sexta-feira, 23 de abril de 2010

A rotina de um trabalhador em educação em greve...

Quando estamos em período normal de trabalho, nossa rotina é tomada pelas atividades da Educação. Pesquisas diárias de temas para enriquecer as aulas, correção de provas e trabalhos, preparação de aulas, gravação de vídeos para apresentar para os alunos - eu, pessoalmente, criei um pequeno acervo de vídeos para este fim -, etc., etc, etc.

Na rotina de um educador, apesar dos governantes e pessoas desinformadas acharem que nosso trabalho é somente em sala de aula, o tempo extra-classe é tomado quase todo pelas atividades voltadas para a Educação. Sobra pouco tempo para as atividades comuns a qualquer cidadão: lazer, coisas domésticas, atividades culturais, enfim. Seja pela falta de tempo - especialmente por parte de quem tem dois cargos, o que representa cerca de 50 horas semanais de trabalho, ou por falta de recursos materiais para bancar atividades outras.

Mas, quando estamos em greve, a nossa rotina muda. E da parte de quem é um grevista assíduo tanto quanto se faz quando se está em serviço, todo momento deve ser aproveitado para este fim. Um comentário num site de jornais de grande circulação, um e-mail para políticos, um telefonema para algum apresentador de rádio ou TV, ou uma carta para o gabinete do governador podem fazer a diferença.

Hoje, por exemplo, dia 23, sexta-feira, um grupo de 10 educadores de Vespasiano participou de um ato em frente à Metropolitana C, na Av. Portugal, em Belo Horizonte. O ato começou às 14h, reuniu cerca de 60 pessoas, com carro de som e panfletagem, tanto na sede da Metropolitana como na avenida, onde os passageiros dos ônibus e os condutores de carros particulares receberam panfletos explicativos da greve e da realidade da Educação em Minas.

Ontem foi o dia de ato semelhante na Metropolitana B. Na segunda-feira será a vez da Metropolitana A, na rua Carangola, Santo Agostinho, sempre às 14h.

No dia 27, terça-feira, está programado o que foi batizado de "Dia D" da greve geral, quando ocorrerão manifestações em vários pontos de Minas Gerais. Aliás, está mesmo ficando difícil para mídia esconder a greve. Até o jornal Estado de Minas, que não vê nada que ocorre contra o governador mineiro, acabou noticiando, hoje, uma manifestação dos educadores ocorrida ontem, na cidade de Varginha, com foto e tudo.

Já no dia 29, quinta-feira, a meta é fazer uma grande assembléia estadual em Belo Horizonte, seguida de passeata, em local a ser confirmado ainda. Seguramente Vespasiano e São José da Lapa vão participar com um ônibus lotado de educadores. As pessoas interessadas já podem contatar a subsede do Sind-UTE (3621-0456), a partir de segunda-feira.

Juntamente com essas mobilizações maiores, cada cidade de Minas Gerais vem organizando manifestações e iniciativas para reforçar e divulgar a greve. Em Vespasiano, por exemplo, o comando de greve aprovou as seguintes atividades:

1) um carro de som vai passar em todos os bairros na próxima semana comunicando aos pais e alunos que os educadores da rede estadual estão em greve por tempo indeterminado e pedindo para que os pais não mandem seus filhos às escolas durante a greve. A nossa luta é pela valorização profissional dos educadores e pela melhoria da qualidade do ensino. Os que não aderem ao movimento por motivos menores estão jogando contra a Educação e contra a carreira dos educadores;

2) uma comissão de educadores fará nova visita às escolas para tentar convencer os poucos profissionais que ainda não aderiram à greve; felizmente, cerca de 90% dos professores e um bom número de auxiliares de serviços estão de braços cruzados nas escolas de Vespasiano e São José;

3) será feita uma panfletagem explicando os motivos da greve e pedindo o apoio de toda comunidade. É importante salientar que durante os oito anos de governo Aécio-Anastasia os educadores foram as principais vítimas de uma política batizada de choque de gestão, que resultou no achatamentos dos salários dos servidores, especialmente dos educadores, e do corte de direitos históricos para os novos servidores, como quinquênios e biênios;

4) estamos elaborando também uma lista com o nome dos deputados e senadores que receberam votos em Vespasiano, para que toda a comunidade cobre destes deputados e senadores um posicionamento de apoio às reivindicações. Infelizmente, a maioria deles votou contra a implantação do piso salarial profissional em Minas. Por sugestão de uma educadora, estamos organizando um dia D para esta atividade, quando dezenas de moradores poderão contactar os deputados, senadores e o gabinete do governador num mesmo dia e horário;

Paralelamente a tudo isso, tenho observado que dezenas de pessoas de várias cidades têm se manifestado através de e-mails e de telefonemas a jornalistas como Eduardo Costa e Carlos Viana, da Rádio Itatiaia. O primeiro deles, aliás, já se comprometeu a abrir um espaço diário para os professores no programa "Chamada Geral - Eduardo Costa" e tem cumprido a sua palavra. Alguns professores já falaram e na segunda-feira, pelo que ele anunciou, outro professor falará. O programa começa ocorre entre 13h e 14h. É sempre alguém da base que expõe a sua situação pessoal e mostra como a realidade dos profissionais da Educação é bem diferente da propaganda que o governo faz.

Já o jornalista Carlos Viana infelizmente tem tido uma postura estranha, dizendo que a greve pode ser política, e que é para se tomar cuidado. Lanço aqui um desafio a este jornalista: vamos ver se ele consegue viver um mês com o salário de professor. Aliás, ele próprio confessou que se ganhasse o que ganha um professor em Minas já teria mudado de profissão.

Ocorre, caro jornalista, que se todo mundo pensar assim, não haverá educação pública em Minas e os maiores prejudicados serão justamente as famílias de baixa renda, que sem perspectiva de futuro, acabam ingressando no mundo do crime - matéria-prima para os programas como o que você, caro jornalista, tão bem apresenta. A o invés de cobrar prudência dos educadores, não seria melhor cobrar do governador maior abertura para atender aos pleitos dos trabalhadores em educação?

Uma outra realidade é preciso

Minas e o Brasil merecem mais do que isso. É tempo da comunidade questionar como é que um governo que tem recursos fartos para construir obras faraônicas como o Centro Administrativo (2 bilhões de reais com o mobiliário), para construir a Linha Verde, para pagar almoço de 9 mil reais para um deputado, para gastar grandes somas em publicidade na grande mídia, tem a coragem de dizer que não tem dinheiro para pagar pelo menos o piso salarial de R$ 1.300 reais para os educadores?

Ora, tenham dó, né? É por isso que a greve se justifica neste momento, inclusive por causa, também, do momento eleitoral, quando os políticos procuram as pessoas para pedir voto e têm que se explicar e justificar aquilo que fizeram ou deixaram de fazer.

É preciso explicar, por exemplo, o tratamento desigual que o governo de Minas deu em relação às diversas carreiras do estado. Reajustes de mais de 100% para a PM (já dissemos aqui que a polícia e qualquer outra carreira merece ganhar até mais, mas o que nos espanta é o descado com os educadores); o pagamento do piso dos defensores públicos, que vai passar de 6,5 mil para 12 mil reais até 2012 (novamente reforçamos: não somos contra a um salário digno para esta e outras carreiras, mas e os professores e demais educadores?).

Ao que tudo indica, o governo Aécio-Anastasia elegeu o magistério e demais trabalhadores em educação como as grandes vítimas do choque de gestão. Uma espécie de inimigos a serem atacados, bombardeados, desvalorizados e até diminuídos, tamanho o descaso e as pressões em cima dos educadores.

É uma pena, não apenas para os educadores, mas também para Aécio, Anastasia e sua base de apoio, porque o seu governo não vai durar para sempre e, se tornar público que Aécio é inimigo dos educadores ele pode esquecer do sonho de se eleger presidente da República. São 2 milhões e 500 mil professores em todo o Brasil que vão saber qual a conduta de Aécio com os educadores e a Educação pública enquanto esteve a frente do governo.

Mas, ainda há tempo para corrigir os erros cometidos durante sua gestão e o primeiro passo para isso é negociar com o sindicato o piso profissional de R$ 1.312 reais para os professores com ensino médio. Isso representa tão pouco para o orçamento de Minas que chega a ser pobre e insustentável o argumento de que a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite. Ora, quando interessa politicamente, quando se trata de uma prioridade, os governantes de Minas e do Brasil sempre deram um jeito, mesmo em tempo de crise, de construir obras faraônicas ou saldar compromissos. Ainda mais agora, quando se anuncia o crescimento de 5% do PIB brasileiro e se prevê um crescimento semelhante ou maior aqui em Minas.

Nós, os profissionais da educação não podemos e não vamos mais aceitar o descaso com o qual temos sido tratados até agora. Chega! Queremos respeito! E é para isso que estamos em greve, ainda que a mídia insista em não dar importância devida a este momento da vida mineira e brasileira. A nossa rotina é a greve, até a vitória!

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