão de que romperam com o capital, quando na verdade continuam totalmente dependentes das categorias próprias do capitalismo, como: Estado, mercado, mão de obra assalariada, formas de poder hierárquico e centralizado e etc. Há uma mudança de gestão proletarizada na fração nacional do capitalismo, que é um sistema mundial.
Somente uma mudança em escala mundial, voltada não para reproduzir a alienação capitalista, mas para sair, superar definitivamente essa relação poderá fazer emergir uma outra relação social, essa sim, não mais mediada pelo dinheiro ou pelo mercado ou pelo estado, mas uma associação solidária, livre, horizontal e direta entre as pessoas de todo o planeta. Eis o comunismo, que não experimentamos, ainda, em nenhuma parte do planeta. Porque continuamos subordinados a essa forma alienada que, em maior ou menor grau nos idiotiza a cada dia, nos torna mais egoístas e incapazes de resolver as diversas crises engendradas pela forma-mercadoria. Não há solução definitiva para essas crises porque elas são próprias do capital, que acumula riquezas em poucas mãos quando se reproduz, e aumenta a miséria absoluta e relativa para milhões de pessoas; que reproduz os estados de guerra e de conquistas pela força como parte integrante da dominação capitalista e imperialista; que reproduz os preconceitos e discriminações próprias de sociedades que realimentam privilégios para alguns, sistemas de poder e de chefias, entre outras heranças culturais de formas alienadas anteriores.
Nada disso pode ser resolvido definitivamente no capitalismo. Por isso, ao mesmo tempo que combatemos as expressões mais reacionárias do capital: o neoliberalismo, o fascismo, o sionismo e o imperialismo -, devemos também discutir e organizar um amplo movimento, local e mundial, que tenha como objetivo a saída organizada e consciente do sistema capitalista. Para que haja, finalmente, a emancipação humana desse terror.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
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A resistência e a luta contra o fascismo, contra o imperialismo e contra o sionismo
Enquanto isso, a esquerda cirandeira, ou de salão, ou identitária, ou perfumada, ou o que seja, está mais preocupada com as atas das eleições na Venezuela... e se esconde do genocídio que ocorre em Gaza...
(Euler, em 17/08/2024)
Nossa análise, enquanto voz quase isolada dos que lutam por um mundo livre do capital, de toda forma de opressão e exploração, pelo comunismo, enfim, não poderia ser outra senão a do combate sem trégua às expressões mais reacionárias do capital, quais sejam: o fascismo, o sionismo, o neoliberalismo e o imperialismo.
Embora o conjunto das esquerdas nacional e mundial tenha se perdido no labirinto da revalorização do dinheiro, é preciso que saibamos, dentro desse moinho demoníaco do capital, identificar quais são as causas e as batalhas mais importantes a empunhar, tendo em vista os interesses de classe do proletariado local e mundial. Interesses de classe imediatos, intestinos, relacionados às conquistas sociais e políticas locais, bem como ao firme combate às expressões mais reacionárias da exploração capitalista. Essas lutas, embora estejam ainda no universo da reprodução do capital, entram em choque com os setores dominantes do mercado e podem propiciar e até mesmo se somar aos interesses estratégicos de classe do proletariado; interesses estes, portanto, ligados à derrota definitiva do capitalismo e à construção de um forte movimento social anti-capitalista, que busque uma outra relação social, a relação comunista, solidária, auto organizada mundialmente pelo proletariado.
Por isso é preciso estarmos atentos [parêntese: lembrei-me imediatamente da letra da música "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte"...] a essas manifestações de capitulação e de concessão por parte da esquerda cirandeira, ou identitária, ou de salão, ou o que seja, que se alinha aos interesses do imperialismo e do sionismo quando, por exemplo, aposta na derrota do chavismo na Venezuela, fazendo coro vergonhosamente à cobrança de atas no processo eleitoral daquele país. O bravo povo venezuelano, em que pesem os sistemáticos ataques do imperialismo, que sanciona, bloqueia, expropria as barras de ouro depositadas na Inglaterra e os ativos financeiros e os investimentos nos EUA, apesar disso, esse bravo povo mais uma vez derrota os charlatões e fascistas que se apresentam como alternativa de poder naquele país. Derrotou nas ruas, há duas décadas, o golpe de estado televisionado e orquestrado pelos agentes do imperialismo; derrotou mais recentemente ainda o vigarista do Guaidó, que hoje se esconde numa mansão qualquer em Miami; e acaba de derrotar nas ruas e nas urnas a dupla Maria Corina e Lopes González, dois fascistas e entreguistas e serviçais dos interesses do imperialismo estadunidense e de seus aliados europeus.
Nesse combate específico, o governo brasileiro, infelizmente, em negação até mesmo da política externa que adotou nos governos anteriores, se acovardou e procurou montar uma fórmula supostamente alternativa, que supostamente agradaria a gregos e troianos. O problema é que Venezuela não é Brasil, onde a esquerda construiu alguns avanços políticos no campo democrático e também as conquistas sociais internas quase sempre num processo de conciliação de classes. Na Venezuela, ao contrário, o choque de interesses é aberto, declarado. O movimento chavista se construiu e se consolidou no enfrentamento sem trégua ao imperialismo, ao fascismo, ao sionismo e aos piores interesses nacionais e internacionais. Pagou um alto preço por isso, mas não se dobrou.
A esquerda cirandeira, apegada aos chavões liberais em favor de uma suposta "democracia" e de "liberdades", engrossou o coro das narrativas ardilosamente construídas pela mídia a soldo do imperialismo e do sionismo. Passa a atacar o presidente Maduro e trata a Venezuela como se lá houvesse uma ditadura ou autocracia ou algo afim. Hipocrisia à parte, de qual "democracia" e "liberdade" estamos falando numa relação totalmente alienada e fetichista como a relação mundial do capitalismo? Seria por acaso a "democracia" e a "liberdade" dos EUA, da Inglaterra ou da Alemanha, onde os protestos contra israel e o genocídio em Gaza são reprimidos com vigor e os profissionais que apoiam os palestinos são demitidos e perseguidos? Mesmo nos aspectos democráticos formais, a Venezuela realiza eleições o tempo todo, com ampla e diversificada participação popular. As oposições sempre tiveram espaço de participação nesses processos, já conseguindo, inclusive, nos últimos anos, durante um período, formar a maioria no parlamento nacional. Mas, o chavismo não baixa a guarda. Realiza trabalho social combinado com intenso trabalho político e ideológico, incentivando a mobilização popular e as organizações comunais de base. Coisas que, infelizmente, as esquerdas brasileiras, sejam as cirandeiras de ocasião, ou as reformistas, ou mesmo as radicais, não fizeram. Ou fizeram em pequena escala.
Os governos populares no Brasil, em que pesem os importantes avanços na área social, com relevantes programas que atendem boa parte das demandas populares - Bolsa-família, Minha casa minha vida, Luz para todos, Prouni, Mais Médicos, aumentos reais no salário mínimo, entre outros - não associaram tais programas a um projeto de organização popular, de resistência e de enfrentamento aos inimigos principais do proletariado. E por isso mesmo, a tênue, a frágil hegemonia política construída pelo PT e seus aliados se assenta, hoje, quase que exclusivamente no legado eleitoral e eleitoreiro proporcionado por essas conquistas. Contudo, como ficou demonstrado nos últimos anos, uma vez que não se construiu um projeto de enfrentamento de classes aos inimigos do povo, esse projeto progressista, para se manter, está cada vez mais dependente de alianças com setores do Centrão, da direita e até mesmo do imperialismo. Sem base social mobilizada, sem meios próprios de comunicação - em duas décadas o PT não apoiou e não incentivou a criação de canais de TV ou de rádios ou jornais que enfrentassem as redes reacionárias do imperialismo e afins -, a militância dos partidos de esquerda que apoiam o governo federal se informa pela Globonews, pela Folha de São Paulo, pela Rádio Itatiaia, entre outros, veículos esses claramente porta-vozes dos inimigos de classe do proletariado.
Além do caso específico da Venezuela, país vizinho com o qual um governo popular brasileiro deveria estabelecer forte parceria, há também a realidade do genocídio na Palestina ocupada. Na região da Faixa de Gaza, um dos territórios ocupados pelo projeto de colonização sionista-imperialista conhecido como "israel", mais de 40 mil palestinos, especialmente crianças, mulheres e adultos, foram cruel e covardemente assassinados nos últimos 10 meses, sem falar nos 100 mil feridos e outros tantos desaparecidos nos escombros, além da fome imposta como arma de guerra pelo sionismo aos 2,3 milhões de habitantes de Gaza. Mas, esse massacre não começou em 07 de outubro de 2023, quando a resistência palestina enfrentou mais uma vez abertamente as forças de repressão de israel, no episódio conhecido como "Dilúvio de Al-Aqsa". Nos últimos 100 anos, pelo menos, os palestinos têm sido vítimas de toda forma de opressão e massacre, ante o olhar omisso, cúmplice e conivente do Ocidente capitalista.
Novamente observamos aqui a cumplicidade de parcela da esquerda cirandeira, ou de salão, ou afim, com esse genocídio que a mídia do sionismo e do imperialismo - Globo, CNN, Itatiaia, Record, Band, Folha, entre outros -, simplesmente esconde ou apresenta a narrativa enganosa de que naquela região a entidade de ocupação colonialista conhecida como "israel" seria apenas uma pobre vítima dos perigosos terroristas do Hamas. Nada mais canalha e falso! Mas, também, esperar o quê de uma esquerda que se habituou a consumir como principais fontes de informação a Globonews, a Folha de SP e a Rádio Itatiaia (esta última, aqui de Minas)? Por isso, se observa aqui uma adesão muito tímida às lutas de solidariedade ao bravo povo palestino, que é massacrado, mas resiste heroicamente. Até mesmo nos países centrais do imperialismo, milhares de pessoas se mobilizam e vão para as ruas contra o genocídio em Gaza. No Brasil, temerosos com a possibilidade de temas polêmicos influenciarem os resultados eleitorais, parte da esquerda prefere se esconder. O que ajuda a deseducar os de baixo para o não enfrentamento geral contra o capitalismo e seus principais beneficiários.
Como já dissemos aqui anteriormente, a causa palestina é uma causa internacionalista. E a entidade conhecida como "israel" é a expressão concentrada de todo o terror capitalista, de séculos de colonização, expansão territorial, militar e econômica, apropriação de riquezas alheias e o massacre de centenas de povos originários em todos os continentes. Nos últimos 76 anos, a entidade sionista conhecida como "israel" reproduz, de forma concentrada, na Palestina histórica, todo esse terror de 300 anos de expansão e domínio do capital no planeta. Por isso, a luta antissionista é também parte integrante da resistência anti-imperialista e anti-capitalista.
A construção de um projeto emancipatório do terror capitalista continua, ainda, um desafio instigante; embora não esteja, pelo menos até o presente momento, colocado na agenda cotidiana do proletariado. As esquerdas mundiais continuam perdidas nos labirintos da relação capitalista. O que inclui, nesse caso, até mesmo as chamadas esquerdas radicais ou revolucionárias, cujos projetos não ultrapassam os muros do capital. Em geral apostam na tomada do poder em escala nacional como fim em si mesmo, sem levar em conta de forma crítica e autocrítica as experiências mundiais nos últimos 100 anos, pelo menos. Ou, se preferirem, desde a revolução bolchevique de 1917, quando a forma mais clássica de revolução proletária, com a tomada do poder na Rússia e a socialização (estatização) dos meios de produção foi experimentada. Experiência essa que não logrou construir um outro sistema social, mas, ao contrário, desenvolveu as forças produtivas do capital, até então incipientes naquele país. Também não houve propriamente, como muitos teimam em crer, uma derrota do comunismo, mas, sim, a derrota de um projeto de gestão proletarizada do capital no âmbito de um país ou região.
Mas, o processo de resistência, de luta e de superação das relações alienadas, fetichistas, próprias do capitalismo, não se dá de forma reta, sem tropeços e sem erros. O importante é que saibamos reconhecer e analisar corretamente tanto os acertos quanto os equívocos, para não reproduzi-los.
Um dos principais aprendizados que eu, pessoalmente, extraí da percepção desse rico processo dos embates de classes em escala mundial - e não apenas sobre a extinta União Soviética - é que a luta de classes tem uma dupla dimensão. Uma dimensão intestina e a outra emancipatória. A primeira, no que tange aos interesses do proletariado, está intimamente inserida na revalorização do dinheiro, do capital. É a luta de classes que resiste internamente, que conquista direitos e melhorias imediatas, mas, se mantém presa à força centrípeta do capital. Já a outra dimensão dessas lutas de classes é a dimensão emancipatória, de saída definitiva do capitalismo com a construção mundial de uma outra relação social, solidária, comunista, não mais baseada na mediação do dinheiro, do mercado, do estado e de outras categorias próprias do capitalismo. Essa outra dimensão continua ainda desconhecida da quase totalidade do proletariado, incluindo aí a pretensa e autodenominada vanguarda. Não se trata de uma "crise de direção", como alguns setores da esquerda tentam se justificar. Trata, isso sim, de uma crise de percepção da realidade concreta e das experiências históricas, analisadas à luz da teoria crítica marxiana. Sem compreender criticamente as derrotas sofridas pelo proletariado mundial, a militância de esquerda acaba apostando nas mesmas equações que podem levar a novas derrotas. E com isso, deixa, inconscientemente, de contribuir com a criação internacional de um forte movimento emancipatório do terror capitalista.
É preciso, portanto, construir esse movimento, local e mundial, voltado para essa outra dimensão da luta de classes do proletariado, a dimensão emancipatória do terror do capital, através da formação organizativa e crítica do proletariado, que consiga superar a alienação própria das relações capitalistas. Sem, obviamente, abandonar as lutas imediatas e a resistência coletiva, local e internacional, contra o imperialismo, contra o sionismo, contra o neoliberalismo e contra o fascismo, que são as expressões mais reacionárias da dominação capitalista.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
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Maduro vence na Venezuela e parcela da esquerda brasileira fica com raivinha: chá de camomila pra ela!
Enquanto isso, na Palestina ocupada, o genocídio continua, sob os olhares cúmplices de governos e dos órgãos internacionais. E de boa parcela da nossa esquerda domesticada.
(Euler Conrado, em 03/08/2024)
Quem acompanha esse espaço da resistência popular e proletária, sabe bem que a principal luta que focalizamos é aquela que possa unir o proletariado mundial para sair do capitalismo. Todas as outras lutas no interior desse sistema capitalista, embora tenham a sua importância imediata, estão ligadas ao mesmo universo da reprodução do dinheiro como fim em si mesmo. Ou seja: essas lutas não conduzem à superação do capitalismo, nem aqui, nem na China e nem em nenhum outro país. Isso não significa, como temos destacado frequentemente, que devamos ficar alheios ou indiferentes aos momentos das lutas de classes nas diferentes regiões do mundo. Como comunistas, nos cabe identificar a essência desses embates e qual a tática ou a ação imediata que mais se aproxima dos interesses de classe do proletariado. Entendendo a dupla dimensão desses interesses: no interior do capitalismo, arrancar conquistas imediatas e resistir aos ataques dos piores inimigos do povo; no plano estratégico e mais importante, construir a unidade internacional dos trabalhadores para destruir o capital e construir uma outra relação social, a relação comunista.
É dentro desse preâmbulo que devemos nos situar diante da polêmica sobre as eleições na Venezuela. Esse país vizinho, detentor de grande reserva petrolífera, é alvo da cobiça do imperialismo estadunidense e de suas empresas privadas multinacionais que dominam boa parte da exploração e do comércio do petróleo e do gás no planeta. Fosse a Venezuela um país sem petróleo ou qualquer outra riqueza mineral, as pessoas praticamente nem lembrariam da existência desse povo. Mas, a Venezuela tem dois pecados "capitais": tem petróleo e tem uma esquerda que construiu um movimento popular e de resistência que se alia à luta anti-imperialista na América Latina.
Por esses dois motivos, a Venezuela se tornou o alvo preferencial de ataques diários da extrema-direita mundial, da sua mídia e agora até mesmo de uma parcela seletivamente moralista da esquerda brasileira e internacional. Essa mesma esquerda, que passa pano para a ação imperialista de boicote e de sanções econômicas responsáveis pelo agravamento das crises internas na Venezuela e em Cuba, agora resolveu engrossar o coro da extrema-direita, que denuncia uma suposta fraude eleitoral na recente disputa para a escolha do presidente daquele país.
Desde que o ex-presidente Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela, o país passa por um processo de transformação política e estrutural nos marcos do capital. O movimento chavista cometeu o crime "capital" de assumir o controle da empresa PDVSA, equivalente à Petrobras brasileira. Até então, antes de Chávez assumir o governo pela primeira vez em 1999, os ganhos financeiros com o petróleo eram distribuídos entre o capital estrangeiro e a elite local. Como acontece invariavelmente mundo afora. O governo Chávez mudou isso: boa parcela da renda auferida com a venda do petróleo foi investida em favor dos mais pobres, com políticas públicas de educação, saúde, construção de moradias populares e etc. Há poucos dias, por exemplo, o presidente Maduro anunciou a entrega de um lote de casas populares totalizando algo próximo de 5 milhões de habitações, num país que tem a população total de cerca de 30 milhões de pessoas. Se levarmos em conta o tamanho da população, é como se os governos do PT no Brasil tivessem entregado algo próximo de 33 milhões de casas populares - o que, até momento, não aconteceu, embora o programa Minha casa minha vida tenha alcançado índices muito expressivos.
Em 2002, a Venezuela foi palco de um golpe de estado, praticamente televisionado, o que gerou um vídeo produzido por uma equipe de cinegrafistas irlandeses que estava em Caracas, capital da Venezuela, para produzir um especial sobre Hugo Chávez. Essa equipe acabou produzindo o documentário que ficou conhecido com o título "A revolução não será televisionada", e que está disponível gratuitamente na Internet. Esse vídeo registra os mais significativos momentos da disputa política e ideológica entre o chavismo e a extrema-direita venezuelana. Vale a pena assistir. Ali fica evidenciado como a direita e sua mídia conseguem produzir mentiras e fraudes descaradamente, o tempo todo. Mas, o mais importante: mostra como o proletariado da Venezuela, já com certo grau de politização, de organização de base e de mobilização, ocupou as ruas de Caracas e com isso derrotou o golpe de estado em curso. O presidente Chávez havia sido sequestrado, enquanto a mídia informava que ele havia renunciado ao cargo. O povo venezuelano ocupou as ruas e praças e desfez o golpe, devolvendo o governo ao presidente Chávez.
Por sua vez, ao contrário do que acontece no Brasil com muita frequência, quando, após cada golpe, a esquerda faz acordos com seus algozes e não se preocupa em realizar as mínimas mudanças ditas estruturais, mesmo dentro do capitalismo, na Venezuela foi diferente. Chávez reformou profundamente as forças armadas, por exemplo, construindo um núcleo duro alinhado com o projeto bolivariano (em homenagem ao venezuelano Simon Bolívar, o libertador). Projeto esse que tem a pomposa alcunha de "socialismo cristão", ou algo semelhante, que é mais ou menos o que propõe a esquerda institucional: reformas e políticas públicas em favor da maioria pobre, combinadas com a participação popular nas diferentes instâncias de poder. Ou seja, algo que representa um pequeno avanço ou conquista dentro do capitalismo, mas que, de maneira alguma pode ser confundida com a proposta emancipatória do terror capitalista que nós, comunistas, fazemos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, já dizia o filósofo. Embora boa parte da esquerda mundial esteja perdida nesse labirinto.
Nos últimos 25 anos, este embate entre uma extrema-direita entreguista e financiada pelo imperialismo, de um lado, e o movimento chavista, do outro, vem se agravando. Derrotada nas urnas durante todo esse tempo, a direita conta com a mão amiga do mercado e do imperialismo, que boicota e sanciona o governo chavista, hoje representado pelo presidente Maduro, que sucedeu Hugo Chávez a partir de 2013. São mais de 90 sanções impostas pelos EUA, o que dificulta em muito a vida cotidiana dos venezuelanos, que ficam sem acesso a boa parte das mercadorias produzidas fora daquele país. Para agravar a situação, durante um certo período, com a queda do preço do petróleo, a Venezuela amargou uma profunda crise social e econômica, ocasionando a saída de milhões de venezuelanos, em busca de sobrevivência. Coisa que aliás acontece em maior ou menor grau nos países conhecidos como "dependentes", cujo desenvolvimento do capitalismo é incipiente e altamente dependente das tecnologias e dos produtos industrializados comercializados nos países centrais do capital. Um parêntese: para parte da esquerda, a solução dessa dependência estaria no desenvolvimento industrial e tecnológico para alcançar uma suposta soberania nacional. Para nós, comunistas, a saída não é nacional, mas mundial: com a unidade internacional dos de baixo não apenas para pequenas conquistas e reformas, mas para sair desse sistema e construir outras relações sociais, solidárias, comunistas. Fecha parêntese.
Mesmo nesse cenário adverso, o chavismo consegue manter o poder, em grande parte em função do trabalho político e ideológico de enfrentamento aberto realizado pelas diversas organizações de esquerda e popular daquele país. A Venezuela fortaleceu também o comércio com países como China, Rússia e Irã, considerados pelo imperialismo estadunidense e seus lacaios europeus como os grandes vilões da atualidade. Nos últimos anos, em função do aumento do preço do petróleo e da retomada da compra dessa mercadoria em maior escala pelos EUA, envolvidos com a guerra na Ucrânia, a situação econômica na Venezuela melhorou substancialmente. Além disso, o governo de Maduro tem feito esforços para ampliar e diversificar a produção local, não ficando dependente apenas do petróleo. Hoje, segundo dizem as lideranças chavistas, a Venezuela produz 90% dos bens consumidos pelos cidadãos daquele país.
É preciso ainda destacar que, além das sanções impostas pelos Estados Unidos, como punição ao governo Maduro por manter a política chavista que valoriza a chamada "soberania nacional", a Venezuela foi vítima, ainda, do confisco (roubo) das suas reservas em ouro depositadas em banco na Inglaterra, que, como aliada incondicional e servil aos EUA, prestou mais esse serviço sujo ao grande capital mundial. O povo venezuelano passando grandes dificuldades de sobrevivência e não podendo lançar mão de bilhões de dólares em reservas de ouro que foram roubadas pelo esquema mafioso imperialista. Nada disso tem importância para parcela dessa esquerda "moderna", cheia de pudores e exigindo as atas das eleições que comprovem a vitória de Maduro.
As recentes eleições deste ano na Venezuela, quando o chavismo obteve mais uma vitória, incendiou os ânimos por toda parte contra Maduro e o que seria, segundo a mídia do imperialismo, um regime ditatorial ou autocrata. Hipocrisia à parte, ninguém, dessa esquerda, jamais pediu comprovação de resultados eleitorais de quaisquer outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mais corrupto dos sistemas eleitorais existentes, quando os mega empresários negociam no balcão abertamente quem vai receber mais dólares e com isso se tornarem os novos cachorrinhos desses bilionários, é algo naturalizado. Candidatos que recebem um número maior de votos nem sempre são os eleitos, dado ao sistema complicado e feito para manter tudo distante do controle direto dos de baixo. Com as bênçãos da mídia, e com a total aceitação por parte da esquerda mundial. Ditadura, para essa mídia, é a China, é Cuba, e também a Venezuela, claro, que já realizou 31 eleições nos últimos 25 anos, sempre com o acompanhamento de centenas de observadores internacionais. O que está em disputa na Venezuela não é a figura pessoal do Maduro, mas o petróleo, estúpido!
Assim que terminou o pleito na Venezuela, o CNE - Conselho Nacional Eleitoral - tratou de proclamar a vitória de Maduro, com 51% dos votos, contra 44% do seu adversário principal, o fantoche da extrema-direita González, que substituiu a candidata de fato, mas inelegível, Maria Corina, golpista de direita com larga folha corrida. O tal González, por sua vez, foi diplomata em El Salvador na década de 80, estando ligado aos grupos paramilitares que sequestraram, torturaram e assassinaram as lideranças populares e de esquerda. Dezenas de padres e freiras foram assassinados nesse período, inclusive o Bispo Dom Romero, muito amado pelos mais pobres daquele país. Há um filme que retrata bem aquele período dos anos 80, "Salvador, o martírio de um povo", que recomendamos.
Mesmo antes desses resultados eleitorais divulgados pelo CNE, a oposição fascista já havia anunciado que houve fraude - as eleições nem tinham acontecido ainda - e que eles não reconheceriam os resultados. O governo brasileiro, infelizmente, embarcou na cilada montada pelo imperialismo e comprou a versão de que era preciso mostrar as atas do resultado eleitoral para poder reconhecer a vitória de Maduro. Coisa que o Brasil nunca fez com nenhum país. A oposição de direita não apresentou nenhuma prova da tal fraude, mas se apressou em convocar a população para ocupar as ruas e quebrar tudo. Várias pessoas identificadas com o chavismo foram assassinadas. Hospitais, escolas e alguns automóveis foram queimados. Numa versão ampliada do 08 de janeiro de 2023 no Brasil.
Contudo, Venezuela não é Brasil, onde a esquerda dorme em berço esplêndido - e fica na dependência do STF e das contradições entre Biden e Trump para se salvar. Lá na Venezuela, o movimento chavista é organizado e tem grande poder de mobilização. Tanto durante a campanha eleitoral, quanto depois, para garantir o governo Maduro, milhares de pessoas ocuparam as ruas em defesa do governo reeleito. E as forças armadas de lá, boa parte, pelo menos, estão alinhadas com o governo e prometeram garantir a defesa das instituições e dos resultados anunciados.
No plano mundial, os EUA, para nenhuma surpresa, reconheceram a vitória do candidato da extrema-direita, sem cobrar atas nem nada. Imediatamente, vários países acompanharam o apito do cão do diabo imperialista. Aliás, cabe destacar ainda um outro capítulo dessa história: os Estados Unidos, alguns anos antes, nomearam um interventor, Juan Guaidó, como presidente da Venezuela, sem voto nem nada. Cuja indicação do império foi imediatamente acompanhada por cerca de 50 países, sem qualquer preocupação com legitimidade ou coisa que o valha. O império mandou, tem que obedecer.
O Brasil, o México e a Colômbia tentam uma saída supostamente diferenciada. Nem acusaram o governo de ter cometido fraude, mas também ainda não reconheceram a vitória de Maduro, batendo na tecla de que é preciso respeitar a vontade popular e que o Conselho deveria apresentar as tais atas ou resultados detalhados. Atas essas que são na verdade uma invenção da extrema-direita. A eleição na Venezuela ocorre com a votação eletrônica, cujo resultado é imediato, igual ao Brasil, e tem também o voto impresso, cuja conferência é feita em certo percentual. Somente depois que todo o processo de apuração desses dois mecanismos é totalmente concluído, o CNE divulga os detalhes na Internet. Mas, todos os partidos têm acesso às "atas" que são impressas ao final da eleição e são afixadas em cada seção eleitoral, como acontece no Brasil.
Maduro ingressou com pedido de convocação, junto à justiça eleitoral, de todos os candidatos que participaram do pleito, para que eles apresentassem os supostos indícios de fraude. O CNE acatou essa solicitação e todos os candidatos se apresentaram no dia marcado, menos o candidato da extrema-direita. Na oportunidade, não havendo qualquer prova formal apresentada ao órgão máximo eleitoral de quaisquer indícios de fraude, o CNE confirmou a vitória de Nicolau Maduro. Pronto. O que mais vocês querem? Uma guerra civil? Se a extrema-direita toma o poder por lá, a próxima vítima é o Brasil, que está sempre na mira do imperialismo e dos lacaios locais.
Aqui na América Latina, Bolívia, Nicarágua e Cuba reconheceram a vitória de Maduro imediatamente. Brasil, Colômbia e México, apesar dos tropeços, certamente vão reconhecer nos próximos dias, assim esperamos. Já os países governados pela direita: Uruguai, Paraguai, Argentina e Equador acompanharam as ordens do império, não reconhecendo os resultados oficiais. A não surpresa, por parte de governos supostamente de esquerda, foi o Chile de Boric, essa figura que segue caninamente as ordens do imperialismo e engrossou o coro dos derrotados - no caso da Venezuela.
A situação interna na Venezuela ainda é bastante instável, uma vez que a oposição golpista também tem forte base social, assim como no Brasil, mas, como disse anteriormente, lá, pelo menos, a esquerda vai para o enfrentamento, tem meios de comunicação próprios - não fica dependendo da Globonews para se informar, como acontece aqui -; as forças armadas de lá são bolivarianas - pelo menos em parte, nunca se pode confiar totalmente (kakaka); e o governo tem parcerias importantes como as que mencionei: China, Rússia, Irã, Bolívia, entre outros. Era para o Brasil figurar entre os principais parceiros, mas, com essa esquerda que temos no país e com essa correlação de forças cercada pelo centrão, pela extrema-direita bolsonarista e pelos fundamentalistas religiosos, o máximo que o presidente Lula consegue fazer é acender uma vela para Deus e outra para o diabo. O PT, o maior partido de esquerda da América Latina, colhe os resultados da política água com açúcar que desenvolveu nas duas últimas décadas. Produziu algumas boas políticas públicas em favor dos mais pobres - bolsa-família, luz para todos, mais médicos, minha casa minha vida, entre outras -, mas, abandonou o embate aberto contra os interesses das elites dominantes, bem como, abandonou também o trabalho junto aos movimentos sociais e nunca se preocupou seriamente em construir um projeto de comunicação social que fizesse o enfrentamento às narrativas das direitas. Ou seja, apesar das ligações ainda existentes com sindicatos e o que restou do movimento social, o PT se tornou um partido eleitoreiro, sem projeto de país, naquilo que a chamada esquerda radical chama de projeto de "soberania nacional". O PT ainda tem bons quadros políticos de esquerda, mas cada vez mais é tomado por dentro por um grupo que tudo faz para ficar bem com a Globo, com a mídia e com o mercado.
Enquanto isso, na Palestina ocupada, o projeto colonialista do sionismo e do imperialismo continua massacrando os palestinos de Gaza, com total conivência dos órgãos internacionais, como a ONU e também dessa mídia hipócrita e canalha. Boa parte da esquerda brasileira, inclusive essa que está preocupada com as atas comprobatórias da vitória de Maduro, nunca se manifestou em relação ao genocídio que ocorre na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, não apenas mais recentemente, mas, nos últimos 76 anos da ocupação israelense do território palestino. Nos últimos dias, o carniceiro de Telavive e sua quadrilha de criminosos de guerra assassinaram covardemente o líder maior do Hamas, em Teerã, capital do Irã, provocando manifestações de protesto em todo o mundo. Além disso, "israel" assassinou também um importante dirigente do partido Hezbollah, no Líbano, que trava enorme combate no sul daquele país com as forças de ocupação. O interesse do imperialismo e seu destacamento de guerra no Oriente Médio conhecido como "israel" é o de escalar a guerra em toda a região, visando destruir as forças da resistência islâmica lideradas pelo Irã. Criando, portanto, uma situação de guerra que pode se estender mundialmente, envolvendo as maiores potências e colocando em risco a vida humana. Em crise permanente, o capital e suas forças mais reacionárias sempre recorrem à destruição total como solução para seus problemas. Todos nós, os de baixo, somos palestinos, e devemos nos unir para enfrentar essas forças do atraso, genocidas, colonialistas e racistas.
Concluindo minha análise sobre a Venezuela, volto a afirmar que todos esses embates de classes estão inseridos no automovimento da revalorização do dinheiro, ou seja, do capitalismo. Nenhum desses projetos, incluindo os das esquerdas mais reformistas, como o PT, e também as ditas esquerdas mais radicais aponta para uma saída sistêmica do terror capitalista. Este continua sendo o grande desafio colocado para a humanidade dos de baixo: construir um forte movimento local e mundial tendo em vista a superação do capital e suas categorias, como estado, mercado e outras, e não a construção de diferentes saídas no interior desse sistema. Aos comunistas caberá sempre esclarecer o teor dessas realidades, apoiando pontualmente o campo da resistência popular, que enfrenta os piores inimigos do povo, mas, não deixando de explicar e de incentivar a construção de organismos - como conselhos populares - e ações voltadas para a destruição do capitalismo e a emancipação humana desse terror. O movimento chavista na Venezuela está inserido nesse processo bi-polar do capital, como parte do polo de resistência de classe e de luta aos ataques do imperialismo, do sionismo, do neoliberalismo e do fascismo, que são a expressão mais reacionária e atrasada do sistema capitalista.
Forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
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Onde está a porta de saída do capitalismo?
(Euler Conrado, em 26/07/2024)
Mais importante do que diagnosticar as crises do capitalismo é encontrar a porta de saída coletiva-mundial desse sistema.
Perdidas no labirinto dos problemas nacionais, as esquerdas deixaram de sonhar e apostar em projetos emancipatórios do terror capitalista
O sistema produtor de mercadorias, baseado na exploração, pela burguesia, da força de trabalho de uma classe despojada dos meios de produção - o proletariado -, consolidou-se em escala mundial há cerca de dois ou três séculos, um pouco mais, um pouco menos, passando por diferentes fases de expansão e dominação mundial. Este processo, embora tenha se dado de forma diferenciada entre os diferentes territórios e regiões, acabou absorvendo, incorporando, e ou submetendo todos os povos do mundo a uma mesma relação social, a relação capitalista. Um desenvolvimento desigual e combinado das forças produtivas, entre os países mais ricos e poderosos da Europa, inicialmente, por exemplo, e os demais países e povos submetidos à colonização; até alcançar sua forma monopolista e imperialista atual, liderada pelo poder financeiro, tecnológico e bélico-militar dos EUA e aliados, com seu padrão monetário do dólar sem lastro.
Pelas características centrais desse sistema, cuja reprodução é sustentada na exploração da força de trabalho abstrato alheia, coagulado nas mercadorias, e na consequente concentração e centralização de riquezas em poucas mãos, é natural que tal sistema, ao se reproduzir, reproduzisse também, o tempo todo, enormes crises: sociais, políticas, econômicas, ecológicas e outras. O capitalismo, ao transformar tudo em mercadorias, "coisificou" as relações entre as pessoas e, com isso, desumanizou essas relações, incorporando, inclusive, em seu favor, todas as formas anteriores de discriminação e preconceitos, como o racismo, o machismo, a misoginia, entre outros, além dos privilégios estatais, estamentais e de castas.
Contudo, a meu ver, a característica mais importante desse sistema é a produção e a reprodução alienada, fetichista, irrefletida, das mercadorias ou das riquezas. Uma relação na qual uma classe social - o proletariado - produz todas as riquezas do mundo, de forma "livre", mas não se apropria dessas riquezas, que se transferem para as poucas mãos daqueles que nada produzem - a burguesia, ou, se preferirem, numa expressão mais atualizada, dos poucos e grandes bilionários da oligarquia financeira mundial. Somente essa característica da alienação, da forma irrefletida e impensada, que envolve todos os poros da reprodução e das relações capitalistas, pode explicar porque motivo a parte amplamente majoritária da sociedade concorda em se submeter diariamente, de sol a sol, ou de lua a lua, a essa forma de vida amplamente desfavorável a essa maioria.
Poder-se-á argumentar, a priori, e também de forma pouco refletida, que não há escolha por parte do proletariado, que, não possuindo os meios de produção (fábricas, máquinas, terras, etc.), precisa vender sua força de trabalho para ganhar o sustento diário. De fato, é essa a aparência real ou a real aparência que se tem do sistema capitalista, sobretudo quando se trata do indivíduo isoladamente, subordinado a toda forma de pressão e cerco ideológico, material e espiritual. Mas, essa conclusão pode ser real e ao mesmo tempo superficial, uma vez que não considera, dialeticamente, a possibilidade real dessa maioria assumir uma consciência crítica, individual e coletivamente, e buscar alternativa a esse sistema, construindo uma outra relação, de solidariedade e não mais de exploração de classe. Como dizia o poeta Bertolt Brecht, "o que é, exatamente por ser como é, não vai ficar tal como está." Será?
De fato, essa tem sido a luta e a busca e o sonho de milhares de pessoas, sobretudo dos de baixo, ao longo dos últimos séculos. Desde os movimentos de libertação nacional, no combate ao colonialismo, passando por projetos reformistas de pequena monta, até as propostas mais ousadas, de revoluções proletárias defendidas por grupos e partidos de esquerda tidos como mais radicais. Os fundadores da crítica radical do capitalismo, Marx e Engels, por exemplo, sempre defenderam a emancipação proletária das garras do capital para a construção de um outro sistema mundial, comunista, que seria caracterizado pela livre associação de bilhões de pessoas, num mundo sem fronteiras, sem amos e sem senhores, sem explorados, nem exploradores.
Contudo, mesmo Marx e Engels, e mais tarde seus seguidores de forma mais acentuada, viam com bons olhos o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas nos países onde ainda era incipiente tal desenvolvimento. O universo mais próximo dos fundadores da crítica radical do capital era sobretudo a Europa, assim mesmo em alguns países ocidentais, enquanto nas Américas, os Estados Unidos ainda não tinham a força adquirida sobretudo durante e após a Segunda grande guerra mundial. Há, no entanto, que se observar que as diferenças no desenvolvimento entre os diversos países, ao invés de representarem um peso morto para a revalorização do dinheiro, eram (são), na verdade, uma forma de complementação, de desenvolvimento desigual e combinado dentro de um mesmo sistema mundial em diferentes territórios. Alguns, oferecendo mão de obra barata e matéria-prima, enquanto outros, oferecendo financiamento e produtos industrializados; ambos os grupos de países, porém, como parte de um mesmo sistema mundial, o capitalismo. Mesmo no interior de cada um desses países, há diferenças gritantes nos diversos processos produtivos, com setores de ponta da economia informatizada convivendo com formas rudimentares e artesanais de produção. Nada disso se torna obstáculo para o processo continuado de exploração da mais-valia (parte da força de trabalho que a burguesia não paga aos trabalhadores) relativa e absoluta, da concentração de riquezas em poucas mãos, e da reprodução, enfim, do valor-mercadoria.
As esquerdas em geral, após o advento da Revolução Russa de 1917, que acabou tendo que se conformar aos limites nacionais, adotaram, como critério geral, a revolução proletária nacional como objetivo estratégico para se chegar ao que se convencionou chamar de socialismo. As experiências históricas mundiais - que Marx e Engels não chegaram a conhecer, das conquistas de poder pelos partidos de esquerda ou comunistas na China, na Rússia, em Cuba, ou no Vietnã, para ficarmos nesses exemplos -, embora sejam apontadas como experiências de mudança de sistema, no fundo, como analisei superficialmente em crônicas anteriores, não saíram um milímetro sequer do sistema mundial do capitalismo. Na minha avaliação, o que houve ali, naqueles países, foi uma mudança de gestão do capitalismo, com teor social acentuado, no âmbito dessas diferentes nacionalidades. Mas, não houve, como não poderia deixar de ser, já que o capitalismo é um sistema mundial, uma real mudança nas relações sociais, que continuaram subordinadas à forma-mercadoria, irrefletida, hierárquica e não solidária. Nem precisamos mencionar as carências materiais nesses países em função do bloqueio imposto pelo imperialismo estadunidense e seus aliados europeus - o que mostra os limites, mesmo no âmbito da revalorização do valor-dinheiro, das revoluções nacionais.
Se há uma coisa que a experiência histórica mundial deveria ter despertado em toda a esquerda - e que infelizmente não aconteceu - é que não há solução definitiva no âmbito nacional, a não ser as possibilidades de resistência e de conquistas limitadas às realidades concretas dessas frações nacionais do capitalismo.
Boa parte da esquerda tenta recuperar ou compensar o passado da derrota a que foi submetida a experiência russa-soviética, com projetos nacionalistas de poder e desenvolvimento das forças produtivas "nacionais". Argumentam que é necessário que haja um "desenvolvimento soberano" do Brasil, para romper a "dependência" econômica, política e tecnológica do país em relação aos países centrais do imperialismo. E passam a defender que o proletariado tome essa bandeira em suas mãos, como fim em si mesmo. Ou seja, "educam" parcela do proletariado a querer desenvolver uma maior produtividade na concorrência mundial do capitalismo, onde as grandes vítimas serão, sempre, os trabalhadores, seja aqui, ou na China, ou nos EUA, ou na Alemanha ou onde quer que tomem como "exemplo" de desenvolvimento "autônomo". Não por causa deste ou daquele governo, mas pelas consequências advindas da reprodução do dinheiro, das relações capitalistas, enfim.
Com essa retórica, esses grupos políticos acabam se tornando, inconscientemente, muito mais parceiros do grande capital mundial do que construtores de um projeto realmente emancipatório do proletariado.
Quando assisto aos diversos programas nos canais do youtube das diferentes forças de esquerda brasileiras - que, diga-se, são bem mais avançadas do que as esquerdas europeias -, o que vejo? O diagnóstico das diferentes crises do capital como fim em si mesmo. E quando apontam um suposto caminho para "superar" essas crises, percebe-se que este desejo de superar a crise do capitalismo se dá dentro do capitalismo, ou seja, querem administrar e não sair do capitalismo. Sempre apontam para modelos que, à luz da experiência histórica, fracassaram. Modelos como: construir um partido proletário, para tomar o poder político e executar um programa nacional que garanta aos de baixo melhores condições de vida. Mais ou menos o que o PT, em menor escala, já faz, sem precisar passar por revoluções e tomadas violentas de poder. É por isso que respeitosamente tenho caracterizado a diferença entre o PT, o Psol, o PCdoB e as esquerdas ditas radicais como sendo apenas de intensidade. Ou seja, atuam na mesma frequência, apenas com diferenças programáticas, a que chamam de reformas estruturais mais profundas, porém no interior do capital.
A grande questão, contudo, que os comunistas devem colocar para a reflexão crítica da humanidade, sobretudo para o proletariado, é: onde está a porta de saída desse sistema?
Está evidente, para mim, que, enquanto não encontrarmos a melhor resposta para esse problema, para essa pergunta, devemos continuar contribuindo da melhor forma com a resistência coletiva dos de baixo aos ataques do capital onde quer que eles ocorram - ou seja, em todas as partes do planeta; e também devemos lutar para arrancar conquistas imediatas para assegurar melhores condições de vida e de combate aos de baixo. E prestar ativa solidariedade às lutas de todos os povos oprimidos, como é o caso dos palestinos, que enfrentam corajosamente essa invenção colonial-imperialista e racista conhecida como "israel", sobre cujo tema temos abordado em diversos textos. Mas, de maneira alguma as diferentes formas de resistência e de conquistas no interior do capital podem ser vistas como objetivo estratégico, como um fim em si mesmo, como na maioria das vezes se torna na vida das pessoas.
Todo proletário consciente tem o dever de colocar esse problema: como sair do capitalismo?
Eu me arrisco a apresentar algumas respostas para essa pergunta. Uma delas: só é possível sair do capitalismo em escala mundial, de forma coletiva - não unânime, claro, mas com o engajamento da maioria dos de baixo em escala mundial. Um forte movimento, local e mundial, voltado para este objetivo, de esmagar o capital e construir outras relações sociais, comunistas. Segundo: não existem etapas intermediárias entre o capitalismo e o comunismo. As experiências de governos conhecidas como "socialismo" nada mais são do que diferentes formas de gestão proletária ou popular do estado capitalista no âmbito nacional. Essas experiências não rompem, não saem do capitalismo, embora representem avanços imediatos e possam proporcionar melhorias na qualidade de vida para a maioria dos trabalhadores daquelas frações nacionais cujos povos conquistaram essas formas de gestão social mais avançada do capital. Mas, não representam superação, rompimento ou forma intermediária entre capitalismo e comunismo. Terceiro: o mundo inteiro já está materialmente preparado para sair do capitalismo - não há que se criar nenhuma teoria para desenvolver mais ou menos a industrialização ou as forças produtivas nesse ou naquele país como condição para sairmos do capitalismo. As condições objetivas e materiais para a superação mundial do capital estão dadas há muito tempo. Mas, sem uma ação coletiva, consciente e organizada dos de baixo para este fim, o capitalismo não deixará de existir. Quarto: para a saída definitiva do capital é essencial que haja a construção de uma consciência crítica individual e coletiva por parte dos de baixo em escala mundial. Entenda-se, como "consciência crítica", neste caso, não só a consciência da condição de classe proletária explorada, mas da necessidade e da possibilidade real de sairmos do capitalismo. E a partir dessa consciência crítica, nos organizarmos e nos prepararmos mundialmente para destruir o capital de forma definitiva. As lutas de classes, em si, não conduzem necessariamente à superação do capitalismo. Elas estão inseridas no processo de revalorização do valor-dinheiro. Somente quando o sujeito principal dessas lutas, o proletariado mundial, adquire consciência de que é preciso superar, sair, romper de forma definitiva com esse sistema é que se pode organizar e planejar essa saída revolucionária para um outro sistema.
Poder-se-á argumentar que boa parte do proletariado já tem essa consciência. Não é o que parece, pois, do contrário haveria grande movimentação mundial para esse fim - o que não se tem observado, até a presente data. Não que eu tenha percebido, pelo menos. Manifestações espontâneas de resistência e de protestos são normalmente absorvidas pelo automovimento do capital. Para a maior parte da esquerda mundial, por exemplo, que organiza ou influencia boa parcela do proletariado avançado, a ideia de emancipação passa pela tomada do poder. Essas diferentes formas de poder que se constituíram no capitalismo são, na verdade, a expressão política de uma dominação de classe. É a expressão de uma sociedade alienada. Nós, comunistas, não queremos nem precisamos de outra forma de dominação de classe, seja ela burguesa ou proletária: nós queremos uma sociedade sem classes, portanto, sem explorados e sem exploradores.
Argumentam alguns que o poder proletário se faz necessário para esmagar as forças do atraso, burguesas, que de tudo farão para destruir esse novo poder. De fato, a experiência prática nos mostrou exatamente isso, uma vez que ambos os poderes - burguês ou proletário - agiram e agem na mesma frequência, no mesmo universo do domínio capitalista.
Quando o objetivo colocado é o de tomar o poder político para gerir a crise do capitalismo no âmbito nacional, obviamente que a disputa com as forças reacionárias se torna um problema real, uma vez que essa disputa se dá no terreno da reprodução do dinheiro, o que favorece as forças reacionárias, que têm grande poder econômico, midiático e militar-repressivo para impor boicotes, chantagens e terror de todas as formas, como fazem com frequência. Enquanto meio tático de resistência e de enfrentamento no interior do capital, é óbvio que o proletariado deve lançar mão das diferentes formas de luta e ampliar seu espaço de ação e de conquistas.
Contudo, para sair do capitalismo o proletariado terá que esmagar todos os poderes da burguesia de uma maneira mais prática e direta, usando principalmente o poder real que o proletariado possui e do qual não tem consciência, ainda, e por isso mesmo age de forma irrefletida: o poder de produzir as riquezas (mercadorias) do mundo. Vejam a diferença: tomar o poder em escala nacional como objetivo estratégico fará com que o proletariado lute para manter esse poder quase sempre como um fim em si mesmo, com as limitações próprias de uma dominação que não rompe com o capitalismo e age na mesma frequência, em condições desfavoráveis, sofrendo, em geral, grandes derrotas e causando a impressão equivocada de que não é possível superar o capitalismo. Quando a estratégia está errada, a consequência é a derrota do proletariado!
Agora imaginemos que, ao invés de concentrar todas as forças na tomada de poder em escala nacional, por parte dos diferentes agrupamentos de esquerda, houvesse o empenho na construção de um grande movimento local e mundial dos de baixo para discutir e organizar o fim das relações capitalistas. Imaginemos uma greve geral em escala mundial, cuidadosamente preparada. Bilhões de pessoas envolvidas, provocando um colapso na produção e na reprodução das mercadorias, incluindo a prestação de serviços os mais variados. "Tudo o que era sólido desmancha no ar" (Marx e Engels). O que poderia fazer a minoria burguesa, por mais poderosa que seja, uma vez que esse poder (da burguesia) está assentado no nosso inconsciente consentimento em continuar reproduzindo para um sistema que não nos favorece? Eles podem espernear, podem gritar, podem ameaçar, podem implorar, mas, no final, vão ter que se render, de forma absoluta, quanto mais forte for esse movimento emancipatório dos de baixo. Era isso o que Marx e Engels apregoavam quando gritavam desesperadamente para o mundo: proletários de todo o planeta: uni-vos!, para se livrarem das algemas do capital! Eles tinham na mira a derrota e a superação de um sistema social mundial, de uma relação social, e não de uma forma diferenciada de gestão nacional desse mesmo sistema.
O grande temor dos capitalistas mais lúcidos não é propriamente a tomada do poder pelo proletariado neste ou naquele país no âmbito do sistema mundial do capital, mas a real mudança das relações sociais, que, no comunismo, se tornam relações de solidariedade, onde as coisas - e não mais mercadorias - passam a ser produzidas de forma refletida, e divididas, de forma planejada e sensível, entre os associados, de acordo com as necessidades de cada um e de todos. Não haverá mais comércio, nem mercado, nem estado, nem mão de obra assalariada, nem hierarquias, nem quaisquer outras formas fetichistas de poder apartado ou destacado que criam privilégios para alguns poucos, em desfavor da maioria.
Este é o mundo que devemos e podemos pensar em construir coletivamente! Porque somos nós que construímos e reconstruímos o mundo e todas as coisas, o tempo todo, e podemos fazê-lo, não submetidos às diferentes formas de alienação e exploração, mas, de forma consciente, associada e solidária, garantindo, a cada um, suas necessidades básicas; e em contrapartida, cada qual dará a sua reduzida cota de jornada de trabalho para a produção coletiva dos bens necessários. Numa relação onde todos, em tendo poder, ninguém terá poder; todos e todas sendo os proprietários de tudo, ninguém será proprietário de nada.
No capitalismo, na sua auto reprodução, todos os nossos movimentos nos conduzem e nos induzem a pensar em poder, em privilégios individuais, em posses particulares, em títulos acadêmicos, em cargos de chefias e outras formas de ser, de ter e de pensar egoisticamente. Isso tudo é próprio desse sistema, que reproduz esses valores nas nossas vidas pessoais, materiais e espirituais. Quando adquirir a consciência dessa realidade e buscar construir outras relações, refletidas e solidárias, que superem essa forma coisificada e mercadológica de viver, a humanidade dará um avançado passo na direção da superação desse sistema. Será o verdadeiro rompimento com a pré-história da humanidade, até então, história das relações fetichizadas, alienadas, irrefletidas. Num mundo pós-capital, baseado em relações solidárias, conscientes, todos esses valores anteriores se desmancham no ar, perdem o sentido e ganham força as relações sensíveis, humanizadas. Somente numa sociedade assim, comunista, poderá nascer, de fato, uma humanidade realmente humanizada. Um mundo sem classes, sem fronteiras, sem amos, sem senhores, sem explorados ou oprimidos. O proletariado mundial precisa urgentemente descobrir onde está a porta de saída do capitalismo... e enfiar o pé!
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
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Como seria uma sociedade comunista...
Enquanto esquerda e direita brigam no interior do capitalismo, como fim em si mesmo, imaginemos como seria uma sociedade pós-capital, uma relação social comunista.
(Euler Conrado, em 12/07/2024)
A humanidade finalmente, especialmente a maioria dos de baixo, teria conseguido o grande sonho de se libertar das algemas do capital. Um fortíssimo movimento internacional, sustentado por cerca de 5 milhões de conselhos populares associados e espalhados por todo o planeta, cada qual com uma média de mil pessoas, resolveu colocar em marcha a grande estratégia de derrotar mundialmente o sistema capitalista. Visto agora, nos dias seguintes, percebe-se que foi um plano belíssimo, muito bem elaborado, amplamente discutido e construído socialmente com a participação direta e horizontal de bilhões de pessoas, formadas anteriormente pelo que chamávamos de "proletários": trabalhadores assalariados, uberizados, desempregados, aposentados do INSS e afins, trabalhadores informais, servidores públicos, operários das poucas fábricas que restaram, profissionais autônomos e um sem número de estudantes, trabalhadores rurais, camponeses, donas de casa e moradores, enfim, dos bairros populares e conhecidos como periféricos. Ou seja, bilhões de pessoas em todo o planeta, cuja fonte de renda e sobrevivência dependia da venda de sua força de trabalho - ou dos projetos sociais das políticas públicas implementadas sobretudo pelos governos de esquerda - conseguiram, finalmente, construir um grande movimento local e mundial com dois objetivos: 1) no plano imediato, resistir e conquistar dentro do capitalismo; 2) no plano também imediato e em escala local e mundial, preparar a saída do capitalismo para a construção de uma outra relação social, comunista. Apesar de toda a ira da minoria burguesa, que se apropriava da força de trabalho alheia coagulada nas mercadorias e na sua expressão monetária, o dinheiro, não houve como deter essa pujante expressão da vontade e da força majoritária da população mundial.
A destruição do capitalismo havia passado por uma série de ações envolvendo a mobilização desses milhões de conselhos populares, que reunia bilhões de pessoas livremente associadas. Boicotes internacionais contra grandes empresas financiadoras de guerras e genocídios, levando-as à bancarrota; paralisações parciais em escala internacional em solidariedade aos povos oprimidos como os palestinos, impondo importantes derrotas aos inimigos do povo, como o sionismo e o imperialismo; até que uma grande e decisiva greve geral em escala mundial por tempo indeterminado foi decidida pelo conselho geral dos conselhos populares, órgão temporário que reúne centenas de membros representativos e removíveis a qualquer tempo por esses milhões de conselhos. Antes de iniciar essa paralisação mundial, os bilhões de membros dos conselhos trataram de preparar as condições para garantir o sucesso do movimento: na área da segurança, da alimentação, com estoques para vários meses, além de uma longa programação em forma de assembleias permanentes desses conselhos nas praças públicas, mantendo a interligação e o diálogo horizontal entre os diversos coletivos.
No final, apesar das ameaças, gritarias das mídias do capital, ataques covardes, repressão e apelos dramáticos, embates de rua e debates públicos, os comunistas venceram a guerra final. Foram necessários apenas três meses e meio de paralisação total do planeta para que os trilhões de dólares acumulados por alguns poucos burgueses derretessem feito castelo à beira do mar. Sem ter pessoas para trabalhar pra eles, sem ter pessoas pra comprar as mercadorias e, diante da exposição pública, demonstrando que esses poucos bilionários são absolutamente dispensáveis, o sistema, incluindo seus aparatos de poder e o próprio mercado, ruiu. Uma rendição absoluta, que envolveu, ao final, um acordo simbólico: eles teriam direito a ficar com uma de suas casas, à escolha deles, e com um dos seus automóveis de luxo. Vejam que generosidade a dos de baixo!! Teriam direito também de guardar, no quintal da mansão escolhida, os bilhões de dólares estocados, que nas noites mais frias de inverno poderiam servir de combustível para o aquecimento. No mais, todos, absolutamente todos estariam integrados ao novo sistema, a nova relação social que acabara de nascer, com a vitória total dos de baixo unidos e organizados nos 5 milhões de conselhos populares.
Grandes festas e discursos inflamados e emocionantes foram realizados durante vários dias e noites em todo o planeta para comemorar o nascimento de um novo mundo, da nova relação social, solidária, comunista, que acabara de ganhar vida. Bandas de músicas, desfiles de todas as tribos, grupos regionais, exibiam sua alegria ao livrar-se, para sempre, do terror capitalista.
Nos estudos anteriores organizados coletivamente pelos conselhos populares, chegara-se ao resultado do que seria necessário para garantir uma vida digna para toda a humanidade. Num prazo não maior do que cinco anos, serão construídas tantas habitações populares quantas forem necessárias para que todas as famílias e pessoas sem família tenham onde morar. Em alguns casos, bastará construir alojamentos provisórios, mas bem confortáveis. As demais necessidades básicas - comida, vestimenta, produtos de limpeza e de higiene pessoal - seriam retiradas num dos milhões de armazéns populares controlados diretamente pelos conselhos populares de cada região. No caso da alimentação, a pessoa poderá escolher entre a retirada total de produtos para todo o mês, ou simplesmente se dirigir a uma das milhares de cantinas populares onde são servidas três refeições por dia: o café da manhã muito caprichado, o almoço e o jantar, com variado cardápio. Basta apenas fazer a reserva previamente pela internet até preencher o número de vagas daquele dia.
Nesses estudos iniciais realizados pelos conselhos populares interligados pelas redes em escala local e mundial, se concluiu que, para suprir as necessidades básicas de toda a humanidade - transporte público, alimentação, vestuário, saúde, educação, lazer e etc. - seria necessário uma jornada de trabalho em média de apenas 8 horas semanais para cada pessoa adulta, entre 16 e 60 anos, em escala mundial. Essa jornada poderá ser cumprida em um dia por semana, apenas, ou em dois dias, sendo 4 horas por dia, com folga nos outros cinco dias; ou em 40 horas por semana (8 horas por dia durante cinco dias) com direito, nesse caso, a três semanas (ou 25 dias, incluindo os sábados e domingos) de folga. Ou seja: uma folga mensal de 25 dias! Tudo o que eu sempre sonhei enquanto trabalhador assalariado! Numa escala de revezamento nas diferentes áreas de produção social, discutida, programada, planejada e elaborada pelos conselhos populares, interligados e associados entre si em escala mundial. O importante é que todos participem desse processo, de forma democrática e horizontal. Nada é imposto para ninguém. Há espaço para todas e todos. As pessoas discutem, planejam e executam diretamente as diferentes tarefas, obviamente que se apropriando e compartilhando entre todos os avanços da ciência e da técnica que os trabalhadores produziram nos últimos séculos.
Uma vez abolida a forma-mercadoria, toda a produção de bens úteis, não mais mercadorias, passa por um plano local e mundial voltado para o atendimento das necessidades básicas de toda a humanidade. O transporte público de forma variada, de qualidade, eficiente e gratuito - como todas as outras coisas - passou a ocupar o lugar da produção de veículos individuais, sejam populares ou de luxo; a alimentação de todos, garantindo a quantidade necessária de proteínas, foi assegurada para todas e todos, sem quaisquer condições de crise, uma vez que os territórios de todo o planeta estão a serviço de toda a humanidade e não mais de uma minoria, que, num passado não muito distante, só visava lucros e mais lucros. Não há mais concorrência entre grupos empresariais, que deixaram de existir. A questão ecológica, finalmente, passou a ser tratada de forma séria, com a proibição de agrotóxicos, de desmatamentos e de destruição ambiental. Os conselhos populares discutem e socializam as melhores soluções, locais e mundiais, para manter os rios limpos, para realizar as coletas de lixo de forma correta, com processos de reaproveitamento e o adequado tratamento sanitário.
Como todos nós pudemos presenciar durante vários meses antes da grande revolução comunista, que derrotou para sempre o capital mundialmente, os conselhos populares passaram a se reunir com certa frequência. Nesses encontros, cada vez mais valorizados pelos de baixo, todos os assuntos comuns eram discutidos: o problema da água, da luz, da internet, da alimentação, do transporte, da moradia, da saúde, da educação, da segurança, das discriminações, dos abusos, do desemprego, isso ainda dentro do capitalismo, claro. Obviamente que se sabia que no interior daquele sistema horroroso dificilmente chegaríamos a solucionar esses problemas para todos. Mas, eles eram colocados, discutidos, e alguns avanços eram conquistados.
Contudo, os conselhos foram além desses problemas comuns. Tornaram-se palco de manifestações artísticas e culturais, da história e da memória coletiva e individual, de valorização das diferentes propostas, com a preocupação de que todas e todas tivessem espaço, fossem respeitados. Os conselhos se tornavam, assim, o embrião da nova e nascente relação social: sem chefes, sem donos, sem a mediação do dinheiro. Em cada encontro, uma mesa, sempre em rodízio, se formava apenas para coordenar os trabalhos. Três a cinco pessoas faziam o registro em ata para não deixar escapar nenhuma fala. A prática do compartilhamento de comida, de cafés, de lanches, além das ideias, tornara-se frequente. Quando, finalmente, a nova relação comunista tem de fato um início em escala global, seus principais instrumentos de sustentação já estavam de pé: os conselhos populares, formados pelos moradores dos bairros, ou trabalhadores das diferentes categorias, ou estudantes em cada escola ou bairro, ou os trabalhadores rurais de cada região.
Os princípios básicos dessa nova associação livre de bilhões de pessoas são: 1) todos e todas devem estar ligados a algum conselho popular - é ali, onde as pessoas se encontram para discutir problemas comuns, se educam, compartilham experiências, sonhos e tristezas; 2) todas e todos devem oferecer, em contrapartida à retirada de todos os bens necessários para uma vida digna, uma jornada de trabalho de cerca de 8 horas semanais - em alguns casos essa jornada poderá variar entre 4, 6, 8 ou até 10 horas semanais. Mas, em média, a jornada é de 8 horas semanais para a pessoa adulta entre 16 e 60 anos. Crianças e idosos não precisam apresentar essa contrapartida, mas podem, se quiserem, como todas as outras pessoas, se apresentarem de forma voluntária para as diferentes ações produtivas.
Como se percebe, nesse novo mundo, todas as pessoas do planeta, além das necessidades básicas asseguradas, têm agora enorme tempo livre para poderem usufruir de forma plena de todas as riquezas culturais, materiais e espirituais, produzidas individual e coletivamente pela humanidade. Todas as regiões do planeta oferecem escolas livres de cultura, de artes, de literatura; hospedagem coletiva para receber os visitantes e espaços públicos para a fruição de lazer, artes, ofícios e memórias. Redes de hospitais e postos de saúde estão espalhadas pelo planeta para o atendimento universal e gratuito. Uma vez que a forma-dinheiro fora abolida, não há mais comércio, nem venda, nem compra de quaisquer produtos: tudo é gratuito para todas e todos. Todos nós produzimos todos os bens, todas as riquezas do mundo e repartimos e compartilhamos entre nós, de forma organizada, refletida, planejada, ecologicamente correta e coletivamente administrada, para garantir que todos tenham acesso a tudo. Ninguém precisa acumular nada. Quando tudo pertence a todos, nada pertence a ninguém. O dinheiro de papel ou fictício, deixou de existir, assim como não há mais patrões, nem mão de obra assalariada. Ninguém é empregado de ninguém. Um mundo sem amos e sem escravos!
Uma das preocupações surgidas nesses conselhos populares ainda dentro do finado capitalismo era a de garantir uma comunicação mundial de todas as pessoas. Fica difícil construir um movimento de unidade internacional se as pessoas não falam uma mesma língua, literalmente. Por isso foi adotada uma língua comum, que toda a humanidade pudesse falar, sem prejuízo das diferentes línguas de cada região. Uma vez que nessa nossa nova sociedade comunista todas as fronteiras foram abolidas, temos que nos sentir em casa onde quer que estejamos. E poder conversar diretamente com qualquer pessoa do planeta é algo fundamental. A partir dessa conquista, as pessoas podem viajar para qualquer parte do planeta, conhecer de perto diferentes manifestações culturais, prédios, locais históricos que registram o passado capitalista, com suas barbáries, mas também com o legado histórico de resistências e conquistas, além do rico e variado acervo arquitetônico, que fora construído coletivamente pelos trabalhadores, embora estivesse de posse de alguns poucos, até então. Agora, os grandes castelos e obras faraônicas, fossem de indivíduos burgueses ou do estado, tornaram-se obras públicas para a visitação ou o aproveitamento nas áreas educativas, de lazer ou de saúde pública. Um patrimônio de todos. E de ninguém.
Impressionante o aumento das ações esportivas, artísticas, culturais, literárias, enfim, que acontecem todos os dias e noites em todo o planeta. Ninguém dá conta de acompanhar tudo ao mesmo tempo. Eu até que tento, mas não consigo. Que bom que seja assim! O mundo, ao que parece, tornara-se um grande festival em tempo integral. Há uma riqueza cultural, que já sabíamos que existia, mas que agora está ao alcance imediato de qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Teatros, cinemas, óperas, danças, festas regionais e populares, festivais de esportes, tudo, tanta coisa... nada mais é movido pelo dinheiro, pela disputa mercantil, mas pelo prazer de compartilhar com o próximo... os sonhos, as alegrias, as tristezas, as dores, as belezas, tudo o que é humano.
Ninguém mais pensa em comprar, vender, acumular riqueza pessoal. Pra quê? Não existe mais esse mundo. Tudo pertence a todos. E a ninguém ao mesmo tempo. Eu posso viajar para Paris, ou para a Palestina Livre, ou para Guiné Bissau, ou para a China, ou para a Bahia, ou para Cuba, sem ter a necessidade de ser o dono do avião, ou ter um apartamento nesses locais, ou comprar o hotel onde ficarei hospedado por alguns dias, apenas. Vou, interajo com as pessoas por lá, e volto. Ou até posso ficar, se achar melhor. Pronto. Só tenho que estar ligado a um conselho popular, reorganizar minha jornada básica de trabalho (se bem que no meu caso, já nem preciso mais cumprir esse quesito kakaka) e pronto. Participar das assembleias públicas, sempre horizontais, dos debates temáticos, contribuir da forma que puder, voluntariamente, e usufruir desse grande festival em escala local e mundial que se tornara o novo mundo.
Não há mais crise sistêmica. Não há mais capital. Não há mais assaltos. Não há mais pessoas passando fome. Não há mais falta de médicos ou professores. Não há mais estado, nem mercado, nem hierarquias, nem guerras, nem fronteiras entre países, nem divisão social e de poder entre as pessoas, o que sempre acaba gerando privilégios e abusos. Somos todos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Não há porquê discriminar ninguém. Somos todos parte de uma mesma humanidade agora finalmente humanizada.
- Acorda, Euler!!!
Este seria o mundo que nós imaginamos que poderia acontecer, caso conseguíssemos nos despir dessa fantasia com os odores fétidos do capital. Somos nós, a maioria trabalhadora, que produzimos todas as riquezas do mundo, e que ainda mantemos de pé esse sistema invertido que se volta contra nós. Ao contrário do que muitos pensam, somos nós que mantemos esse sistema, não os capitalistas. Eles simplesmente se aproveitam da nossa ignorância coletiva, desses nossos fazeres irrefletidos, alienados, sugados pelo automovimento do capital, do valor-dinheiro, que recria a nossa submissão diária a esse inferno que ainda não conseguimos vencer. Esquerda e direita brigam no mesmo palco. A direita, por razões óbvias, não quer sair do capital, uma vez que é a grande beneficiária desse sistema - pelo menos os burgueses, já que a massa pobre que apoia a direita é não apenas explorada, como bajula seus algozes. Já a esquerda, embora defenda teoricamente a superação do capitalismo, infelizmente, até o momento, continua capturada por projetos que se mantêm presos ao redemoinho do capital. Ou seja: não enxergou, até agora, para além da caverna. Claro que é preciso travar o bom combate de classe todos os dias, enfrentar o capital, derrotar a extrema-direita e o neoliberalismo onde quer que eles se manifestem. Mas, essa luta, necessária, é intestina, está presa ao capitalismo. Socorro! Onde está a porta de saída desses "moinhos satânicos" (Marx)? As experiências de tomada de poder em escala nacional não levaram à superação do capital. Pelo contrário: criaram uma falsa expectativa de que se tratava da criação de um outro sistema, quando na verdade se tratava e se trata mesmo é de uma diferente gestão, no âmbito nacional, do carcomido capitalismo. Por isso, a conclusão: esquerda e direita, embora defendendo interesses contraditórios no interior do capital, brigam no mesmo palco, sem perspectiva de saída. É preciso encontrar a porta de saída desse sistema! Saber combinar as lutas imediatas de resistência e de conquistas no interior do capital, com a construção da unidade dos de baixo em escala mundial para superar o capital e construir outras relações sociais, solidárias, comunistas. Para que o sonho se torne realidade!
Forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
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Reconstruir o sonho de uma outra sociedade...
1) Organizar coletivamente os de baixo para resistir e conquistar no interior do capitalismo e...
2) preparar as condições, em escala mundial, para a saída definitiva desse sistema...
3) Todo apoio ao povo palestino na sua heroica luta de resistência contra o terror sionista - colonialista e racista - e imperialista... Palestina livre, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo!
Como se percebe, são muitos os temas que procuraremos abordar nesse breve texto. O primeiro deles, o sonho de uma outra sociedade, comunista, solidária, onde toda a humanidade, emancipada do terror capitalista, construirá uma outra relação social, uma gigantesca associação horizontal, em escala local e mundial, de pessoas livres, sem explorados nem exploradores. Quando falamos essas palavras - e cada vez se fala menos sobre essa possibilidade, mesmo entre os chamados comunistas - as pessoas dizem que é uma utopia, algo impossível. Será mesmo? Por que as pessoas pensam assim? Por uma razão aparentemente simples: somos formados dentro de uma ordem social, moral, religiosa, política e ideológica que nos educa a pensar assim, segundo as normas do capital. Somos levados a acreditar que jamais seremos capazes de construir uma sociedade baseada numa relação solidária, ao invés dessa que conhecemos, que é o capitalismo, uma relação de exploração alheia, de total alienação, que reforça e reproduz o egoísmo, o ódio, as guerras, e as piores práticas, embora nunca tenha deixado de haver resistências, conquistas e manifestações de solidariedade humana por parte dos de baixo.
Reparem o quanto é curioso o fato de uma parcela muito grande da população brasileira e mundial acreditar num paraíso no Céu, pós-morte, mas, essas mesmas pessoas têm dificuldade de acreditar num paraíso terrestre, que fosse construído por todos nós. Utopia?... Reparem, ainda, que no capitalismo, o mundo está invertido: todos nós, a grande maioria da população, os de baixo, portanto, que produzimos todas as riquezas do mundo, não nos apropriamos dessas riquezas, enquanto a minoria - a burguesia, o grande capital, portanto, que nada produz, se apropria de quase tudo o que produzimos. Os Elon Musk da vida acumulam fortuna próxima de 200 bilhões de dólares, que, obviamente, não foi fruto do trabalho individual dele, que, como disse o deputado Chico Vigilante de Brasília, "é um vagabundo" (kakaka!). Só para se ter uma ideia do que representa esse patrimônio, se o sr. Musk gastasse 1 milhão de reais por mês, levaria cerca de 83 mil anos para consumir toda a fortuna acumulada. O mundo tem hoje, segundo a revista Forbes, apenas 2.800 bilionários (com um bilhão de dólares ou mais). Musk é o segundo da lista. Somadas as fortunas desses poucos bilionários, supera em muito o PIB de dezenas de países.
Nos seus estudos, Marx e Engels explicam como se deu, ao longo dos últimos séculos, esse processo de concentração e centralização, por alguns poucos, das riquezas produzidas por toda a humanidade. Racionalmente, deveríamos nos perguntar todos os dias e noites como é possível que um mundo invertido assim se mantenha de pé por tanto tempo? Somente um longo processo "civilizatório" (muitas aspas, carregadas de sangue e de lágrimas), de convencimento ideológico, sustentado pelo automovimento da reprodução do capital, poderia garantir essa proeza, de bilhões de pessoas que produzem todas as riquezas do mundo, consentirem que uma ínfima minoria que nada produz se aproprie da maior parte dessas riquezas. Isso sim, num outro momento, se sobrevivermos ao terror capitalista e construirmos uma outra relação social, será objeto de questionamento: como foi possível que durante tanto tempo um número tão grande de pessoas se sujeitou a um sistema claramente desvantajoso em todos os aspectos para a maioria da população e amplamente abundante e generoso para uma minoria que nada produz?
Claro que qualquer iniciado - meu caso - na literatura marxiana, ou até mesmo um não iniciado, mas que tenha sensibilidade e raciocínio lógico, verá que tal injustiça se mantém por conta de vários mecanismos, que incluem desde o convencimento ideológico, passando pela violência do estado contra os rebeldes e pela alienação das pessoas em relação aos seus fazeres cotidianos. De alguma forma, os trabalhadores, pela intuição de classe, percebem que são explorados, embora nem sempre entendam como se dá esse processo de exploração a que estão (estamos) submetidos. Marx explica isso em seus estudos: a acumulação de riquezas se dá, em grande parte, através da exploração alheia, da mais-valia, ou seja, da apropriação, pela burguesia (empresários), daquele tempo de trabalho que ela não paga à classe trabalhadora. Num rápido exemplo: o capitalista contrata um trabalhador para uma jornada mensal de 180 horas por um salário de 2.000 reais. A depender da tecnologia e da produtividade média, em poucas horas de trabalho - suponhamos que em 10 horas - o trabalhador já produziu o suficiente para pagar o seu próprio salário de 2.000 reais. As outras 170 horas ele continua trabalhando sem receber um centavo sequer. O capitalista vai usar uma parte desse excedente para pagar o aluguel do galpão, o financiamento bancário que usou para comprar a matéria-prima e as máquinas, os impostos e o restante será o seu lucro líquido. Ou seja, foi o trabalhador, com sua força de trabalho quem produziu as mercadorias cujo valor de venda, ou de troca (desse trabalho abstrato coagulado nas mercadorias) bancou tanto o pagamento do próprio salário dos trabalhadores, quanto todos os outros gastos e também o lucro do capitalista, que nem precisa estar no local da produção - pode estar numa praia com a família curtindo a vida enquanto os trabalhadores estão ali, de sol a sol, "ralando" sem parar e ganhando o suficiente apenas para se manterem vivos e continuarem alienando a sua força de trabalho, o seu precioso tempo, para o deleite dos capitalistas.
Esse foi um exemplo bem simples. Os capitalistas acumulam e concentram capitais também de outras formas: no comércio - quando igualmente exploram seus trabalhadores, nos serviços ou aplicativos, como Uber - onde há uma super exploração sem garantir quaisquer direitos aos trabalhadores, que nem se consideram às vezes proletários -; em aplicações financeiras como os juros bancários ou títulos da dívida pública, quando os capitalistas abocanham a maior parte dos impostos que toda a população paga; além, obviamente, das heranças bilionárias, das políticas belicistas dos estados e também na concorrência entre os diferentes grupos econômicos. Aqui no Brasil, por exemplo, poucas famílias se apropriam de quase um trilhão de reais todos os anos apenas com os juros da dívida pública. É o bolsa família dos ricos. Por isso, o tal mercado - banqueiros, grandes capitalistas nacionais e internacionais - e sua mídia amestrada insistem tanto para que os diferentes governos gastem menos com políticas sociais e trabalhistas e previdenciárias, através de tetos de gastos e austeridade fiscal, para que sobre mais recursos para os donos da dívida pública.
No mundo, milhões de pessoas morrem de fome, ou sobrevivem na miséria, enquanto alguns poucos não conseguem gastar o muito que têm. Apenas o desperdício no consumo de luxo das camadas mais ricas da sociedade daria para resolver o problema da fome e da miséria em escala mundial. Se a humanidade tivesse maturidade política, crítica e sensível para sair do capitalismo e construir uma outra relação social, seria necessário uma jornada de trabalho não maior que 8 ou 10 horas semanais para a produção de bens úteis - não mais mercadorias - que atendessem às necessidades básicas de toda a humanidade, sem exceção. Coisa que jamais ocorrerá no capitalismo, cujas leis intrínsecas fazem reproduzir a acumulação e a centralização de riquezas em poucas mãos, mantendo o fetiche da mercadoria, da coisificação nas relações desumanas próprias do capital.
Construir uma outra sociedade, portanto, não é utopia, é algo possível e necessário até, se quisermos sobreviver com dignidade e usufruir de forma plena das riquezas materiais e culturais que produzimos. Manter o capitalismo, aí sim, é não apenas manter o sofrimento de milhões, mas, é também caminhar para o abismo e para a autodestruição da vida humana no planeta Terra. O capitalismo é irracional, insensível, egoísta e predatório. Não há salvação, nem mesmo para os capitalistas - embora nem eles e nem os trabalhadores tenham consciência disso. Um outro mundo é possível e é urgente que seja pensado criticamente, planejado e construído coletivamente pelos de baixo. Nós produzimos todas as riquezas do mundo, de forma alienada, irrefletida, inconscientemente. É preciso que nos apropriemos coletivamente daquilo que fazemos. É este o nosso real poder, e não as formas externas, como o estado nacional, o mercado e outras formas alienantes de dominação. [Cabe aqui um parêntese para que as pessoas não tirem conclusões apressadas: não estou defendendo o fim do estado ou seu enfraquecimento no interior do capitalismo. O Estado deixará de existir quando forem outras as relações sociais, relações solidárias, comunistas. No capitalismo, o estado nacional pode e deve cumprir, na lógica proletária, um papel de contrapeso ao mercado, com políticas públicas em favor dos de baixo.]
Mas, muitos poderão perguntar: como dar esse passo adiante? O primeiro desafio é colocar em evidência essa pergunta, esse problema. A humanidade só se propõe a resolver os problemas que ela assume como desafio. Reparem que mesmo nas hostes das chamadas esquerdas ninguém mais fala em sair do capitalismo - talvez eu seja um dos últimos (que solitária tristeza, não? Oh céus, oh dor! kakaka). Estão todos e todas preocupados em administrar as crises do capitalismo na sua forma nacional, como fim em si mesmo. É claro que as pessoas cobram respostas imediatas para os problemas imediatos que estão aí, provocados pela reprodução do capital. Problemas de moradia, transporte, emprego, salários, saúde, educação, água, comida, luz e etc. Problemas locais, nacionais e alguns até internacionais. Mas, todos ligados à órbita do capital, da sua reprodução do valor-mercadoria. As esquerdas conseguem até diagnosticar as causas desses problemas - o capitalismo e suas crises existenciais - mas, apresentam como solução a mudança no poder político nos marcos do capital. Ou seja: não propõem sair desse sistema, mas fazer uma gestão diferenciada no interior desse sistema - o que pode até representar pequenos avanços na vida material e espiritual de cada um, mas não nos livra do principal: a relação mundial da forma-capitalista - irrefletida, irracional, egoísta. As esquerdas deveriam colocar esses problemas como resistência e conquista no interior do capital, mas, apontando claramente seu conteúdo, os limites colocados e de como é preciso que nos organizemos em escala local e mundial não apenas para conquistar melhores condições dentro do capitalismo, mas, principalmente, para sairmos do capitalismo.
Mas, para isso, as esquerdas precisam romper com seus próprios dogmas e precisam (precisamos) também superar os equívocos cometidos ao longo das últimas décadas. Entre esses erros, o de acreditar que é possível construir um outro sistema social no âmbito nacional, com a tomada do poder. Todas as experiências com essa finalidade, embora tenham garantido conquistas sociais para os trabalhadores, não lograram sair um centímetro sequer do mundo do capital. Romper com essa formulação teórica é um passo necessário para se construir uma estratégia acertada de combinar a luta imediata, no interior do capitalismo, com a luta essencial, que é a saída do capitalismo em escala mundial. Sem colocar esse objetivo central e estratégico de superação do sistema mundial do capitalismo na ordem do dia, as esquerdas continuarão colhendo ocasionais vitórias e derrotas no interior do capital, num automovimento irrefletido, sem a perspectiva de real superação emancipatória do proletariado do terror capitalista. E muitas vezes, no desespero, alguns setores da esquerda elegerão como inimigo principal não o capital e suas expressões políticas mais reacionárias, como o fascismo ou o sionismo, mas, diferentes gestões mesmo progressistas, como as do PT no Brasil, entre outras.
O grande desafio, portanto, continua sendo nos organizar - por exemplo, em conselhos populares horizontais, não hierárquicos - em escala local e mundial para resistir e conquistar no interior do capitalismo e nos preparar para sair, racional e criticamente, desse sistema. Essa forma imediata de organização, pode se constituir na primeira e embrionária forma organizativa dos de baixo, tendo em vista a construção de uma nova relação social. Milhões de conselhos populares auto organizados e espalhados pelo planeta e interligados em rede, de forma horizontal, certamente saberão (saberemos) preparar todas as condições para derrotar e superar de forma definitiva o sistema capitalista.
Reparem - e já encerrando esse texto - que não abordei aqui em nenhum momento a necessidade de se construir alguma forma de "destacamento avançado", ou de vanguarda do proletariado, como as esquerdas sempre fazem para justificar a construção de partidos políticos. Esses instrumentos podem até ser úteis enquanto proposta de gestão do estado capitalista nas suas frações nacionais. A nossa proposta transcende essa perspectiva. A organização que se deseja é a de toda a classe trabalhadora, em instrumentos públicos e coletivos - como conselhos populares - onde os problemas comuns sejam discutidos coletivamente e cujas soluções também envolvam todas e todos. Não há, portanto, uma crítica moralista aos partidos de esquerda, que cumprem papéis importantes no interior do capital, assim como sindicatos e outras formas de organização popular e proletária. Mas, a formulação sensível e mais adequada de união e de organização dos de baixo, cujo conteúdo de classe é obviamente proletarizado, precisa ser a expressão ou o embrião da nova forma de relação social que desejamos construir. Ou seja, é a união dos de baixo, de todos os trabalhadores, daqueles que vivem da venda de sua força de trabalho, incluindo os desempregados, os aposentados, os uberizados e até mesmo alguns poucos burgueses mais conscientes que queiram aderir a esse processo coletivo. Uma associação horizontal de pessoas livres, sem chefes, sem burocratas, sem donos, que nos permita compartilhar problemas comuns, sonhos comuns e as soluções que serão encontradas nesse processo coletivo.
A nova relação social comunista, marcada pela associação livre e horizontal dos de baixo, não tem a ver com as experiências dos chamados países socialistas, que, como já mencionamos em vários textos, não são outro sistema diferente do capitalismo, mas uma outra forma de gestão nacional do capital. Que representaram e representam importantes avanços políticos e sociais no interior do capital. Mas, que não conseguem, pelas suas próprias características, lograr a emancipação humana do terror capitalista.
Forte abraço a todas e todos! Força na luta, sempre!
(Euler Conrado, em 07/07/2024)
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Todo apoio ao povo palestino na sua heroica luta de resistência contra o terror sionista - colonialista e racista - e imperialista...
O covarde genocídio praticado pelo estado sionista de israel contra o povo palestino que vive na Faixa de Gaza continua. Assim como as prisões e os assassinatos na Cisjordânia. Desde o dia 07 de outubro de 2023, com o advento da "Inundação de Al-Aqsa", quando a resistência armada dos palestinos rompeu os muros de Gaza para recolocar a causa palestina na agenda internacional, o mundo tem conhecido o real conteúdo do sionismo e da entidade de ocupação conhecida como "israel". Desde 1948, quando foi criado o estado ou a entidade de ocupação sionista, conhecida como "israel", nas terras da Palestina histórica, milhões de palestinos foram expulsos (a Nakba), ou assassinados, ou presos, ou violentados ao longo desses 76 anos. Israel representa a síntese do terror capitalista, que se constituiu ao longo de séculos com políticas de expansão colonialista, limpeza étnica de vários povos, racismo, genocídios e assassinatos de lideranças populares. Essa tem sido a história também do estado colonialista israelense, que se tornou um posto militar avançado do imperialismo estadunidense e europeu no Oriente Médio.
A grande vítima dessa tragédia é o povo palestino, que resiste heroicamente a essas insistentes agressões que ceifam a vida sobretudo de milhares de crianças, mulheres e idosos. A Faixa de Gaza, que era considerada uma prisão a céu aberto, onde sobrevivem de forma degradante e humilhante cerca de 2,3 milhões de palestinos, foi praticamente destruída pela brutalidade criminosa do estado de israel. Além do assassinato cruel e covarde de cerca de 40 mil palestinos nesses últimos nove meses, a maioria crianças e mulheres, o exército criminoso de israel destruiu também as mesquitas, algumas com séculos de existência, os hospitais, as escolas, e milhares de casas e toda a infraestrutura do território. Além disso, israel impôs um covarde cerco, impedindo a entrada de ajuda humanitária - comida, remédios, produtos de limpeza - provocando a morte pela fome e o sofrimento de milhares de pessoas, a maioria das quais sem quaisquer envolvimentos com a legítima resistência armada palestina. Nos postos de saúde que restaram, as cirurgias são feitas sem uso de anestesia, uma vez que israel não permite a entrada de medicamentos.
Em resposta a essa ação desumana e criminosa, vários movimentos de solidariedade aos palestinos ocupam praças e ruas em todo o mundo, inclusive nos países que sustentam militar e financeiramente o massacre contra os palestinos, como é o caso dos EUA e países ricos da Europa. Centenas de manifestações em vários países foram realizadas em solidariedade à causa palestina. Aqui em Minas Gerais, o Comitê Mineiro de Solidariedade ao povo palestino já realizou grande número de variadas ações de apoio aos palestinos de Gaza e da Cisjordânia. O mesmo tem acontecido em outros estados brasileiros, apesar da baixa adesão das esquerdas brasileiras, mais preocupadas com as eleições municipais. O presidente Lula, durante esses nove meses, já se manifestou em diferentes ocasiões condenando o genocídio praticado por israel e defendendo o imediato cessar-fogo na Faixa de Gaza. Apesar disso, o Brasil ainda não rompeu relações diplomáticas e comerciais e acadêmicas com esse estado genocida, racista e colonialista. Cresce a pressão por parte de grupos de apoiadores dos palestinos para que o Brasil avance nessa direção.
No cenário interno, da Palestina ocupada, apesar do grande número de vítimas inocentes, a resistência palestina sobrevive heroicamente. O governo do carniceiro Netanyahu não conseguiu destruir o Hamas, que cresce em popularidade entre os palestinos e também fora da Palestina, quando as pessoas reconhecem o direito do povo palestino e suas organizações políticas resistirem de todas as formas ao colonialismo imposto pelo sionismo com o apoio dos países ricos do Ocidente. Além disso, no entorno da Palestina ocupada, o chamado Eixo da Resistência Islâmica, liderado pelo Irã, e que envolve o Hezbollah (Líbano), a Síria, os Houthis do Iêmen e milícias pró-iranianas no Iraque e na Síria se fortalece e se prepara para um possível enfrentamento direto contra israel e seus apoiadores. Os órgãos internacionais como a ONU e o Tribunal de Justiça de Haia, têm se manifestado contra os crimes de israel, mas nada fazem de prático para impedir o genocídio em andamento.
É preciso fortalecer as campanhas de solidariedade aos palestinos, incluindo o boicote mundial aos produtos de empresas que financiam o estado de israel. A causa palestina é uma causa internacionalista, que deve sensibilizar e envolver todas e todos que lutam por um mundo mais justo, de paz e de harmonia. É a luta contra o colonialismo tão comum em todo o mundo, contra o racismo, contra o apartheid, contra a limpeza étnica, contra o genocídio, contra o sionismo (que não é sinônimo de judaísmo) e contra o imperialismo. No Brasil, a extrema-direita, ligada aos porões da ditadura que perdurou entre 1964-1985, e também aos fundamentalistas neopentecostais dirigidos por picaretas que envergonham o legado cristão, apoia publicamente o genocídio em israel. O que não chega a surpreender. Assim como a grande mídia, toda ela golpista e ligada aos piores interesses. É preciso travar o combate político e ideológico com essas forças do atraso sem receio. Assim como é necessário lutar contra o imperialismo e contra o fascismo local e mundialmente. A Palestina vencerá, e em seu território viverão em harmonia diferentes povos e religiões, como acontecia antes da ocupação sionista-colonialista de "israel".
Palestina livre, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo!
(Euler, em 07/07/2024)
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Uma análise pretensamente comunista da realidade atual... Brasil, Palestina, PL do estupro e outros... (23/06/2024)
Por onde começar essa análise? Talvez devesse falar a partir da minha aldeia, reunir os moradores, os vizinhos e conversar sobre os problemas comuns, de água, de luz, de transporte, de moradia, de comida, de trabalhos, das memórias e histórias de cada um, até alcançar os chamados problemas nacionais e mundiais. Somos todos parte de uma grande aldeia e deveríamos organizar as nossas tribos, com diferentes cores e formas de pensar o mundo e suas - nossas - crises e as possíveis soluções compartilhadas... provisórias e mais gerais. O mundo do capital - e que deveria no fundo ser chamado de mundo do trabalho alienado - continua sendo um inferno, com breves pausas e alguns belos e cada vez mais raros horizontes.
No Brasil recente, território de onde falo - um comunista deveria sempre tratar o mundo como um território sem fronteiras -, coisas não muito estranhas acontecem. Um governo tido como progressista, tendo que se unir às forças tidas como neoliberais, para enfrentar outras forças tidas como reacionárias ou de extrema-direita, navega em turbulento mar. Ondas que crescem e morrem na praia, mas que causam, às vezes, grandes e pequenos estragos. Uma greve quase geral dos professores universitários federais e técnicos administrativos pode terminar sem vencedor. O que é ruim para todos. Seria muito importante terminar a greve com sabor de vitória, mesmo que parcial. A greve em si, para nós, comunistas, já é uma vitória, pois recoloca possibilidades de reflexão crítica do mundo. O redemoinho do capital e do trabalho na sua rotina diária nem sempre nos dá a chance de repensar nossa forma de viver, de ser e de sonhar. Portanto, olhando aqui de fora, da minha aldeia, devo dizer que estou orgulhoso dos professores e professoras e demais trabalhadores do ensino federal que cruzaram os braços e lutaram bravamente por melhores condições de trabalho, de salários e de funcionamento dessa estratégica área. Acho que o governo federal, mal assessorado, comete erro em não acolher todas as demandas dos trabalhadores da educação na esfera federal. São aliados estratégicos de todas as nossas lutas: locais, imediatas e emancipatórias. Torço para que, num outro momento, o governo tido como progressista se dê conta desse erro e retome as negociações por iniciativa própria. É fato que, mesmo não atendendo as justas demandas dos profissionais do ensino público federal, o atual governo fez um pouco mais por esse setor do que os governos Temer e Bolsonaro, que nada fizeram a não ser cortar, cortar e cortar direitos e conquistas. Essa comparação nos serve apenas para mostrar que há uma diferença, embora essa diferença devesse se apresentar de forma muito mais substancial e efetiva. Reafirmo, portanto, minha solidariedade aos trabalhadores da Educação federal e também a minha expectativa de que em algum momento o governo que ajudamos a eleger para derrotar o fascismo - e disso jamais nos arrependeremos - assuma uma perspectiva mais audaciosa em favor dos trabalhadores do ensino federal. "Mais livros, menos armas". Não esquecemos.
Um outro ponto na atual conjuntura na chamada esfera nacional - enquanto não superarmos o capitalismo mundialmente, e só dessa forma, mundial, é possível superá-lo - temos que nos acostumar com esses contornos demarcatórios geográficos e jurisdicionais -, um outro ponto, dizia, diz respeito à questão da suposta autonomia do Banco Central e a taxa selic, que determina os juros bancários, dos empréstimos e sobretudo os juros da dívida pública, que devemos chamar sempre de bolsa família dos ricos. Primeiro, todos sabemos, esse papo de "autonomia", seja de um estado-nação, de um banco central ou de um indivíduo é sempre muito relativo. No caso em tela, do Banco Central do Brasil, não há qualquer autonomia. Sua diretoria sempre foi apropriada pelos banqueiros e grandes capitalistas, seja na sua forma atual, onde formalmente detém autonomia, seja na sua forma anterior, quando os governos, de esquerda ou de direita, precisam fazer de tudo para "agradar" o Deus-mercado... esse sujeito que responde pelos interesses de algumas poucas e poderosas famílias nacionais e internacionais que se apropriam das riquezas produzidas por toda a humanidade que vive da venda se sua força de trabalho. Nem precisei usar vírgula. Ou seja, mais de 90 por cento de toda a população mundial e que produzem todas as riquezas do planeta. Inclusive a própria miséria. Pode parecer um exagero, mas é assim mesmo: nós, que vivemos da venda da força de trabalho, produzimos as riquezas e também a miséria, enquanto não sejamos capazes de nos reconhecer enquanto sujeito desse auto movimento que rola sobre as nossas cabeças... enquanto alguns poucos, que nada produzem, se apropriam de quase tudo. É o capitalismo.
Cada percentual a menos na chamada taxa selic representa bilhões de reais que deixam (deixariam) de cair graciosamente nos bolsos dos banqueiros e passariam (nesse caso, não passarão!, literalmente!) a engordar o orçamento público, com o qual o governo poderia investir mais em educação pública, saúde pública e nas políticas públicas em geral em favor dos de baixo. Poucos dias antes da reunião da diretoria do Banco Central, os agentes do mercado, incluindo a grande mídia e seus comentaristas de aluguel passam a cravar que a taxa selic, em 10,50% ao ano, não teria nova queda. Jantares são oferecidos ao presidente desse órgão do grande capital. Provavelmente, as maiores promessas de futuras oportunidades para os diretores do BC são apresentadas no principal cardápio desses jantares. A comida, por mais caro e sofisticado seja o menu, assim como a bebida, são apenas um pequeno aperitivo diante dos grandes negócios que lhes esperam. No último ano, foram quase 800 bilhões de reais somente em juros para as famílias mais ricas que detêm o grosso das aplicações nessa modalidade. Por isso, repito, é a chamada bolsa família dos ricos.
Na bolsa família dos pobres, como explicamos numa das nossas análises anteriores, 20 milhões de famílias recebem, em média, cerca de R$ 680 mensais. Na bolsa família dos ricos, supondo, de forma muito generosa da minha parte, que haja 2.000 famílias que se apropriam de 90% dos juros da dívida pública, isso representa, em média, que cada uma delas terá abocanhado mensalmente cerca de 30 milhões de reais. Apenas em juros, que são pagos com os impostos que o estado nacional brasileiro recolhe de todos os cidadãos. Ou de quase todos, já que em geral, ricos não pagam impostos. Pelo menos nada pagam, pelos generosos dividendos, os acionistas das grandes empresas. Além da isenção fiscal que os grandes grupos econômicos conquistam sem oferecer quaisquer contrapartidas, como a geração de mais empregos e novos investimentos.
Enquanto isso, a gestão Haddad-Tebet da economia se esforça para... agradar o mercado, com o chamado "déficit zero". Numa lógica que não é nada estranha ao mundo do capital ou do trabalho alienado: o governo tem que se esforçar para fechar o ano com suas dívidas pagas... quando falamos de dívidas, nesse caso, lembramos da taxa selic em 10,50% e dos 800 bilhões anuais que são distribuídos para as famílias mais ricas. Além, é claro, das emendas parlamentares... O governo pode até cortar na saúde, na educação, na assistência social, na previdência, mas, não pode faltar para os bancos. É essa a receita que faz o mercado gritar de alegria, ainda que milhares de pessoas enfrentem a miséria, a fome, a falta de remédios nos postos de saúde. Na macroeconomia, vai tudo bem obrigado. A inflação está sob controle, houve leve crescimento do PIB e cresce também o número de pessoas empregadas com carteiras assinadas. Mas, os números gerais da economia nem sempre refletem as realidades dos de baixo.
É por isso que, quando o presidente Lula, destoando da sua própria equipe, apresentou duras críticas ao Banco Central, classificando corretamente seu presidente como uma espécie de inimigo do Brasil (pelo menos do Brasil dos de baixo, deveria dizê-lo), toda a mídia e o chamado mercado caem em cima dele. Lula, aliás, sempre mais à esquerda do que seu próprio partido e do seu governo, precisa tomar muito cuidado para não se tornar uma espécie de rainha (ou rei) da Inglaterra. Ele fala uma coisa, e seu governo faz outra. Ele critica o banco central pela política de juros, e sua equipe econômica se esforça para cortar na área social; ele critica o genocídio praticado por "israel", e as forças armadas supostamente sob seu comando fecham contrato bilionário de compra de armas de empresa israelense; ele diz que vai incluir os pobres no orçamento e os ricos nos impostos, e sua equipe econômica, neoliberal, juntamente com o congresso de extrema-direita, se esforçam para taxar os pobres que compram até 50 dólares de produtos eletrônicos e blusinhas e calcinhas diretamente da China, já que os preços desses mesmos produtos chineses, vendidos aqui por atacadistas e lojistas são duas ou três vezes mais caros.
Um dos grandes problemas das pessoas que ocupam cargos nas altas esferas dos parlamentos ou dos governos, é que elas não conhecem e não convivem com as realidades das pessoas mais pobres. Vivem literalmente um universo paralelo. Isso vale inclusive ou sobretudo para a esquerda quando assume a gestão dita progressista das máquinas de estado burguês. Deveria ser uma regra entre nós, da esquerda, que, enquanto não houvesse a emancipação humana mundial do capital, todos aqueles que assumissem esses postos maiores deveriam, de tempos em tempos, tomar um "banho de povo". Viver nas aldeias mais simples, pegar ônibus de madrugada, frequentar postos de saúde pública, comer a merenda escolar em escolas públicas (eu sempre adorei a merenda escolar nas escolas públicas que estudei!), participar de assembleias de trabalhadores, frequentar um acampamento de sem-terra e sem-teto, enfim, tomar um "banho de povo".
O último recorte dessa breve análise, diz respeito ao PL dos estupradores. Isso mesmo, é assim que foi batizado o projeto de lei defendido pela extrema-direita no congresso nacional, que tenta proibir meninas menores de idade, que foram estupradas e que se engravidaram, de interromper essa gravidez indesejada. Essa investida canalha dessa pauta de maus costumes por parte da direita provocou grande ira santa e feminista em todo o país. Milhares de valentes mulheres se mobilizaram em dezenas de cidades, em grandes manifestações contra esse PL que pretendia incriminar as crianças violentadas com penas maiores do que as dos estupradores. Essa direita é exatamente assim: moralista, sem projeto social, que precisa criar pautas desse teor para desviar a atenção dos reais problemas que afligem a população mais pobre. Essa pauta, contudo, abre a discussão sobre um problema que deve ser, mais cedo ou mais tarde, enfrentado: a liberação geral do direito ao aborto. Eu, pessoalmente, vou logo dizendo: sou totalmente a favor do direito das mulheres decidirem sobre seu próprio corpo, sua própria vida, de quando devem ou não interromper uma gravidez. Ninguém é a favor do aborto em si, mas, do direito das mulheres decidirem sobre suas vidas. Imaginem vocês se estivesse em discussão o corpo dos homens. Todos os homens que são contra o direito das mulheres fazerem aborto deveriam, de forma solidária, se submeterem à castração química, pois assim evitariam a procriação e o aborto. Que tal senhores deputados da bíblia, da bala e da PQP, vocês topam? Ademais, é preciso deixar claro que dogmas e crenças religiosas não podem ser impostas a toda a sociedade. Devemos respeitar os princípios e os valores das pessoas religiosas, mas, os valores e princípios de outros grupos e pessoas que pensam diferente precisam ser respeitados, também. As mulheres têm o direito de decidirem quando e se querem ter e criar seus filhos. Por último, acho muito estranho essas pessoas que se dizem preocupadas em "salvar vidas" impedindo abortos alheios, ao mesmo tempo, apoiarem o estado assassino, genocida, que mata covardemente milhares de crianças e mulheres e idosos palestinos de Gaza, como é o caso de "israel". Hipocrisia, hipocrisia e hipocrisia!
No próximo texto, que dará sequência a essa análise, quero voltar a falar sobre a causa palestina, sobre o genocídio em Gaza, sobre as mobilizações mundiais em defesa dos palestinos; sobre os riscos de uma guerra regional no Oriente Médio, provocada pelo governo genocida, racista e colonialista de "israel"; sobre a guerra da Otan contra a Rússia via Ucrânia e os riscos para a humanidade de uma escalada geral; além, obviamente, do chamado crescimento da extrema-direita na Europa, como consequência tanto da crise geral do capitalismo, quanto da crise geral da própria esquerda que se rendeu às pautas impostas pelo imperialismo, pelo neoliberalismo... mas, acima de tudo, pelo auto movimento do valor-dinheiro. E, finalmente, como suposto bom comunista que sou, é preciso apresentar, a partir dessa crítica de conjunto, as possibilidades de união mundial dos de baixo para sair do capitalismo. Lembrando que esse é um dos poucos espaços que leva a sério a real possibilidade da emancipação humana do capital (ou do trabalho alienado). Digo isso porque não tenho visto ninguém mais, além de mim (kakaka, que tristeza!) falar da necessidade dos trabalhadores saírem do inferno do capital. Muita gente fala em socialismo nacional, o que, para minha singela definição, é uma outra forma de gestão progressista do capital nos marcos nacionais. É melhor do que o que temos. Assim como Lula é melhor do que Bolsonaro. Mas, o socialismo nacional não só não é um outro sistema, como está longe de representar a emancipação humana do capital.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
(Euler Conrado, em 23/06/2024)
Urgente! Última hora: Já havíamos fechado o nosso texto quando soubemos de um absurdo - mais um - praticado pela Polícia Federal, que prendeu e pretendia deportar uma família de palestinos vindos da Malásia, sob a alegação de que o chefe da família, um professor universitário, estaria ligado à resistência palestina. A PF se baseou em informações fornecidas pelo Mossad - serviço secreto de "israel" e pelo FBI. O professor universitário, sr. Muslim Abuumar, estava acompanhado da esposa grávida de sete meses, de um filho de seis anos e da sogra de 69 anos. Ele tem irmão que mora no Brasil e já esteve aqui anteriormente para visitá-lo. Desta vez, trouxe a família para uma curta viagem - tinha passagem de volta para Malásia marcada para meados de julho próximo. A família do palestino que vive na Malásia ficaria aqui no Brasil na casa do irmão, algo absolutamente normal. Uma juíza revogou a ordem de deportação da família na última sexta-feira. Mas, em pleno domingo (23/06, hoje), ela cancelou a própria liminar autorizando a deportação da família. Um verdadeiro absurdo! O que mostra o quanto os órgãos repressivos do Brasil estão infiltrados por agentes que prestam obediência não à constituição federal, mas aos serviços de inteligência do sionismo e do imperialismo. Com o respaldo de parcela da justiça brasileira e do Ministério público de São Paulo, que sequer deram a essas pessoas o direito de se defenderem, de contratar um advogado para responder às acusações sem fundamentação alguma, pois estão baseadas em órgãos de um estado genocida com longa tradição de terrorismo internacional, como é o caso do Mossad, bem como da CIA - reconhecida instituição que produz guerras e golpes de estado em todo o planeta. Houve claro abuso de direitos humanos e discriminação contra os palestinos, uma vez que não fazem isso com cidadãos de "israel" ou estadunidenses, entre outros. Com essa vergonhosa atitude o BraZil se apresenta como uma república bananeira, que obedece ordens do sionismo e do imperialismo. Para corrigir essa vergonha internacional, o Brasil precisa pedir desculpas a essa família de palestinos, custear as passagens de volta ao Brasil com estadia paga (eu pelo menos teria grande receio em retornar a um país que se comporta dessa forma) e afastar o delegado da PF de suas funções. Além de denunciar, junto à corregedoria, a juíza e o promotor público que respaldaram essa ação típica de ditaduras militares.
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O Irã lidera o eixo da resistência islâmica no Oriente Médio
texto 1:
A resistência organizada para enfrentar internamente o capital e o desafio da construção de um movimento mundial para sair do capitalismo
texto 2:
O genocídio dos palestinos de Gaza continua, ante à covarde omissão dos governos. Mas, a resistência islâmica, liderada pelo Irã, poderá surpreender.
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No texto anterior eu falei sobre o abandono, pela esquerda mundial, a brasileira incluída, da perspectiva emancipatória mundial do terror capitalista. Procurei demonstrar como as divergências entre as diferentes correntes da esquerda estão muito mais na intensidade das reformas no interior do capitalismo do que propriamente numa oposição de fundo. No Brasil, por exemplo, a esquerda que critica radicalmente o PT tem como propósito assumir o poder para fazer algumas reformas ditas estruturais, um pouco mais radicais na intensidade e na forma, mas presas aos marcos nacionais e ao sistema mundial do capitalismo. Ou seja: mais do mesmo, com diferença na intensidade das reformas - e também na forma, de tomada radical de poder, o que, por si, não determina a mudança sistêmica.
Na verdade, a crítica que a direita faz do comunismo como bicho papão, ganha força em alguns setores atrasados da sociedade muito mais por essa proposta equivocada que a esquerda faz, de que existem países socialistas ou comunistas, como sendo sistemas opostos ao capital, quando, na verdade, nenhum país saiu do sistema mundial do capitalismo nos últimos três séculos. Pelo contrário. O que se observou nesse período foi o gradativo e total domínio da relação capitalista e de sua reprodução em escala mundial.
Em grande medida se pode dizer que há uma razão de ser para essa confusão que a própria esquerda se deixou envolver e dela não conseguiu, até o momento, se desvencilhar. É que a luta de classes entre proletariado e a burguesia no interior do capitalismo, ao contrário do que os próprios teóricos fundadores deram a entender, não conduz necessariamente à superação do capitalismo.
O que a história mundial nos demonstrou é que a luta de classes, se não assume uma perspectiva emancipatória do capital em escala mundial, pode tranquilamente ser absorvida pela reprodução do valor-dinheiro. Aliás, ao contrário do que a ignorância da direita imagina, a luta de classes é um componente intrínseco à própria sobrevivência do capital. Cada centavo a mais conquistado pelo proletariado nas greves traz, obviamente, uma melhor condição de vida para esses trabalhadores - o que é muito bom -, mas, se desdobra imediatamente em mais consumo, o que fortalece o mercado, cuja reprodução é guiada não pelas leis de governos - sejam eles de esquerda ou de direita - mas, do capital: a concentração e a centralização em poucas mãos. Não há como abolir essas leis, a menos que se acredite que seja possível abolir as leis da natureza por decreto, por exemplo. É possível superar o capitalismo por uma outra relação social em escala mundial, mas, não é possível mudar arbitrariamente as leis no interior do capital. Simples assim.
Por isso, senhores burgueses, não temam a luta de classes: ela existe independentemente e até mesmo antes, ou apesar da existência de qualquer partido de esquerda. Mas, vocês têm todo o direito e o dever até de temer que essa luta de classes se transforme num forte movimento emancipatório do proletariado mundial.
Nas minhas análises, sempre fortuitas e em grande medida superficiais, próprias de quem observa o mundo pretensamente numa outra perspectiva, tenho defendido a criação de dois movimentos: o de resistência coletiva autônoma e interna ao capitalismo, para arrancar conquistas imediatas e enfrentar os ataques da extrema direita ou as políticas neoliberais de governos progressistas - podendo ou devendo até mesmo apoiá-los criticamente; e um outro movimento, desta feita em escala mundial, de forma horizontal, com o claro propósito de refletir e preparar a saída da humanidade do capitalismo.
São dois movimentos aparentemente contraditórios: um, para ficar no interior do capital e o outro, para sair desse sistema. Mas, é uma contradição compreensível e não antagônica. Não há como abandonar a luta imediata por melhores condições de vida e se dedicar exclusivamente à saída do capital, quando esse movimento depende da união de bilhões de pessoas em escala mundial, o que pode ou não se alongar no tempo. A sobrevivência em melhores condições, aqui ou acolá, não pode esperar. Além disso, a própria dinâmica da reprodução do capital, com a ganância de mais lucros e a super exploração da maioria por alguns poucos, impele os de baixo a reagirem, a resistirem, a lutarem por conquistas imediatas.
Contudo, essa luta imediata, luta de classes, como já vimos, torna-se um auto movimento como fim em si mesmo - o sociólogo alemão Kurz observou isso de forma sagaz, mas, infelizmente não soube extrair dessa dinâmica o que o mestre Marx apontara: que o capital cria no seu interior o sujeito capaz de destrui-lo, o proletariado. Preso ao auto movimento da reprodução do capital estará o proletariado até o momento em que consiga se unir mundialmente e seja capaz de se preparar conscientemente para a saída definitiva do capital.
Quando a esquerda mundial aponta a perspectiva de tomada revolucionária do poder em escala nacional, isso representa, de fato, um avanço em relação ao auto movimento econômico que se dá na luta de classes. Mas, é absolutamente insuficiente para superar o capital e seu auto movimento. E o que a história nos ensinou é que todas as experiências mundiais, sem exceção, da tomada de poder nacional, quase sempre como fim em si mesmo, não lograram o rompimento com o auto movimento do valor-dinheiro, do capital, enfim. As duas mais importantes experiências, China e Rússia soviética, são duas provas vivas, na memória, pelo menos, das limitações dessa perspectiva. Ainda que tenham produzido importantes conquistas sociais para os de baixo - o que é bom, reforçamos - não representaram um salto para uma outra relação social. O que de resto, como dissemos no texto anterior, seria impossível, pois as revoluções nacionais, sejam elas burguesas ou proletárias, são incapazes de romper as categorias próprias do capital, como o mercado, o estado e as leis próprias da reprodução do dinheiro.
Na minha modesta percepção, terá o proletariado, em escala mundial, unido de forma horizontal e sustentado por organizações locais como comitês de bairros e de escolas e de fábricas - constituindo, portanto, num potente movimento mundial e local ao mesmo tempo -, que pensar e organizar de forma racional, sensível e ecologicamente correta a saída coletiva do capitalismo. Não se trata de um golpe, ou de revolução espontânea, mas, de uma saída planejada e organizada do capitalismo - o que, obviamente, demandará um longo trabalho de construção coletiva e crítica desse movimento autônomo e horizontal que envolva a maioria da humanidade, o proletariado, enfim.
De maneira alguma essa perspectiva emancipatória reduz ou elimina as lutas imediatas, com seus confrontos de classes em toda a sua extensão e variedade. Inclusive pela conquista de poder em escala nacional, desde que não se perca de vista, e na prática, qual o objetivo estratégico principal. É aqui que se dividem aqueles que lutam por reformas como fim em si mesmo no interior do capital - com suas diferentes intensidades -, daqueles que lutam pela superação definitiva do capitalismo... os comunistas. Aqueles que sonham e lutam por um mundo sem amos, nem escravos; sem explorados, nem exploradores; sem patrões e sem assalariados; numa relação solidária, não verticalizada, onde todos darão de si uma pequena jornada de trabalho (reparem que aqui eu atualizo Marx e Engels que previam "de cada um, segundo a sua capacidade") para a produção das coisas - bens úteis, não mais mercadorias - que serão repartidas para toda a humanidade, de forma racional e sensível, de acordo com as necessidades básicas de cada um. Um mundo sem fronteiras, onde todos possam usufruir das riquezas culturais e históricas produzidas individual e coletivamente por toda a humanidade.
Portanto, como disse no início, são dois movimentos, aparentemente contraditórios, mas que se complementam e se reforçam, até que amadureçam para o propósito comum de superar o inferno do capital.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler Conrado, em 07/06/2024)
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O genocídio dos palestinos de Gaza continua, ante à covarde omissão dos governos. Mas, a resistência islâmica, liderada pelo Irã, poderá surpreender.
Nesta data, 07 de junho de 2024, completam-se exatos oito meses desde que a resistência islâmica palestina, liderada pelo Hamas, realizou a "Inundação de Al-Aqsa". De forma ousada e com grande destemor e criatividade, centenas de guerrilheiros da resistência armada palestina romperam os muros da Faixa de Gaza e adentraram parte da área ocupada e roubada pelo estado colonialista e racista e sionista de "israel". No confronto com as forças de defesa de "israel", centenas de israelenses morreram, boa parte deles militares e que muitos foram assassinados pelo próprio exército de israel, e algumas dezenas foram feitos reféns e levados para Gaza. Imediatamente após, a imprensa sionista mundial, como a Globo e a CNN entre outras, transformou esse ato em uma agressão terrorista por parte do Hamas contra uma suposta vítima, israel, apontada cinicamente como sendo a única democracia do Oriente Médio. Uma análise totalmente descontextualizada e hipócrita, que esconde os 76 anos de ocupação da Palestina por sionistas europeus que invadiram o território palestino com o claro projeto de colonizar e impor um sistema de apartheid, de supremacia racial, combinado com a limpeza étnica e o genocídio.
O 07 de outubro de 2023 foi apenas uma expressão de um desesperado grito de socorro de um povo, o palestino, que vem sendo humilhado, massacrado, expulso de suas terras, violentado e assassinado ao longo dos últimos 76 anos. A resistência palestina, com sua ousada ação, mostrou para o mundo que a propaganda sionista é uma mentira. Não há nenhuma democracia enquanto houver um sistema de apartheid, onde os árabes palestinos são tratados na terra onde sempre viveram como animais, como sub-humanos, enquanto os judeus sionistas israelenses se consideram um povo superior aos demais. A maioria dos colonos de ocupação que vive em israel veio da Europa e vive em bolha, numa fortaleza supostamente impenetrável, um misto de base militar e condomínio fechado em escala gigante. Uma extensão do modo de vida europeu, sem o inconveniente da maioria europeia cristã e não judaica, antissemita, mas com um "pequeno" detalhe: os sionistas escolheram construir o seu reino numa terra já ocupada há três mil anos pelos palestinos. O sionismo é um claro projeto de colonização, associada ao imperialismo, que combina a limpeza étnica, a supremacia racial e o genocídio do povo palestino. É a expressão, portanto, de tudo o que de pior o capitalismo estadunidense e europeu produziu nos últimos séculos.
Mas, enquanto a humanidade do mundo inteiro se manifesta contrariamente ao genocídio realizado por israel contra os palestinos, as entidades internacionais como a ONU e os governos, com raras exceções, se quedam paralisados, já transformados em geleias, como na bela música Geni, de Chico Buarque. Mas, do Zepelim gigante não descerá um comandante para tudo destruir. A entidade sionista de ocupação, conhecida como israel, está enfrentando, mesmo, além da batalha perdida no front político e diplomático, a ira santa da resistência islâmica, liderada pelo Irã e que reúne o próprio Hamas, o Hezbollah no Líbano, milícias iraquianas e sírias e os Houthis no Iêmen, que fecharam o Mar Vermelho, impedindo a passagem de quaisquer navios que tenham como destino o estado de "israel".
Apesar da enorme força militar, inclusive com ogivas atômicas, e do irrestrito apoio da maior potência imperialista - EUA - e países ricos da Europa, no palco da guerra mesmo, israel está cercado em cinco diferentes frentes por dezenas de milhares de combatentes muito bem treinados e prontos para enfrentar o exército sionista. O Hezbollah, por exemplo, que já venceu israel por duas vezes, expulsando-o do sul do Líbano, está com a faca nos dentes. Trata-se de uma força política de grande presença social e política e religiosa no Líbano e que possui um exército de mais de 100 mil combatentes. O Hezbollah detém ainda um número muito grande de mísseis muito potentes - fala-se em 150 mil, além dos drones e de variados tipos de artilharia.
Desde o dia 08 de outubro, quando israel deu início à nova fase de ocupação e genocídio em Gaza, nem um dia sequer o Hezbollah deixou de atacar o norte da Palestina Ocupada, expulsando de lá mais de 100 mil colonos da ocupação israelense. Caso haja um confronto aberto e direto entre o exército de israel e o Hezbollah pode-se prever destruição, e destruição, e destruição, dos dois lados. O Líbano mais uma vez poderá pagar um altíssimo preço; mas, desta vez dificilmente israel escapará com poucas baixas. E se o Irã for arrastado diretamente, como se prevê, uma vez que seu governo é quem sustenta a resistência islâmica, então, dificilmente sobrará pedra sobre pedra em Telavive e demais áreas da Palestina ocupada pelo projeto colonialista e racista de israel. É uma guerra que devemos torcer para que não aconteça, pois, sua extensão é quase ilimitada e poderá envolver todas as grandes potências militares do mundo, colocando em risco a existência da vida humana na Terra. Tudo, portanto, está muito ligado à questão palestina e à necessidade de que todos se envolvam em prol do cessar-fogo imediato em Gaza e da abertura de negociação para que seja finalmente criado o Estado Palestino, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo.
O projeto sionista, que nada tem a ver com o povo judeu, embora tente se apropriar de seu legado para implantar o projeto de dominação racista e colonialista e genocida na Palestina e em todo o Oriente Médio, assim como o nazismo, não pode existir. É uma permanente ameaça à humanidade.
Palestina livre, do Rio ao Mar!
(Euler, em 07/06/2024).
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Imagem extraída do site https://asiacommune.org/
Marinaleda, pequena e charmosa vila espanhola, cujos habitantes vivenciam uma experiência de autogestão no interior do sistema mundial do capitalismo.
A luta pelo comunismo e a luta no interior do capitalismo: os dilemas do proletariado e de uma esquerda que se perdeu na poeira da história...
A luta pela emancipação dos trabalhadores do terror do capital há muito se perdeu nos labirintos da história. Se antes tudo parecia claro como o dia, hoje, contudo, os horizontes estão - não são permanentemente, estão - sombrios. Há uma ofensiva da extrema-direita local e mundial, que quase sempre renasce diante das crises cíclicas cada vez mais agudas do capitalismo. As esquerdas, embora não se deem conta disso, parecem perdidas, além de enfraquecidas.
No Brasil, por exemplo, temos pelo menos três tipos de esquerda: a que apoia incondicionalmente o governo Lula; a que apoia criticamente o governo Lula, em diferentes graus; e a que é anti-governo Lula, comparando-o aos governos da direita e da extrema-direita. Na minha humilde percepção, essas esquerdas, apesar das diferenças formais mencionadas, têm, em comum, além do distanciamento da base social, uma característica: estão presas ao universo da reprodução do capital. Ou seja, nessa medida, enquanto não advogam a saída do capital - a não ser formalmente ou como retórica - todas elas são reformistas, diferenciando-se na intensidade das reformas propostas.
A experiência histórica mundial, segundo a nossa humilde percepção, demonstrou que não há saída do capitalismo no âmbito nacional. Essa crítica não tem a ver com algumas versões de correntes ideológicas de origem marxiana, segundo as quais, será preciso que haja uma "revolução proletária mundial" para romper com o capitalismo. Embora essa frase inclua a perspectiva mundial de uma saída do capitalismo, na essência ela defende o modelo clássico inaugurado na Rússia soviética de 1917, que parte da premissa de que um partido revolucionário, enquanto destacamento de vanguarda, guiaria o proletariado para a tomada revolucionária do poder. E isso se ampliaria em escala mundial, até que os novos estados proletários passariam a controlar as forças produtivas (fábricas, terras, etc.) e a proporcionar uma melhor repartição da renda entre os trabalhadores e uma educação de novo tipo. Esse, grosso modo, é o modelo que, na minha percepção, não funcionou. Nenhum país - Rússia, China, Cuba, entre outros - conseguiu sair um milímetro sequer do domínio sistêmico da reprodução do capital, embora tenham, como dado positivo e objetivo, desenvolvido políticas públicas de proteção social para os de baixo. E tenham também, de alguma forma, contribuído para que os países ricos do Ocidente proporcionassem aos seus trabalhadores melhores condições de vida. Seja pelas lutas de classes nesses países, seja pelo temor ao fantasma do comunismo - ainda que se tratasse de fato, até então, pelo menos, somente de um... fantasma.
No mais notório texto ao mesmo tempo didático e panfletário produzido pelos dois mais notáveis teóricos do comunismo - ou da crítica da economia política do capital - Marx e Engels, o Manifesto do Partido Comunista, uma frase se destaca ao final: "Proletários de todos os países, uni-vos!". Após a análise de como o capitalismo, ao longo dos últimos séculos, tornara-se um sistema mundial a submeter todas as pessoas e costumes e valores e formas sociais à sua lógica, e de como esse sistema criara no seu interior o sujeito capaz de superá-lo, seria necessário que esse sujeito - o proletariado - unido mundialmente, colocasse abaixo o capital, erigindo um novo sistema, uma nova relação social. Marx e Engels não conheceram as experiências citadas aqui - Rússia, China, etc. - e o grau de produtividade, quando produziram o Manifesto em 1848, era ainda bem rudimentar se comparado com o estágio atual de desenvolvimento do capitalismo. Um exemplo disso é que, 42 anos depois, no prefácio ao Manifesto, Engels comemora o fato do proletariado mundial defender, como pauta essencial, nas manifestações de 1º de maio de 1890, a jornada diária de 8 horas de trabalho. (Parêntese: e pensar que até hoje, 134 anos depois, não superamos essa conquista! E até regredimos!!!). Estudos mais recentes demonstram que, hoje, abstraindo-nos das lógicas do mercado, se a produção de bens estivesse voltada para as necessidades básicas de toda a humanidade (casa, comida, roupa, educação, saúde, transporte e etc.), seria necessária uma jornada muito próxima de... 8 horas. Uma jornada, desta feita, não mais diária, mas, semanal, para a realização das necessidades humanas - de toda a população mundial, e não apenas de uma parte, como acontece no capitalismo, regido por leis onde imperam o lucro privado acima de tudo, o consumo de luxo de alguns poucos, a acumulação e a centralização de riquezas apropriadas da exploração dos trabalhadores (mais-valia ou a parte não paga na exploração da força de trabalho alheia) e a miséria da maioria da população mundial como consequência desse processo.
A emancipação proletária será obra dos próprios trabalhadores, diziam Marx e Engels. A esquerda mundial quase nunca levou essa formulação a sério. O proletariado dependeria de uma vanguarda, geralmente autoproclamada enquanto tal, que funcionaria como uma espécie de estado-maior do proletariado, a guiar os seus passos, a decidir pelo proletariado e a substituí-lo nas decisões. Tal como no capital, o trabalho é coletivo, a cargo do proletariado, enquanto as decisões ficariam a cargo dos burgueses, ou do seu estado, ou até mesmo de um estado "proletário" que existiria no interior do capitalismo. No redemoinho da auto reprodução do capital, pouco importa quem são os personagens a garantir suas leis. A obra e a força principal, isso o proletariado já faz: é ele quem produz todas as riquezas do mundo, de forma alienada; o que ele ainda não faz é se apropriar e controlar consciente e diretamente o que ele produz, repartindo de forma solidária, racional e sensível o resultado da produção coletiva. O proletariado não precisa de vanguarda: ele próprio é a vanguarda, ou, pelo menos, deveria ser o sujeito da sua própria emancipação. Que, ao fazê-lo, como percebem os nossos teóricos citados, terá o proletariado que libertar também toda a humanidade do jugo do capital, e não apenas a própria classe trabalhadora.
A perspectiva emancipatória, de saída definitiva do capital, que no meu entender só é possível em escala mundial, há muito foi abandonada pela esquerda em geral, seja ela reformista ou supostamente radical ou revolucionária. Os programas da esquerda em geral se diferenciam, como disse anteriormente, pela intensidade nas reformas no interior de cada país. O PT, por exemplo, é um partido assumidamente reformista, que realiza governos que alcançaram importantes políticas públicas em favor dos de baixo. Pequenas reformas, em meio aos grandes negócios, no interior do capitalismo. Os partidos mais radicais da esquerda defendem o que chamam de reformas estruturais, radicais, que envolveriam a tomada revolucionária do poder no âmbito nacional e a implementação de algumas reformas, como: reforma agrária radical, estatização das principais empresas e bancos, rompimento com as políticas neoliberais e imperialistas; uma prática de solidariedade com outros povos nas suas lutas; e a permanente mobilização dos trabalhadores. Para a esquerda que defende esse programa, trata-se da criação de um outro sistema, o socialismo, que seria uma espécie de fase intermediária entre o capitalismo e o comunismo.
No fundo, ambos os programas, sejam os reformistas mais brandos ou os reformistas mais radicais, não têm o condão de superarem o sistema capitalista. Continuam presos, não apenas internamente pela dinâmica da reprodução do capital, como, mais ainda, nas ligações mundiais de comércio e outras. Pois, aqui se trata da luta pela conquista ou tomada do poder, para diferentes gestões da máquina do estado capitalista, e não para a real emancipação desse sistema. Não ocorre, em nenhum dos casos, a destruição da máquina do estado, ou do mercado, ou da mão de obra assalariada, ou das hierarquias comuns às gestões impostas pelo capital - o que de resto seria impossível no âmbito nacional. Pelo contrário. Como se trata de uma revolução nacional - no caso da esquerda radical -, para enfrentar o domínio mundial do capital, terá que fortalecer a máquina do estado, inclusive militarmente, de forma centralizada, mantendo todos os mecanismos próprios da reprodução do capital: mão de obra assalariada, cadeias hierárquicas de comando - o que implica em privilégios para alguns - e a substituição formal do burguês pelo agente do estado, com todos os privilégios comuns aos altos escalões de quaisquer estados. Ainda que não haja a apropriação formal de riquezas por alguns burgueses num dado território nacional, a reprodução do capital se dá pela mesma lógica da mediação do valor-mercadoria, do dinheiro, nas relações de produção, com toda a carga da coisificação comum à reprodução do capital - Marx explica isso em sua principal obra, O Capital.
Podemos então dizer que o socialismo aludido pela esquerda mais radical se trata de uma outra forma de gestão do capital nos marcos de um estado nacional, e não propriamente de um outro sistema social. Não estou a sugerir que a esquerda dita radical abandone seu projeto, mas que tenha a ciência do que se trata de fato, e não se permita iludir ou iludir a outrem acerca do que está em disputa. Claro está que o programa mais radical de gestão da máquina burguesa agride de forma mais radical os interesses de classe da burguesia. Por isso mesmo a reação contrária desses interesses se fará notar de todas as formas: boicotes internacionais, campanhas publicitárias de difamação, rompimento de relações diplomáticas e comerciais, e provocações ou agressões militares. Todos os países cujos povos e suas direções optaram por essa experiência passaram por isso. Mas, os que não ousaram lutar passaram e passam por experiências ainda piores: a expropriação desmedida e em variados níveis das riquezas socialmente produzidas por seus povos. Portanto, a violência, a arrogância, a chantagem, a sabotagem e a soberba nas relações entre estados imperialistas e os demais é um componente estrutural e comum independentemente da forma de gestão das máquinas estatais nacionais. O desafio colocado é não se contentar ou não se limitar aos diferentes projetos de gestão do estado capitalista como estratégia final, mas de, paralelamente, provocar, em escala mundial, o diálogo que vise superar o capital.
O que deveria ser observado pelas esquerdas em geral, em primeiro lugar, é a melhor forma de contribuir para organizar os de baixo para resistir e arrancar conquistas no interior do capital e enfrentar os principais inimigos do proletariado. Trata-se, aqui, das lutas nacionais, seja pela libertação de territórios colonizados, como na Palestina; seja para "incluir os mais pobres no orçamento e os ricos nos impostos", como disse Lula durante a campanha eleitoral de 2022; seja, ainda, para romper os bloqueios impostos pelo imperialismo estadunidense a países como Cuba ou Venezuela. Contribuir para organizar, politizar e preparar os de baixo - cada vez mais em comitês ou conselhos ou comunas populares - para o enfrentamento contra a extrema-direita, contra os governos de direita ou contra políticas neoliberais de governos de esquerda ou progressistas. Reparem nas diferenças táticas que assegurem a construção da autonomia dos de baixo na resistência coletiva e nas conquistas sociais e políticas, ainda que limitadas.
Em segundo lugar, não necessariamente nessa ordem, contribuir para se formar, em escala mundial, um forte movimento dos trabalhadores que discuta e prepare as condições para a saída coletiva do capitalismo - e não mais para a gestão, nas diferentes intensidades, das máquinas nacionais de estado e de mercado. Nesse particular, terá o proletariado que constituir uma associação mundial, horizontal, robusta, que produza um programa e uma estratégia de rompimento com o mundo do capital. Isso envolve necessariamente a apropriação individual e coletiva de processos de comunicação, da produção de bens e serviços e de planejamento nas diversas esferas das relações humanas. Esse movimento, associado em rede horizontal, uma vez iniciado e alcançando grande adesão, passará certamente por vários testes de medição de forças com os inimigos de classe do proletariado e seus aparatos de poder. Por exemplo: realizar periodicamente campanhas de solidariedade internacional a personalidades ou povos oprimidos, ou perseguidos; realizar também breves paralisações mundiais com grandes manifestações populares em prol de causas justas e alcançáveis no interior do capitalismo, como a libertação da Palestina, a redução da jornada de trabalho, algum nível de regulamentação no processo de uberização favorecendo os trabalhadores dos aplicativos e dotando-os de consciência de classe; a formação de um fundo mundial, bancado pelos governos e pela burguesia para a garantia de uma renda mínima para todos os trabalhadores desempregados do planeta. Entre outras propostas. As possíveis conquistas arrancadas nas lutas no interior do capitalismo pelo proletariado unido enquanto classe terão o condão de fortalecer e sedimentar a unidade, a consciência classista e a imediata melhoria na qualidade de vida de toda a humanidade. Uma vez constituído um movimento de tal monta, rompendo fronteiras, de forma horizontal, sustentado tanto nas redes sociais quanto por comitês ou conselhos, ou comunas locais em toda parte, envolvendo, portanto, milhões de pessoas em todo o planeta, o céu é o limite. No momento apropriado, esse vivo movimento dos de baixo saberá dar um xeque-mate no capital. Talvez uma grande paralisação por tempo indeterminado em escala mundial, combinada com grandes manifestações e ocupações de espaços estratégicos, demonstrando que, à burguesia e aos podres poderes não caberá mais quaisquer reações, a não ser a rendição absoluta. Uma nova relação social se constituirá, desta feita não mais baseada na exploração alheia, mas na solidariedade; não mais mediada pelo mercado e pelo dinheiro, mas na produção de bens necessários para a satisfação das necessidades básicas de toda a humanidade, de forma racional, sensível e ecologicamente correta. Com uma reduzidíssima jornada semanal de trabalho para a parcela adulta da sociedade, será possível garantir, em contrapartida, a retirada individual e coletiva dos bens necessários para que todas e todos tenham uma vida digna, solidária, com grande tempo livre para a reflexão crítica e para a fruição da enorme e diversificada riqueza cultural, local e mundial, produzida pela humanidade. Uma terra sem amos e sem escravos!
São essas as percepções que colho da experiência histórica e nos limites dos meus parcos conhecimentos. Em resumo, em cada país, contribuir para organizar a resistência coletiva dos de baixo, para enfrentar os ataques da burguesia e arrancar conquistas imediatas, apoiando, nas disputas regionais dos poderes constituídos, de forma crítica e autônoma, os projetos progressistas ou revolucionários, de acordo com as diferentes conjunturas. Ou para combater os governos de direita ou fascistas; e, no âmbito mundial, contribuir para a formação de um robusto movimento emancipatório do terror capitalista. Dois movimentos, local e mundial, com as mesmas pessoas ou grupos, ou partidos, ou correntes, unidos nas redes sociais e em conselhos de base espalhados pelo planeta - "trabalhadores do mundo, uni-vos!" - que se ligam, se complementam... até que assumam uma única e comum perspectiva: a da emancipação humana dos "moinhos satânicos" (Marx) do capital.
Um forte abraço e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
(Euler Conrado, em 20/05/2024)
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Tragédias...
...no sul do Brasil... na Palestina ocupada... aqui, pelas águas revoltosas da mãe-natureza maltratada pela ganância dos capitalistas... em Gaza, pelo terror genocida da entidade colonialista e racista conhecida como "israel"... No sul do Brasil, algumas dezenas de mortes e milhares de desabrigados... na Palestina ocupada, milhares de mortos e feridos - ao todo mais de 120 mil! - e milhões de desabrigados e refugiados... aqui, a solidariedade nacional a unir o povo e governos... na Palestina ocupada, ante ao pusilânime desprezo e omissão dos governos - com raras exceções - a calorosa e valente solidariedade dos povos, incluindo os bravos estudantes... No sul do Brasil, o povo gaúcho sobrevive com fé e com a ajuda de movimentos sociais - que viva o MST e o MTST -, do governo federal e de uma enorme rede de apoio em todo o país... Na Palestina ocupada, a população de Gaza, cercada há mais de 200 dias, sem comida, sem água, sem remédios, bombardeada covardemente 24 horas por dia, sobrevive e resiste, além da fé, com um heroísmo humano que poucas vezes testemunhamos... No sul do Brasil, esperamos que as pessoas sejam salvas e que recuperem as condições para uma vida individual e coletiva digna... Na Palestina ocupada, torcemos, lutamos e sonhamos para que haja a libertação dos palestinos das garras sujas de sangue do imperialismo europeu-estadunidense e da sua cria mais original que é esse misto de base militar povoada por colonos e máquina de guerra e de destruição... No sul do Brasil, passada a tormenta, estamos certos de que a vida retomará seu curso, como as águas da mãe-natureza... Na Palestina ocupada, ante a crueldade insana e impune provocada pelo terror genocida dessa forma de civilização, tudo é incerto, nada pode ser previsto que não tenha como elemento central a destruição e o assassinato de dezenas de milhares de crianças, de mulheres, de idosos, de seres humanos, enfim... ajudemos o povo do Rio Grande do Sul... salvemos o povo palestino...
Palestina livre do Rio ao Mar!
(Euler, em 08/05/2024)
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As esquerdas brasileiras, incluindo a mais radical, cresceriam muito e contribuiriam para a formação de um forte movimento social se se "apropriassem" politicamente dos programas sociais do governo federal
Ao longo de quatro mandatos e meio, o PT e seus aliados realizaram programas sociais relevantes, embora com limitações, mas que representaram uma importante conquista para os de baixo. A esquerda, infelizmente, sobretudo o próprio PT, não soube trabalhar e lutar para aprimorar esses programas. Mas, o mais importante: não soube construir movimento social organizado a partir dessas conquistas. O PT e seus aliados se beneficiaram eleitoralmente desses programas, mas não travaram o debate político e o trabalho de organização pela base para o enfrentamento com a extrema direita. E a esquerda mais radical se limitou a criticar o PT como fim em si mesmo, seja pelas alianças à direita para garantir a governabilidade, seja pela não realização das propostas que essa esquerda defende, algumas delas importantes, mas outras meramente ideológicas e dogmáticas.
As camadas mais pobres da população, beneficiárias desses programas, tornaram-se, pelo menos em parte, presas do trabalho ideológico realizado pela mídia do imperialismo (Globo e demais) e pelo fanatismo religioso das igrejas ditas cristãs, sobretudo as neopentecostais. Nos municípios, a população mais pobre nem sempre associou essas conquistas sociais com os governos da esquerda, e com isso descarregou votos em candidatos que dão sustentação aos projetos da direita. O mesmo se repetindo na votação para os cargos parlamentares, tanto municipais quanto estaduais e federal. Isso se deve em parte a essa combinação da esquerda pró-governo que se acomodou, e a esquerda anti-governo que se limitou a criticar o governo.
Nos movimentos sociais, ocorreu o seguinte. O PT e seus aliados dominavam a maioria dos aparelhos sindicais e estudantis. Ao invés de se construir uma unidade entre as forças progressistas, quase sempre ocorria o aparelhamento das direções por tendências do PT ou pelos partidos mais radicais da esquerda, salvo algumas exceções. O discurso da democracia operária era só discurso mesmo, pois, na prática, era comum que alguma das forças políticas dominasse completamente as direções dessas entidades. Houve um momento de crescimento das lutas sindicais e estudantis, quando as disputas pelos aparelhos eram diluídas pela presença de grande número de estudantes ou de trabalhadores em assembleias e manifestações populares. Os governos do PT trabalhavam com essa lógica: políticas sociais articuladas pelo alto, garantindo uma boa e legítima base eleitoral - ainda que desorganizada e despolitizada -, de um lado, e o apoio dos movimentos sindicais e estudantis e também de movimentos sociais como o MST, do outro.
Contudo, o capitalismo no Brasil e no mundo experimentou algumas mudanças estruturais que impactaram sobretudo o mundo do trabalho. Houve avanço tecnológico - a robotização, a informatização e etc. -, aumentando com isso a produtividade, sem a correspondente redução nas jornadas de trabalho, o que garantiria maiores lucros para os capitalistas. O resultado desse processo é que várias categorias de ponta simplesmente desapareceram ou perderam força. Entre elas, a dos metalúrgicos do ABC paulista, a dos bancários nacionalmente, entre outras. Uma enorme força de trabalho passou a engrossar o exército de reserva dos desempregados, enquanto a maior parte passou a assumir atividades informais, ou de serviços, geralmente realizadas de forma isolada, e não mais em grandes concentrações proletárias. Ocorre o processo da uberização, quando o trabalhador é chamado de microempreendedor, ficando responsável por adquirir ele próprio o seu instrumento de trabalho - o automóvel ou a motocicleta -; responsável ainda pela manutenção desse instrumento de trabalho, pelo combustível, e alienando o seu tempo de forma integral, em jornadas extensas que chegam a mais de 12 horas por dia, sem quaisquer direitos e garantias trabalhistas. No fundo é o que podemos chamar de assalariados sem salários, que têm que produzir o suficiente para pagar todos os custos da sua produção, mais o seu ganho de sobrevivência e entregar um grande percentual aos proprietários dos aplicativos, que ficam desobrigados de quaisquer despesas patronais - não pagam férias, nem 13o salário, nem o terço de férias, nem o combustível, nem a manutenção dos veículos, nem quaisquer outros gastos, incluindo a previdência. Esse processo, que está relacionado com a dinâmica da reprodução do capitalismo, obviamente enfraqueceu os sindicatos. E para completar o quadro, os governos Temer e Bolsonaro cortaram os impostos sindicais descapitalizando essas entidades. As políticas recessivas neoliberais, sobretudo durante os governos Temer e Bolsonaro - o mesmo aconteceu no período FHC - contribuíram, também, para a desmobilização dos trabalhadores.
Soma-se a esses fatores estruturais e conjunturais, a despolitização dos de baixo pelos motivos que citamos anteriormente - a esquerda do governo se acomodou com as vitórias eleitorais, e a esquerda anti-governo se acomodou com a crítica ao governo na própria bolha. Isso produziu um clima favorável à ação política e ideológica das direitas. De um lado, a mídia imperialista-sionista (Globo, Record, SBT, Band e etc.) trabalhando 24 horas por dia para detonar o PT e a esquerda em geral, sem que houvesse uma contraposição de uma mídia popular e progressista. Um verdadeiro massacre ideológico com o financiamento do próprio governo do PT. Na base da sociedade, com o desencanto cada vez maior com a política e com a ausência de projetos da esquerda, milhares de pessoas foram seduzidas pelas religiões fundamentalistas, sobretudo as pentecostais, mas não somente.
Apesar de toda essa tragédia, que combina mudanças estruturais no capitalismo, equívocos das esquerdas moderadas e radicais e a ação organizada da direita e da extrema direita - esta, mais recentemente se apropriando das redes sociais -, apesar disso, o PT ainda mantinha - e mantém - pelo legado dos programas sociais, uma forte base eleitoral, sobretudo quando a disputa é para a presidência da república e o candidato atende pelo nome de Luís Inácio Lula da Silva. Não fossem esse legado e essa liderança, a extrema direita bolsonarista teria se perpetuado no poder por um bom tempo, completando a obra do mal, o que incluiria o total aparelhamento do estado brasileiro, e a imposição de uma nova ditadura com apoio popular e militar - e das milícias também, óbvio. O que, de resto, não está totalmente descartado, para a infelicidade geral da nação.
Mas, a pergunta central que as esquerdas deveriam fazer, ao invés de apenas criticarem umas às outras é justamente a clássica: "o que fazer?". Exatamente isso: o que fazer para retomar o apoio de massas, para reconquistar as ruas - que sempre foram ocupadas pela esquerda -; para construir um movimento social pela base, capaz de sustentar os governos progressistas, de travar a resistência cotidiana, de enfrentar os ataques da burguesia, do latifúndio e da extrema direita; e de arrancar nas lutas as conquistas sociais e políticas para os de baixo?
Essa pergunta não tem resposta fácil. Os grupos da esquerda mais radicais tendem a querer reproduzir, de forma quase sempre descontextualizada, as experiências revolucionárias de outros povos em tempos, locais e conjunturas diferentes. As esquerdas mais ligadas ao governo muitas vezes insistem em reproduzir as práticas, que, se funcionaram bem - segundo a lógica eleitoral - no passado, já não funcionam mais. Muita coisa mudou no Brasil e no mundo. Mas, as esquerdas têm pelo menos dois pontos de apoio muito importantes: primeiro, o governo federal está, neste momento, com o PT, ainda que com amplo leque de aliados. Quem tem a caneta e o diário oficial nas mãos ainda tem muito poder. E pode usar esse poder para construir essa base de apoio. Segundo, há um legado de programas sociais que deveria ser "apropriado" pelas esquerdas no processo de reconstrução da força social de massa e progressista. É incompreensível que um programa como o Bolsa Família e outros não produzam um forte movimento social e político popular e de esquerda. Não apenas para fins eleitorais - o que é legítimo -, mas, sobretudo como força de resistência e de luta social em defesa dos de baixo. E é sobre esse programa que quero falar a seguir.
Programa Bolsa Família. É o carro-chefe dos programas sociais da esquerda no governo federal. É um programa que envolve uma renda mínima para garantir comida na mesa de milhões de pessoas de baixa renda, a ficha de vacinação das crianças e a presença dessas crianças nas escolas, onde há o reforço alimentar com merenda em geral de boa qualidade nutritiva. Hoje, 20 milhões de famílias recebem o Bolsa Família, que representa um investimento total de cerca de R$ 170 bilhões por ano - em média, cada beneficiário recebe mensalmente cerca de R$ 680. O piso do Bolsa Família é de R$ 600 mensais e mais R$ 150 para cada criança de 0 a 6 anos e mais R$ 50 para gestantes e pessoas de 7 a de 18 anos. Além do vale-gás, no valor médio de 1 botijão de 13 kg a cada dois meses. Então, vejamos.
Um programa que atende de forma permanente a 20 milhões de famílias - e que beneficia entre 50 e 60 milhões de pessoas de forma direta e mensal - não poderia ser desprezado pela esquerda. A esquerda radical torce o nariz para esse programa; a direita chama esse programa de "esmola". Enquanto a esquerda governista se contenta apenas com os votos, que agora migram, em parte, para a extrema direita.
Considero esse programa estruturante, capaz de, se bem trabalhado, manter uma enorme base social das forças populares e de esquerda. Mas, claro é que preciso turbiná-lo num processo que envolva diretamente a participação dos beneficiários. O valor do piso - R$ 600 - está muito baixo, aquém do necessário, mesmo após a sua versão mais atualizada e negociada pelo governo Lula com o congresso nacional, antes mesmo de tomar posse em janeiro de 2023. O valor já era baixo anteriormente e ainda continua. As esquerdas deveriam apresentar, como objetivo a médio prazo, que o valor do piso seja de um salário mínimo, pelo menos, podendo, de forma imediata, passar para cerca de 75% do salário mínimo, o que representaria algo próximo de R$ 1 mil - mantendo-se, obviamente, os outros ganhos mencionados. Até atingir a meta de um salário mínimo mensal.
A construção dessa proposta poderia ou deveria se dar em assembleias populares amplamente convocadas pelas esquerdas em todos os bairros do Brasil. Seria uma oportunidade de mobilizar e envolver 60 milhões de pessoas ou mais para discutir uma renda digna, capaz de garantir de fato a sobrevivência das pessoas com o mínimo de qualidade. Essas assembleias poderiam ser transformadas imediatamente em comitês populares, que discutiriam na base da sociedade TODOS os problemas que afligem os de baixo: moradia própria, transporte público de qualidade, saúde pública, escola em tempo integral, formação profissional, segurança pública, comunicação em rede local e nacional, lazer, cultura, criação de cooperativas e etc. Seria a oportunidade para um rico debate político e para se discutir e se apropriar coletiva e organizadamente dos programas sociais do governo - não mais como concessão pelo alto, mas como construção e conquista dos de baixo durante os governos de esquerda. Por isso, a convocação das assembleias seria um chamado para todos os programas sociais, tendo o Bolsa Família como carro-chefe.
Imaginem só milhares de comitês populares espalhados pelo Brasil, a se reunirem com frequência em praça pública, ou numa quadra de futebol, ou num espaço público qualquer. Seria fundamental que o próprio governo participasse desse processo e que todas as forças de esquerda, lideranças populares, movimentos sociais, grupos e personagens progressistas também participassem, sem a prática aparelhista e hegemonista comum nas hostes das esquerdas - a direita é ainda pior, acreditem -, para que se construa um movimento que aprenda a respeitar a diferença, a democracia dos de baixo e a construir a unidade na luta. Um movimento classista, popular e de luta!
Algumas considerações devem ser acrescentadas. O aumento do valor do bolsa família é uma proposta que pode conquistar o apoio de quase toda a população, uma vez que mais dinheiro no bolso de 20 milhões de famílias ou mais representará, além da melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, um incremento no comércio local e na prestação de serviços em geral em todas as cidades do Brasil. É distribuição de renda na veia, a um custo relativamente baixo, tendo em vista o enorme alcance social e político.
O aumento no valor do piso do bolsa-família tem uma outra consequência favorável a quem está trabalhando, seja com carteira assinada ou como trabalhador informal: pressiona o aumento do valor da força de trabalho. Se a diferença entre o bolsa família e o trabalho de um mês remunerado for muito pequena, não valerá a pena empenhar a força de trabalho para exploração alheia. Os patrões serão forçados a desembolsar algo mais, seja de forma direta, aumentando o salário, seja de forma indireta aumentando o valor do vale refeição, bancando integralmente o vale-transporte e até oferecendo melhores condições de trabalho.
Além disso, é preciso levar em conta que o capitalismo, na sua reprodução, gera cada vez mais a exclusão de milhões de pessoas do mundo do trabalho formal. O aumento da produtividade, como mencionamos anteriormente, faz com que uma unidade de trabalho que antes necessitava de 10 mil trabalhadores para produzir, por exemplo, um milhão de automóveis por ano, hoje necessite de apenas 1 mil funcionários para produzir 10 vezes ou mais veículos. Isso não tem retorno. O estado capitalista - seja ele gerido pela direita e mais ainda pela esquerda - terá que bancar, a fundo perdido, através de políticas públicas, uma renda mínima, entre outros serviços, para garantir a sobrevivência digna de toda a humanidade. Enquanto persistir o capitalismo, é o que se pode fazer, geralmente através de muita luta, muita resistência, muito combate de classe. Claro que se trata de uma conquista "reformista", mas todas as conquistas no interior desse sistema não têm o condão de alterarem a essência da forma-mercadoria própria do capital. Embora nem todos da esquerda tenham, ainda, alcançado essa percepção. A superação definitiva desse sistema passa necessariamente pela unidade mundial dos de baixo para este fim - ou seja, para a construção de uma outra relação social, e não para diferente gestão do mesmo sistema - que é o que em geral as diferentes esquerdas propõem. Ou seja: a mudança sistêmica mundial ainda deve demorar um pouco - tenham paciência!!!
Fica aí lançado esse desafio, como contribuição para o debate acerca do que fazer para romper, no plano nacional, esse marasmo no campo popular e progressista e com isso evitar que a extrema direita retome o poder de forma plena no Brasil. É preciso trabalhar com as realidades concretas e não com programas aparentemente ousados e revolucionários, mas que não estão colocados na ordem do dia para a grande maioria da população. E que nem sempre representam mudanças tão radicais assim, convenhamos.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
(Euler, em 05 de maio de 2024 - 206 anos do nascimento do grande pensador e revolucionário Karl Marx).
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Salvemos os palestinos! Salvemos árabes e judeus do nazi-sionismo! "israel" é a expressão concentrada do terror capitalista! / Esquerda brasileira e mundial precisa redescobrir o comunismo... e reaprender a resistir coletivamente no capitalismo... / Trabalhadores das universidades federais estão em greve... Lula precisa atender as justas reivindicações desses servidores públicos! Apoiamos o governo e apoiamos as greves dos servidores...
Nos últimos 200 dias, apesar do boicote da mídia que serve ao imperialismo e ao sionismo, o mundo assiste em tempo real a um dos mais covardes massacres contra uma população faminta, cercada, indefesa, que carrega a culpa de ter nascido na região da Palestina, local escolhido para o último experimento ocidental de colonização com limpeza étnica e o exercício pleno da supremacia racial. O projeto "israel", enquanto materialização da doutrina sionista, é a expressão concentrada no tempo e no espaço do terror capitalista; de séculos de colonização europeia do mundo, de apropriação de riquezas e terras alheias, de destruição de povos, até atingir a sua forma atual, imperialista, cuja maior potência, os EUA, vive, respira e se alimenta de guerras, de destruição e do domínio pela força e pela manipulação de quase todo o planeta.
Os palestinos pagam o alto preço de estarem no meio dessa encruzilhada entre as disputas geopolíticas, e numa região rica em petróleo e gás, bem ali no Oriente Médio, numa zona de confluência da Ásia com a África e a Europa. Lá estão há mais de três mil anos, nas terras onde Cristo nasceu, peregrinou e pregou, entre outras coisas, o perdão e o amor. Cristo, judeu e palestino ao mesmo tempo, foi perseguido, preso, torturado e assassinado pelo império da época, com as bênçãos dos religiosos da época. Até que sua semente prenunciou, através dos primeiros cristãos, reunidos clandestinamente nas catacumbas, o possível surgimento de um novo mundo... no Céu... e quem sabe, algum dia, na Terra...
Os palestinos da até então charmosa Faixa de Gaza vivem nesses últimos 200 dias o terror que muitos outros povos viveram ao longo dos últimos séculos de construção do capitalismo. Um cerco total por um exército sem alma... toneladas de bombas despejadas diariamente destruindo mesquitas, hospitais, escolas, ruas, casas, pessoas, cães, gatos... Até o momento, cerca de 40 mil palestinos foram assassinados covardemente, a maioria crianças e mulheres e idosos. E mais de 80 mil palestinos feridos e mutilados, muitos, sobretudo crianças, sendo submetidas às cirurgias sem uso de anestesia ou qualquer outra medicação. Muitas vezes para amputar uma perna, um braço, uma das mãos, esmagada pelas bombas ou soterrada nos prédios demolidos. Quando escapam dos tiros e das bombas, são mortos pela fome e pela doença: "israel", este estado terrorista e colonialista, impede a entrada de ajuda humanitária para atender os 2 milhões de palestinos que sobrevivem heroicamente em Gaza. Centenas de caminhões estão há meses parados na fronteira entre Gaza e Egito. E não há quem obrigue "israel" a cumprir esse mínimo gesto de decência e humanidade. A maior potência imperialista, EUA, é ao mesmo tempo o maior aliado e o maior financiador de "israel". As lideranças políticas, incluindo presidentes e candidatos, nos EUA, são financiadas pelos banqueiros sionistas. Que são os donos de toda a mídia de lá e de cá, também. São os donos das empresas cinematográficas... Hollywood... que produz alguns poucos bons filmes e muito lixo a reverenciar a bandeira do império, os "bons" costumes e valores ocidentais, enfim, a entorpecer a mente de milhões de pessoas mundo afora.
Ninguém é capaz de parar o braço assassino dessa máquina de guerra? ONU, Corte de Haia, governos do mundo inteiro, onde estão vocês? Enquanto isso, uma flotilha, composta de três navios, com mil pessoas de diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, representado heroicamente pelo jovem internacionalista Thiago Ávila, tenta furar esse bloqueio, levando calor humano, comida e remédios para os palestinos que vivem em Gaza. A criminosa entidade conhecida como "israel" já anunciou que não permitirá que eles se aproximem de Gaza. Mesmo na Turquia, países que se dizem amantes da democracia e da liberdade, como Alemanha e Estados Unidos, pressionam o governo turco para que eles não permitam que a flotilha siga seu rumo até Gaza. O mundo inteiro tem o dever de assistir, torcer e pressionar, em manifestações as mais variadas, para que esses verdadeiros heróis da humanidade consigam chegar em Gaza e cumprir o seu propósito do bem. Eles, os mil cidadãos do mundo, incluindo um neto de Nelson Mandela, sabem do risco que correm. Quando indagado sobre isso, o nosso valente brasileiro Thiago Ávila responde mais ou menos assim: o risco que corremos nunca será maior do que aquele que os palestinos de Gaza sofrem diariamente. Talvez ali, naquela ousada embarcação, onde todos demonstram enorme generosidade e despojamento em relação a tudo, inclusive à sua própria existência, esteja a prova mais forte de que a humanidade ainda pulsa. Em meio a toda a barbárie que presenciamos, ainda existem entre nós pessoas humanas, sensíveis.
Salvemos os palestinos! E salvemos também árabes e judeus do terror sionista!
Esquerda brasileira e mundial precisa redescobrir o comunismo... e reaprender a resistir coletivamente no capitalismo...
Mesmo no chamado mundo socialista, onde praticamente todas as terras e fábricas e empresas foram estatizadas, prevaleceu o domínio dessas relações próprias do capitalismo. No lugar do burguês formal, dono pessoal de muitas propriedades, o burocrata estatal, chefe do partido, a acumular privilégios próprios do cargo e a impor a exploração assalariada aos demais, numa cadeia de comandos que na prática não se diferencia muito das hierarquias de quaisquer empresas privadas capitalistas, ou de um exército, ou de qualquer empresa estatal ou da administração pública.
É fato que a experiência do chamado socialismo real provocou, internamente, ousadas e generosas políticas públicas - na saúde, na educação, no transporte, na moradia, etc. - e forçou, externamente, nos países assumidamente capitalistas, concessões aos trabalhadores, para afastá-los do temor ao "fantasma do comunismo". O mesmo fantasma que rondou a Europa e fez com que ela, por temor, e também por conquista dos trabalhadores, construísse um sistema de bem estar social para boa parte da sociedade - sistema este cada vez mais destruído. Dado ao período maior de acumulação de riquezas nos países centrais do capitalismo - Europa e Estados Unidos - claro que o padrão médio de vida de amplos setores seria maior do que nos chamados países socialistas, onde, no fundo, se construía de forma retardatária a acumulação de capitais.
Não houve, na verdade, um fracasso do socialismo, uma vez que essa experiência estava calcada não na superação sistêmica mundial do capital, mas numa outra forma de gerenciamento e de acumulação de capitais. Ou seja: ali se construía uma coisa em nome de outra. Nunca deixou de ser capitalismo, embora, no discurso, caiba tudo. No discurso, aqui no Brasil, você pode dizer que Lula deveria romper com o "Centrão", reestatizar todas as empresas privatizadas, fazer uma reforma agrária radical, expropriar os bancos, etc. e etc. Na prática, contudo, esse receituário tem dois problemas: um, o governo cairia no dia seguinte, pois tem minoria no congresso e a esquerda está adormecida; e com isso, a extrema direita voltaria com força ainda maior; dois, caso desse certo, e o povo fosse pra rua e apoiasse o governo, encurralando a direita e etc. e tal, mesmo assim, não arredaríamos um milímetro sequer do sistema capitalista. E a depender dos bloqueios e sanções mundiais, talvez tivéssemos que impor um ritmo de exploração aos trabalhadores ainda maior do que acontece atualmente. Ou seja: as mudanças moderadas ou radicais, até agora colocadas, não conseguem fugir ao gerenciamento do capital no âmbito local como fim em si mesmo.
Na minha percepção pessoal, baseado muito mais na observação da experiência histórica, naquilo que as minhas enormes limitações teóricas e mundanas me permitem alcançar, entendo que não existe aquilo que chamamos de socialismo. Que seria uma espécie de fase intermediária entre o capitalismo - e portanto ainda dentro do capitalismo, nos limites nacionais - e o comunismo, este sim, um outro sistema, uma outra relação social, não mais marcada pela divisão de classes, nem por hierarquias rígidas, nem por estados nacionais, nem por mercado. Não há intermediação entre esses dois sistemas: há, sim, resistência coletiva e individual dos de baixo no interior do capitalismo, podendo, ou não, em algum momento, e em escala mundial, avançar para a superação definitiva do capital. Enquanto isso não acontecer, o mundo inteiro estará subordinado à dinâmica do capitalismo, com suas leis intrínsecas, que desumanizam, que invertem as coisas, que reproduzem a forma capitalista de ser e de viver; na disputa mercadológica e egoísta de atores que servem a um mesmo senhor: o Deus mercado!
Na lógica doutrinária de uma parte da esquerda dita radical, aspas, é preciso tomar o poder, de preferência de forma revolucionária, para supostamente destruir o capitalismo: expropriar bancos, monopólios econômicos, terras. E com isso, teoricamente, dar início ao socialismo, que seria a fase inicial para uma melhor distribuição de riquezas e rendas e de educação da maioria da população para um outro sistema, o comunismo. Um longo e doloroso parto, portanto. Um receituário aparentemente alcançável, se a história não tivesse colocado à prova essa tese e a tivesse rejeitado. Nenhuma das experiências conhecidas no mundo, que passaram por esse esquema, e que tem na tomada do poder o eixo central, resultou numa real aproximação daquilo que poderíamos chamar de um outro mundo, pós-capitalista. Talvez porque o eixo principal não fosse a tomada nacional de poder, mas, a construção mundial de uma força social e política, de milhões de pessoas, os de baixo, que se auto organizassem para resistir coletivamente, arrancar conquistas no interior do capitalismo, e aí sim, preparar o terreno para a saída coletiva do capitalismo.
A intermediação possível no momento é essa que já existe no interior do capitalismo: com as greves, com a conquista de governos pelos diferentes projetos de esquerda, seja por eleições ou revoluções, para gerir a máquina do estado capitalista produzindo políticas públicas que favoreçam a maioria da população mais pobre: Bolsa Família - pena que não seja mais turbinada! -, Minha casa minha vida, Luz para todos, aumentos reais no salário mínimo, entre outros programas sociais, que no Brasil, sob os governos de esquerda de Lula e Dilma, com todas as limitações, proporcionaram importantes conquistas para milhões de pessoas de baixa renda. Assim como na China capitalista, onde vivem 400 dos 3 mil bilionários do planeta e que, sob a orientação do partido comunista, ao mesmo tempo que se reproduz o capital em larga escala, atende-se às demandas sociais; assim como em Cuba, país com poucos recursos energéticos e cercado covardemente pelo império do mal, consegue-se uma melhor distribuição do pouco que tem e de uma prática coletiva solidária e humanista. Mas, nenhuma dessas experiências, entre outras, saiu do universo do capitalismo. No Brasil, a esquerda dita radical, aspas, transforma o ataque aos governos do PT um fim em si mesmo. Sem base social, sem projeto capaz de sensibilizar e unir a maioria da população - como conseguem o PT e seus aliados -, vive a alimentar a própria bolha de um discurso doutrinário distanciado da realidade concreta das pessoas. Nesse quesito, as igrejas ganham força, porque, ante ao desespero provocado pelo terror da reprodução do capital, prometem o reino do céu. E uma certa "prosperidade" na Terra, alinhada à lógica de disputa de mercado. Se se dão bem - conquistam emprego, uma casa própria, ingressam em universidades, graças em geral às políticas públicas dos governos de esquerda -, foi por mérito próprio, com as bênçãos do Deus da igreja deles, claro. Agora, se der tudo errado, aí sim, a culpa é do PT, é da Dilma ou do Lula, não do capitalismo, nem do Deus deles. Entre a cruz dessas igrejas fundamentalistas e a espada de uma esquerda desconectada das realidades concretas, os de baixo seguem a marcha imposta pela reprodução do valor-dinheiro, do Deus mercado... A esquerda brasileira e mundial precisa re-aprender a resistir coletivamente. O que inclui apoiar criticamente os projetos de governos mais progressistas, as lutas e os movimentos sociais autônomos, até acumular forças e consciência crítica para construir projetos mais ousados. No interior do capitalismo... e finalmente, em escala mundial, para além do capital. (continuação no próximo capítulo, rsrs).
Trabalhadores das universidades federais estão em greve... Lula precisa atender as justas reivindicações desses servidores públicos! Apoiamos o governo e apoiamos também as greves dos servidores...
Numa recente entrevista coletiva que o presidente Lula concedeu, ele foi muito claro em reconhecer que a greve é um direito constitucional e que seu governo não perseguirá e nem punirá os grevistas. E está negociando com as carreiras em greve. Não se espera nada diferente dessa atitude democrática de um governo de esquerda, ainda que em aliança com setores mais amplos. Esperamos que o governo atenda às justas demandas dos servidores públicos. Os trabalhadores das universidades federais devem ser tratados pelo governo Lula com todo carinho e atenção que se deve dedicar aos trabalhadores assalariados em geral e especialmente aos que sempre estiveram do lado certo, segundo a nossa perspectiva. No combate ao negacionismo, no combate à extrema direita e sua ridícula pauta moralista e de costumes para desviar a atenção dos principais problemas que afligem o nosso povo no seu cotidiano; no combate, enfim, às tentativas de golpe e de enfraquecimento do serviço público. Da nossa parte, como registramos anteriormente, total apoio às greves dos servidores federais!
Força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
(Euler, em 25 de abril de 2024).
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Irã se fortalece enquanto potência no Oriente Médio. Mas o massacre contra os palestinos de Gaza continua e o sionismo precisa ser destruído / Servidores públicos federais cobram reajuste salarial do governo e entram em greve. Lula precisa negociar com eles e romper com o "déficit zero" imposto pelo mercado
No último final de semana, o mundo inteiro assistiu a um espetáculo cênico-militar orquestrado pelo Irã, país persa de cultura milenar e que está intimamente ligado aos povos árabes do Oriente Médio, sobretudo aos muçulmanos xiitas. Nos últimos anos, as lideranças políticas e militares do Irã têm sido covardemente atacadas e assassinadas pelo imperialismo estadunidense e sua ponta de lança na região do Oriente Médio, a entidade sionista de ocupação também conhecida como "israel". Estados Unidos e "israel", com apoio também dos países ricos da Europa, conseguiram praticamente destruir todos os países que adotaram uma linha autônoma em relação ao imperialismo. É o caso, por exemplo, da Líbia, do Iraque - embora no passado tenha sido usado pelos EUA -, e também da Síria, que não foi totalmente destruída por conta do auxílio militar estratégico que este país recebeu da Rússia e do Líbano, através do Hezbollah, que é ligado ao Irã. As monarquias árabes aliadas dos EUA - Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, entre outras, fazem o jogo do imperialismo naquela região em troca de acumulação de riquezas para as elites desses países, enquanto seus povos vivem em situação de miséria. No tabuleiro geopolítico mundial, a região do Oriente Médio, além da importância histórica, tem um papel estratégico em função das riquezas energéticas, sobretudo do petróleo, mas também por ser uma das principais rotas que ligam os mercados da Europa e da Ásia. Apesar da forte influência militar, diplomática, econômica e política que os Estados Unidos exercem na região, esse domínio encontra-se em decadência, sobretudo com a entrada em cena da China, potência emergente que não para de crescer e de consolidar sua posição no cenário do capitalismo mundial.
Para tentar dividir ainda mais os países árabes - que têm divergências religiosas e nas formas ditatoriais e monárquicas de poder, entre outras - o Ocidente inventou "israel", uma mistura de base militar e enclave sionista-colonialista-imperialista instalada pela força na Palestina histórica. Houve um casamento entre a doutrina sionista, defensora de um estado judaico de supremacia racial, com o legado colonialista europeu, e finalmente, com os objetivos geopolíticos de dominação do imperialismo estadunidense. Ao longo das últimas décadas, além de massacrar os povos originários da Palestina, especialmente os árabes palestinos, "israel" funciona como linha de frente do imperialismo, provocando divisões, assassinando lideranças do Oriente Médio e atacando diretamente vários países, sempre de forma impune, uma vez que é totalmente protegido pelos Estados Unidos e países ricos da Europa. Mas, esse cenário começa a mudar radicalmente a partir das ousadas ações realizadas pelo Hamas e seus aliados da resistência palestina no dia 07 de outubro de 2023, ações essas conhecidas como "Dilúvio de Al-Aqsa" - Al-Aqsa é o nome da mesquita que fica em Jerusalém e o terceiro local sagrado para o islamismo, depois de Meca e Medina. A partir desse momento, o estado sionista de "israel" reagiu, como fez nos últimos 76 anos, de forma arrogante contra os palestinos, cercando militarmente a Faixa de Gaza e atacando covardemente a população civil palestina. Durante os últimos sete meses, cerca de 40 mil palestinos, sobretudo crianças e mulheres, foram assassinados nesse genocídio cometido por "israel", além dos feridos e mutilados, que somam mais de 80 mil palestinos. Enquanto isso, as forças guerrilheiras do Hamas e seus aliados continuam quase intactas nos túneis da Faixa de Gaza, provocando grandes baixas ao exército israelense. A conhecida fama de "israel" enquanto potência militar e de possuir o mais treinado exército da região e do mundo se desfez como castelo de areia à beira do Mar Mediterrâneo.
Mesmo contando com total apoio dos EUA e da Europa e possuindo as tecnologias militares mais modernas, "israel" não conseguiu atingir nenhum dos três principais objetivos que estabeleceu: exterminar o Hamas, resgatar os reféns israelenses sob a guarda da resistência armada palestina e ocupar totalmente a Faixa de Gaza. A única coisa que o estado supremacista e colonialista de "israel" conseguiu foi cometer um genocídio contra os civis palestinos, especialmente crianças e mulheres, além de destruir, com ataques aéreos, o enorme e milenar acervo histórico-cultural da Faixa de Gaza, com a destruição de igrejas e mesquitas, além de escolas, hospitais e de toda a infraestrutura daquele território. Covardemente, "israel" impede a entrada na Faixa de Gaza de ajuda humanitária, incluindo água potável, alimentos, remédios e ajuda médica. Milhares de palestinos vivem em situação degradante graças a esse covarde cerco de um estado colonialista cada vez mais isolado, desmoralizado e dirigido por fanáticos da extrema direita, que infelizmente gozam, ainda, do apoio da maioria da população israelense, formada majoritariamente de colonos que se dirigiram de outras partes do mundo para o território da Palestina, com a promessa sionista de que ali eles encontrariam prosperidade e segurança em relação aos "bárbaros" povos árabes. "israel" talvez seja a última experiência de colonização de outras terras pelos europeus, que se tornaram potências mundiais invadindo, saqueando, roubando as riquezas de outros povos, ao mesmo tempo em que esses povos, durante séculos, foram explorados e massacrados sem qualquer pudor. A prática da desumanização do outro, de povos inteiros, apontados como "bárbaros", "terroristas", ou "selvagens", sempre foi o pretexto usado pelos colonizadores e imperialistas para cometerem as maiores atrocidades contra outras civilizações e culturas e povos de todo o mundo. Os palestinos estão nessa enorme lista de vítimas dessa política de extermínio imposta pelo imperialismo e pelo colonialismo ocidental. Assim como no Brasil, os povos indígenas foram massacrados em nome da civilização moderna, e os africanos, trazidos para cá como escravos, eram apontados como povos sem alma - pois não eram cristãos -, entre milhares de outros exemplos em todos os continentes. Os palestinos são tratados pelos israelenses e pela mídia ocidental como "terroristas do Hamas", ou "animais humanos" que merecem ser perseguidos e assassinados. A indiferença dos governos - com raras exceções - ao massacre que "israel" realiza contra os civis palestinos é algo que diz muito sobre a total desumanização desses esquemas de poder do mundo capitalista. Mesmo nas hostes da esquerda brasileira, vergonhosamente se ouve um silêncio pusilânime e cúmplice para com esse genocídio transmitido ao vivo pelos canais alternativos no Youtube. O presidente Lula foi uma das poucas vozes a destoar desse conveniente silêncio da militância de esquerda, sobretudo dos maiores partidos, e também de parlamentares da chamada esquerda, com raríssimas e honrosas exceções, aos quais podemos contar nos dedos das mãos. Esperamos que o novo cenário a partir da entrada em cena de forma direta e transparente do Irã - já que de forma indireta o Irã sempre apoiou os palestinos - haja uma mudança em favor dos palestinos. E é sobre o conflito direto "israel"- Irã que falaremos a seguir.
Um espetáculo cinematográfico e artístico se desdobrou nos céus de "israel" no último dia 13 de abril de 2024. Dezenas de mísseis e drones jorraram luz nos céus da Palestina ocupada. O sistema de defesa de "israel", conhecido como "domo de ferro", funcionou em grande parte, mas, atendeu ao que o Irã precisava: foi mapeado pelos satélites iranianos. Mesmo assim, o estado sionista teve que contar com a ajuda dos EUA, da França, da Inglaterra, da Jordânia, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. Em apenas uma noite, "israel" queimou 1,3 bilhão de dólares com seu sistema de defesa. E o Irã atingiu duas bases militares que ele desejava atingir para passar o seu recado: nós podemos esmagá-los! Neste mesmo dia, eu estava em BH, num encontro belíssimo realizado na sede do Sindirede - sindicato dos profissionais da Educação de Belo Horizonte -, um dos poucos que tem dado incondicional apoio à causa palestina na capital mineira. O evento foi mais uma ação promovida pelo Comitê Mineiro de solidariedade ao povo palestino. Com a presença de cerca de setenta pessoas, de diversas organizações políticas e também de ativistas desorganizados, como eu, o encontro foi marcado por rica discussão política e análise das realidades que vivemos no Brasil e no mundo, com foco na questão palestina. O evento foi aberto com a fala, online, do embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben. Em seguida, uma roda de conversa entre os presentes. No intervalo das falas, houve um lanche compartilhado, uma mesa farta que caracteriza a generosidade culinária dos e das mineiras. Quando pego o último cipó para retornar para o meu bunker numa área quase rural, começo a receber, via WhatsApp, as primeiras informações, com vídeos e fotos, do grandioso ataque orquestrado pelo Irã. A mídia ocidental, como sempre servil aos piores interesses, tratou logo de caracterizar tal evento de forma descontextualizada. O Irã teria atacado Israel, diziam, como sempre, tentando vitimizar o estado terrorista - este sim - de "israel". Vamos então retroceder o calendário só por alguns dias. No dia 01 de abril último, "israel" invadiu o espaço aéreo da Síria - o que por si já constitui um crime - e bombardeou a embaixada do Irã naquele país, matando 16 pessoas, entre as quais dirigentes militares de alta patente. A destruição de uma embaixada de outro país é algo que não se observa nas últimas décadas por parte de nenhum outro país. Somente "israel", essa entidade que age com total licença para matar de forma impune poderia cometer um crime dessa natureza. A embaixada de outro país é respeitada inclusive por ditaduras sanguinárias, como foi o caso do Brasil durante o regime militar e também da ditadura de Pinochet no Chile. Vários opositores desses regimes recorreram às embaixadas em busca de asilo político. Mas, para "israel" esses avanços democráticos civilizacionais não existem. Só que dessa vez, após sofrer inúmeros ataques sem resposta adequada nos últimos anos, o governo do Irã resolveu dar um basta. Uma resposta à altura deveria ser dada para riscar o chão e dizer aos sionistas: aqui não! Durante vários dias, o mundo esperou pela resposta iraniana a mais essa gravíssima provocação israelense, que desejava, com aquele ato, atrair os EUA e potências europeias para uma guerra regional, já que o genocídio em andamento na Faixa de Gaza causara enorme isolamento e desgaste de "israel", sem resultados positivos para os sionistas.
Fazer a guerra escalar em todo o Oriente Médio é uma das formas do criminoso sanguinário Netanyahu e sua turma escaparem da prisão pelo seu próprio tribunal - onde são acusados de corrupção -, e de envolver as potências militares para ofuscar a péssima imagem que o covarde genocídio do povo palestino provocou contra "israel". Ao contrário do Brasil, sob forte influencia do fanatismo pentecostal e da extrema direita bolsonarista, no mundo inteiro milhares e milhões até de pessoas saem às ruas em protesto contra "israel" e o massacre que ele promove na Faixa de Gaza. Até mesmo nos EUA e na Inglaterra, que dão grande apoio à entidade de ocupação sionista, as manifestações e boicotes são de grande alcance. Mas, voltemos ao Irã. De forma muito comedida e calculada, com a experiência de um povo que traz o legado de séculos de lutas e de resistências e de sobrevivência contra os piores inimigos, o Irã deu uma pequena mostra da força militar e tecnológica que possui. Lançou centenas de drones, que, pela distância entre os dois territórios de quase 2.000 quilômetros, demoram cerca de 6 horas para atingir o alvo. Ou seja: "israel" e seus aliados já sabiam, pelo uso de satélites e de radares, que centenas de drones estavam a caminho. Ao mesmo tempo, ou horas depois, para ser mais preciso, o Irã despacha centenas de mísseis, estes, sim, com enorme velocidade, muito superior aos drones. Os mais velozes cruzam os céus entre Irã e "israel" em apenas 12 minutos ou menos. Essas armas são produzidas pelo Irã, com tecnologia própria, em grande escala e a um custo baixíssimo em relação, por exemplo, ao sistema de defesa de "israel".
Após algumas horas, com várias ondas de ataque inédito nos céus de "israel", a maior parte dos mísseis e drones foram derrubados pelo sistema de defesa de "israel" e de seus aliados. Mas, onde o Irã quis atingir o alvo, não houve como detê-lo. Duas bases militares, justamente aquelas de onde saíram o ataque aéreo à embaixada do Irã na Síria, foram alcançadas pelos mísseis do Irã. Contudo, esse ataque deve ser analisado não apenas pelos alvos militares atingidos, sem causar baixas humanas - vejam a diferença entre a brutalidade israelense e o "refinamento" do Irã. Primeiramente, o Irã quis dar alguns recados tanto aos EUA - que é o país que sustenta "israel" - quanto aos sionistas e aos colonos que ocupam a Palestina: 1) nós podemos alcançá-los, em qualquer parte e a qualquer hora; 2) vocês, colonos, que foram poupados, não estão seguros - ao contrário do que os sionistas lhes prometeram; 3) se nos atacarem novamente, nós responderemos com mais força. Seguramente, esses recados foram entendidos, talvez nem tanto pelos fanáticos que governam "israel", que são bestas feras completamente irracionais capazes de destruir o planeta se não forem detidos. É bom considerarmos alguns dados nessa análise. "Israel" possui o domínio de ogivas atômicas, o que coloca em risco toda a região do Oriente Médio e até mesmo do planeta Terra. E não se tem certeza, ainda, se o Irã detém bombas atômicas, embora o país estava muito próximo de dominar essa terrível tecnologia. Mas, o Irã possui milhares de mísseis muito potentes, capazes de literalmente destruir "israel". Além disso, nos últimos anos, o Irã conseguiu construir um arco de alianças muito forte, que cerca o território israelense: pelo norte, na divisa com o Líbano, o Hezbollah, a única força militar da região que conseguiu derrotar o exército de "israel" em 2006. De lá para cá, o Hezbollah só se fortaleceu e detém hoje cerca de 150 mil mísseis poderosíssimos - e um exército com milhares de combatentes bem treinados! Desde o começo desse novo conflito, o líder do Hezbollah, Sayyid Hassan Nasrallah, avisou: estamos com o dedo no gatilho! A exemplo do que se verifica em Gaza com o Hamas e aliados, o Hezbollah também construiu no sul do Líbano túneis que facilitam a movimentação das forças guerrilheiras. Na Faixa de Gaza, "israel" enfrenta sem sucesso as forças da resistência palestina, entre as quais o Hamas e outras quatro ou cinco organizações, como a Frente pela libertação da Palestina, esta de orientação marxista-leninista. Fazem parte ainda do Eixo da Resistência Islâmica, além do Irã e do Líbano (via Hezbollah), o Iêmen - com os guerrilheiros dos Houthis, aqueles, que trancaram o Mar Vermelho; a Síria e algumas milícias que atuam no Iraque e também na Síria, onde combatem mercenários financiados pelo imperialismo. Ou seja: o Irã coordena um leque de forças muito bem armadas e que estão em combate há um bom tempo. Além disso, o Irã tem relações estratégicas com a Rússia e com a China, país este que assinou contratos de investimentos no Irã tendo em vista a consolidação da nova Rota da Seda. Os Estados Unidos e seus aliados sabem do papel estratégico que tem o Irã no Oriente Médio e por isso mesmo já tentaram minar de todas as formas o desenvolvimento econômico e industrial e bélico desse país. O Irã sofre sanções econômicas do imperialismo e aliados e vários cientistas do Irã já foram assassinados pelo esquema mafioso de dominação imperialista-colonialista. Apesar de todos os embargos e ataques sofridos, o Irã se fortalece e se consolida enquanto uma das principais potências do Oriente Médio. Tanto que os Estados Unidos não desejam abrir uma nova frente de guerra contra um país como o Irã. "Israel" tenta, até o momento sem sucesso, arrastar os EUA e a Europa para este objetivo e promete dar uma resposta para breve. Mas, os EUA pedem cautela. Primeiro, porque Biden enfrenta uma difícil disputa eleitoral contra o republicano Trump. O atual presidente dos EUA carrega duas derrotas: na guerra entre Rússia e Ucrânia, quando esta última, instrumentalizada pela OTAN (braço armado dos EUA e países ricos da Europa), foi massacrada. E o genocídio que "israel" pratica contra os palestinos de Gaza, que, amplamente financiado e apoiado pelos EUA, tem sido alvo de críticas e manifestações de protesto de milhares de cidadãos dos EUA, incluindo judeus que não reconhecem "israel" e sua prática assassina, colonialista e supremacista. Embarcar numa nova aventura bélica que envolvesse toda a região do Oriente Médio poderia provocar uma crise mundial, com o aumento dos preços do petróleo, e o possível envolvimento de outras potências militares como China e Rússia, o que, aí sim, colocaria em risco a sobrevivência humana no planeta Terra.
Todos esses fatores somados deveriam, se houvesse um mínimo de bom senso, levar a um resultado simples e objetivo: é preciso resolver a causa inicial dos conflitos na região. Ou seja: encontrar uma solução justa e adequada para a causa palestina. Não há mais como jogar para debaixo do tapete, como sempre fizeram as elites ocidentais, e mesmo as elites do Oriente Médio, o problema que eles criaram quando inventaram o estado de ocupação sionista nas terras dos palestinos. Primeiramente, e de forma urgente, é preciso que haja o imediato cessar-fogo na Faixa de Gaza, com a retirada de todas as tropas do exército sionista e a entrada ilimitada de ajuda humanitária; além do financiamento para a reconstrução de toda a infraestrutura e moradias em Gaza. Mas, isso não basta. É preciso atender no mínimo a principal reivindicação dos palestinos: a criação do Estado Palestino autônomo, soberano com capital em Jerusalém. O ideal é que toda a antiga Palestina, do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, fosse devolvida aos árabes palestinos e demais povos originários, inclusive judeus, estabelecendo uma república laica, democrática e com a convivência de vários povos, sem supremacia racial ou étnica. Mas, caso essa situação ideal esteja no momento inviabilizada, que pelo menos seja criado o Estado palestino nos territórios da Cisjordânia, Jerusalém oriental e Faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém e total autonomia para que o povo palestino decida seu destino, o que inclui o retorno dos palestinos expulsos nos últimos 76 anos. A previsão mais sensata que se pode fazer é que o estado sionista de "israel" não terá vida longa. Está isolado, desmoralizado, e deve entrar em total decadência, pois nos últimos meses o sionismo mostrou para o mundo sua verdadeira face, até então encoberta pela propaganda midiática (vide Rede Globo e afins) e pelo financiamento de artistas, políticos e pastores do mundo inteiro. Sete meses de cruel genocídio dos palestinos, que lembra em muitos aspectos o holocausto sofrido pelos judeus na segunda guerra mundial, desnudaram o caráter colonialista, racista e imperialista da entidade conhecida como "israel". E quanto maior o seu isolamento e decadência, mais perigosa fica essa máquina de guerra. Daí a importância de que se aumentem as pressões e manifestações populares em todo o mundo para que se coloque um fim no genocídio e nos riscos que "israel" provoca para todo o planeta.
Forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
P.S. O tema seguinte, da greve dos servidores federais, será abordado no próximo texto. De imediato: todo apoio aos servidores públicos federais na sua justa demanda por reajustes salariais e outras pautas que visam o fortalecimento do serviço público de qualidade para todas e todos. Que o presidente Lula, que apoiamos nas eleições e cujo governo continuamos apoiando, analise com carinho as demandas dos servidores federais em greve legítima e rompa com o "déficit zero" imposto pelo mercado. É preciso abandonar a aparência enganosa de que bons resultados na macro economia, por si só, e que agrada ao mercado e sua mídia, correspondem ao que é bom para a maioria do nosso povo. Mais políticas públicas, mais distribuição de renda para os mais pobres, valorização dos servidores públicos, fortalecimento do SUS, mais investimento na Educação pública, na Cultura, na assistência social e valorização do salário mínimo (com reajustes reais acima da inflação); formação de estoque de alimentos para baratear o custo da cesta básica; investimento na moradia popular, no transporte público de qualidade, na reforma agrária sustentável (depois explico qual minha visão sobre esse tema), no fortalecimento do Bolsa Família; no investimento para produção e distribuição gratuita de remédios; e criação de um programa adequado de segurança pública. Em resumo: incluir os pobres no orçamento e os ricos nos impostos. Isso significa mais investimentos, não cortes! Em muitas áreas, houve avanço. Mas, é preciso mais. É este o caminho, Lula. Não se deixe enganar pelos burocratas neoliberais e pela propaganda falaciosa dessa mídia vendida e lesa-pátria, sempre servil ao imperialismo, aos banqueiros, ao agronegócio e outros tipos afins. É preciso estar próximo e fortalecer a base social de apoio ao governo. Mais da metade do país votou e ainda apoia o governo Lula! Governo popular que se distancia da sua base, cai. Não se sustenta. É um ensinamento recheado de exemplos na história da humanidade. Inclusive no Brasil.
(Euler, em 16 de abril de 2024).
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Bolsonarismo defende os Brazão: bandido morto, é só para preto e pobre; já os bandidos ricos, milicianos e afins, devem ficar livres e soltos! Só que não... / Derrotada em todas as frentes, "israel" desconta nos civis palestinos com covarde genocídio; e tenta regionalizar a guerra. O Irã está na mira do imperialismo / Brasil e o mundo sob o ataque da extrema direita; Lula precisa negociar reajuste com os servidores federais e romper com o "déficit zero" imposto pelo mercado.
Derrotada em todas as frentes, "israel" desconta nos civis palestinos com covarde genocídio; e tenta regionalizar a guerra. O Irã está na mira do imperialismo.
O genocídio contra os palestinos que residem na Faixa de Gaza continua. Perante a omissão das lideranças mundiais, sobretudo dos países imperialistas do Ocidente, que são cúmplices e financiadores do estado de ocupação colonialista e racista conhecido como "israel". As entidades internacionais não funcionam contra "israel". O conselho de segurança da ONU aprovou o cessar-fogo, totalmente desrespeitado pelo estado sionista, e nada acontece. A Corte de Haia recebeu a ação da África do Sul, apoiada pelo Brasil e vários outros países, e igualmente não consegue encaminhar nenhuma medida prática para impedir o genocídio contra os palestinos. O sionismo incorporou o que há de pior da Europa Ocidental, como o colonialismo, a supremacia racial, a desumanização e o extermínio de povos inteiros para atender os interesses mesquinhos de alguns poucos. Além de massacrar covardemente a população civil de Gaza, sobretudo crianças e mulheres - já são quase 40 mil mortos em seis meses de covardes ataques -, "israel" pratica também o assassinato seletivo de lideranças dos movimentos islâmicos e de oposição, incluindo seus familiares. Recentemente, o criminoso estado de "israel" invadiu espaço aéreo da Síria e destruiu a embaixada do Irã naquele país, matando sete pessoas. Outro ato covarde foi o recente assassinato dos três filhos e três netos do líder do Hamas, Ismail Haniyeh , que se encontra no Catar para realizar as negociações de cessar-fogo, entre outros objetivos. Ao contrário do filho do genocida Netanyahu que vive protegido nos EUA, os familiares do líder do Hamas não saíram de Gaza e foram mortos num automóvel atingido por ataque aéreo. "israel" é um estado terrorista, que elimina fisicamente seus adversários em qualquer parte do planeta, pois sabe que está protegido pelos países imperialistas, que considera a entidade chamada "israel" como sua cria mais original, herdeira do legado criminoso da elite europeia, incluindo o holocausto, mas não somente. E talvez esteja aí sua mais sórdida obra: conseguiram, através do sionismo, transformar suas vítimas nos algozes de um outro povo, o povo palestino. Nesse momento, derrotada em várias frentes, "israel" tenta de toda forma envolver outros países do Oriente Médio na guerra, sobretudo o Irã, que está na mira do imperialismo, por ser uma potência militar relativamente forte na região e por desenvolver uma política autônoma em relação aos interesses geopolíticos e econômicos do imperialismo. Mais do que nunca é preciso fortalecer as manifestações mundiais em solidariedade ao povo palestino e de condenação ao estado genocida de "israel". É preciso continuar cobrando do governo brasileiro para que rompa relações de todos os níveis com "israel". Até o momento, após seis meses de covardes ataques ao povo palestino de Gaza, "israel" não atingiu nenhum dos seus objetivos: não conseguiu derrotar militarmente o Hamas, que continua, juntamente com outras quatro organizações da resistência armada palestina em plena ação, impondo várias derrotas no campo de batalha ao exército de "israel"; outro objetivo não realizado é em relação aos reféns que estão sob a guarda da resistência palestina. "israel" foi obrigada a liberar dezenas de palestinos sequestrados e mantidos nas masmorras do estado sionista. E para salvar os demais reféns terá que libertar outras dezenas de palestinos presos ilegalmente e mantidos com práticas de torturas; além disso, mesmo destruindo toda a infraestrutura de Gaza, incluindo escolas, hospitais, prédios da ONU, igrejas e milhares de casas, "israel" não conseguiu expulsar os quase 2,5 milhões de habitantes palestinos de Gaza; finalmente, "israel" não consegue proteger a população de colonos que vieram de várias partes do planeta para ocupar a Palestina, com a promessa de que estariam em segurança. Enquanto não se devolver aos palestinos seu território e seu direito de viver com autonomia e liberdade, num estado soberano, laico e democrático, quem se aventura a morar nas proximidades de Gaza? O mesmo acontece no norte de "israel", fronteira com o Sul do Líbano, onde o Hezbollah, que já derrotou o exército de "israel" duas vezes, mantém a região sob intenso combate. Milhares de colonos judeus do norte de "israel" abandonaram suas casas e vivem hospedados em hotéis e moradias alugadas em Telavive. Dificilmente voltarão para o norte da Palestina ocupada. "israel" está mundialmente isolada. O Mar Vermelho continua trancado pelas forças guerrilheiras do Houthis do Iêmen, cuja população demonstra enorme e prática solidariedade ao povo palestino. Nenhum navio destinado a "israel" consegue passar no Mar Vermelho. Cresce no mundo todo o sentimento de indignação com as práticas genocidas e criminosas de "israel" contra o povo palestino, sobretudo contra crianças e mulheres. Até mesmo o recurso da proibição de entrada de alimentação e remédios na Faixa de Gaza para a população civil é utilizado pelo criminoso estado de "israel", agravando a situação de fome, doenças e mortes naquele território. É preciso boicotar e isolar cada vez mais o estado de "israel", forçando os governos e as entidades internacionais a tomarem medidas concretas que barrem a máquina assassina de "israel". Palestina livre, do Rio ao Mar!
Brasil e o mundo sob o ataque da extrema direita; Lula precisa negociar reajuste com os servidores federais e romper com o "déficit zero" imposto pelo mercado.
O Brasil e o mundo estão sob o ataque da extrema direita internacional. É até curioso o fato da direita se articular cada vez mais no plano local e internacional, enquanto a esquerda, que sempre pregou o internacionalismo proletário, está cada vez mais nacionalizada, não conseguindo construir fortes laços de solidariedade internacional. A única exceção talvez seja na solidariedade ao povo palestino. Mesmo assim sem articulação e sem força para ações mais ousadas, como uma paralisação internacional. De resto, quase não se vê nenhuma movimentação em prol de conquistas locais associadas aos interesses comuns, mundiais, de toda a população de baixa renda. Por exemplo: por que a esquerda não encampa a proposta de uma renda mínima para todas as pessoas desempregadas do mundo? Tendo como fonte de financiamento os 2.781 bilionários (aqueles que detêm como patrimônio um bilhão de dólares ou mais, segundo a revista Forbes)? A riqueza desses poucos bilionários é de 14,2 trilhões de dólares - o equivalente no Brasil a 71,7 trilhões de reais. O que representa em torno de 14% do PIB mundial. Isso sob o domínio de menos de três mil pessoas! É sempre bom lembrar que a metade da população mundial, que é formada por 8 bilhões de pessoas, possui apenas 2% das riquezas mundiais e 8,5% da renda. Portanto, nada mais justo do que essas poucas famílias bilionárias, que acumularam riquezas explorando os mais pobres - Marx explica isso cientificamente com a teoria da mais-valia - seja obrigada a financiar um programa de renda mínima para milhões de famílias que vivem na miséria e na fome em todo o planeta, graças à dinâmica da reprodução do capital.
O número dois dessa lista de bilionários é o empresário Elon Musk, dono da plataforma X, antigo Twitter, e está ligado à extrema direita mundial. Seu patrimônio líquido, segundo a revista Forbes, está calculado em 195 bilhões de dólares, ou o equivalente a cerca de um trilhão de reais. Pelos meus modestos cálculos, se ele gastar cinco mil reais por dia, demorará mais de 500 mil anos para torrar a grana que acumulou. Com o grau de destruição ambiental que o capitalismo realiza é difícil prever que a vida no planeta Terra resistirá durante um período tão longo. Mas é esse bilionário que está agora atacando as instituições brasileiras, notadamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o presidente Lula. Fazendo coro aos bolsonaristas, afirma que o Brasil vive uma ditadura e que estão querendo abolir a liberdade de expressão, pelo fato das autoridades brasileiras defenderem a regulamentação mínima das redes sociais. Regulamentar nada tem a ver com censura, mas, sim, com a criação de regras que impeçam a propagação de fake news que é a prática comum dos grupos de extrema direita. Que se alimentam de mentiras, do ódio e da chantagem contra instituições e contra as populações. A extrema direita brasileira, por exemplo, hoje conhecida como bolsonarista, é a mesma que derrubou num golpe de estado o presidente João Goulart em 1964, instalou uma ditadura militar, censurou a imprensa, aboliu totalmente a liberdade de expressão, prendeu, torturou, matou e desapareceu com os corpos de centenas de pessoas que combatiam a tirania instalada nos 21 anos de ditadura. É essa gente, que tem na figura do sanguinário torturador coronel Ustra, de triste memória, seu maior ídolo, que foi citado pelo inominável e inelegível no momento em que votou pela cassação golpista da nossa querida presidenta Dilma. A liberdade que eles defendem é a liberdade do mercado explorar totalmente os trabalhadores para aumentar os lucros e as riquezas desses bilionários; é a liberdade para eles mentirem e manipularem a opinião pública, como faziam os nazistas, sempre com discursos moralistas, de costumes, de ódio e de pseudo apelo patriótico, sem quaisquer compromissos com os interesses dos de baixo, e menos ainda com os poucos direitos sociais, econômicos, trabalhistas e políticos conquistados pela maioria da população. É preciso que a esquerda - incluindo o governo federal do PT e aliados - aprenda a construir a unidade na luta, em torno de um projeto mínimo de políticas públicas e de organização das forças populares para o grande combate local e mundial contra as forças do atraso, dessa extrema direita que quer levar o mundo de forma irresponsável para uma nova guerra mundial.
Nesse cenário de embate de classes, o presidente Lula não pode se distanciar de sua base social e política. E menos ainda, deixar de atender aos pleitos legítimos dos servidores públicos federais, como o de reajustar os salários anualmente. Não se pode, em nome de um "déficit zero" do orçamento federal, que substituiu o teto de gastos sociais criado pelo golpista Temer, deixar de realizar as políticas públicas que a esquerda sempre defendeu, o que inclui a valorização dos servidores públicos. O governo federal acerta quando negocia a aprovação do bolsa família turbinada, do aumento real do salário mínimo, da retomada do Minha casa minha vida reformulado, do aumento do valor da merenda escolar, da criação de mais institutos federais, da criação de fundo orçamentário para pagar o piso das enfermeiras e auxiliares de serviço da saúde, entre outras medidas. Mas, comete grave erro quando não discute seriamente com os servidores públicos federais, incluindo os profissionais da Educação e da área administrativa das universidades federais, um merecido reajuste salarial inclusive com ganhos acima da inflação. O governo não pode se afastar da sua base social e política e ideológica, pois é ela quem poderá sustentar o governo nos grandes embates, e não apenas eleitoral, com a extrema direita golpista. O nosso apoio ao governo é marcado pela cobrança daquele lema que o presidente Lula defendeu durante a campanha: "incluir os pobres no orçamento, e os ricos nos impostos". Isso se faz através de políticas públicas, que representam maiores investimentos para atender as demandas sociais nas áreas da Educação, saúde, cultura, segurança e etc. O governo Lula não pode ficar preso a essa exigência de mercado de que haja "déficit zero" no orçamento. Nenhum país rico do mundo tem essa premissa, a começar pelos EUA, que em 2023 teve déficit de 1,7 trilhão de dólares - o equivalente a 8,5 trilhões de reais. A elite rica do Brasil sempre se apropriou do estado, embora tenha esse discurso oco de menos estado e mais privatização. No fundo, eles defendem menos estado para os pobres e mais estado para eles, através, por exemplo, dos juros da dívida pública, que é o Bolsa Família dos ricos. Enquanto o Bolsa Família dos pobres representa um custo anual de cerca de 170 bilhões de reais para cerca de 21 milhões de famílias de baixa renda, o Bolsa Família dos ricos - os juros da dívida pública - custa em torno de 700 bilhões de reais por ano, sendo que o sistema financeiro - bancos - e grandes empresas abocanham a maior parte desse montante. E a esquerda não tem força social nem política - não tem votos no congresso - para mudar radicalmente essa forma de distribuição orçamentária. Por isso, um governo de esquerda precisa realizar cada vez mais políticas de inclusão dos de baixo: aumentar o valor do bolsa família, fortalecer o SUS, valorizar os profissionais da Educação e da Saúde, investir mais nos projetos culturais, na construção de moradias populares, desenvolver uma correta política de segurança pública, de transporte coletivo de qualidade, de controle de preços da cesta básica e etc. Tudo isso, com uma política de criação e fortalecimento de organizações sociais autônomas e com o diálogo público permanente com as grandes massas, para quebrar o monopólio e as narrativas das direitas tanto nas redes sociais quanto nas mídias corporativas. É uma longa luta, de resistência e de conquistas, que deve ser assumida pelos de baixo, tanto no plano local quanto no plano internacional.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler, em 11/04/2024)
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(Foto: Memorial da Democracia)
Golpe de 1964 se torna tema principal nas redes sociais progressistas / "israel", entidade de ocupação, tenta arrastar outros países do Oriente Médio para ofuscar o genocídio em Gaza / desembargador-relator do caso Moro poderá cobrar cachê de advogado de defesa dele. Por que não?
Sem que tenha planejado, além de ter salvado o Brasil, juntamente com a maioria do nosso povo, desse novo terror fascista - pelo menos por enquanto -, Lula ainda prestou esse serviço involuntário: ao proibir o seu governo de fazer manifestações sobre o tema, acabou despertando o interesse em muitas pessoas em conhecer aquele período. O que é proibido provoca maior curiosidade. Dizem até que é mais gostoso. Tomara que a nossa esquerda aprenda a se desgarrar do governo, inclusive a esquerda dita radical, que, não tendo base social e nem projeto capaz de organizar e mobilizar multidões, transforma a crítica ao PT e a Lula como razão de existirem e como fim em si mesmo. Eles - os autoproclamados revolucionários, aspas, dizem que Lula e o PT não fizeram "reformas estruturais" e que por isso os capitalistas acumulam cada vez mais fortunas. Não sabia que Lula e o PT eram tão poderosos assim!!! kakaka Primeiramente, isso demonstra desconhecimento das leis intrínsecas ao sistema capitalista, cuja reprodução, por si só, provoca concentração e centralização de capitais. Os governos, sejam eles de esquerda ou de direita, não têm o condão para revogarem essa lei própria do capitalismo. O máximo que governos de esquerda podem e devem fazer no interior do capitalismo, além das conquistas salariais e trabalhistas arrancadas nas lutas pelos próprios trabalhadores, é incluir os mais pobres no orçamento - através de políticas públicas - e os ricos nos impostos. É o lema do Lula que eu adotei aqui nesse blog como sendo o principal desafio das esquerdas. Além disso, reformas radicais, aspas, no interior do capitalismo não retiram o país da órbita do sistema mundial capitalista. Vamos imaginar uma "reforma agrária radical". Todos os países capitalistas centrais, imperialistas, fizeram reforma agrária, não para saírem do capitalismo, mas, justamente para criarem mais mercado interno. Se Jango não tivesse sido derrubado em 1964, nesse golpe fascista que agora completa 60 anos, a reforma agrária que ele propunha certamente teria esse papel, de garantir e sustentar a industrialização na área urbana e a produção abundante de alimentos na área rural, com centenas de milhares de camponeses e trabalhadores rurais envolvidos nesse processo. O Brasil não teria saído do capitalismo e poderia até se tornar uma potência média, apesar do impedimento dos EUA, que não aceitam nenhum outro concorrente no seu quintal. E a América Latina sempre foi tratada como quintal dos EUA. Não é à toa que os bolsonaristas adoram fugir para Flórida e adoram também fazer continência para a bandeira daquele país - e para a de "israel" também, claro, kakaka. O complexo deles não é de vira-latas, pois isso ofende os cachorros assim conhecidos, e que são animais maravilhosos. Eles, os bolsonaristas, são serviçais do império, sempre prontos a prestarem quaisquer serviços sujos para os poderosos. Odeiam os pobres, odeiam o povo brasileiro, assim mesmo, com esse olhar de fora, como se não fossem parte desse povo, com a pretensa ilusão de se tornarem os gringos no país em que nasceram. Mas, deixemos, por ora, a direita com seus conflitos existenciais e paralelos. Voltemos às críticas construtivas às esquerdas.
Penso que o grande problema da nossa esquerda é que ela não conseguiu, ainda, construir movimento social autônomo, base de apoio social ampla, pois ela está sempre "pendurada" nos governos. Tudo é culpa de Lula ou Dilma. Ah, dizem, Lula faz acordos com a direita e com o centrão no congresso! Que horror! Pergunto: quantos deputados federais vocês, da esquerda autoproclamada revolucionária têm? Nenhum? Ora, claro que Lula, com minoria no congresso, tem que fazer acordos com quem tem votos no congresso. Fim de papo! Senão não consegue aprovar bolsa-família turbinada, aumento real no salário mínimo, retomada do programa Minha casa minha vida, do novo PAC, etc., etc., etc. Ficará fazendo discursos radicais e com uma semana ele cai. Até se admite - vou fazer essa concessão, tá? - a possibilidade de não quererem participar das eleições, essa coisa meio moralista de parte da esquerda, de não querer participar dessa forma institucional de luta parlamentar, por considerarem que seja uma forma predominantemente burguesa. Ora, é difícil saber o que não é institucionalmente burguês nesse sistema. Sindicatos? Huummm. Tudo bem, então, não querem sujar os dedos das mãos com as eleições - embora tenhamos feito tantas mobilizações para reconquistar o direito de votar para presidente! Mas, então, nesse caso, vocês deveriam ter força social real para impor, nas ruas, nas redes sociais e nas lutas, as demandas sociais e arrancar as conquistas com e para os trabalhadores. Do contrário, vira discurso oco. Antes de criticarem Lula - o que é um direito de todos, obviamente, vocês, ou nós - vou me incluir, tá? - deveriam(os) fazer uma autocrítica: por que não conseguimos nos comunicar com a maioria da população? Ou se conseguimos comunicar, por que o nosso discurso não está sensibilizando as pessoas? Por que não estamos conseguindo construir um forte movimento social? Não estaria faltando uma sintonia e uma empatia com a real realidade do nosso povo? Seguramente, vocês vão descobrir que um certo discurso dogmático, com aparência de "classista", muito cheio de princípios abstratos e citações descontextualizadas dos clássicos, mas descolado das realidades concretas, não constrói nada. Só realimenta a bolha que está isolada, afastada da vida real. Aliás, nós temos dois níveis de realidades paralelas hoje no Brasil: a extrema direita e parte da esquerda dita radical. Ambas vivem e se alimentam de uma realidade paralela. Há uma diferença: a direita tem grana, tem meios de comunicação, tem igrejas e navegam em favor do sistema, e com isso consegue arregimentar maior número de pessoas. Se a nossa esquerda em geral quiser construir força social real terá que se aproximar das realidades concretas do nosso povo, ajudando-o a se organizar e a lutar por interesses comuns imediatos. E contribuindo para que, nesse processo, eleve sua visão política e crítica ao sistema capitalista. Mas, sem prometer o que não temos condições de fazer. Por exemplo: não temos condições de sair do capitalismo no âmbito nacional, isoladamente. A esquerda faz isso o tempo todo quando propõe socialismo nacional ou coisa que o valha. Isso, não apenas alimenta o discurso da extrema direita de que estamos querendo "levar o Brasil para o comunismo" - o que é redundante, pois nenhum país isoladamente vai superar o capitalismo, aprendizado este que a história recente do mundo nos legou! -; como, também, deseduca o proletariado acerca das possibilidades reais colocadas. No âmbito nacional, o que podemos fazer é... é... "incluir os mais pobres no orçamento - através de políticas públicas - e os ricos nos impostos". Já a luta para sair do capitalismo, é uma outra luta, que só se tornará realidade quando a humanidade dos de baixo, em escala mundial - e não apenas nacional - se constituir enquanto força social auto organizada disposta a sair desse sistema. O que levará muito tempo, muitas experiências, muitas tentativas, podendo, claro, nem acontecer. A história dirá!
Enquanto isso, o que está colocado é a resistência local, são as lutas políticas por conquistas imediatas, o fortalecimento dos movimentos sociais e, obviamente, a solidariedade de classe interna e também a todos os povos, especialmente, nesse momento, aos palestinos. Nas lutas políticas locais imediatas, além das conquistas econômicas, trabalhistas, sociais e eleitorais, está incluída a luta contra a ditadura, contra os golpistas, contra os bolsonaristas que defendem "intervenção militar"; e também pela garantia dos direitos democráticos, pela elucidação de todos os crimes cometidos pelo estado brasileiro nos últimos 60 anos, especialmente durante a ditadura civil-militar de 1964, e a punição, sem anistia!, aos torturadores e aos golpistas atuais. Isso passa, sim, pelo apoio crítico ao governo Lula, que é fruto do que a luta de classes conseguiu construir nesse momento da nossa história. Volto a dizer: discurso radical sem força social para implementar o que se prega é cutucar a onça com vara curta. A esquerda precisa aprender com a história. E retomar, junto com o povo - e não como sua pretensa vanguarda - o protagonismo das pequenas e grandes batalhas que poderão proporcionar melhores condições de vida para todas e todos, acumulando forças para futuras transformações, aí sim, mais radicais.
Um forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
Palestina livre, do Rio ao Mar!
P.S.: os outros dois temas serão abordados no próximo texto. Aguardem.
(Euler, em 03 de abril de 2024)
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Por iniciativa do Comitê Mineiro de Solidariedade aos Palestinos aconteceu, no último dia 25 de março, na sede da Casa dos Jornalistas de Minas Gerais, em BH, o lançamento do livro "Contra o sionismo", de autoria do jornalista Breno Altman. Com a casa lotada, Breno discorreu sobre o tema e convidou a todos para apoiarem a causa palestina, "com a mesma valentia dos palestinos". (foto extraída do jornal Brasil de Fato).
Caso Marielle: falta uma peça... / Palestina: continua o massacre, apesar do cessar-fogo na ONU... / 60 anos do Golpe de 1964: um rastro de sangue, de tortura, de perseguição, e de resistência, também... / Desafios da esquerda brasileira e mundial: encontrar os caminhos para a sobrevivência e para a emancipação humana...
Vamos aos temas, alguns deles indigestos, mas, com um caneco de café quente dá pra descer. O caso Marielle, finalmente, após seis anos de procrastinação e de pistas falsas durante os governos Temer e Bolsonaro, está chegando ao fim. Mas, ainda falta uma peça que começa com B e termina com o. Quem adivinhar ganha um doce. Todas as evidências apontam para um condomínio que tem o sugestivo nome de Vivendas da Barra. Aqui também faltou algo, não uma peça, mas um complemento, talvez. Vivendas da Barra Pesadíssima. Pronto. Batizei. Ali habitam dois clãs que se entrelaçam desde a década de 90, quando o assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa, prestou um serviço especial ao então deputado Bolsonaro. Em passeio de moto pela cidade, o inelegível foi vítima de assalto. Para a sorte dele, o assaltante não era um bolsonarista do tipo "bandido bom é bandido morto". Ele apenas levou a moto e a arma que estava com o indivíduo. Não bateu nem matou o elemento - veja que assaltante mais humanista! A moto, uma coisa material, se recupera; a vida não. Poucos dias depois, o então cabo da PM Ronnie Lessa devolve ao deputado a moto e a arma. O assaltante aparece morto. E com esse traço de sangue os dois selam uma longa amizade, agora negada pelo covardão. Anos depois, Ronnie perde parte da perna esquerda com a explosão de uma bomba - parece que num atentado provocado por vingança entre milicianos e traficantes. Bolsonaro se incumbiu de recomendar ao atendimento médico hospitalar que ele recebesse o melhor tratamento possível - fato este que Ronnie, agradecido, lembrou em reportagem publicada na imprensa. Mas, os laços entre o clã do inelegível e membros da milícia são extensos e intensos, passando por elogios em plenário dos parlamentos, oferecimento de medalhas e contratação de familiares dos milicianos nos gabinetes parlamentares das rachadinhas do clã. Após o assassinato da então vereadora Marielle e do seu motorista Anderson, o piloto do carro do atirador foi direto para o condomínio, aquele, da barra pesada. Lá chegando, o porteiro indagou: por ordem de quem você quer entrar aqui? A resposta veio logo: "do Seu Jair"! Não se sabe se direta ou indiretamente, fato é que a decisão de tirar a vida de uma vereadora do Psol, ligada ao deputado Freixo, ambos com grande visibilidade nacional, certamente dependeria do aval dos principais caciques da política e do crime organizado no estado do Rio. Mesmo que não consigam provas concretas, uma vez que vários elos foram já eliminados ou apagados, as evidências e a lógica da máquina de guerra que impera no Rio e em vários estados brasileiros nos indicam que falta uma peça nesse quebra-cabeça...
Sobre a causa palestina, que tão ardentemente abraçamos, como uma causa da humanidade, ou do que resta de humanidade nas relações petrificadas entre países e governos e sociedades. O estado sionista - portanto racista e colonialista - de israel está cada vez mais isolado no cenário mundial. Nem mesmo seus aliados mais incondicionais como os EUA e países ricos da Europa aguentam mais essa parceria pública com um estado genocida e covarde, que massacra de forma vil e desumana a milhares de crianças e mulheres e idosos que ainda sobrevivem na Faixa de Gaza. Além da matança através de mísseis e bombas e fuzis, o governo assassino e criminoso de israel impõe também a matança coletiva de milhares de palestinos pela fome e pela sede: centenas de caminhões com remédios, água potável e comida estão há meses parados no Sul de Gaza, na divisa entre a Palestina ocupada e o Egito. Recentemente, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o cessar-fogo para que cessasse o genocídio em Gaza. Foram 14 votos a favor e uma abstenção, dos EUA, que dessa vez não vetou a proposta que fora apresentada pela Argélia em nome dos países árabes. Mas, israel jamais acatou uma única resolução dos órgãos internacionais. É um estado bandido, que só se mantém pelo financiamento e pela proteção que recebe dos países imperialistas do Ocidente, principalmente os Estados Unidos. Urge que haja o rompimento das relações diplomáticas, acadêmicas e comerciais entre o Brasil e esse estado assassino conhecido como israel - que, é preciso sempre que se esclareça, nada tem a ver com a história bíblica do judaísmo. O sionismo, que instrumentalizou o legado judaico para fins de ocupação colonialista e racista da Palestina, é hoje o maior foco de antissemitismo no mundo. E por isso mesmo é criticado por crescente número de pessoas incluindo os judeus que não concordam com essa manipulação do legado cultural e humanista judaico pelo sionismo. No Brasil, infelizmente, a mídia empresarial - Globo, SBT, Record e afins -, além de golpista e pró-imperialista, é mais sionista do que a própria imprensa de israel. Esperamos que se fortaleçam os protestos e movimentos de solidariedade ao povo palestino, que merece conquistar sua autonomia e viver com dignidade na sua terra, a Palestina, num estado laico, soberano e democrático, onde diferentes povos, incluindo judeus e árabes palestinos possam conviver em paz e com respeito mútuo, o que é impossível enquanto prevalecer o estado sionista de israel, que por essência é racista e colonialista. Todo apoio à causa palestina!
60 anos do Golpe de 1964: um rastro de sangue, de tortura, de perseguição, e de resistência, também... Essa data precisa ser lembrada todos os dias. Na minha modesta opinião estão sobrevalorizando a decisão do presidente Lula para seu governo - não para a sociedade, óbvio - de não dar ênfase a essa data e seu significado histórico. Certamente Lula fez um acordo com os militares da ativa: vocês não comemoram com a versão de vocês e nós, do governo, também não comemoramos com a nossa versão. Pode-se criticar essa decisão do presidente Lula. Mas, querer concentrar todo o foco nessa decisão é algo que diz muito sobre a esquerda brasileira, ou o que restou dela, infelizmente. A denúncia pública do que aconteceu a partir do golpe de 1964 não depende de governo. Os sindicatos, os grêmios estudantis, as associações de moradores, as centrais sindicais, os movimentos sociais sem-terra e sem-teto, a mídia alternativa e progressista, e quaisquer cidadãos têm total autonomia, e dever até, de denunciar e relembrar o que aconteceu naqueles sombrios anos da ditadura civil-militar. Ninguém precisa de autorização de governos para fazê-lo. Durante a vigência da própria ditadura a esquerda jamais pediu licença para protestar e enfrentar com coragem os agentes da repressão. Pode-se alegar que havia uma expectativa de que o governo Lula abraçasse essa causa mais do que justa de passar tudo a limpo e de apontar o dedo para os torturadores e financiadores da ditadura. Mas, nem sempre as coisas acontecem como imaginamos. Os contextos às vezes forçam pessoas e governos a atitudes estranhas. O Brasil escapou por muito pouco de retornar ao período da ditadura com o desgoverno Bolsonaro, que planejou o tempo todo assaltar o poder e entregá-lo para os militares, milicianos e pastores fanáticos, nessa nada santa aliança, que incluía grandes empresários, agronegócio e outros tipos. A presidenta Dilma, por exemplo, patrocinada por Lula, teve a coragem de criar a Comissão da Verdade que conseguiu esclarecer e revelar muitos pontos que estavam ainda cobertos pela névoa do pacto firmado após o fim formal da ditadura em 1985. Desde a criação da república brasileira (1889) os militares sempre se constituíram enquanto força paralela a serviço das classes dominantes. O golpe de 1964, financiado pelos E$tados Unidos, e pelos banqueiros locais e pelo latifúndio, com as bênçãos da maioria da igreja, e de boa parte da população (os bolsonaristas já existiam muito antes dele nascer) interrompeu o processo de avanços sociais e trabalhistas iniciado no governo getulista e abraçado de forma mais radical pelo governo de João Goulart, o Jango. As reformas de base defendidas por Jango incluíam reforma agrária, reforma bancária, reforma na educação pública - imagina, já naquela época liderada, entre outros, pelo saudoso Darcy Ribeiro!!! O Brasil teria se destacado como grande potência mundial, claro que ainda dentro do capitalismo, mas alterando a correlação de forças no cenário local e mundial. O golpe veio para interromper essas conquistas de todo o povo e para garantir um desenvolvimento com as riquezas concentradas em poucas mãos. É o capitalismo, estúpido! O lema do mais notório ministro da Economia ou da Fazenda da ditadura, Delfim Neto, era: crescer o bolo primeiro para depois repartir. O bolo cresceu em poucas mãos e o conjunto da população ficou a ver navios. Enquanto isso, nos porões da ditadura, centenas de lutadores sociais que enfrentaram corajosamente os agentes desse regime ditatorial eram torturados, executados, seus corpos desaparecidos; milhares foram perseguidos e presos. A imprensa, censurada. Manifestações públicas, proibidas e massacradas. Até que, no chão das fábricas, nos corredores das escolas, e nos recantos das ruas e das praças de todo o país brota a resistência contra a ditadura. Pipocam manifestações de protestos, campanhas locais e internacionais pela volta da democracia e pela anistia dos presos políticos; as greves do ABC paulista, que levaram para as ruas centenas de milhares de operários, de onde desponta sua maior liderança, Lula, que chegou a ser preso, embora já num período em que a tortura aos presos políticos desaparecera, salvo raras exceções - o que não incluía, obviamente, os pobres e pretos da periferia, até hoje vítimas de assassinatos e violência por parte de um sistema que os cerca e os massacra. A luta contra a ditadura e pela reconquista das liberdades democráticas custou muitas vidas, muito sangue, muitas lágrimas, e por isso mesmo não pode ser esquecida, jamais. E não será, porque essa luta não pertence a governos, sejam eles de esquerda ou de direita, mas ao povo brasileiro, que lutou, que resistiu e enfrentou com coragem os podres poderes dos de cima. Assim como na Argentina as valentes Madres de la Plaza de Mayo (as mães da Praça de Maio) jamais pediram autorização a quaisquer governos para ocupar a praça e exigirem a punição dos agentes da repressão, assim também deve ser no Brasil. A nossa esquerda precisa sair dessa fase infantil de botar a culpa de todos os problemas da humanidade em Lula e no PT, que, gostem ou não, são parte inseparável das lutas, das resistências e das conquistas do nosso povo nos últimos 40 anos. Com erros e com acertos. Se querem algo maior, mais profundo, mais intenso, formem seu exército, construam sua base social e abram caminhos com força real, e não com discursos raivosos antipetistas, que acabam levando água para o campo da direita. Criticar o PT e o governo Lula, tudo bem, é necessário sim, até para que se corrijam erros; mas, há uma diferença na forma e no conteúdo dessa crítica. Que pode ser construtiva, de alguém que está no mesmo campo; ou aquela crítica rebaixada, eivada de ódio, que se encontra com a crítica da extrema direita. Aliás, eu digo sempre que se a esquerda dita revolucionária e que chama voto nulo nas eleições tivesse um por cento de base social, ela teria ajudado Bolsonaro a se reeleger. E o Brasil reviveria a ditadura que essas mesmas pessoas adoram criticar. Mas, quem sou eu para ficar aqui dando conselhos para velhos e jovens militantes de esquerda, muitos dos quais são meus amigos. Felizmente o povo brasileiro, pela sua intuição de classe - e não pela leitura dogmática de clássicos do marxismo - soube escolher, nas urnas, um caminho diferente daquele urdido pelas forças do atraso, e que custou a vida de milhares de pessoas durante a pandemia da Covid. Entre outros estragos sociais. Numa luta que está longe de terminar...
Desafios da esquerda brasileira e mundial: encontrar os caminhos para a sobrevivência e para a emancipação humana... Bom, esse apaixonante tema ficará para o próximo capítulo. Já está todo rabiscado, mas ficou por demais extenso e precisa de uma revisão mais cuidadosa. Fato é que não há muito mistério. Apenas um esforço de leitura, ou releitura da história recente, do Brasil e do mundo. Sem pormenores acadêmicos. Mas, como o nosso povo, uma intuição de classe, que aponte o caminho da unidade dos de baixo para resistir e conquistar no interior do capital, enquanto preparamos terreno, no plano mundial, para a emancipação humana das relações capitalistas. Um longo processo. Marcado, como fora até agora, a despeito de haver ou não pretensas vanguardas: o caminho da resistência individual e coletiva, das lutas, da construção de organizações e da unidade para obter conquistas sociais, políticas e econômicas imediatas. E para além dos limites impostos pela lógica intrínseca ao capital, o grande desafio: a unidade mundial dos de baixo para a conquista da emancipação humana. De um mundo sem amos, sem fronteiras, sem explorados e sem exploradores. Já cansaram? É cedo. Nós ainda nem começamos...
Um abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler, em 28 de março de 2024)
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Uma leitura da realidade atual a partir do Brasil: a direita fortalecida, apesar da derrota temporária do golpe; a esquerda perdida e acuada, apesar da vitória em 2022. Perspectivas das lutas emancipatórias no Brasil e no mundo.
Nessas mal traçadas linhas que desenho nesse tablado digital, procuro analisar o cenário atual no Brasil. Observo os movimentos das forças em choque na política. De um lado, a extrema direita bolsonarista, que sofreu um golpe muito forte com a derrota eleitoral e a ação ousada do STF, especialmente de Alexandre de Moraes, implacável na apuração e no julgamento em curso contra os golpistas que tentaram detonar o estado democrático de direito no Brasil. Como sempre, esse pessoal apresenta o oposto daquilo que eles pretendem fazer: em nome da liberdade, eles querem acabar com a democracia e instalar no país o retorno da ditadura civil-militar de triste memória. Para os mais jovens e também para os mais velhos que não conhecem a história recente do Brasil, é sempre bom refrescar a memória histórica sobre o que se passou nas últimas décadas; sobretudo com a infeliz experiência do regime militar (1964-1985), que proibiu greves e manifestações, censurou a imprensa e a produção artística em geral; perseguiu, prendeu, torturou, sequestrou, executou e desapareceu com os corpos dos opositores ao regime militar. Milhares de pessoas foram presas sem quaisquer direitos de defesa; centenas de pessoas foram brutalmente torturadas, muitas delas de forma sádica, durante meses a fio, por puro prazer e deleite de grupos de tortura formados por policiais militares, civis, estaduais e federais, sob a coordenação geral das forças armadas brasileiras - essas mesmas que os chamados "patriotas" bolsonaristas imploraram nas portas dos quarteis para que voltassem ao poder. A prática de tortura e sequestro de opositores foi financiada pelo estado e por empresários nacionais e estrangeiros que se beneficiaram da ditadura. E contou com as bênçãos de parte da igreja. Bolsonaro, que sempre foi ligado aos porões da ditadura, passou os quatro anos de desgoverno arquitetando um novo golpe militar, para esmagar qualquer forma de oposição à política neoliberal, entreguista e fascista que essa gente defende.
Felizmente, essa tentativa de golpe foi derrotada em vários campos. As recentes descobertas do que se passou nos corredores e salas do poder executivo federal, revelam a trama golpista que estava em andamento, envolvendo parcela do alto escalão das forças armadas e do núcleo duro em torno do ex-presidente golpista. Mas, mesmo entre os militares, não havia consenso. Pelo menos os chefes do Exército e da Aeronáutica não mostraram disposição para aderir ao golpe, ao contrário do ministro-chefe da Marinha que prontamente aderiu à minuta de golpe que a turma de Bolsonaro havia elaborado. Bastaria simular um pequeno caos no país - coisa que essa gente já faz normalmente - e em seguida convocariam "legalmente", aspas, as forças armadas para intervir, prender algumas figuras do STF, cancelar as eleições e "colocar ordem" na casa. Ou seja, diante da evidência de que Lula venceria as eleições - como de fato aconteceu - os bolsonaristas desejavam melar o processo, mantendo-se no poder por tempo indeterminado. Golpe, é o que eles sabem fazer. Ou tentam fazer o tempo todo.
Além de não haver consenso na cúpula das forças armadas, o governo de extrema direita recebera também um aviso do governo dos Estados Unidos, de que desta vez, ao contrário do que ocorrera no golpe de 1964, os golpistas não teriam o apoio da potência imperialista. Não que o atual presidente Joe Biden morra de amor pelo presidente eleito Lula, mas, ele havia enfrentado nas últimas eleições o ex-presidente Trump, cujo grupo é ligado à extrema direita mundial, incluindo o bolsonarismo no Brasil. Logo, para Biden, era preferível um governo democrático de centro-esquerda do que um governo golpista de extrema direita ligado ao principal adversário do presidente dos EUA. Sem o apoio dos EUA, com a divisão na cúpula das forças armadas e com a ação firme de resistência por parte do STF, os bolsonaristas, derrotados nas urnas pelo presidente Lula - o único capaz de derrotar Bolsonaro naquele contexto -, tentaram, ainda, um último suspiro após as eleições de 2022. Convocaram o rebanho bolsonarista para ocupar as portas dos quartéis, o que aconteceu apenas parcialmente, sobretudo em Brasília. Ao mesmo tempo, desesperados com a aproximação da posse de Lula, ensaiaram vários atos tresloucados e irresponsáveis: tentaram explodir bombas em aeroporto de Brasília na noite de Natal; invadiram a sede da polícia federal no dia da diplomação de Lula em Brasília; realizaram o fechamento de várias vias em todo o Brasil; até que no dia 08 de janeiro de 2023 ocuparam as sedes dos poderes constituídos na capital do país onde realizaram grande quebradeira, em atos considerados pela mídia e pela justiça como sendo de terrorismo. No que resultou na prisão de centenas de pessoas, sobretudo do andar de baixo do bolsonarismo, já que os financiadores do golpe geralmente usam laranjas para se safarem. Na mira do STF, vários militares de alta patente, alguns empresários e principalmente o ex-presidente Bolsonaro respondem na justiça pela tentativa de golpe de estado, cujo crime é gravíssimo e não pode receber qualquer forma de anistia. Como dizem alguns, se o golpe tivesse dado certo, todos nós, do campo da esquerda, estaríamos agora presos ou mortos. E a maioria do STF, que não é de esquerda, também estaria nessa lista.
Mas, apesar dessas derrotas táticas, a extrema direita manteve azeitado o seu sistema de organização e de comunicação com suas bases. Eles contam com um sofisticado sistema de comunicação paralela via WhatsApp e demais instrumentos das redes sociais, que mobilizam diária e instantaneamente centenas de grupos com milhares de adeptos dessa seita fascista. Além disso, eles contam com apoio das forças de segurança de todo o país e também com as igrejas, sobretudo as pentecostais, mas também grande parte da igreja católica. São estruturas orgânicas que comunicam diariamente com milhares de fieis em torno de temas moralistas, como o combate ao aborto, ao casamento gay, ao comunismo; a defesa da escola sem ideologia, do ensino domiciliar, e, por incrível que possa parecer - em se tratando de pseudos cristãos - a defesa de Israel contra os palestinos. Ou seja, uma pauta de direita, que é orquestrada em escala mundial juntamente com outras diretrizes políticas, como a crítica ao sistema eleitoral e o combate aos partidos de esquerda, especialmente, no Brasil, ao PT. Fazem de tudo para desviar a atenção dos verdadeiros problemas sociais que afligem a maioria da população. Na realidade paralela que construíram, todos que não pensam da mesma forma que eles são comunistas, ou petistas, ou terroristas. Enquanto eles, ou seus chefes e mitos, são a salvação. Deus, pátria e família! Amém!
Com o avanço das investigações que podem levar pra cadeia o líder da extrema direita no Brasil - que já está inelegível -, os grupos mais radicais desse setor ensaiaram uma ofensiva para tentar chantagear os poderes constituídos e arrancar uma - mais uma, aliás - anistia para os golpistas. Para isso, organizaram a manifestação do dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista, que, além da multidão bolsonarista já esperada - uma vez que o estado de São Paulo sempre teve uma forte presença da direita -, contou também com a adesão de alguns governadores, incluindo o de Minas, parlamentares e pastores da extrema direita. Nesse ato, Bolsonaro, reconhecendo sua tentativa de golpe, clamou pela anistia. Além de golpista e covarde, pois ele fugiu para os Estados Unidos enquanto seus adeptos invadiam os palácios em Brasília, ele tem a cara de pau de pedir anistia, logo ele que sempre defendeu a tortura e a morte dos militantes de esquerda. Claro que não dá para comparar com o presidente Lula, que, mesmo quando perseguido e condenado injustamente pela gang de Curitiba, jamais pensou em deixar o Brasil. Enfrentou mais de 500 dias de cadeia, não aceitou fazer acordo para sair da prisão com tornozeleira eletrônica, e quando foi depor perante o juiz ladrão Moro não ficou em silêncio e respondeu todas as perguntas, ao contrário de Bolsonaro que ficou em silêncio diante dos policiais federais.
No campo da esquerda, o que se observa é uma total confusão, misturada com medo e acomodação. Claro que com as devidas exceções. Na questão da Palestina, por exemplo, é impressionante como a maioria da militância da esquerda se escondeu. O mesmo acontecendo com os famosos artistas do campo da esquerda. Ao invés de travarem o debate político sobre o tema, desfazendo as narrativas mentirosas da mídia pró-israel - Globo, Record, SBT, CNN e etc. -, essas pessoas preferiram se esconder debaixo da cama. Incluindo acadêmicos, parlamentares, chefes de partidos, de sindicatos entre outros. Até mesmo quando o presidente, num gesto de extrema coragem resolveu denunciar para o mundo o massacre dos palestinos que acontece em Gaza, comparando o estado genocida de israel com o nazismo, a militância de esquerda, na sua maioria, se manteve em silêncio cúmplice. Lula passou vários dias sendo atacado covardemente por essa mídia canalha, imperialista, sionista e golpista, que não se cansa de tentar inviabilizar qualquer projeto popular de governo no Brasil. Nas igrejas pentecostais, dirigidas, com algumas exceções, por pastores picaretas que só pensam em 30 dinheiros multiplicados sucessivamente por mais 30, também fizeram campanha contra Lula e em favor do estado genocida, colonialista e racista de israel, que nada tem a ver com a Israel bíblica - que, aliás, nada tem a ver com o cristianismo e com o evangelho de Cristo, mas essas igrejas se tornaram praticamente um apêndice dos projetos de dominação da extrema direita no Brasil e no mundo, com sua "teologia do domínio". Se Cristo aqui retornasse, seguramente ele passaria longe dessas igrejas e mais longe ainda do estado de israel. Seguramente estaria no nosso campo, ao lado do povo humilde, explorado, oprimido. Ao lado dos palestinos, dos negros nas favelas, das mulheres, dos moradores em situação de rua, enfim, de tudo aquilo que a extrema direita odeia.
A esquerda não consegue sequer organizar uma agenda mínima para pautar os debates e as movimentações no cotidiano das pessoas. Ao invés de cobrar do governo propostas programáticas de fortalecimento das políticas públicas em favor dos mais pobres, acaba se deixando iludir pela agenda da direita. Por exemplo, a recente indicação do deputado Nikolas Ferreira para a presidência da comissão de educação da câmara de deputados. Considerando que a maioria dessa comissão é da base do governo federal, que importância tem esse fato para a vida do país? Nenhuma!!! O importante mesmo é o governo federal ter uma política correta para a educação pública de qualidade. O que não está acontecendo. Alguém viu algum projeto nacional interessante apresentado por parte do ministério da educação? Eu, que não sou ministro nem tenho influência direta junto ao governo federal, já cansei de apresentar aqui a proposta de federalização da educação básica, com plano de carreira nacional para os profissionais da Educação, piso salarial nacional decente e jornada única para os professores do ensino básico. Mas, nada, nem próximo disso, é discutido hoje. Os trabalhadores da educação continuam organizados de forma dispersa; na maioria das vezes são derrotados nas greves regionais; os salários continuam baixíssimos e a carreira dos professores desvalorizada. As próprias direções sindicais, salvo algumas exceções, não demostram qualquer interesse em construir uma real unidade nacional pela base para reivindicar algo parecido com o que eu venho propondo, mesmo não fazendo parte mais dessa importante categoria. São mais de 3 milhões de profissionais da Educação que lidam diariamente com mais de 30 milhões de crianças, adolescentes e adultos. Uma força social que poderia mudar o cenário político do país, caso todos fossem envolvidos por um processo de mobilização em prol da construção de uma educação pública de qualidade para todas e todos.
Alguns segmentos da esquerda que se autoproclama "revolucionária", aspas, passam dia e noite atacando o governo Lula, jamais reconhecendo qualquer mérito no governo que está, sim, no nosso campo, apesar de ter que fazer alianças com setores conservadores. Não tendo a maioria no congresso nacional, o governo Lula precisa necessariamente fazer acordos para aprovar pelo menos alguns projetos de interesse da maioria da população, como o Bolsa Família turbinado, o aumento real no salário mínimo e as obras do PAC, entre outras. Para os segmentos dessa autoproclamada esquerda "revolucionária", aspas, o governo de Lula é semelhante ao governo Bolsonaro em praticamente tudo. Dizem que o PT não teria feito as reformas estruturais que eles defendem. Quais seriam essas reformas? O que eu pessoalmente e mais alguns milhões de brasileiros constatamos é que os governos do PT realizaram um conjunto de políticas sociais importantes, apesar das limitações em cada uma delas. Vou enumerar algumas: a) Bolsa Família - programa fantástico, que retirou da miséria e da fome cerca de 30 milhões de pessoas. Além da renda mensal, o programa garante também a inclusão de alunos nas escolas, com o melhoramento da merenda escolar e a obrigatoriedade de presença nessas escolas; há também a exigência de manter em dia a carteira de vacinação das crianças, medida essa fundamental para erradicar e combater várias doenças. O programa foi turbinado recentemente. Na minha opinião, ele deveria ser vinculado ao salário mínimo, por exemplo: cerca de 60% desse piso salarial. Fica aí a dica para o governo Lula; b) programa Luz para todos, que levou redes de energia elétrica para milhões de pessoas, sobretudo no interior do país, nos mais distantes locais. Se dependesse da iniciativa privada, tão adorada pela extrema direita e políticos neoliberais, essas pessoas jamais receberiam esse benefício da energia elétrica em suas casas, fazendas ou estabelecimentos; c) programa minha casa minha vida: milhões de pessoas receberam a chave da sua própria moradia, boa parte delas, sobretudo as de baixa renda, pagando baixíssimo valor mensal. Sem essa política pública elas jamais teriam condições de ter acesso à casa própria. Pode-se questionar vários pontos dessa política, com o objetivo de aprimorá-lo, mas, não se pode deixar de reconhecer também nessa política uma mudança estrutural importante na vida das pessoas; d) na área da saúde tem várias políticas: o SAMU, o Mais Médicos, a política de vacinação, médicos da família, o piso dos enfermeiros e auxiliares, e fortalecimento do SUS; e) na educação pública, foi criado o piso salarial nacional para os professores do ensino básico, que infelizmente jamais foi aplicado corretamente pela maioria dos governos municipais e estaduais; as políticas de cotas - essenciais para combater as desigualdades e heranças escravocratas -; o ProUni, o Enem e a valorização das universidades federais, sobretudo nos primeiros governos do PT - coisa que atualmente não se vê! Atenção, Lula, é preciso chamar o ministro da educação às falas!!!; f) reajuste real do salário mínimo - durante os governos Temer e Bolsonaro não houve um centavo de aumento real no salário mínimo, ao passo que os governos do PT reajustaram em até 70% acima da inflação. Outros programas regionais como a construção de milhares de cisternas no Nordeste para combater a seca fizeram a diferença na vida cotidiana de milhões de pessoas.
Esse conjunto de políticas públicas, que jamais foi corretamente trabalhado pela esquerda como forma de organizar e politizar a população, contribuindo para se cobrar mais em cada um desses programas, constitui um avanço significativo e marca a forma de governar da esquerda. Qualquer governo popular, tenha sido ele constituído via revolução social ou via eleitoral tem a obrigação de incluir os mais pobres no orçamento público. E isso se dá através de políticas públicas em todas as áreas. Muitas vezes parcela da esquerda fica presa à forma de chegada ao poder - revolução, tomada revolucionária do poder e etc, desprezando o conteúdo, que é o mais importante. Seja qual for a forma de tomada do poder, ela estará sempre subordinada aos limites ditados pelo sistema mundial do capitalismo e pela correlação de forças local.
A esquerda brasileira, ao invés de organizar a população da periferia em torno de demandas concretas, formando comitês populares, por exemplo, para que discutam e arranquem na luta do estado melhorias para as suas vidas, bem como junto aos trabalhadores, por melhorias nas condições de trabalho, incluindo melhores salários e menor jornada, prefere apostar ou na crítica ao governo federal como fim em si mesmo, ou nos acordos pelo alto com os representantes da burguesia nos parlamentos, de forma dissociada das lutas sociais. É preciso travar o enfrentamento político e ideológico em cada conquista!
Com o argumento de que é preciso fazer reformas radicais e estruturais como única forma de resolver os problemas da humanidade circunscrita a um território nacional, parte da esquerda acaba falando apenas para a própria bolha. Não consegue arregimentar grande número de militantes, nem tampouco criar base social expressiva, sem o quê não se pode nem pensar em qualquer forma de mudança estrutural. Se é fato que muitas críticas dirigidas ao governo federal são corretas e bem fundamentadas, e até necessárias, também não é menos verdade que essa esquerda autoproclamada "revolucionária", aspas, precisaria fazer uma - talvez mais do que uma - autocrítica de sua própria atuação. Eles precisam responder: a) por que não conseguem romper a própria bolha? b) por que não conseguem se aproximar da gigantesca base social que vota em Lula - mais de 50% da população! -; c) por que não conseguiram, quase 40 anos após a derruba da ditadura militar, construir uma forte base social revolucionária - sem aspas? E aí me parece que não adianta colocar a culpa toda somente no PT. A extrema direita, por exemplo, mesmo tendo sido quase massacrada - politicamente falando - após o fim do regime militar, conseguiu reunir força, se organizar e criar uma fortíssima base social. Claro que eles têm financiadores, contam com as igrejas, com a mídia burguesa e a própria reprodução do capital os beneficia. Mas, a esquerda tem, pelos mesmos fatores objetivos da reprodução do capital que centraliza riquezas em poucas mãos, e miséria para a maioria, as condições dadas para organizar e construir a unidade dos de baixo na resistência, nas lutas e nas conquistas imediatas. A realidade fática demonstrou que a crítica ao PT como fim em si mesmo não resolve. Só ajuda a engrossar o caldo de cultura anticomunista e antipetista tão alardeado pela extrema direita. Para a maioria do povo brasileiro o PT continua sendo o principal instrumento de atuação e de conquista política dos de baixo. Penso que a esquerda autoproclamada "revolucionária" - aspas, pelo menos por enquanto kakaka -, deveria levar isso em conta. Não necessariamente ingressando em bloco no PT, mas atuando de forma a não hostilizar o PT; ajudando as bases sociais que votam no PT a superarem algumas limitações ou preconceitos teóricos e práticos; contribuindo para fortalecer o campo mais progressista nas disputas de propostas de políticas públicas; e contribuindo para construir um forte movimento social autônomo e progressista.
Quanto às tais reformas estruturais, vou deixar para outro texto, pois esse já está muito extenso. Quero adiantar apenas que a esquerda em geral precisa, a meu ver, fazer uma releitura das revoluções socialistas e suas ricas experiências. Para mim, nenhum país jamais conseguiu sair dos marcos do capitalismo. Ouso dizer até que não existe socialismo, que é visto pela esquerda como uma forma nacional e intermediária entre o capitalismo e o comunismo. Na minha modesta leitura atual do mundo, a realidade fática demonstrou que o capitalismo só será superado em escala mundial, e nunca, a conta gotas de forma nacional. O que se pode fazer, no âmbito nacional, por parte da esquerda, é a tomada do poder - não importa a forma - para gerir o capitalismo, procurando incluir os mais pobres no orçamento, através de políticas públicas, e os ricos nos impostos, como, em teoria, Lula tem defendido. Além de aprofundar as conquistas democráticas. Nada mais do que isso. É o que o PT faz, ainda que de forma tímida. Paralelamente a essa ação política no âmbito do capital, é preciso criar um forte movimento mundial anticapitalista. Isso seguramente o PT não faz e não se propõe a fazê-lo. E nem tampouco a esquerda autoproclamada "revolucionária", aspas. Somente quando a maioria dos de baixo de todo o mundo, do proletariado, enfim, com ou sem salário, tiver clareza da necessidade de superar o capitalismo, substituindo-o por uma outra relação social, horizontal, sem patrões e sem assalariados, sem estado e sem mercado, uma associação mundial livre e auto organizada do proletariado, só então será possível derrotar definitivamente o capitalismo. No âmbito das lutas nacionais, tratar-se-á, sempre, da disputa entre as classes, seja por melhores condições de trabalho, de salário e de sobrevivência por parte do proletariado; seja por mais lucros e privilégios por parte da burguesia e dos estamentos superiores das máquinas estatais. Não se trata, portanto, de tomada de poder para construir um suposto sistema socialista nacional - uma invenção ideológica da esquerda -, mas de contribuir para conscientizar, organizar e unir o proletariado para a resistência interna ao capitalismo, para arrancar conquistas imediatas, políticas e sociais, e lutar contra os ataques da burguesia e seus aparatos de poder. Ao mesmo tempo, todo esforço deve ser feito para a unidade mundial do proletariado, seja num primeiro momento em torno de questões imediatas - por exemplo, a luta em favor da causa palestina. Um outro exemplo: a construção de uma jornada de trabalho de 25 ou 30 horas semanais; um outro exemplo: a formação de um fundo mundial de combate à fome e à miséria, que garanta renda mensal a todas as pessoas em situação de miséria e fome do planeta - programa esse a ser financiado pelos governos e pelos grandes capitalistas, como forma de devolverem parte do que eles exploram dos trabalhadores para garantir a sobrevivência digna de milhões de famílias. São bandeiras que precisam ser assumidas pela esquerda mundial, como parte do esforço de unidade internacionalista. E finalmente, a construção, como consequência dessa ação de resistência e de luta imediatas, de uma consciência e de uma cultura anticapitalista, organizando e preparando a humanidade, especialmente os de baixo, para a superação definitiva do capital. É este, e não outro, o real sonho dos comunistas que bebem na fonte do marxismo.
P.S. Como já mencionei em outros textos, a esquerda precisa construir um sistema de comunicação mais ágil e eficiente, que não dependa da Globo e afins. E que possa falar para milhões de pessoas diariamente, respondendo, em tempo real, cada ataque realizado pela extrema direita. Vamos pensar nisso, Lula, quem sabe criando um fundo pela democratização da mídia voltado para um milhão de comunicadores sociais. Estamos em guerra contra o capital e a extrema direita. É preciso formar o nosso exército de combatentes em todos os níveis: no parlamento, nas redes sociais, nas escolas, no campo, nas ruas e nas favelas.
- Forte abraço a todas e todos e força na luta, sempre!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
- Viva a luta e a resistência e as conquistas do proletariado no Brasil e no mundo!
- Pela unidade mundial dos de baixo, para a derrota definitiva do capitalismo!
(Euler, 10/03/2024)
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No dia em que o estado terrorista de israel assassina mais 112 palestinos que estavam na fila da comida, Comitê Mineiro de Solidariedade aos palestinos realiza protesto na sede da Rede Globo em BH
Ontem, 29 de fevereiro, o estado genocida e racista e terrorista de israel assassinou covardemente mais 112 palestinos que estavam na fila da comida. São quase cinco meses de cerco total a Gaza, impedindo a passagem de ajuda humanitária, incluindo alimentação, medicamentos e produtos de higiene pessoal. Os palestinos, principalmente crianças e mulheres - já são mais de 30 mil mortos e mais de 70 mil feridos - são vítimas desse covarde genocídio televisionado que israel pratica impunemente contra a população originária da Palestina que vive na Faixa de Gaza.
Esse crime lesa humanidade praticado por essa entidade de ocupação colonialista é financiado pelo imperialismo estadunidense e pelas potências da Europa Ocidental. Além disso, a mídia ocidental esconde o massacre e constrói narrativas mentirosas, colocando sempre o estado sionista de israel como eterna vítima de "ataques terroristas" do Hamas, quando, na verdade, é o estado colonialista-sionista que realiza um massacre contra os palestinos há mais de 70 anos.
No Brasil, a mídia é mais sionista do que a própria mídia de israel. A começar pela Rede Globo, que está sempre a favor de golpistas, de interesses dos grandes capitalistas e latifundiários, atuando como porta-voz de israel e dos EUA no Brasil. Por se tratar de uma concessão pública, já passa da hora de ter essa licença cancelada, uma vez que essa emissora é inimiga do povo brasileiro e não pratica jornalismo sério com o mínimo isenção, mas, atua como um comitê de comunicação do imperialismo e do sionismo. A Globo apoiou o golpe de 1964; apoiou e sustentou a ditadura militar; foi contra a campanha das Diretas-já em 1984; participou do golpe da Proconsult em 1982, que tentou, sem sucesso, roubar a vitória eleitoral de Brizola no Rio de janeiro; em 1989, manipulou o debate que deu vitória ao "caçador de marajás" Collor, condenado por corrupção; ajudou a articular e atuou como porta-voz da Operação Lava Jato, a maior farsa da história desse país; participou ativamente da prisão de Lula e do golpe que derrubou a presidenta Dilma. Agora, atua como porta-voz do sionismo e do imperialismo, escondendo o massacre contra os palestinos.
Não foi à toa que ontem, em Belo Horizonte, dezenas de valorosas e valorosos combatentes em prol da causa palestina realizaram ato de protesto em frente à sede da Rede Globo em Minas. O ato, que por algum tempo provocou o fechamento da movimentada avenida Américo Vespúcio, foi organizado pelo Comitê Mineiro de Solidariedade ao povo palestino. Várias pessoas usaram do microfone para denunciar a omissão da Globo e demais emissoras - SBT, Band, Record, Itatiaia - todas elas cúmplices do genocídio em Gaza, que atuam muito mais como porta-vozes do estado sionista do que como empresas jornalísticas. Manifestação como a que aconteceu ontem em BH tem se repetido em todo o Brasil, com o conhecido grito: "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo"; além da palavra de ordem que já se tornou um grito de solidariedade e de luta: "Palestina livre, do Rio ao Mar", e também "Estado de israel, estado assassino, e viva a luta do povo palestino!". Nenhum jornalista da Globo apareceu para fazer a cobertura do ato que acontecia na frente da sua sede. O que não é de se estranhar, já que eles não veem o assassinato de crianças e mulheres palestinas que acontece diariamente em Gaza. Da mesma forma, não conseguem ver também as manifestações que se multiplicam em frente às sedes regionais e na sede central dessa emissora. Já passa da hora da esquerda defender como ponto central o cancelamento da concessão pública da Rede Globo e demais emissoras que usam essas licenças públicas não para fazer jornalismo, mas para ganhar muito dinheiro, manipulando, mentindo, enganando e ajudando a dar golpes de estado em governos progressistas.
- Abaixo a Rede Globo!
- Viva o povo palestino!
- Palestina Livre, do Rio ao Mar!
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Extrema direita golpista e deslumbrada desfila pela Paulista... E a esquerda preocupada em dar resposta?
- Me poupem!
Num domingo ensolarado, pelo menos aqui num recanto tranquilo de Minas onde ocupo meu tempo e meu corpo e minha mente, assisto pelo youtube o desfilar de milhares de seres fantasiados de verde e amarelo pela conhecida avenida Paulista, na capital que leva o mesmo nome do estado - pensando bem, que falta de imaginação! Pelo menos em Minas, a capital promete um horizonte mais belo. Será? Pelo menos se se considerar o governador sapatenis que os mineiros elegeram - não em meu nome, claro! -, o que há é um horizonte sem horizonte. Na Paulista, o perfil levantado em pesquisa da USP, entre os 185 mil da marcha com os demônios pela família e pela ditadura, era formada de maioria branca, homens machos, com curso superior, idade entre 45 e 65 anos e renda mensal entre 3 e mais de 20 salários mínimos. Ou seja, uma classe média média e alta, com requintes de recalques e alguma dificuldade de percepção do mundo real. Por exemplo, a maioria considera que o Brasil vive uma ditadura, que não há liberdade. Seria no mínimo uma ditadura bem meiga, pois eles puderam ocupar tranquilamente a principal avenida de São Paulo, capital, contando até mesmo com a simpatia dos aparatos repressivos. Não houve gás lacrimogêneo, como nós, trabalhadores que fazemos greves por melhores salários e condições de trabalho estamos acostumados a tomar. Nem tampouco houve bala perdida, como sempre acontece nas investidas das polícias nos bairros e favelas da periferia. Se há alguém que teria motivos para se queixar do sistema, dos governos, da vida, enfim, é esse pessoal que sobrevive com grande dificuldades nas periferias do país. Não essa estranha massa católica e evangélica que se juntou na Paulista para ouvir um monte de falsos profetas a se queixarem da ditadura do STF, de eleições que teriam sido fraudadas porque eles perderam no voto, e em nome de um Deus do ódio, de uma Israel genocida, racista, colonialista, sionista, enfim. Ah, e da família, também, claro, não pode faltar. A família deles, claro, sempre em primeiro lugar! Me lembra sempre, quando esses tipos falam em "pátria e família", daquela fatídica sessão plenária no Congresso Nacional, quando derrubaram num golpe institucional a nossa querida presidenta Dilma. Era um tal de "pela minha família!" e em seguida votavam para cassar aquela que havia sido eleita democraticamente pela maioria da população.
Essa gente não se cansa do ridículo. Pregam sempre o oposto do que querem de fato. Em nome da democracia, articulam golpes de estado para implantar uma ditadura; em nome da liberdade, lutam para acabar com o estado democrático de direito que assegura liberdades constitucionais individuais e coletivas para todos. Pelo menos em tese. Assim que perderam as eleições presidenciais democraticamente foram para a porta dos quartéis, clamando pela intervenção militar-já! Quanta ignorância em relação à nossa história recente! A última vez que os militares ocuparam formal e realmente os poderes no Brasil ficaram 21 anos. Com imprensa censurada, repressão a quaisquer movimentos sociais, prisão, tortura, assassinato, sequestro e desaparecimento de quem ousasse criticar os governos dos generais de plantão, sempre servis aos banqueiros, latifundiários e grandes empresários. Com as bênçãos de parte da igreja - e olha que ainda nem estavam em destaque, como agora, esses pastores picaretas das pentecostais, que arrancam dízimos e ofertas dos mais pobres, enquanto se aliam ao estado sionista que se diz representante da religião que historicamente sempre rejeitou Jesus enquanto Deus. Mas, nos tempos atuais, os novos cristãos estão mais para o antigo testamento carregado de ódio e de vingança, do que para o evangelho de Cristo, aquele do perdão, da tolerância e do amor ao próximo. Claro que há exceções, mas, no geral, é assim que as coisas andam.
Contudo, nossos problemas não estão nas religiões, mas nas realidades concretas de um sistema invertido, que acumula fortuna para alguns poucos e miséria e fome para a grande maioria. Nessa fração do capital mundial delimitada nesse território chamado Brasil, o presidente eleito recentemente com meu voto deu a seguinte receita: é preciso incluir os mais pobres no orçamento, e os ricos nos impostos. Essa é a fórmula, que toda esquerda deveria levar mais a sério, procurar decifrá-la no cotidiano, ao invés de ficar produzindo em papel ou em forma digital os tais programas ditos revolucionários e atacando o governo gratuitamente em cada esquina. Considero um grande privilégio do povo brasileiro ter uma liderança com a estatura mundial que tem o nosso presidente Lula. Que demonstra grande sensibilidade a problemas concretos, como o combate à miséria e à fome que atinge milhões de pessoas. Não é à toa que o legado desse combate, malgrado equívocos e omissões em várias áreas, tenha propiciado cinco vitórias eleitorais para o cargo mais cobiçado do país: o cargo de presidente da república. Um gigante eternamente adormecido em berço esplendido, como reconhece o hino pátrio, ter uma liderança como Lula e um partido como o PT, construído pelos de baixo no período final da ditadura militar de tristíssima memória, é um privilégio. Eu sei que a esquerda mais radical torce a cara quando lê tal afirmação. E olha que eu nem sou do PT. Sei disso porque eu já fui assim. E continuo comunista, graças a Deus. Pelo menos mais lúcido, menos deslumbrado, menos parecido com essa direita "patriótica", aspas, que desfilou pela Paulista no dia 25 de fevereiro último. E que tem como dogma comum o antipetismo, que para eles é sinônimo de anticomunismo.
Disse na Paulista uma senhora muito sincera, entrevistada que fora pelo jornalista Joaquim de Carvalho da TV 247, que ela defendia Israel porque aquele estado era contra o socialismo e contra o comunismo. Joaquim perguntou pelo massacre de crianças e mulheres civis indefesas em Gaza e ela respondeu que Israel estava apenas se defendendo contra os terroristas do Hamas. Estranha forma de autodefesa: eu mato TODOS os civis de um território inimigo e pronto, resolvi meu problema. Uma pena que Joaquim não tenha feito a seguinte pergunta à queima roupa: se aqui nessa manifestação em apoio a Bolsonaro estivessem infiltrados meia dúzia de "terroristas" do Hamas a senhora acharia correto assassinar TODOS coletivamente, inclusive a senhora, para atingir esses poucos militantes? O que será que ela responderia? Os bolsonaristas-raiz talvez respondessem que sim. É assim, aliás, que pensa o governo terrorista e assassino de Israel. Eles preferem assassinar seus próprios soldados a ter que negociar com os inimigos. Algo bem nazista mesmo. Fez muito bem o nosso camarada presidente Lula ao comparar o genocídio em Gaza com o holocausto que ceifou a vida de milhões de judeus e ciganos e comunistas e etc. Não é à toa que centenas de judeus não-sionistas têm realizado grandes marchas nos EUA contra o genocídio em Gaza e com a palavra de ordem: Não em nosso nome!
Agora surge aqui e ali a infantil proposta de parte da esquerda de realizar um ato público como resposta ao ato da extrema direita na Paulista. Quanta imaturidade política! A esquerda está no poder, ainda que com um amplo leque de alianças e tendo que fazer todo tipo de concessões para aprovar algumas poucas e importantes políticas públicas visando incluir os pobres no orçamento - lembram-se? O que se precisa fazer é governar bem, em favor dos de baixo. Claro que os movimentos sociais têm autonomia - ou pelo menos deveria ter - em relação aos governos. Mas, as mobilizações desses movimentos e da esquerda geralmente se dão em torno de pautas concretas: melhores condições de trabalho, moradia, casa própria, melhores salários, reforma agrária. E às vezes pautas mais amplas como a defesa da causa palestina, uma causa internacionalista e necessária. Aliás, a esquerda está devendo um grande ato em favor dos palestinos e contra o estado sionista-racista-genocida de israel.
"Ah, dizem alguns, a extrema-direita está ainda muito forte... é preciso demonstrar nossa força também nas ruas...". Ora, a direita no Brasil e no mundo sempre foi forte. Mas, a esquerda também. A última medição de força que tivemos, e que envolveu o país inteiro e não apenas a Paulista, foi nas últimas eleições presidenciais. E nós vencemos, apesar do pacotaço do Jair em véspera de eleição: R$ 6.000,00 de presente para milhares de taxistas e caminhoneiros; extensão do auxílio emergencial de 600,00 para milhões de pessoas que sequer preenchiam as condições no critério do Bolsa Família (que é para famílias de baixa renda); blitz da Polícia Rodoviária Federal nas regiões do Nordeste onde Lula havia recebido as maiores votações no primeiro turno. Além do festival de fake news. Felizmente, a maioria da população brasileira teve o discernimento de votar ou em favor de Lula, ou contra o projeto fascista encarnado no desgovernado bolsonarista. Viva o povo brasileiro!!!
Uma coisa que a esquerda, incluindo o PT e o próprio Lula, deveria se preocupar é em melhorar a comunicação, tanto no conteúdo quanto na forma de atingir milhões de pessoas. Nisso a extrema direita mundial e a brasileira também continuam surfando sem concorrência. Impressionante a dificuldade de comunicação da esquerda, mesmo com o poder nas mãos. A direita construiu um sistema e uma rede própria de comunicação, que obviamente são utilizados diariamente para fazer a lavagem cerebral de milhões de pessoas. Produzem centenas de vídeos, realimentando uma rede que funciona de forma descentralizada e com muita eficácia. Naquilo que interessa para os chefes dessa extrema direita - e que são os grandes beneficiários, que lucram bilhões e se associam aos piores tipos - a mensagem moralista é passada de tal forma a desviar a atenção do rebanho em relação aos temas sociais que realmente deveriam interessar a todas e todos. Eles realmente não precisam da Globo para dialogar diariamente, repito, com milhões de pessoas. Enquanto a esquerda fica na dependência dessa mídia empresarial-burguesa para se comunicar ou se ver representada. Claro que hoje existem esforços alternativos e meritórios de comunicação nas redes sociais. Apesar da quase total indiferença da esquerda institucional e do governo federal. Refiro-me às iniciativas como a TV 247, o DCM, a revista Fórum, o ICL Notícias, o GGN, a TVT, entre muitas outras iniciativas individuais e coletivas. A esquerda continua devendo a construção de uma grande rede de comunicação, capaz de pautar uma agenda própria, de construir coletivamente a resistência aos ataques do capital e seus agentes; de formular coletivamente um programa mínimo executável nas realidades atuais, e de refletir criticamente as contradições próprias do sistema capitalista, contribuindo assim para a construção de uma consciência crítica anticapitalista. Ufa! Reparem que estou falando de duas perspectivas distintas embora interligadas: a imediata, baseada na resistência, na luta e nas conquistas imediatas no interior desse sistema. A esquerda confunde muito esses conceitos; e uma outra, baseada na consciência crítica ao sistema, que só pode ser real e totalmente superado em escala mundial, e por isso mesmo num processo mais longo e demorado. Pessoalmente, acho que parte da esquerda está muito perdida em relação aos conceitos e à leitura que faz da história recente das lutas dos trabalhadores no Brasil e no mundo. Claro que eu posso estar totalmente errado, como já estive em outras épocas. Ao contrário dos acadêmicos e dos partidos comunistas e dos clérigos da Idade Média que nunca erram, eu, humildemente, reconheço que posso estar errado, assim como, no passado, fiz análises equivocadas em relação a muitas coisas. Claro que acertei em algumas. E não mudei em relação aos principais referenciais: continuo na mesma trincheira em favor dos de baixo! E é isso o que importa.
Mas, essa é uma longa conversa que quero ter aqui com todas e todos num outro momento. Tudo a seu tempo, diria alguém. E tempo é cada vez o que eu mais tenho. Principalmente para o meu ócio improdutivo para alguns, mas altamente produtivo para mim. Como escrever esse texto ao som de alguma música intercalada com leituras e respostas de mensagens no WhatsApp e o caminhar pelo quintal e pelas ruas. E viva esse direito de andar livremente pelas ruas, coisa que numa ditadura, como relatam os antigos opositores daquele regime de opressão, era um risco permanente. Viver, era um risco. Como continua sendo para os moradores da Faixa de Gaza, ou da Cisjordânia. Que as pressões coletivas mundiais e as falas potentes de personagens como Lula da Silva e os herdeiros de Nelson Mandela na África do Sul consigam parar a mão assassina do estado de israel e do imperialismo estadunidense entre outras máquinas de guerra e do ódio.
- Viva a força popular dos de baixo!
- Viva o povo palestino, que resiste heroicamente!
- Palestina livre, do Rio ao Mar!
- E viva a resistência, a luta e as conquistas dos de baixo!
- E abaixo a Rede Globo, porta-voz do sionismo, do imperialismo e do que mais houver de pior!
- E viva também o nosso camarada presidente Lula (toda vez que ele assume alguma bandeira que defendemos, claro, kakakaka!)!
- Quanto a vocês, os 185 mil "patriotas" que desfilaram pela Paulista... vão estudar história, porra!!!
(Euler Conrado, 28.02.2024)
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Lula toca na ferida: é genocídio nazista sim!
E assanha a ira dos sionistas de plantão - Globo, Record, bolsonaristas e etc. -, sempre prontos para servir aos piores interesses do grande capital, do imperialismo e do sionismo.
Viva a heroica resistência do povo palestino e de todas e todos espalhados pelo mundo que se levantam contra esse massacre covarde que só encontra paralelo em exemplos como o holocausto nazista e tantos outros genocídios praticados pelo Ocidente capitalista ao longo de séculos de colonização na África, na Ásia, nas Américas e no Oriente Médio. São séculos de barbárie, de destruição e de morte de milhões de pessoas inocentes, como agora acontece de forma televisionada na Faixa de Gaza. A humanidade que não se vendeu e nem se rendeu não pode sucumbir diante desse genocídio com requintes de crueldades a que o exército sionista de "israel" - entidade de ocupação da Palestina - realiza contra milhares de palestinos, sobretudo crianças e mulheres. Parabéns ao presidente Lula, que, com muita coragem colocou o dedo na ferida: é um novo ou renovado holocausto o que ocorre em Gaza com os palestinos!
Em viagem pela África, o presidente Lula passou pelo Egito, onde renovou seu apoio à causa palestina e criticou a matança de mais de 30 mil crianças e mulheres e idosos pelo governo terrorista e genocida de israel (no minúsculo mesmo). Em seguida, na conferência da Liga Árabe, que reúne 22 países, Lula reafirmou a sua denúncia ao estado sionista, que pratica crimes de guerra e genocídio contra o povo palestino. Mas, foi na Etiópia, no dia 18 de fevereiro último, durante uma entrevista coletiva, que Lula soltou uma verdadeira bomba na cabeça dos sionistas-terroristas que governam a entidade de ocupação na antiga Palestina. Após se mostrar indignado com o corte da verba ao organismo da ONU - UNRWA - que presta ajuda humanitária aos refugiados palestinos - atitude essa tomada covardemente pelos governos dos países imperialistas como EUA, Alemanha, Inglaterra e etc. -, e de reafirmar que o Brasil vai ampliar sua ajuda a esse órgão, Lula disse que a matança de crianças e de mulheres inocentes em Gaza só encontra paralelo "quando Hitler resolveu matar os judeus". Ou seja: Lula trouxe à tona a memória de um genocídio que jamais pode ser esquecido pela humanidade, sobretudo nesse momento, quando as elites dos governos ocidentais fingem que nada de mais acontece em Gaza. Com essas palavras, Lula, que tem estatura de um líder reconhecido mundialmente, mexeu com o brio - se é que existe isso entre os burocratas do grande capital e dos governos imperialistas! - dessa elite cínica, que adora falar em democracia, liberdade e direitos humanos de forma abstrata, mas que é cúmplice e financiadora direta do genocídio praticado por esse arremedo de estado conhecido como israel, uma verdadeira máquina de guerra assassina, racista e colonialista.
Imediatamente as vozes das trevas, sobretudo no Brasil e obviamente que na entidade de ocupação na Palestina se levantaram e mostraram os dentes, expressando sua indignação contra o corajoso presidente Lula - já disse que se o Brasil romper relações com israel vou passar a chamar Lula como "camarada presidente"! kakaka. Fecha parêntese. Como sempre, a Globo, porta-voz do imperialismo e do sionismo, colocou seus cães para vociferarem contra o nosso presidente, acusando-o de antissemita. Nada é mais antissemita hoje no mundo do que o estado de israel e sua política assassina, que desonra a memória e o legado humanista e cultural dos judeus. Lula, ao contrário, ao trazer à baila a lembrança do terror do genocídio do holocausto contra judeus, ciganos, comunistas, entre outros, mas, sobretudo contra os judeus, o presidente do Brasil, repito, nos lembra que a humanidade não tem o direito de deixar que aquele horror se repita, como agora acontece em Gaza, justamente por obra de um governo que se diz representante dos judeus, o governo sionista de israel. Não é à toa que dezenas de judeus nos EUA saíram às ruas em protesto, desde o início do massacre, com a palavra de ordem: "Não em nosso nome!". O governo sionista de israel não representa a história e a memória do povo judeu, vítima que foi ao longo de séculos de perseguição e mortes provocadas pela elite ocidental e do Leste europeu cristã, nas suas diferentes correntes - ortodoxa, católica e protestante. Foi na antiga Palestina, de maioria árabe islâmica, onde os judeus, vivendo em minoria até o final do século XIX, teve a melhor e mais respeitosa acolhida. Ironicamente, estão agora os palestinos pagando uma conta que não é deles, mas da Europa, que financiou e apoiou a criação em 1948 de um estado racista e colonialista em terras palestinas. Com as bênçãos da ONU, que sequer consultou os palestinos que eram, há séculos, os proprietários de mais de 90 por cento do território hoje ocupado pela entidade sionista.
Mas, enquanto as sábias palavras do presidente Lula provocaram a esperada ira das forças do atraso - bolsonaristas, rede Globo, parlamentares de aluguel e etc. -, estranhamente a maioria da esquerda brasileira, sobretudo dos maiores partidos - PT, Psol e PCdoB - com honrosas exceções, continua em pusilânime silêncio. Aos invés de usarem a tribuna dos parlamentos e também as ruas e os movimentos sindicais e estudantis e as redes sociais para travar o bom combate internacionalista em favor da causa palestina, associando o que ocorre naquele território com as práticas de racismo e de perseguição aos mais pobres nas periferias do Brasil, essas pessoas preferem se esconder, com cálculos eleitoreiros mesquinhos. Ou quem sabe até aguardando o financiamento de grupos do lobby sionista, que compra artistas e políticos no Brasil e em boa parte do planeta, sobretudo nos EUA.
O presidente Lula, que anteriormente subscreveu a corajosa ação da África do Sul (grande África do Sul!!!) junto à Corte de Haia contra israel por prática de genocídio e crimes de guerra; que suspendeu os contratos militares realizados durante o governo Bolsonaro com o governo de israel; que recebeu o embaixador da Palestina no Palácio do Planalto e fez questão de plantar uma árvore de oliveira na embaixada palestina no Brasil; que se empenhou em conseguir um cessar-fogo com a ajuda humanitária no conselho de segurança da ONU logo nos primeiros dias do massacre; e que recebeu os repatriados da Palestina no aeroporto em Brasília, fazendo questão, naquele momento, de classificar os atos do governo de israel como "terrorista" e de "genocídio"; esse mesmo presidente, cercado de pessoas que provavelmente estão ligadas aos interesses sionistas e imperialistas - já que ele governa uma frente amplíssima -, não titubeou em chamar pelo nome o que acontece em Gaza: um genocídio, com paralelo na triste memória do holocausto!
A mídia vendida das classes dominantes - Globo, SBT, Record e etc. - o tempo todo abriu os microfones para atacar o presidente Lula. Numa inversão dos fatos, ao invés de dar destaque ao massacre que acontece ao vivo em tristes cores em Gaza, preferiu, esse jornalismo empresarial sionista-imperialista dar destaque, de forma isolada, ao que seria supostamente uma comparação inaceitável entre o holocausto e quaisquer outros acontecimentos, mesmo que se trate, como é o caso em Gaza, de um massacre com requintes semelhantes ao holocausto, que inclui limpeza étnica, matança generalizada de crianças e mulheres, cerco de população civil desarmada e sem acesso a remédios, alimentos, roupas, moradias, água potável; com a total destruição de hospitais, ambulâncias, igrejas, escolas, casas; com a realização de cirurgias e partos sem anestesia e com total ausência de remédios e equipamentos médicos. Dois milhões e meio de palestinos submetidos a esse covarde massacre durante os últimos 134 dias - isso sem contar os últimos 76 anos de ocupação da entidade sionista! Nada disso mereceu a atenção dessa mídia canalha, que prefere dar destaque a um suposto sentimento de agressão à memória dos judeus pelo fato de Lula ter feito alusão ao holocausto, embora não tenha citado formalmente a palavra holocausto. Uma total inversão das coisas, com a tentativa de sensibilizar os desavisados e construir uma falsa ideia de que Lula estaria agredindo os judeus e sua memória. Nada mais falso! Foi exatamente o oposto. Foi em nome dessa memória de genocídio, do holocausto, que não pode ser esquecida, que Lula, com a maestria típica dos grandes personagens, revelou sua indignação com aqueles que renegam essa memória e repetem práticas que já deveriam ter sido abolidas do nosso meio. "Não em nosso nome!" - dizem os judeus mais conscientes e humanistas. Lula cobrou publicamente dos governos do Ocidente o cessar-fogo imediato, o fim da matança que ocorre em Gaza, sob a omissão e a cumplicidade de governos e organismos internacionais.
Da nossa parte, esperamos que o governo brasileiro, que chamou de volta o embaixador do Brasil em israel, aprofunde a sua crítica e rompa todas as relações com esse estado sionista, racista e colonial. E que todos os outros países igualmente realizem esse gesto de protesto, de boicote e de total isolamento dessa entidade que ocupa o território palestino provocando guerras em todo o Oriente Médio; a limpeza étnica e o covarde genocídio de um povo que não tem exército, não tem aeroporto, não tem sequer o direito de deixar o seu território ou de receber os irmãos palestinos que foram expulsos durante a Nakba (1948), quando mais de 700 mil palestinos foram brutalmente arrancados de suas casas e espalhados em campos de refugiados. O que ocorre agora em Gaza é a continuidade desse processo. O estado de israel coloca em prática o que chama de "solução final", uma combinação de matança de milhares de palestinos, sobretudo crianças e mulheres, com a expulsão dos que sobreviverem para outras regiões. O exército sionista fez questão de bombardear todos os equipamentos e construções, algumas delas seculares, como as mesquitas, que lembrem a passagem dos palestinos naquele território. Além do genocídio, o cometimento de crime lesa-humanidade com a destruição de rico acervo do patrimônio cultural mundial. Por esses atos, não tenho receio em afirmar que "israel" perdeu em absoluto o direito de existir. O que nada tem a ver com os judeus, ou quaisquer outras etnias ou religiões, que devem viver em harmonia com todos os povos do mundo. Sem supremacia racial, sem colonialismo, sem sionismo, sem imperialismo e obviamente, sem capitalismo. Pois, enquanto capitalismo houver, o mundo estará subordinado a essa forma invertida de relação social, onde os que produzem as riquezas vivem na miséria, enquanto a burguesia que nada produz se apropria de tudo.
Forte abraço em todas e todos e força na luta, sempre!
(Euler Conrado, 21 de fevereiro de 2024).
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100 dias de massacre dos palestinos em Gaza pela entidade sionista de ocupação. A humanidade sensível chora e se manifesta em solidariedade ao povo palestino, que resiste heroicamente. São mais de 10 mil crianças mortas, covardemente. Um genocídio, que está sendo julgado na Corte Internacional de Haia, a pedido do governo da África do Sul e com o apoio do governo brasileiro. Palestina livre, do Rio ao Mar! (16.01.2024)
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O centro de BH, hoje, amanheceu palestina...
Na data de hoje, 13 de janeiro de 2024, aconteceu em todo o mundo manifestações de solidariedade ao povo palestino, à sua luta e resistência contra um estado racista, colonialista e genocida, o estado de Israel. O Comitê Mineiro de Solidariedade ao povo palestino não poderia deixar essa data passar despercebida. A Praça Sete, centro de Belo Horizonte, palco de inúmeras manifestações e lutas e batalhas nas últimas décadas, foi o local escolhido para que fosse realizado esse ato de solidariedade. E também o recolhimento de assinaturas para um abaixo-assinado pedindo ao presidente Lula o rompimento das relações diplomáticas, comerciais e acadêmicas com o estado de Israel. Algumas dezenas de pessoas mais envolvidas com essa luta fizeram questão de marcar presença. Além das pessoas que transitam diariamente naquela conhecida praça. Pelo mundo afora, milhares de pessoas ocuparam ruas e praças a demonstrar que a causa palestina, e sua heroica resistência, é uma causa internacionalista. Aqui no Brasil, apesar das manifestações em vários estados, não tem tido grande adesão de massa, embora se saiba que uma parcela muito expressiva da população brasileira, apesar do trabalho repugnante de desinformação que é feito pela mídia vendida - sempre a serviço dos piores interesses -, tem demonstrado pelas redes sociais a solidariedade e até mesmo a sua compaixão para com a sofrida realidade da população palestina, vítima de um covarde massacre.
A semana havia terminado com algumas notícias positivas para a causa palestina. A primeira delas foi o início do julgamento, na Corte Internacional de Justiça em Haia, de uma ação movida pelo governo da África do Sul, que acusa Israel de genocídio e de práticas de crimes de guerra contra o povo palestino. O texto apresentado pelo governo sul-africano, inspirado nas melhores tradições de luta contra o apartheid que existiu por muitas décadas naquele país - e que felizmente foi derrotado pela combativa população negra da África do Sul -, tem 84 páginas muito bem fundamentadas. O regime sionista, racista, colonialista e genocida de Israel consegue ser muito pior até do que o regime de apartheid que existiu naquele país - e que, aliás, é sempre importante lembrar que o regime segregacionista que existia na África do Sul recebia total apoio de Israel.
Uma segunda notícia muito importante para nós brasileiros e para a causa palestina foi a adesão do governo federal a essa iniciativa da África do Sul. Por determinação do presidente Lula, que recebeu formalmente o embaixador palestino no Brasil, o governo federal subscreveu essa importante ação movida pela África do Sul. Alguns outros países da América Latina, entre eles Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, e até mesmo a Guiana inglesa, palco de conflito recente de disputa de território com a Venezuela, também subscreveram a petição contra o estado de Israel.
Sabe-se que os processos dessa natureza costumam levar muito tempo para o julgamento final - e sequer houve, ainda, a aceitação dessa demanda. Há todo um ritual, até chegar à decisão final. Mas, independentemente dos resultados finais, a corajosa ação, em si, movida pela África do Sul, que ganhou grande visibilidade mundial, nesse tribunal internacional ligado a ONU, representa uma importante vitória para a causa palestina. Cada vez mais Israel e EUA ficam isolados nesse massacre que realizam covardemente contra os palestinos.
Pode-se dizer com certeza que nunca, em nenhuma outra época nesses 76 anos, desde a criação do estado sionista, a causa palestina teve tanta manifestação de simpatia e solidariedade mundial. Até o dia 07 de outubro de 2023, quando a resistência armada dos palestinos realizou a operação "Dilúvio de Al-Aqsa" - que foram as ousadas ações de ingresso no território que a entidade sionista ocupa, travando grandes confrontos com a força militar inimiga, causando centenas de baixas militares e alguns civis - boa parte desses assassinados pela própria força de defesa do estado sionista - e o sequestro de duas centenas de israelenses, a maioria militares, para trocar pelos 6 mil palestinos sequestrados, que continuam presos e submetidos a todo tipo de humilhação e tortura nas masmorras do estado sionista; até essa data, eu dizia, a causa palestina jamais alcançara tal grau de popularidade internacional.
Cada vez fica mais claro, quase que num consenso mundial, obviamente que excetuando-se as forças do atraso ligadas ao imperialismo e ao sionismo, que o mundo atual não pode conviver com esse tipo realidade a que está submetido o povo palestino. O estado de Israel foi criado com a conivência da elite europeia, antissemita que sempre fora, ansiosa por se livrar de boa parte da população judaica, e que simplesmente transferiu o que considerava um problema para o território da Palestina, onde morava o povo árabe palestino há três mil anos. Uma grande sacanagem realizada pelo comitê de gangsteres internacionais, com o pomposo título de chefes das nações europeias, que sequer teve a decência de consultar o povo palestino se ele estava disposto a ceder a maioria do seu território para a instalação de um estado racista com outro povo. Lembremos que durante séculos, judeus (em minoria) e árabes palestinos, que representavam mais de 90 por cento da população, conviveram pacificamente no território da Palestina. Até que foi criada pela ONU em 1947 essa esdrúxula solução de partilha daquele território entre dois estados, dando a maior parte (55%) para a criação de um estado supremacista - já que Israel se auto intitula estado de uma etnia, ou seja, estado judeu, com supremacia sobre outros povos que vivem ali. Caberia à maioria da população que viveu na Palestina por milênios criar um segundo estado num território menor (45%), coisa que nunca aconteceu, já que grande parte da população palestina foi expulsa; outros tantos foram presos ou assassinados e os demais ficaram espremidos numa área total que não chega a 10% do território da antiga Palestina - em Jerusalém Oriental, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, um verdadeiro campo de concentração, cuja população de 2,3 milhões de habitantes é vítima do covarde genocídio que a população mundial acompanha em tempo real por canais de TV do Oriente Médio, via youtube.
Mas, apesar de todo esse massacre realizado pela entidade sionista de ocupação, conhecida como Israel, com total apoio financeiro e militar do imperialismo estadunidense, o povo palestino resiste. Sua força militar de resistência tem causado inúmeras baixas ao exército sionista. Após 100 dias de bombardeio, já havendo destruído mais da metade das casas de Gaza, além de hospitais, escolas, universidades, mesquitas e toda a infraestrutura desse território, o exército de ocupação não consegue atingir os seus principais objetivos. Não conseguiu esmagar o Hamas e demais forças aliadas da resistência; não conseguiu libertar as dezenas de pessoas sequestradas que estão sob o poder da resistência palestina armada - e que deseja trocar essas pessoas - 136 ao todo - pelos 6 mil palestinos sequestrados pela entidade sionista de ocupação; não conseguiu sequer dominar completamente o território de Gaza. O que o exército sionista se mostrou eficiente mesmo foi no covarde massacre de crianças e mulheres e idosos através de bombardeio aéreo. São mais de 30 mil civis palestinos mortos até o momento, além de mais 60 mil feridos.
Por outro lado, ainda no campo militar, Israel enfrenta também o operoso exército do Hezbollah, que atua no sul do Líbano, ao norte da Palestina ocupada. Apesar das ameaças que Israel faz contra o Líbano, de invadir e destruir esse país, o histórico de confronto com o Hezbollah não foi favorável ao exército de Israel, que já foi derrotado duas vezes no Líbano. Além disso, os combatentes do Hezbollah, que são aliados da causa palestina, saíram vitoriosos de recente conflito armado em defesa do governo sírio, contra os mercenários do chamado Estado Islâmico, que, segundo consta, não é nem estado e nem islâmico, pois só ataca os estados islâmicos anti-imperialistas e jamais atacou Israel ou as bases militares dos EUA no Oriente Médio. O Hezbollah tem uma força de 100 mil combatentes e possui cerca de 150 mil mísseis muito superiores aos usados pelo Hamas. Ou seja, se Israel tentar invadir ou atacar de forma mais pesada o Líbano, vai pagar um preço altíssimo.
Na disputa política e moral em escala mundial, Israel está derrotado. É hoje um estado isolado e as votações pelo cessar-fogo na ONU demonstram isso, apesar do poder de veto que tem seu principal aliado e financiador, os EUA. Até mesmo governos europeus ou do Oriente Médio que têm fortes relações com Israel e com os EUA têm manifestado publicamente o seu desconforto com a permanência do massacre televisionado em Gaza. E mesmo nos EUA, onde o lobby sionista controla boa parte da máquina estatal - além dos bancos e da indústria cultural e midiática, incluindo Hollywood e todos os grandes jornais e TVs -, mesmo lá, nesse país imperialista, milhares de pessoas, incluindo centenas de judeus não sionistas, saem às ruas em protesto contra o genocídio e contra a posição dos EUA de apoio incondicional a esse vergonhoso e covarde massacre.
Além do Hamas e aliados em Gaza, do Hezbollah no Sul do Líbano (fronteira com o Norte da Palestina Ocupada); e dos confrontos na Cisjordânia, a causa palestina conta também com o apoio dos Houthis no Iêmen, que praticamente fechou o Mar Vermelho para o tráfego de cargas dirigidas para Israel. Todos esses exércitos e partidos fazem parte, juntamente com a Síria e com o Irã, do chamado Eixo da resistência islâmica, claramente pró-palestino e anti-imperialista.
A existência de Israel, com essa característica de estado racista e colonialista, tornou-se uma vergonha para a humanidade mais esclarecida e sensível. Fica cada vez mais evidente que o Ocidente terá que encontrar uma solução que contemple o direito dos palestinos a viverem em seu território com autonomia, e não sob a tutela colonialista de outro estado.
Quem passou pela Praça Sete hoje pela manhã, na cidade de Belo Horizonte, teve a oportunidade de assinar um abaixo-assinado dirigido ao presidente Lula, que cobra o rompimento de todas as relações do Brasil com Israel; pode contemplar também, além das falas no microfone horizontal e democrático que lá se encontrava - ao contrário dos atos burocráticos de uma certa esquerda, aspas -, a bela apresentação artística improvisada da dança típica palestina, que simboliza a sua (nossa) resistência e luta. Cada ato era sempre acompanhado do grito bem alto: "Palestina livre, do Rio ao Mar!"
(Euler, em 13 de janeiro de 2024).
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Mensagem de final de ano...
Desejo a todas e todos, na medida do possível, paz e harmonia com os amigos e familiares. Mas, estamos em guerra contra um sistema que nos explora e nos oprime. Na terra em que Jesus nasceu, um estado colonialista e racista promove genocídio e a limpeza étnica do povo palestino, que resiste heroicamente. Milhões de pessoas ainda vivem na miséria e na fome em todo o mundo, enquanto alguns poucos acumulam bilhões em fortunas apropriadas dos suores alheios. É o capitalismo. Minha expectativa mesmo é que, em algum momento, entre hoje e os próximos séculos, a maioria da humanidade queira se livrar desse sistema. Em escala mundial, nada menos que isso. Até lá, nosso caminho é a resistência, a luta e as pequenas grandes conquistas no interior desses "moinhos satânicos" do capital. A luta é o que nos forma! E a unidade dos de baixo na luta é a melhor forma de resistência.
Um forte abraço a todas e todos! E força na luta, sempre!
Palestina livre, do rio ao mar!
Euler, 31 de dezembro de 2023
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Israelenses sionistas: um estado do demônio!
Em plena véspera de Natal, na terra em que Jesus Cristo nasceu, um estado racista e genocida promove uma matança generalizada de crianças e mulheres e idosos que moram na Faixa de Gaza e também na Cisjordânia. Toda aquela falácia da mídia venal de que Israel estaria atrás apenas do Hamas não se confirma diante da atroz realidade: já são cerca de 30 mil civis mortos (incluindo os desaparecidos nos escombros) e quase 60 mil feridos, boa parte deles mutilados. Crimes de guerra são cometidos a todo momento pelo estado assassino e terrorista de Israel, que bombardeia deliberadamente hospitais, escolas, ambulâncias, mesquitas e abrigos de refugiados. Com o total apoio de outro estado igualmente terrorista e assassino que é os EUA. Esses dois estados são a síntese do que o capitalismo tem a oferecer aos povos do mundo: o genocídio de milhares de pessoas indefesas, combinado com a limpeza étnica, a exploração da força de trabalho de forma cada vez mais intensa e desumana e a apropriação de todas as riquezas por alguns poucos, enquanto a maioria é cercada e massacrada.
Infelizmente, a maioria das pessoas, já desumanizadas e insensíveis, não percebe que o que acontece na Palestina ocupada não é um caso isolado. E mesmo que fosse, nada justificaria total crueldade por parte de um estado armado com as mais avançadas técnicas de extermínio, fazer o que vem fazendo nos últimos 80 dias. É fato que essa matança combinada com a limpeza étnica do povo palestino do seu próprio território já vem ocorrendo mesmo antes de 1947, quando a ONU tomou a infeliz decisão de aprovar a partilha da Palestina e permitir que se criasse um estado sionista, que por essência é racista, colonialista e terrorista.
Os governos da maioria dos países do mundo, e isso inclui os países do Oriente Médio, além de fantoches e corruptos, são totalmente dependentes dos EUA e da Europa Ocidental, que são aqueles que protegem e fornecem dólares e armas para Israel manter o cruel e covarde assassinato dos palestinos.
O exército de Israel e sua força de destruição aérea é muito bom mesmo para assassinar pessoas indefesas, crianças, mulheres, idosos, com mísseis teleguiados ou não e fósforo branco, entre outros experimentos de extermínio humano. Contudo, na batalha campal, para enfrentar o Hamas e outros grupos da resistência armada palestina nas ruas já destruídas de Gaza, esse exército tem enfrentando grandes dificuldades. Apesar da superioridade tecnológica, de equipamentos e de grande número de militares, até o momento o exército sionista não conseguiu o seu intento de esmagar o Hamas e os demais grupos de resistência. No campo de batalha mesmo, apesar de toda a superioridade militar, as forças de defesa de Israel têm sofrido enormes baixas, incluindo oficiais de alta patente. Dificilmente conseguirão atingir o objetivo tão declarado de "destruir o Hamas".
Contudo, o objetivo central e real dos sionistas é o de esmagar não o Hamas, mas a população civil palestina, sobretudo as crianças e as mulheres, incluindo as mulheres grávidas, para que não possam procriar. É um estado do demônio esse, que coloca como alvo uma população civil indefesa, realiza um cerco covarde em uma área com grande densidade populacional, corta a água, a energia elétrica, a entrada de remédios e de alimentos e passa dezenas de dias e noites despejando bombas e mísseis na cabeça dessas pessoas. Um morticínio que já supera em muito - considerando-se proporcionalmente a população, o tempo do massacre e a área -, já supera em muito o morticínio em TODAS as guerras que conhecemos, incluindo a primeira e a segunda guerras mundiais. Já são mais de 10 mil crianças mortas! Para se ter uma ideia, na chamada guerra entre Rússia e Ucrânia (que é na verdade uma guerra entre Rússia e os 30 países da Otan), que já dura dois anos, morreram menos que 100 crianças. É fato que a Rússia já destruiu o equivalente a três exércitos - mais de 600 mil militares ucranianos teriam sido mortos -, mas, de forma alguma atacou covardemente a população civil, de forma deliberada, sobretudo mulheres e crianças, como faz o cruel e covarde exército sionista.
E não se trata apenas de culpar o criminoso de guerra conhecido como Netanyahu, como fazem alguns. Todo o estado sionista de Israel é cúmplice dessa matança generalizada, desumana e cruel contra uma população que vive em situação precária, graças à política segregacionista imposta a esse povo durante décadas pelo criminoso estado de Israel. Em algum momento todos eles - oficiais militares, executores de ordens criminosas, ministros de estado e empresários financiadores da máquina de guerra sionista - terão que responder pelos inúmeros crimes de guerra que estão cometendo. Crimes lesa humanidade, que não podem ficar impunes, sob pena de banalizar e naturalizar esses crimes contra qualquer povo.
É fato que milhares de pessoas em todo o mundo tem se manifestado em protestos contra Israel e em favor da causa e da resistência palestina. Mas, também é fato que quase todos os governos continuam omissos, cúmplices desse genocídio televisionado em tempo real pelas emissoras do Oriente Médio, sobretudo os canais no youtube Al Jazeera (do Catar) e Almayadeen (do Hezbollah, Líbano). A mídia ocidental está toda ela vendida para os objetivos de guerra e de morte dos EUA e do sionismo israelense. Chama a atenção a covarde omissão de centenas de artistas populares e líderes partidários, sindicais e estudantis do campo da esquerda, que se silenciam diante da maior matança de um povo. Estão ligados a causas eleitorais ou da chamada causa identitária, entre outras, que são legítimas e necessárias, mas, estranhamente se calam diante do maior genocídio dos tempos atuais. É como se as pessoas se dissessem neutras diante dos massacres nazistas aos judeus e ciganos, por exemplo, na Segunda Guerra mundial. E chegam até a justificar esse covarde posicionamento com o argumento de que isso não é prioridade, que já temos outros problemas no Brasil. Um absurdo ouvir isso de alguém que se considere do campo progressista!
Infelizmente, em pleno Natal, e na terra onde nasceu o menino Jesus - cuja vida e cuja família tem toda a identidade com a dos palestinos atuais, nunca com o estado opressor de plantão, seja ele o Império Romano ou estado terrorista e racista de Israel - continua, de forma indiscriminada, a matança de milhares de crianças e mulheres e idosos. A ONU, uma nulidade, sobretudo com o poder de veto que tem os EUA, que não deixa aprovar nada contra Israel. Mesmo porque as guerras são altamente lucrativas para a indústria bélica do Ocidente - dos EUA, da Europa Ocidental e de Israel. Sem as guerras, os EUA não existiriam com o poder que têm. Aliás, sem as guerras, o capitalismo não existiria. Para explorar milhões de pessoas, roubar suas terras, suas riquezas e impor sua vontade em favor de alguns poucos é preciso que haja a combinação entre convencimento ideológico - papel cumprido pela mídia, pelas igrejas e pela própria academia - de amplos setores da sociedade e a força militar bruta capaz de matar milhões e de intimidar os demais. Menos, claro, os que não se deixam curvar e resistem heroicamente, apesar de tanta tragédia, como o povo palestino.
Que possamos refletir sobre tudo isso e contribuir, na forma que pudermos, para que cesse esse covarde massacre contra as crianças e as mulheres palestinas. Que as populações do mundo se levantem em manifestações de protesto e em boicote às empresas que sustentam o estado sionista e genocida e racista de Israel! Que os países - incluindo o Brasil - rompam todas as relações com esse criminoso estado! E que a humanidade, sobretudo os de baixo, volte a construir sonhos de um mundo baseado na solidariedade humana, e não no egoísmo capitalista, que a tudo destrói.
Viva o povo palestino!
Viva a corajosa resistência do palestinos!
Pelo fim do estado sionista, racista e genocida de Israel!
(em 23/12/2023)
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Ato de protesto realizado em frente à sede do Consulado dos EUA, em Belo Horizonte, no dia 21 de dezembro de 2023, organizado pelo Comitê Mineiro de Solidariedade ao povo palestino.
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Tribunal Popular julga e condena
o estado sionista de Israel em BH
Enquanto os organismos internacionais se omitem e são cúmplices do maior genocídio contra uma população civil que vive em campo de concentração - os palestinos da Faixa de Gaza -, os integrantes do Comitê Mineiro de Solidariedade ao povo palestino realizaram um importante Tribunal Popular para julgar os criminosos atos de guerra do estado sionista.
O evento aconteceu no dia 06 de dezembro último, na sede do SindRede - sindicato dos profissionais da Educação de Belo Horizonte, que fica no centro de BH. Com a presença de dezenas de pessoas que acompanharam o julgamento, o Tribunal colheu o testemunho de vários convidados, incluindo alguns descendentes palestinos que moram no Brasil, que discorreram sobre todo o processo de colonização e limpeza étnica de que foram (são) vítimas os árabes palestinos desde 1948. Para representar o irrepresentável - o criminoso estado colonialista, genocida e sionista de Israel - duas atrizes cumpriram o difícil papel de advogadas de defesa. Como advogado de acusação falou ninguém menos do que o corajoso jornalista Breno Altman, que é judeu antissionista e tem feito uma defesa incansável dos palestinos. Quando terminou o julgamento, tive a oportunidade de cumprimentá-lo e disse pra ele que ele era uma das poucas pessoas da esquerda brasileira a resgatar o sentido mais rico do internacionalismo proletário. De fato, penso, a esquerda brasileira, com raras e honrosas exceções, tem sido um fiasco na defesa dessa causa que transcende as fronteiras de um país. A defesa dos palestinos e de sua heroica resistência contra o massacre realizado pelo estado terrorista e genocida de Israel é um dever moral, ético e humanitário. Infelizmente a nossa esquerda, por oportunismo eleitoreiro ou por capitulação ao sionismo, não entendeu isso. A história não a perdoará. Nem eu.
Os depoimentos das pessoas que foram convidadas para prestar o seu testemunho foram impressionantes, marcados por grande emoção e dor, também, nas lembranças de detalhes ocorridos durante os últimos 76 anos. A jornalista palestina Soraya Misleh, que vive no Brasil e cuja família foi expulsa da Palestina no processo de colonização forçada do sionismo israelense narrou detalhes da Nakba (catástrofe, desastre), quando milhares de pessoas foram expulsas de sua terra natal, levando apenas a roupa do corpo e a chave de suas casas, a qual guardaram até a morte. Ela descreveu aspectos históricos da perseguição aos palestinos ao longo das últimas décadas e de como o criminoso estado de Israel tudo faz, com a ajuda da não menos criminosa mídia ocidental, para invisibilizar o povo palestino, sua cultura, sua história, sua existência. E de como, apesar de toda essa tragédia que se arrasta por décadas, os palestinos resistem e jamais vão desistir de reconquistar a sua terra e sua autonomia e sua autodeterminação.
Outro depoimento ao mesmo tempo singelo e carregado de dor foi dado pela médica Raquel Bandeira, que viveu um período de tempo na Faixa de Gaza atendendo aos enfermos nos hospitais locais. Ela contou sobre o cerco imposto ao local pela ocupação sionista, dificultando em muito o tratamento de pessoas mutiladas, atingidas por snipers (atiradores de elite do exército israelense) contra palestinos que protestavam de forma pacífica, ao redor do muro construído em volta de Gaza. A médica disse que não é e nunca foi militante de organização política e que estava em Gaza prestando serviço profissional. Por isso mesmo ficava muito atenta às coisas do cotidiano. Apesar do cerco e do boicote em todas as áreas, a população de Gaza se esforçava para sobreviver e construir seus projetos de vida. Ela descobriu uma plantação de morangos, segundo ela os mais deliciosos que ela experimentou. Visitou uma igreja ortodoxa construída há séculos, que agora foi destruída pelo criminoso bombardeio de Israel. Nas ruas, a presença de crianças brincando em meio à tragédia da fome, do desemprego, da falta de água e de energia elétrica, era algo que contrastava com o cenário de prisão em Gaza. Num dos locais onde ela tomou café e se alimentou, nas ruas, disse que havia uma iguaria deliciosa. Contou também um pequeno mas para ela significativo detalhe particular: ela nunca gostou de almoçar sozinha. Como os funcionários palestinos e outros do hospital ficaram sabendo disso, eles sempre esperavam a hora dela se alimentar para acompanhá-la. Finalmente, ela mostrou as imagens dos lindos horizontes de Gaza, à beira da praia, e do outro lado, os enormes e sombrios muros construídos pelo estado colonizador de Israel. Uma imagem de um corredor cercado na saída de Gaza para o estado ocupado conhecido como Israel lembra muito um corredor do campo de concentração nazista de Auschwitz.
Outro depoimento marcante foi dado pela sra. Tânia Abdallah, palestina de origem e que mora em Belo Horizonte. Ela contou comovida que seus pais, expulsos da Palestina histórica, mantinham o sonho de um dia voltar. Disse ela que seu pai guardava consigo a chave da casa onde ele morou na Palestina, pois sonhava um dia voltar para o local onde sempre viveu. Infelizmente, ele morreu sem realizar esse sonho. Ele transferiu a chave da casa para sua filha desejando que ela nunca perdesse a esperança de retornar ao território da Palestina, onde os árabes palestinos viveram e vivem há milênios. Sonho esse partilhado por milhões de palestinos que vivem fora da Palestina histórica, e que estão proibidos de retornar pelo estado sionista e colonizador de Israel.
Um dos pontos altos do julgamento popular foi a fala do jornalista Breno Altman. Ele discorreu sobre toda a história desde o surgimento do sionismo entre grupos de judeus que defendiam a criação de um estado judaico no final do século XIX, até a criação do estado israelense em 1948; a Nakba - processo conhecido como "Catástrofe", quando milhares de palestinos foram expulsos de suas aldeias; o processo permanente de ocupação do território palestino e do martírio vivido pela população palestina originária daquele local. Abordou finalmente sobre o genocídio praticado pelo estado de Israel na Faixa de Gaza, onde milhares de crianças, mulheres e idosos são mortos pelos bombardeios do estado sionista. Escolas, hospitais, igrejas e até ambulâncias são destruídos de forma deliberada. Um depoimento forte. Breno encerrou propondo não só a condenação de Netanyahu e do seu ministro da Defesa à prisão perpétua, e também a apuração de culpa de outros membros do estado sionista no genocídio em Gaza; e o cancelamento da resolução 181 da ONU que em 1947 recomendou a partilha da Palestina, entregando aos sionistas - que eram minoria na Palestina - a maior parte daquele território.
Outros depoimentos, todos eles expressivos, com fundamentação abundante e representativos de diversas etnias e movimentos sociais também foram colhidos. No final, um júri muito representativo e diversificado - índios, negros, mulheres, jovens, sindicalistas, estudantes, pessoas da periferia - decidiu, por unanimidade, pela condenação do estado sionista de Israel. As pessoas presentes aplaudiram de pé e na sequência cantaram o hino da Internacional, uma prática que em outros tempos era comum entre os combatentes que lutavam pela emancipação humana do terror capitalista. Quem desejar assistir na íntegra o julgamento ocorrido no Tribunal Popular poderá clicar neste link https://www.youtube.com/watch?v=liM3FTse-A0
Esta foi mais uma das muitas atividades de apoio à causa palestina realizadas pelo comitê mineiro de solidariedade aos palestinos. Além desse Tribunal, o comitê já realizou atos públicos no Centro de BH, seguidos de passeatas; colação de cartazes em vários pontos da cidade; panfletagem na porta de eventos artísticos expressivos; divulgação e compartilhamento de informações sobre a resistência palestina e o genocídio em Gaza nas redes sociais; manutenção de barraca na Praça Sete, juntamente como a Associação Cultural José Martí; e participação em evento na Faculdade de Medicina da UFMG; realização de Flash Mob num shopping center de BH; além de reuniões semanais e encontros com sindicalistas e estudantes.
Viva o povo palestino! Viva a heroica resistência dos palestinos! Abaixo o estado sionista genocida colonialista e racista de Israel!
Nas fotos abaixo, que tirei, o registro de alguns momentos durante o Tribunal Popular. Ao meu lado, o camarada Paulo Engels (seria ele bisneto de Friedrich Engels? rsrs), da velha guarda comunista, colega de militância na década de 80 do século passado (tá ficando velho, hein Paulinho?), hoje advogado.
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Tribunal Popular vai julgar o estado sionista de Israel em BH
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Dia 29 em BH - Dia de solidariedade internacional à causa Palestina!
No dia 29 de novembro de 2023, aconteceu o importante ato em solidariedade à resistência palestina no salão nobre da Faculdade de Medicina da UFMG. Ao meu lado aparece o comandante João Martinho. Em nome do Comitê Mineiro de Solidariedade aos palestinos falou o professor Fábio Bezerra - uma fala potente e esclarecedora. Na primeira foto, a dra. Raquel Bandeira, que fala sobre sua experiência como profissional da saúde que atuou na Faixa de Gaza. Um depoimento forte e ao mesmo tempo singelo de alguém que não é militante política, mas que não consegue ficar indiferente ao sofrimento e ao martírio de um povo que durante décadas vive sob a ocupação do seu território pelo estado sionista (e racista, e colonialista e genocida) de Israel. Em todo mundo ocorreram manifestações de solidariedade aos palestinos e contra o genocídio executado pelo estado sionista de Israel. Viva a resistência palestina!
O genocídio em Gaza é a síntese do que o Ocidente capitalista tem a oferecer
Nas imagens aqui publicadas - apenas algumas -, observamos o tratamento "civilizatório" que Estados Unidos e países ricos da Europa, através do estado-síntese do terror capitalista - Israel, estado sionista, racista, colonizador e genocida - impõem ao povo palestino. Em poucos dias de cerco e destruição total, a população de Gaza, a maioria crianças, mulheres e idosos, conheceu o inferno. Um genocídio. Um massacre covarde contra uma população civil de 2,5 milhões de pessoas. Uma destruição desumana, contra seres humanos famintos, com sede, sem energia elétrica, cercados, adoecidos, maltratados há décadas pela política racista, de extermínio e de limpeza étnica promovida pelo criminoso estado sionista de Israel, com a conivência de organismos internacionais, de governos, de praticamente toda a imprensa ocidental - que atua como assessoria de imprensa do imperialismo estadunidense e do sionismo. Em 40 dias de massacre, inclusive de escolas, hospitais, mesquitas e prédios da ONU, com mísseis teleguiados, fósforo branco e outros experimentos de destruição em massa, já são 14 mil mortos, a maioria crianças e mulheres, além de mais de 30 mil feridos, muitos mutilados, e milhares de pessoas soterradas ou desaparecidas.
Nas ruas e praças de centenas de cidades do mundo, ante o silêncio covarde dos respectivos governos - com raras e honrosas exceções - milhares de pessoas realizam manifestações em solidariedade aos palestinos, contra o estado terrorista de Israel e exigindo o imediato fim do massacre. Nas redes sociais, apesar das mentiras da mídia de aluguel, a batalha da informação foi apropriada em grande parte pelas forças progressistas, que romperam o cerco sionista e imperialista, revelando ao mundo o que de fato se passa na Palestina ocupada.
A ONU, infelizmente, nada consegue fazer, já que suas resoluções são desrespeitadas pelo estado fora da lei de Israel há décadas, com total apoio e conivência das grandes potências. Eles adoram falar em democracia, liberdade e civilização ocidental como exemplo para o mundo. O covarde massacre da população de Gaza, e também na Cisjordânia, de uma população aprisionada, sofrida e colonizada na sua própria terra - Palestina - é o que essas autoridades ocidentais oferecem como presente e como futuro para a humanidade.
Gaza se tornou o espelho do terror capitalista, do colonialismo, da lucrativa indústria bélica, da ganância de alguns poucos por tudo querer dominar. Um massacre televisionado em tempo real, graças à ousadia e coragem jornalística de um canal como Al Jazeera, que, ao contrário de TODA a imprensa ocidental, fez a cobertura do massacre não em Nova York, em Londres ou em Telavive, mas, diretamente de GAZA, ou do que restou desse território.
A humanidade não tem o direito de esquecer e nem mesmo o de perdoar os autores e beneficiários desse genocídio calculado contra a população palestina. Esse mesmo povo que, em 76 anos de sofrimento, tem experimentado um misto de diáspora e holocausto - executado pela fúria racista de uma doutrina - o sionismo -, que se tornou estado e se apropriou e instrumentalizou o legado judaico - cujo passado humanista é renegado -, colocando em prática o plano sionista de poder racista, de extermínio de um povo e de colonização de um território que já estava, há séculos, ocupado pelos árabes palestinos. O Ocidente deve aos palestinos o direito de viver com dignidade e autonomia em sua própria terra. (em 23/11/2023)
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A dor dos palestinos causa, além da indignação, o desejo de libertação humana do capital (15/11/2023)
Ante à inutilidade de organismos internacionais como a ONU e também à paralisia dos governos nacionais para deterem as práticas de genocídio e outros crimes de guerra cometidos pelo estado sionista colonizador e racista de Israel contra os palestinos de Gaza e Cisjordânia, os povos do mundo têm o direito - e o dever até - de assumirem o protagonismo do seu próprio destino.
É preciso realizar todas as formas de manifestações de protesto - nas ruas, nas redes sociais, nos locais de moradia, de transporte, de estudo e de trabalho; ao mesmo tempo, é fundamental construir no plano internacional ações de boicote às empresas que financiam e que se beneficiam do genocídio contra os palestinos ou quaisquer outros povos ou grupos de pessoas oprimidas; é preciso construir a unidade das lutas e movimentos internacionais que culmine com greves e manifestações em escala mundial; é necessário também denunciar e desmascarar as mídias regionais e internacionais que atuam como assessoria de imprensa do sionismo (sucessor do nazismo na etapa atual do capitalismo) e do imperialismo estadunidense e europeu.
Finalmente, considerando que o sionismo e o imperialismo na etapa atual da crise mundial do sistema capitalista tendem a adotar cada vez mais práticas de destruição das condições de vida humana e de genocídio contra as populações oprimidas - como se verifica agora com os palestinos de Gaza e também com comunidades e grupos da periferia e dos países mais pobres; é preciso que se construam formas de ocupação direta das fontes de produção e distribuição das riquezas produzidas pelos trabalhadores de todo o mundo.
A realidade do massacre covarde dos palestinos pelo estado sionista de Israel com o integral apoio do imperialismo estadunidense e europeu deixou claro, para todos, que a humanidade está órfã; que não conta com o amparo de quaisquer organismos internacionais; e que só pode contar mesmo com sua própria força, para além e apesar dos poderosos aparatos estatais - salvo poucas exceções de governos nacionais que demonstram, mesmo com suas limitações, solidariedade aos grupos de pessoas oprimidas.
A causa palestina, sua corajosa resistência e o genocídio praticado contra a população de Gaza escancarou a face mais cruel e dominante do capitalismo mundial. Não há quaisquer sentimentos humanos que se sobreponham aos mesquinhos interesses de dominação econômica, geopolítica, de lucros empresariais, e de domínio colonizador de tudo e de todos pela força militar e pela manipulação coletiva através de veículos de comunicação que funcionam como órgãos de propaganda e assessoria de comunicação desses esquadrões da morte em escala global.
Se a humanidade se cala perante essa forma de dominação e dessa tragédia humanitária, não há mais o que fazer senão aguardar a destruição do planeta.
Quando a destruição covarde e vil de seres humanos, sobretudo crianças, mulheres e idosos, e até mesmo das plantas e dos animais, não é - ou não for - capaz de sensibilizar as pessoas para uma efetiva ação contra esses agentes da morte, do genocídio, não há - ou não haverá - salvação para a existência humana. É sinal de que a humanidade foi derrotada.
Felizmente, as gigantescas manifestações de rua que verificamos em várias partes do planeta, combinadas com as ações de resistência e de protesto nas redes sociais e em outros campos de batalha, incluindo as iniciativas de alguns poucos governantes, demonstram que ainda há um sopro de esperança. E que esse movimento precisa crescer e se sobrepor aos interesses de uma minoria que tem muito poder, mas que continua sendo uma ínfima minoria da população mundial.
A humanidade que produz todas as riquezas do mundo não tem o direito de se dobrar para essa minoria que controla os aparatos de guerra estatais - incluindo a OTAN e navios atômicos - bem como os mecanismos de manipulação e controle das consciências das pessoas.
Nós, os de baixo, temos o dever de nos unir para impedir o massacre dos palestinos e de outros povos e etnias, e ao mesmo tempo construir uma outra forma de sociedade, que se liberte das atuais estruturas de dominação; e que esteja baseada na solidariedade humana, capaz de garantir condições dignas de vida a todas e todos; e capaz de salvar o planeta Terra da destruição em todos os níveis que está em curso pela cobiça dos interesses privados capitalistas de alguns poucos.
Sejamos capazes de assumir o protagonismo das nossas vidas. A defesa dos palestinos, contra o massacre promovido pelo sionismo e pelo imperialismo estadunidense/europeu, constitui o ponto de unidade, a faísca para a construção de um outro mundo, solidário e humanista.
P.S. É fato que ainda estamos distantes do legado internacionalista que a esquerda produziu em vários momentos da história humana. Mas é nos momentos de grandes crises que somos forçados a refletir, a sonhar e a buscar soluções que nos parecem impraticáveis. Aparência, talvez.
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Israel: a covardia de um estado racista e terrorista (07/11/2023)
O que a humanidade testemunha hoje, com o genocídio cometido pelo estado sionista (e racista, e terrorista) de Israel é algo inacreditável. Milhares de pessoas sendo bombardeadas sem qualquer condição de defesa. Mais de 4 mil crianças foram executadas com os criminosos mísseis do estado de Israel, que atingem também hospitais, ambulâncias, mesquitas, escolas e casas. O pretexto para tais crimes de guerra é o mais cretino possível: os militantes do Hamas estariam supostamente escondidos nesses espaços. Algo inacreditável! Imagine que você more num bairro onde um grupo de traficantes cometa algum crime e o estado resolva matar todos os moradores desse bairro com o argumento de que tal grupo estaria escondido numa das casas. É algo inaceitável! [Fique claro que não estou comparando o Hamas a um grupo de traficantes. Apenas mostrando o absurdo que é o argumento usado pelo estado de Israel para tentar legitimar o covarde assassinato de um povo]. Um massacre televisionado, com a cumplicidade de todos os governos do planeta - a não ser daqueles que pelo menos tiveram a coragem de romper relações com um governo fascista, nazista, que é o governo de Israel.
Mas, além da cumplicidade pusilânime da maioria dos governos, incluindo dos países árabes, há que se destacar o papel sempre negativo e a favor da guerra e do morticínio de pessoas inocentes que é assumido pelos Estados Unidos e pelos países ricos da Europa Ocidental, todos eles financiadores da morte e dos crimes de guerra cometidos pelo estado sionista de Israel.
A humanidade já testemunhou muitos massacres ao longo da história. Aqui mesmo na América Latina todas as comunidades originárias foram vítimas de grandes massacres praticados por governos europeus colonialistas. O mesmo ocorreu com os países da África, seja com o tráfico de escravos, com a ocupação colonialista e o roubo das riquezas desses países; com as guerras incentivadas entre tribos, e com o apartheid na África do Sul, onde a minoria branca impunha um regime de segregação racial à maioria da população negra. Na guerra do Vietnã, os EUA mataram covardemente milhares de vietnamitas, inclusive com o uso de napalm (líquido inflamável), onde as famílias camponesas, incluindo crianças, tinham seus corpos queimados. Uma atrocidade cometida pelo país imperialista contra um povo que lutava - e venceu! - pela sua autonomia, pela sua libertação. Na segunda guerra mundial, os judeus foram vítimas do holocausto cometido pelo nazismo alemão, cujo governo defendia a supremacia da raça ariana. Além dos judeus, ciganos e outros grupos e etnias foram também perseguidos e mortos.
O que acontece hoje contra os palestinos se assemelha a esses massacres, talvez com a diferença de que agora as cenas de terror são acompanhadas em tempo real através da mídia do Oriente Médio e de canais alternativos, já que a mídia ocidental, incluindo a grande mídia no Brasil, é toda ela cúmplice dessa máquina de guerra e da morte que é o estado de Israel. Essas empresas de manipulação - nunca de jornalismo, nunca! - prestam serviço de assessoria de imprensa ao sionismo e ao imperialismo. E devem estar recebendo muitos 30 dinheiros para se prestarem a esse papel vergonhoso, que os deixa com as mãos sujas de sangue.
Os palestinos são as grandes vítimas dessa tragédia, que começou quando o sionismo - doutrina que prega a supremacia racial, étnica, de um povo sobre os demais - resolveu, com o apoio das potências ocidentais (e até mesmo da extinta União Soviética, que mais tarde se arrependeu), criar um "estado judeu" no território da Palestina, que já era ocupado por árabes palestinos há séculos. Em 1948, com o apoio da ONU, foi criado o estado de Israel numa área superior ao espaço reservado aos palestinos, que eram a maioria da população daquele território. Desde então, milhares de palestinos foram expulsos daquele território, outros tantos foram assassinados, enquanto outros foram empurrados e cercados em campos de refugiados, que se tornaram verdadeiros campos de concentração, como é o caso da Faixa de Gaza. Território este do tamanho da capital mineira, onde moram, ou sobrevivem nas piores condições cerca de 2,5 milhões de palestinos. Outros 3,5 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia, que antes era um território integrado e que depois foi sendo repartido, invadido, dividido e ocupado por colônias de judeus sionistas.
As condições de vida dos árabes palestinos no território ocupado que lhes pertencia são cada vez piores. Eles não têm autonomia para nada. Não podem sequer sair dos seus territórios. Não existem aeroportos nessas áreas. Em Gaza, a energia elétrica de apenas algumas horas por dia é controlada pelo estado de Israel. A metade da população é desempregada e os poucos que têm autorização de sair de Gaza para trabalhar para empresas em Israel passam por barreiras e revistas diárias, recebendo salários mais baixos e tendo que se submeterem à humilhações por quaisquer motivos. Milhares de crianças palestinas estão presas (sequestradas) nos cárceres do estado de Israel, sem direito a qualquer defesa. Os palestinos vivem em situação degradante, comum à história de todos os povos colonizados. Um verdadeiro apartheid praticado pelo estado sionista e terrorista de Israel, que conta com a conivência dos governos do mundo inteiro, salvo raras exceções.
Em vinte e poucos dias de ininterrupto massacre covarde do estado de Israel contra o povo palestino que mora em Gaza, mais de 10 mil civis foram mortos, enquanto milhares de outros foram mutilados como consequência dos ferimentos provocados pelos mísseis. Nos hospitais, também atingidos pelos mísseis, as cirurgias são realizadas sem uso de anestesia, já que o governo de extrema direita de Israel impede a entrada de medicamentos e de utensílios de saúde. Imaginem a dor e o sofrimento desses feridos, a maioria formada de crianças, mulheres e idosos. Israel cortou a energia elétrica, o abastecimento de comida e de combustíveis e despejou sem dó o equivalente a uma bomba e meia de Hiroshima - aliás, diga-se, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki são outras tristes lembranças, cometidas pelo imperialismo estadunidense, que usou a população civil dessas cidades japonesas para "testar" os efeitos da bomba atômica. Outro crime lesa humanidade que passou impune.
Israel usa covardemente o argumento de que está punindo o Hamas pelo ato de resistência que esse grupo praticou no dia 07 de outubro de 2023, quando conseguiu romper os muros que cercam Gaza e eliminar centenas de guardas e policiais do exército de Israel, país colonizador, atingindo também vários civis israelenses que participavam de uma festa nos arredores de Gaza. Há quem relate que vários civis mortos naquele dia foram atingidos pelos policiais israelenses, na troca de tiros com os militantes do Hamas. Independentemente de qual versão é a mais próxima da realidade, a mídia ocidental e os governos dos EUA e da Europa assumiram imediatamente a versão de Israel, que nunca primou pela verdade, para condenar o Hamas como "grupo terrorista". O Hamas é uma força política e religiosa que elegeu a maioria dos representantes de Gaza na única eleição democrática ocorrida naquele território, não sendo essa vitória eleitoral, contudo, reconhecida pelo estado de Israel e pelos EUA. Além do Hamas, existem outros partidos políticos e grupos que representam legitimamente a resistência do povo palestino contra o colonialismo do estado de Israel e sua criminosa política de limpeza étnica, extermínio e supremacia racial.
Os palestinos estão sendo massacrados, covardemente. E apesar da mídia ocidental esconder esse massacre, milhões de pessoas em todo mundo, inclusive nos EUA, saem diariamente às ruas exigindo o fim do genocídio e a libertação dos palestinos. Mas a indústria da guerra é altamente lucrativa para essas potências militares. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cada semana o congresso aprova uma nova verba extra de bilhões de dólares para manter a guerra na Ucrânia e o massacre na Palestina Ocupada. Boa parte da população daquele país está revoltada com o posicionamento assumido pelo governo dos EUA. O mesmo acontecendo nos países ricos da Europa, que proibiram manifestações em favor dos palestinos - proibição essa que a população simplesmente desconheceu ao ocupar as ruas e praças em gigantescas manifestações de solidariedade à causa palestina.
O mundo está testemunhando os piores crimes de guerra, crimes lesa humanidade, cometidos por um estado de extrema direita, sionista, terrorista, supremacista, que é o estado de Israel contra uma população oprimida, que vive cercada, humilhada, sem água, sem energia elétrica, sendo bombardeada e expulsa de suas casas. E que há décadas, apesar do desprezo pusilânime da maioria das nações e dos organismos internacionais, resiste heroicamente.
Não podemos permitir que isso continue assim. É preciso salvar os palestinos dessa tragédia. É preciso mobilizar cada vez mais a população em toda parte, em todos os países, exigindo o rompimento de relações diplomáticas e comerciais com o estado de Israel; exigindo o boicote às empresas que financiam essa máquina de guerra; denunciando o papel de cumplicidade dessa mídia ocidental que se vendeu por 30 moedas ao sionismo e ao imperialismo. Exigindo, finalmente, o fim do estado sionista de Israel, para que seja constituído um estado laico palestino na antiga Palestina, onde árabes, judeus e quaisquer outras etnias possam conviver democrática e pacificamente, sem a predominância de doutrinas de supremacia racial e de colonialismo.
- Viva a heroica luta e resistência do povo palestino!
- Pelo fim do estado sionista de Israel!
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Apoio incondicional dos EUA ao sionismo israelense pode parecer
um escárnio, mas, é coerente com o que eles são e fazem
O presidente Joe Biden chegou em Israel - ou ao território da Palestina invadido - justamente no dia em que o estado sionista de Israel destruiu com míssil um hospital na Faixa de Gaza, matando centenas de pessoas, sobretudo crianças e mulheres enfermas. Biden não só não condenou essa prática genocida, como reafirmou o incondicional apoio dos EUA ao estado sionista de Israel. No dia anterior, os EUA foram o único país a votar contra e vetar, no conselho de segurança da ONU, uma proposta singela do Brasil, de que houvesse uma breve pausa na chamada guerra - que na verdade é um massacre - para a criação de um corredor humanitário. Para o imperialismo norte-americano e seu estado colonizador protegido, nada de pausa. Afinal, são dois estados que se alimentam da lucrativa - e mortífera - venda de armas, da manutenção de um estado permanente de medo, de terror e de chantagem contra os povos do mundo. Na sequência, Biden pediu ao Congresso dos EUA a liberação de mais 100 bilhões de dólares para alimentar as guerras em Israel e na Ucrânia. Nesta, como se sabe, o papo é diferente, pois enfrentam uma potência militar que não se intimida. A Rússia é o único país capitalista do mundo que tem força militar - e nuclear - que se equipara à força dos EUA - e não está subordinada a seus caprichos (ou da OTAN), como acontece com os países ricos da Europa. Por isso, esse desesperado esforço permanente dos EUA e aliados para tentar desgastar e provocar a Rússia. A guerra na Ucrânia é na verdade uma guerra da Otan - braço armado dos EUA - contra a Rússia, que usa a população da Ucrânia e seu governo fantoche, serviçal e exibicionista como bucha de canhão nas batalhas contra uma potência visivelmente mais forte e preparada.
Em Israel - ou Palestina sob ocupação do Estado sionista e terrorista de Israel - a situação é diferente. Há mais de 70 anos o governo sionista promove uma política de extermínio e de limpeza étnica contra os árabes palestinos que eram a maioria dos habitantes daquele território durante séculos. Israel é o principal aliado dos EUA no Oriente Médio e se sente totalmente confortável para desrespeitar as normas internacionais. Pratica prisões ilegais de crianças palestinas, tortura, execução, perseguição e chantagem contra centenas de árabes palestinos durante todo o ano, há décadas. E nunca se vê essa mídia que compõe o arsenal de guerra dos EUA e de Israel a chamar o Estado sionista de terrorista, como faz contra o Hamas por qualquer ato que este realize. Como quase toda a grande mídia do Ocidente é dominada por gangsteres a serviço dos EUA e de Israel, as narrativas que são passadas para os cidadãos do planeta é a de que Israel é vítima inocente e os palestinos são terroristas que merecem ser destruídos. Uma versão canalha dos fatos. Desumanizam os palestinos e os muçulmanos em geral, para justificar a conivência deles com a carnificina, o genocídio que Israel realiza no território de Gaza. Apesar dessa criminosa manipulação, boa parte da população mundial, sensibilizada com as imagens que vê nas TVs alternativas ou do Oriente Médio, prestam solidariedade com os palestinos, que são os oprimidos por um estado colonizador, dominado por um governo sionista que defende a supremacia racial e a destruição dos palestinos.
Vergonhosamente, a humanidade assiste a tudo isso sem nada fazer - ou sem nada poder fazer. É fato que milhares de pessoas mundo afora realizam manifestações de protesto contra Israel e de solidariedade aos palestinos. E isso é muito importante, mas, não comove os governos e os grupos empresariais que lucram com as guerras e com a situação de segregação na qual vive o povo palestino. A maioria dos governos, incluindo os do Oriente Médio, se cala covardemente, ou apoia as iniciativas do imperialismo norte-americano e do seu protegido na Palestina ocupada. A humanidade, ao longo da história, testemunhou práticas odiosas como o massacre das comunidades originárias nas Américas; a escravidão dos negros do continente africano; a segregação racial na África do Sul; o holocausto nazista contra os judeus na Segunda Guerra, etre outras. A segregação imposta pelo estado sionista de Israel aos palestinos, e mais especialmente o genocídio praticado contra a população civil de Gaza, onde moram 2,4 milhões de pessoas, é, na época atual, a mais odienta prática de destruição coletiva de um povo. Com a conivência de lideranças políticas e governantes do mundo inteiro, salvo raras exceções. Uma prova de que a humanidade é ao mesmo tempo cúmplice e vítima de um sistema de terror: o terror capitalista, cuja síntese é o que se vê nas ruas de Gaza. Uma população inteira cercada, sem água, sem luz, sem comida, sem condições de atendimento médico, e recebendo toneladas de bombas na cabeça. Não se trata de uma guerra entre dois exércitos, mas de um massacre covarde e desumano.
Israel e EUA cometem crimes lesa-humanidade, com requintes de crueldade, com a destruição de hospitais e escolas, além de negar a formação de um corredor humanitário. Genocídio, segregação racial e limpeza étnica. As maiores vítimas são milhares de crianças, mulheres e idosos. Houvesse de fato algum organismo internacional capaz de julgar e punir os governantes desses países, não tenho dúvida de que todos eles estariam presos. Mas, no mundo tal como ele é, dominado pela força militar e midiática do imperialismo norte-americano e seus aliados, e do poder do capital, nada acontecerá. A não ser contra os palestinos, vítimas dessa tragédia, a parte mais frágil - embora tenham a força moral, a dignidade e a humanidade que faltam em seus opressores.
A humanidade consciente terá que descobrir e organizar formas mais efetivas de solidariedade a esse povo tão sofrido; formas essas que obriguem Israel e os EUA a cessarem as hostilidades contra os palestinos e a devolverem a eles o território que lhes pertence e o direito a uma vida digna e autônoma. (24/10/2023)
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Palestina, a tragédia de um povo que resiste (15/10/2023)
Tempos difíceis. Tempos sombrios. Viva a Palestina! Ninguém que tenha o mínimo de sensibilidade humana, e que não seja completamente alienado, pode deixar de se indignar com o massacre, o genocídio cometido pelo Estado terrorista de Israel contra o povo palestino. São mais de 70 anos de práticas de terror, tortura, prisões ilegais, assassinatos, cerco e segregação racial contra toda uma população, milhões de pessoas, transformadas em seres inferiores, desumanizadas, para que possam ser exterminadas; como fizeram com os negros da África do Sul, com os escravos africanos e indígenas brasileiros, com os povos originários da América Latina, com os vietnamitas durante décadas de ocupação colonial. Ironicamente, como o nazismo fez com os judeus durante a Segunda Guerra Mundial - e agora, o governo que diz representar o povo judeu reproduz práticas semelhantes. Que tragédia! Nossa crítica não é ao povo judeu, mas ao Estado sionista de Israel, cujo objetivo é a ocupação definitiva de todo o antigo território da Palestina e o extermínio completo do povo que lá vivia a e ainda vive em condições desumanas. Antes, judeus e árabes viveram muitas décadas no mesmo território como dois povos irmãos, semitas.
Os árabes palestinos, verdadeiros donos do território que hoje é ilegalmente ocupado por Israel, são invisibilizados pela mídia ocidental, sempre serviçal dos piores e mais nefastos interesses. Uma mídia colonialista, a serviço do imperialismo dos EUA e seus aliados. A mesma mídia que no Brasil prestou assessoria de imprensa - nunca jornalismo, nunca - à chamada Operação Lava Jato, a maior farsa da história do Brasil . Essa mídia Constroi narrativas para justificar o massacre que é feito pelo Estado sionista de Israel contra os palestinos. Não somente agora, nessa semana, quando ocorreram os ataques do Hamas, um dos grupos políticos e religiosos dos palestinos, contra militares e civis israelenses. Todos nós condenamos ataques a civis, seja contra judeus ou árabes ou quaisquer outros grupos étnicos.
Mas, não se pode isolar e pinçar os atos de um grupo, mesmo quando condenáveis, de todo o contexto histórico, como criminosamente faz a mídia brasileira e internacional. Quando todos os canais de diálogo estão interrompidos, um povo oprimido, como o palestino, tem o legítimo direito à resistência, inclusive armada. Atos de terror são praticados diariamente há várias décadas pelo estado de Israel contra civis palestinos. Milhares foram mortos; milhões foram expulsos do seu território; outros tantos sobrevivem segregados em condições subumanas. Este massacre já dura décadas. Israel descumpre decisões da ONU, pisoteia as boas normas internacionais de forma impune, pois conta com integral e incondicional apoio dos EUA e países ricos da Europa, todos eles cúmplices de um genocídio contra um povo que vive no maior campo de concentração a céu aberto. Os palestinos não gozam de quaisquer direitos. Não podem sair do seu território, não podem decidir seu próprio destino, são privados constantemente de água, luz, comida; são atacados, vigiados, violentados, humilhados diariamente pelos órgãos de segurança e militar do Estado terrorista de Israel. Israel se formou enquanto estado e enquanto suposta nação ocupando terras alheias, que já eram ocupadas há séculos pelos árabes palestinos; desrespeitaram a própria partilha feita pela ONU em 1947; praticam atos de terror de forma sistemática contra os líderes palestinos; sabotam todas as tentativas de negociação pacífica para resolver as legítimas demandas dos palestinos. Deixaram apenas o caminho da resignação sem luta, ou, a resistência armada como forma dos palestinos expressarem sua indignação com a situação na qual se encontram.
Enquanto o Estado de Israel conta com enorme força militar, equipamentos bélicos de última geração, exército regular, aviação e até mesmo ogivas nucleares, os palestinos em geral se defendem com pedras nas mãos, como aconteceu durante uma das intifadas (revoltas, levantes) realizadas pelos palestinos nos guetos onde vivem. Nem mesmo os governos dos mais ricos países árabes, quase todos ligados a interesses econômicos dos EUA, prestam solidariedade aos palestinos. Na região do Oriente Médio, são poucas as exceções: o Irã (população de origem persa), a Síria e o Hezbollah no Líbano. Dois outros governos que antes eram solidários à causa palestina - o da Líbia e o do Iraque - foram literalmente destruídos. Claro que a maioria da população árabe, sobretudo os muçulmanos, é solidária aos árabes palestinos. Mas, vivem igualmente sob o rigoroso controle de governos que acumulam poder e privilégios para poucas famílias e desprezam os interesses dos seus povos. A ONU não tem qualquer autoridade real e se tornou mera peça decorativa, usada pelos EUA e aliados.
Nesse ambiente hostil, a solidariedade internacional, seja em palavras, canções, textos, manifestações, é uma das poucas formas de resistência coletiva a esse massacre televisionado. Gaza está sendo destruída. Toda a população civil, massacrada. Enquanto os cretinos comentaristas da mídia ocidental se esforçam em culpar o próprio povo palestino pelo seu massacre. Aqui no Brasil, os bolsonaristas, sempre ao lado dos opressores, abraçaram a narrativa dos EUA e de Israel de forma apaixonada. Eles se merecem! Contudo, as vozes mais lúcidas e humanistas do Brasil e do planeta, e não apenas da esquerda, diga-se, prestam solidariedade e lamentam a tragédia humana vivida pelo povo palestino.
- Viva a Palestina!
- Viva o valente povo palestino!
- Abaixo o Estado sionista de Israel!
P.S.: No youtube, recomendo que acompanhem a cobertura feita de forma alternativa por canais como: Opera Mundi, TV 247, DCM, Revista Fórum, ICL Notícias e TVT.
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