domingo, 30 de maio de 2010

Um domingo de muito trabalho e poucas novidades


Só agora, às 20h deste domingo de final do mês de maio pude acessar a Internet e iniciar algumas leituras. Primeiro vem as mensagens do blog, claro. As pessoas que visitam este blog são impressionantes. São do meu time, o time da luta, da resistência, da coragem de enfrentar inimigos poderosos, como o faraó e os seus.

E se apenas agora a noite pude acessar a internet é porque durante todo o dia estive ocupado, trabalhando. Quisera fosse uma ocupação de lazer, como a de ontem, na confraternização com os colegas. Mas, na vida de um professor da rede estadual de Minas, qualquer bico que apareça temos que pegar, para pagar as contas. No caso, eu e mais um bom número de educadores aplicamos provas na faculdade existente em Vespasiano.

Este tipo de trabalho tem suas vantagens: é um dia só (e como as horas demoram a passar!), de 07h da manhã às 18h, com direito a duas horas de almoço - com almoço pago, refrigerante, cafezinho e água mineral - e o pagamento sai no mesmo dia, no final do serviço prestado. Um dia por lá vale mais ou menos quatro dias de trabalho como professor. Outra vantagem é o contato com estudantes, ainda que muito discretamente, a gente acaba conhecendo diferentes universos de uma juventude com grandes expectativas e idéias na cabeça. Por último, o trabalho ao lado de colegas educadores e de outras áreas afins.

Se estivesse recebendo o piso salarial que almejamos na greve, dificilmente dedicaria meus domingos para outra coisa que não fosse o lazer, o prazer, o amor, a poesia e tudo mais a que os seres humanos têm direito. Ou até mesmo ao estudo e à pesquisa acadêmica, que ajudariam na minha formação e consequentemente seria bom para os alunos.

Mas, professor nas Minas do faraó Neves e seu substituto é assim: educador para sobreviver precisa pegar bicos por fora. Tenho um colega educador que durante a greve trabalhou como ajudante de pedreiro e pintor. É sério, não estou de gozação. E ele me disse que o que ganhava por dia era mais do que o seu salário de professor.

Nada contra um salário justo para pedreiro, pintor, eletricista, bombeiro, trocador de ônibus, mototaxista, ajudante de pedreiro, carregador de móveis, auxiliar de qualquer coisa. Todos eles mereciam ganhar mais do que ganham, seguramente. Mas, já ganham mais do que um professor com curso superior nas Minas do faraó Neves, do seu substituto e das suas assessoras para assuntos aleatórios.

Um outro dia mesmo um mototaxista me parou na rua e me disse: "Pô, cara, fiquei sabendo que vocês voltaram a trabalhar sem nenhuma conquista. Pô, que sacanagem. Cês tão com mêdo de quê? Pelo que eu fiquei sabendo sobre o salário de vocês, até eu ganho mais, e qualquer coisa que vocês fizerem por aí vão ganhar mais do que um professor". Uma das duas filhas dele foi minha aluna no Machado e ele sempre elogiava o nosso (nosso, no coletivo mesmo, de todos os professores) trabalho.

Expliquei pacientemente pra ele que a luta é assim mesmo. Nem sempre se consegue tudo numa batalha, mas que a nossa luta vai continuar e nós haveremos de arrancar conquistas aí pela frente. Sem falar que enfrentamos uma muralha. E ele respondeu:

- É, uma coisa vocês provaram: que sabem lutar. Acho que é a única categoria que faz uma greve tão longa assim nos tempos atuais. Nem os metalúrgicos conseguem mais igualar a vocês.

É importante dizer que o referido amigo mototaxista já foi metalúrgico, participou de greves da categoria e, quando perdeu o emprego - não por causa das greves, mas pelo enxugamento da folha de pessoal por parte das grandes empresas de todos os ramos da economia - ele transferiu-se para esta outra atividade, por conta própria. É um lutador também e sabe valorizar a luta comum travada por todos os trabalhadores assalariados.

E o domingo vai deixando pra trás este rastro de trabalho-que-professores-de-minas-precisam fazer-para -sobreviver (.com.br), enquanto escrevo estas mal alinhavadas palavras e já penso se vou para cama, ver um filme antes do sono chegar, ou se pesquiso algo interessante na Internet, talvez uma velha canção ou algum texto escrito com arte.

Antes, contudo, pra não dizer que não falei de flores, ou de espinhos, recordo aqui alguns e-mails que recebi, dando conta de que a secretaria da Edcuação vai abrir concurso público pagando salário de R$ 3.720,00 para 40 horas e R$ 1.380,00 para uma jornada de 20 horas. Calma gente, claro que isso não é nas Minas do Faraó, mas em Brasília. Com a roubalheira toda que fizeram por lá - e que veio à tona - ainda conseguem pagar o piso e mais alguma coisa para professor, coisa que por aqui, nas terras do faraó, com roubo ou sem roubo, professor é tratado como objeto sem valor, sem utilidade

Mas, outubro vem aí gente e nós vamos ver quem é sem utilidade para o povo mineiro. E, só pra arrematar estes dois dedos de prosa: que pena que o faraó não quis aceitar a candidatura a vice do cacique tucano. Seriam três, numa cajadada só que nós derrubaríamos! Ô dô!

3 comentários:

  1. Euler, também ralei hoje. Recebi menos, um pouco, tive almoço, cafezinho... fui tratada como educadora. E... o dindin já está no bolso. Apesar dos faraós (Nini, Aeciinho e Serrinha) não candidatarem juntos, tenho certeza que, a nossa greve não foi partidária, mas a nossa volta para as salas de aulas foi. Não podemos votar nesta corja, que rouba a educação dos cidadãos de bens. Ah, precisa saber qual a data do concurso de Brasília, pois não poderá haver aula nem na véspera e nem depois, pois, tenho certeza, muita gente irá tentar a sorte. Bom para quem passar (trabalhar e morar na capital do país) e azar para Minas, que irá perder ótimos profissionais porque precisa manter o CHOQUE DE GESTÃO. Você sabe o que é CHOQUE DE GESTÃO??? Pergunte para Regina Casé. Ô dó!!!

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  2. Olá, Euler!
    Sou professora da rede pública estadual em Ouro Preto; conheci o seu blog durante a greve e me tornei seguidora assídua do mesmo. Fico encantanda com suas palavras, que muitas vezes conseguem ser um desabafo de todo professor da rede estadual. É a primeira vez que posto comentário no seu blog. Gostaria de parabenizá-lo pelos textos e pela força que você demostrou durante essa batalha.
    Nós, professores, estamos juntos nessa batalha, merecemos respeito e valor e não podemos deixar que o governo nos esqueça. De agora em diante, com a classe mais unida (é o que pelo menos eu sinto), estaremos em constante batalha para conseguirmos o que a lei nos garante, que é o pagamento do piso nacional. Não podemos mais deixar de lutar, ou nos pagam o que merecemos ou não retornaremos em 2011. Boa semana!!!
    Magna (Professora de Português)

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  3. João Paulo Ferreira de Assis31 de maio de 2010 às 11:06

    Enquanto o Piso não vem, o negócio é fazer alguns bicos nas horas de folga. Mas o pior é que nem isso é possível mais dentro da escola. Na minha, havia funcionários que vendiam bombons, agora não pode mais, é proibido. O Diretor proibiu (provavelmente cumprindo ordens da Superintendência de Barbacena, que muitas vezes quer ser mais realista do que o rei). Lembro de uma vez que uma concursada foi assumir aulas em determinada comunidade. Na então DRE, disseram-lhe que uma ''resolução confidencial da SEE-MG'' havia alterado tudo. Ela telefonou para BH e disseram-lhe que nada haviam mudado. Se o tivessem feito, seria publicado no Minas Gerais. Ela voltou à DRE, e o Superintendente passou momentos terríveis perante a professora indignada. No fim arrumou outra escola para ela. De outra feita, a SRE mandou uma inspetora instruir as supervisoras de uma escola, a colocar um aviso em cada escaninho com um texto, em que havia a seguinte frase: ''como você está despersonalizado!''. O Texto era para ''ensinar'' os professores a cumprir o seu dever. Este é o retrato da SRE de Barbacena.

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