segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Conveniência e oportunismo pouparam o faraó nos oito anos de governo


Não é de se estranhar que o faraó tenha reinado absoluto em Minas nos últimos oito anos. E que continue gozando de grande apoio eleitoral. Além do poderoso esquema de dominação midiático, financeiro e político, através do qual submeteu à vontade pessoal e do seu grupo os poderes constituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário -, e "comprou" toda a mídia, etc, o faraó contou também com o conveniente e oportunista apoio da oposição. A oposição formada pela base de apoio do governo federal infelizmente se integrou ao projeto de dominação do faraó aqui em Minas.

Para as elites, o faraó era o candidato a ser preservado para uma possível disputa presidencial. Agora ou daqui a quatro ou oito anos. Generoso nos gastos com a grande mídia e empreiteiras, o faraó demonstrara fidelidade canina às políticas neoliberais de achatamento salarial dos servidores públicos, desprezo e criminalização dos movimentos sociais, compromisso ideológico com a direita golpista no cenário nacional e mundial. Mas, ao mesmo tempo em que atuava como carta nas mangas para as elites dominantes, o governo do faraó agradava também à oposição água-com-açúcar, que, em nome de manter a governabilidade do governo federal - e também da reeleição do atual presidente - estava disposta a fazer vista grossa a tudo o que acontecia em Minas. Até a importante prefeitura de BH foi entregue ao aliado do faraó.

É sintomático que mesmo os blogueiros-jornalistas ditos progressistas, de certo renome, como Rodrigo Vianna, Luiz Carlos Azenha e Luis Nassif - para ficarmos apenas em alguns exemplos -, tenham igualmente poupado o faraó em nome desta mesma estratégia, de derrotar os demotucanos de São Paulo, especialmente o seu candidato à presidência da República.

O resultado deste esquema é que o faraó foi poupado de críticas mais contundentes, não só por parte da mídia mineira e nacional, toda ela comprada e envolvida nas engenharias de manipulação da população, mas também por parte da oposição light.

Talvez o único momento no qual a política do faraó tenha sofrido um abalo e tenha sido questionada frontalmente foi durante a nossa maravilhosa revolta dos 47 dias. Mas, ela aconteceu quando o faraó não estava sequer em solo pátrio, mas na Matriz, pois curtia as prolongadas e não merecidas férias no continente europeu. Desde então, ele jamais pronunciou uma palavra sequer sobre tal movimento e sobre a política que ele e seu afilhado praticaram em Minas, de violento arrocho salarial sobre os educadores e demais servidores. Pode-se esperar inclusive por gestos de vingança em outros momentos por parte do faraó, pois ele jamais havia sofrido em solo mineiro tão graves arranhões.

Agora, quando vejo que as pesquisas apontam o crescimento do afilhado, encurtando a distância para com o candidato da oposição água-com-açúcar, não me surpreendo, inclusive com a possibilidade de virada eleitoral. O próprio candidato da base do governo federal não poupa elogios ao faraó e a seu governo. E isso acaba provocando confusão entre o eleitorado mais incauto: por que deveria ele mudar de governo se este é tão bom quanto diz a oposição?

Não se critica abertamente os investimentos em obras faraônicas, às custas dos salários arrochados dos servidores, especialmente os da Educação e da Saúde, e que isso atinge especialmente à população de baixa renda, que é privada de serviços de qualidade. Simplesmente dizer que o atual governo fez muito e que agora se quer fazer mais pelo social é conversa de compadrio. Cheira a oportunismo. Mas, eles ajudaram a criar a serpente e agora precisam conviver com ela.

E justiça se faça ao faraó e seu afilhado: eles jamais fizeram concessões em relação às suas convicções neoliberais. Ninguém pode dizer que foi enganado, que votou ou apoiou o faraó e seu afilhado por engano. Eles nunca se comprometeram nem com uma democracia participativa, nem com os movimentos sociais, e muito menos com os servidores públicos, especialmente os da Educação, etc. Ao contrário dos candidatos do PMDB, como aqui em Minas e lá no Rio, que fazem todo tipo de promessa, mas uma vez no governo - caso do Rio de Janeiro - esqueceram os compromissos assumidos com os educadores.

O PT nacional também, justiça se faça, desde a primeira eleição do atual presidente, avisou que faria uma política de alianças e de concessões. Avisou e cumpriu o que disse. Governou para os ricos - prioritamente -, e para os pobres, através dos programas de compensação. E com isso se distanciou do governo anterior - FHC e quadrilhas - que governou exclusivamente para os ricos.

E a esquerda brasileira não consegue construir alternativas a este maniqueísmo entre o bloco neoliberal dos demotucanos e o bloco de centro-esquerda e neo-populista que domina o governo federal. Ambos comprometidos com o essencial na manutenção do domínio burguês. Seja na área da comunicação social, onde meia dúzia de famíglias domina todas as TVs e rádios e jornais e revistas; seja na política de transferência de renda para banqueiros e empreiteiros; ou na manutenção do agronegócio e do latifúndio, além do descaso para com a Educação pública de qualidade no ensino básico.

Neste cenário, o faraó encontra-se em situação privilegiada: tem a eleição para o senado praticamente garantida e poderá se apresentar como a única alternativa para um futuro governo pós-Dilma, daqui a quatro anos. Seja como candidato demotucano, ou até mesmo como candidato do PMDB. Com as graças da mídia golpista, dos empreiteiros, dos banqueiros e até da oposição água-com-açúcar que ajudou a preservá-lo politicamente.

Só um movimento social autônomo poderá alterar este jogo. E aqui em Minas, só os educadores organizados e unidos poderão derrotar as políticas de achatamento salarial do faraó e afilhado ou de quem mais vier.

2 comentários:

  1. Euler, hoje você estava mais inspirado do que nunca, belo texto e traduz a pura verdade. Se hoje o afilhado do faraó não está na frente das pesquisas é devido principalmente nossa revolta greve, vou voltar no Hélio que inclusive está aqui em janaùba por esperar que nossa situação possa melhorar, mas não escutei dele nada de concreto.

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  2. Euler, sempre leio e me informo com você. Nas minhas conjecturas sociais e educacionais precebi que a obra faraônica lembra mais uma Aeciolândia, você não acha? Um abraço.

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