sábado, 2 de outubro de 2010

"Getúlio Vargas suicidou. Nietzsche enlouqueceu. E eu? Não vou nada bem..."


Não dá pra ir bem num clima deste, né gente? Muito calor. Uma diarréia civilizada, com hora marcada, que me atacou durante quase a semana inteira. E eu nem peguei licença. Tô ficando mané. E o cenário político mineiro? Uma diarréia, literalmente. Quanto do meu salário-não-recebido está sendo gasto em propaganda eleitoral?

Não que eu tivesse qualquer expectativa na eleição de algum governador que priorizasse de fato o tal "social", que valorizasse os servidores públicos e respeitasse os movimentos sociais e sindicais. Para quem já suportou Newton Cardoso, Eduardo Azeredo, Itamar Franco, o faraó e o afilhado em dose dupla, qualquer coisa que vier dificilmente será pior. E tudo pode acontecer no dia 03 de outubro, a despeito das pesquisas e da mídia altamente suspeitas.

No cenário nacional, já disse antes, acabou se mantendo a polarização entre dois projetos que, embora guardem entre si semelhanças na macroeconomia - na política de juros altos, superávit primário, etc, que beneficiam a banqueiros e ao agronegócio -, diferem em questões essenciais, como na política externa, nas políticas sociais - como o bolsa-família -, e na relação com os movimentos sociais. Por estes motivos, entre outros, a vitória de Dilma é preferível ao retorno do diabólico projeto demotucano e sua variante da dita onda verde.

O leque da esquerda no chamado campo revolucionário e libertário e comunista e afins não conseguiu ainda construir um forte movimento que se apresente como alternativa de poder popular, diretamente ligado e controlado pelo proletariado. Estamos distantes de um outubro vermelho. Que por sinal não deve se repetir, pois tal fato viria, parodiando o velho barbudo, como farsa ou como tragédia.

Nesta altura da vida, não tenho a menor ilusão de testemunhar uma revolução proletária. Não nos moldes clássicos. Os ventos de 1871 em Paris, os de 1917 na Rússia e os da década de 60 do séc. XX por todo o planeta parecem ter se recolhido "nalgum canto do jardim" (Chico Buarque). Mas, na mesma linha do poeta, "sei também quanto é preciso, pá. Navegar, navegar".

Em que pese os sonhos de grandeza que nos levavam do inferno ao paraíso em poucos minutos terem dado lugar ao grotesco realismo de mercado, grandes batalhas ainda estão por vir.

No meu canto - "não vou nada bem, não vou nada bem" (Seu Jorge e Ana Carolina) - consigo enxergar que o caminhar se tornou mais importante do que a linha de chegada. A luta, a resistência, a conquista ainda que parcial, assumem o lugar dos sonhos de um mundo dourado. E se tornam por isso mesmo ouro puro, ou em pó, como queiram. É preciso continuar lutando e arrancando das elites os espaços, as riquezas e os instrumentos que nos foram expropriados por elas.

Quando enxergo a sociedade como uma luta entre interesses de classe antagônicos, consigo identificar na minha e na nossa luta um lado, uma parte em comum, que está em choque direto contra a outra parte. Um salário mais justo para os de baixo implica em tirar riquezas daqueles que se acostumaram a abocanhar todas as fatias de um bolo que deveria ser repartido para toda a humanidade.

Cada conquista arrancada - das liberdades individuais, do direito de ir e vir, do direito de greve - quase nunca respeitado -, da redução da jornada de trabalho, dos direitos como servidores públicos e como indivíduos -, representa um passo na direção de um cotidiano melhor. Apesar de tudo aquilo que tentam nos subtrair, com suas máscaras de bons mocinhos encobrindo o canalha, o bandido, o babaca, enfim, suas verdadeiras faces. A mídia dos porcos (acho melhor assim do que a frescura do tal PIG - Partido da Imprensa Golpista) deve ser combatida em todas as trincheiras, a começar pela Internet.

Nos próximos anos, seja quem for o governador eleito, teremos que travar muitas batalhas, todas elas na dependência de que um número cada vez maior de combatentes se envolva no movimento e na luta por uma Educação pública de qualidade. Quando vejo as coisas por este ângulo, já nem me sinto tão mal assim. A diarréia passou. E na minha frente só enxergo a possibilidade de derrotarmos o choque de gestão, a meritocracia, as políticas de achatamento salarial, as práticas autoritárias oriundas das superintendências da Educação e as disfarçadas políticas de privatização da Educação pública em curso em Minas e no Brasil. Seja quem for o governante que implementar essas políticas, vai enfrentar a nossa fúria. E a força organizada de muitos milhares de educadores.

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