sábado, 8 de maio de 2010

Aula pública da equação piso-teto na Educação mineira




O Governo Aécio-Anastasia nos deu uma boa oportunidade de realizar uma aula interdisciplinar de Português, Matemática, História, Geografia, Filosofia e Biologia

Tema da aula: Há mais coisas entre o piso e o teto do que supõe a nossa vã filosofia.

A notícia - O governo de Minas informa, através das secretárias Vanessa Guimarães e Renata Vilhena, que já paga até mais do que o piso salarial dos professores. "Em Minas, disseram, pagamos o piso no valor de R$ 935,00 quando a lei estabelece um piso de R$ 614,00 pela jornada de 24 horas".

O sindicato da categoria, o Sind-UTE contesta a informação, dizendo que o que se paga em Minas não é o piso, mas o teto de R$ 935,00 e que o piso para um professor com curso superior será de R$ 550,00 após o reajuste de 10%.

Entre piso e teto obviamente há diferenças para além dos conceitos. O piso de uma casa pode virar teto, ou o inverso, se esta casa virar 180º. Graças a força gravitacional, desde que não haja uma tragédia natural, teto será teto, aquilo que fica por cima da nossa cabeça, e piso será piso, aquilo que fica no chão, onde, digamos... pisamos, daí o nome: piso.

Mas, o aluno Joãozinho, sem entender bulufas dessa complexa equação entre piso e teto que resulta num volumoso salário de R$ 935,00, resolveu investigar os permenores desse complicado teorema. Para isso, Joãozinho chamou sua colega Maria para ajudá-lo e os dois começaram a pesquisar vários livros. Concluíram que deveriam pedir a ajuda aos mestres, pois isoladamente não chegariam a bom termo.

Do professor de Biologia pediram explicação sobre as consequências fisiológicas e psíquicas para um ser humano que recebe um salário piso-teto de R$ 935,00. A professora disse: ora, meninos, o cara simplesmente vira um ser famélico-maluco, sobrevivendo apenas com a ajuda de parentes ou fazendo vários bicos por fora. Pois, completou a professora, este valor traduzido em alimentos e outras fontes energéticas não consegue suprir as necessidades básicas de uma família média de 04 pessoas. Logo, ou o cara pira ou se vira com dois ou três empregos.

Do professor de História, os garotos quiseram saber sobre as lutas por salários mais justos. E eles ouviram uma história longa, que vem da Revolução Industrial, do trabalho quase escravo dos operários que moviam os moínhos diabólicos das nascentes minas e indústrias têxteis da Inglaterra. Os alunos chegaram à conclusão de que, com mais um pouco, ou aliás, com menos um pouco, os professores de Minas estarão vivendo os primórdios do proletariado super explorado da nascente indústria na Inglaterra do séc. XVIII e no Brasil do séc.XX.

Do professor de Geografia, os alunos ouviram que as diferenças salariais de uma cidade para outra, ou de um estado para outro, nem sempre é decorrente das condições climáticas e econômicas destes estados ou cidades. Minas Gerais, disse o professor, é o segundo ou terceiro estado mais rico da União, mas paga o oitavo pior salário do Brasil, atrás de estados muito mais pobres que o nosso. Não temos praia, mas temos montanhas e muito minério, disse o professor. Só que essa riqueza extraída não vem parar no bolso dos professores. Para onde está indo então? - indagou o professor

Do professor de Filosofia, os garotos ouviram que nem sempre se deve levar a sério aquilo que é dito, pois, nem tudo é aquilo que parece ser. Um valor determinado de salário, por exemplo, pode ter uma aparência de piso, mas no fundo pode ser um teto. Por isso, recomendou o professor: desconfiem, garotos, desconfiem de tudo, principalmente da nossa mídia, e até da Justiça!

Do professor de Matemática, os alunos ouviram uma explicação aparentemente simples para a questão. De um dado valor, se você descontar uma importância X e acrescentar um valor Y resultará numa soma total a que daremos o nome de teto. Como Matemática é sempre mais complicado, os alunos pediram para o professor explicar com calma e citando exemplos. O professor então detalhou: se eu recebo R$ 550 e mais outros valores (VTI, PCR, pó-de-giz) que resultem numa soma total de R$ 935, logo, este é o teto. Aí os alunos indagaram: uai, professor, e onde entra o desconto? Ah é, disse o professor. Com os descontos o valor final cairia para R$ 830,00. Logo, do teto se conclui que se trata de um valor composto, do qual se extrai um valor líquido resultante, que é aquele que realmente importa. "Se a pergunta cair na prova, meus filhos, marquem o resultante como a resposta correta", disse o professor.

Do professor de Português, outra matéria pra lá de complicada, os alunos ouviram o seguinte conselho: primeiramente, procurem o dicionário e tentem entender o significado das palavras "piso" e "teto". Estudem a morfologia das palavras. Quando encontrarem a resposta vocês entenderão que piso é piso e teto é teto. Mas, é preciso contextualizar estes termos para não ficarmos presos a conceitos isolados.

Os alunos estudaram bem todas as explicações que receberam dos mestres e chegaram às seguintes conclusões:

1) o salário dos professores, seja ele teto ou piso, não cabe em qualquer teorema, uma vez que a cesta de gastos e de alimentos necessários para a sobrevivência de uma família humana média é incompatível com o valor pago pelo governo,
2) a polêmica entre piso e teto está mais próximo do inferno e do céu, do que do chão e do telhado. Lembra mais a profecia atribuída a Antonio Conselheiro (de Canudos, lembram?) de que o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão,
3) Para o piso salarial virar teto, ele precisa deixar de ser piso. Mas, quando isso acontece, em Minas, apenas, ele imediatamente se transforma em piso. Logo, o teto, que era piso, continua teto, só alternando os elementos secundários.
4) exemplificando: se o básico é R$ 550 e sobre ele recaem outros valores e percentuais até atingir o valor máximo de R$ 935,00, logo, este valor composto não pode ser o piso, mas o teto. Por outro lado, se todo professor, independentemente de sua formação acadêmica e tempo de serviço recebe este teto, logo, ele se consubstancia em piso.
5) Portanto, em Minas nós temos um caso sui generis de remuneração do serviço público aplicado aos educadores: um dado valor de salário único é ao mesmo tempo piso e teto.

Conclusão: os engenheiros tecno-sociais Aécio-Anastasia-Vanessa-Renata descobriram a volta do estamento social, típico do período feudal, quando não havia mobilidade social. Quem nascesse numa dada condição viveria e morreria naquela condição. A engenharia tecno-social citada faz com que não haja mobilidade na carreira dos professores: quem ingressar agora na carreira com formação de ensino médio receberá tanto quanto aquele que tiver curso superior ou mestrado e já tiver 5 ou 10 anos de carreira.

Ao que os alunos concluíram: a questão essencial não é se é teto ou piso, mas que isso que fizeram foi acabar com a carreira do magistério. Tanto pelo valor ridículo do piso/teto, quanto também pela ausência de possibilidade de evolução.

Com essa delicada equação, concluíram os alunos, só fazendo greve mesmo!

5 comentários:

  1. Parabéns Euler!!!
    Essa sua postagem foi simplesmente a melhor. Somos mal remunerados, mas, necessitamos mostrar que temos valor.

    A luta continua companheiro!

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  2. Será que agora deu para a Secretaria de Educação entender o que significam as palavras tão utilizadas por eles,INTERDISCIPLINARIDADE E CONTEXTUALIZAÇÃO. O planejamento, metodologia e didática desta aula foram perfeitos. Parabéns! Eliane

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  3. ESSA GREVE NOS TROUXE UMA APROXIMAÇAO.TRABALHANDO ANOS E ANOS COM OS MESMOS COLEGAS,SEM TEMPO PARA O DIÁLOGO , A REFLEXAO E O QUESTIONAMENTO DE NOSSA SITUAÇAO PROFISSIONAL E PRINCIPALMENTE SALARIOS E DIREITOS.A GREVE NOS FEZ ENTENDER QUE A COLETIVIDADE É FORTE ,O PODER DA UNIAO... TUDO ISSO, É TAO SIMPLES, MAS O ESTADO DISSOLVE TODOS ESTES VALORES ATRAVÉS DO EXCESSO DE SERVIÇO,RESPONSABILIDADES E NADA DE SALARIOS DIGNIDADE. FAZ MUITO BEM O SEU PAPEL ENQUANTO REPRESENTA A IDEOLOGIA DO PODER ESCRAVOCRATA,ALIENANTE E NOS POE EM SITUAÇAO DE DIVISÃO E CONNFLITOS ENTRE A CATEGORIA, VEJA BEM QUE ELE ESTÁ TENTANDO FAZER CRER NO ESTADO E DESCRER NO SINDUTE.ABRAM OS OLHOS!!! O NOSSO REPRESENTANTE É O SINDICATO E NAO O GOVERNO.

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  4. obrigado Euler e TV alterosa por nos dar a oprtunidade nos defendermos e esclarecer a nossa luta.A quanto tempo nós sofremos com os demandos da SEE e do governador.Eu nunca vi um pai defendendo o sálario de um professor ou acomunidade, agora que resolvemos luta por justiça e dignidade eles ficam do lado do político isso teria sido evitado se o governo tivesse validado a proposta e se a educação fosse importante pra.Eu sou regente de turma a 18 anos e percebo é entre a escola e SEE há um muro muito alto, nós professores estamos sozinho e quantas vezes pedimos socorro e não fomos ouvidos, mereçemos mais respeito da comunidade e dos políticos.Às vezes as pessoas" se não está satifeito procure outro serviço" se procurarmos outro serviço quem dará aula para os alunos, um advogado, engenheiro, médico etc, pois na educação qualquer um pode dar aula, e isso é permitido dentro da educação,um absurdo, é a mais pura verdade.O governo está preocupado com a educação, onde?quando? Estamos cansados por isto temos que lutar até o fim.

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  5. Socoooorrro! Estou decepcionada com a justiça mineira que apresenta-se cega, cegamente diante de nossa luta. Querem nos vencer pela força, pelo poder do mais forte, "Manda que tem poder, obedece quem tem juízo"Que vergonha, ao ouvir a senhora Vanessa dizer que a minoria está parada ( cerca de 400 professores). Meus Deus é muita hipocrisia ... Espero que nossos diretores se unam a nós e não se deixem vencer pela pressão.

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