sábado, 31 de março de 2012

Luis Carlos Martinho Presente, Agora e Sempre!



Luis Carlos Martinho Presente, Agora e Sempre!
Por: Rômulo Radicchi*

Há um ano, na madrugada de 01 de abril de 2011, faleceu em Montes Claros, aos 39 anos de idade, o professor Luis Carlos Martinho. O nosso primeiro contato aconteceu em Belo Horizonte, durante atividades do movimento estudantil secundarista, nos meados da década de 90.

Durante sua juventude Luis Carlos participou ativamente das lutas estudantis. Ainda estudante secundarista, tornou-se operário de uma fábrica de embalagens plásticas. Tornou-se marxista e, assim, encontrou a razão de sua existência, dedicando-se à militância revolucionária até o último instante de sua vida.

Quanta saudade do Negão! Aos sábados caminhávamos pelo centro de Belo Horizonte, adorávamos cortar caminho pelo Parque Municipal, proseávamos sobre música de raiz, erudita, literatura, cinema e revolução. Dinheiro para uma diversão faltava, mas a alegria de sermos jovens revolucionários sobrava.

Luis Carlos Martinho tornou-se o professor Manoel. Adorado pelos camponeses dos quatro cantos do nortão de Minas, ele auxiliou na construção das escolas populares e no
avanço do movimento camponês combativo da região.

O funeral de Luis Carlos aconteceu na residência de sua família em Vespasiano. O corpo chegou de Montes Claros na madrugada do dia 02 de abril e uma cena marcante que levarei pelo resto da minha vida foi a emoção do Comandante João Martinho, seu tio, ao ver chegando dezenas de coroas de flores, assinadas por diversas organizações revolucionárias do País. Nesse momento nos abraçamos demoradamente, as lágrimas escorreram:

- Seu sobrinho foi um lutador social muito querido pelo nosso povo, entregou a vida à causa revolucionária. Não permitiremos a presença de traidores e oportunistas nesse funeral.

A bandeira vermelha com a foice e o martelo vestia o ataúde de Luis Carlos Martinho.

Rômulo Radicchi, 31/03/2012

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*Rômulo Radicchi é professor de História da rede pública estadual de Minas Gerais e da rede pública municipal de Sabará. É também uma das principais lideranças do NDG.

P.S.: Leiam no BLOG do NDG:

Lideranças do NDG devem se reunir no próximo dia 14

quarta-feira, 28 de março de 2012

Dona Maria, a Educação e o Piso


Uma primeira proposta de texto para discutirmos com os nossos alunos em sala de aula. Aguardamos novas propostas para publicarmos aqui e também no BLOG DO NDG, entre outros, dos/das nossos/nossas combativos(as) colegas.


Dona Maria, a Educação e o Piso

Dona Maria, a vizinha de um amigo, saiu cedo para comprar um pacote de café, além de verduras e legumes para preparar o almoço, como acontece todos os dias. Naquele momento, seus dois filhos, Ana Rita e Joãozinho, já se encontravam numa escola pública da cidade. Dona Maria insistia em dizer para os amigos que, quando criança, não pode estudar, pois tinha que trabalhar na lavoura para ajudar os pais dela.

- Quero que meus filhos façam o que eu não pude fazer. Quero que eles estudem, que se formem, que arranjem um bom emprego e se tornem gente na vida", dizia dona Maria, na sua forma simples e direta de ver as coisas.

A frase aparentemente comum desta senhora reflete muitas verdades. A primeira delas, sobre a importância da Educação na nossa vida. A escola tem uma importância muito grande para todos nós. É através do estudo formal nas escolas que a maioria da população tem acesso às letras, aprende a ler, a escrever, a resolver os cálculos matemáticos, dos mais simples aos mais complexos; adquire noções gerais de espaço, de tempo; aprende sobre a história da humanidade, sobre a geografia sócio-espacial; adquire noções sobre biologia, física, química, filosofia, sociologia, educação artística e educação física, além de iniciar o aprendizado em outras línguas. É um novo horizonte que se abre a cada dia na vida dos estudantes, não importa a idade que eles tenham.

Mas, a escola não apenas contribui para proporcionar aprendizado e conhecimentos, ela gera a interação entre os alunos, e entre estes e os profissionais da Educação, responsáveis pela produção do ensino que é realizado no espaço escolar. E a dona Maria, vizinha de um amigo, naquela passagem curta e objetiva, disse mais duas outras verdades: preparar o estudante para algum ofício, e para ser gente na vida. Talvez esta última parte da fala da dona Maria seja a mais importante: a escola pode preparar as pessoas para o chamado mercado de trabalho, isso acontece de fato. Mas a melhor preparação que uma escola pode dar é através da formação cidadã, da formação crítica de cada estudante.


Quando se aprende a ver o mundo de forma diferente, a desenvolver uma opinião crítica sobre as coisas que acontecem à nossa volta; ou a enxergar com outro olhar aquilo que tentam nos convencer pela TV ou pela rádio, significa que se adquiriu um valioso instrumental de análise e percepção das coisas, para toda a vida. Formar pessoas capazes de pensar a sua existência, individual e coletiva, de forma crítica, com independência no pensar, é proporcionar qualidade na formação destas pessoas. Este é o principal papel da escola.

Esse tipo de educação depende de profissionais preparados e devidamente valorizados e motivados. Quando a dona Maria matriculou seus filhos numa escola pública, ela esperava que aquela instituição oferecesse para os filhos dela o melhor em matéria de ensino. Mas, para que haja este ensino de qualidade, é necessário que o estado, ou seja, que os governos invistam parte expressiva do dinheiro público na valorização dos profissionais da Educação. Para isso a lei federal determinou que houvesse o pagamento de um piso salarial nacional para os educadores. O piso é a parte mínima, inicial, que, acrescida de gratificações e vantagens que o profissional adquire na sua carreira, poderia atender as necessidades básicas de sobrevivência deste profissional da educação.

Mas, dona Maria não sabe que na escola onde seus filhos estudam muitos professores abandonaram a carreira, pois encontraram outra atividade fora da Educação com remuneração bem mais atraente. Ela também não sabe que os outros professores, que decidiram permanecer na Educação, encontram-se desmotivados, pois o governo do estado de Minas não paga o piso salarial que é lei federal, e além disso alterou a carreira dos profissionais da Educação, provocando grandes perdas para estes servidores.

A Constituição Federal assegura que os filhos da dona Maria têm direito ao ensino público gratuito, universal e de qualidade. Esta mesma constituição considera que, para atingir este objetivo, é preciso valorizar o trabalho dos educadores, e o pagamento do piso salarial é um dos instrumentos para que isso aconteça.

Ao não pagar o piso, o governante - seja ele federal, estadual ou municipal - está contrariando, desobedecendo a legislação federal. Além disso, ao não pagar o piso corretamente na carreira, como manda a lei, os governos contribuem para destruir a carreira do magistério e a própria escola pública. E como consequência disso, ajudam a destruir o sonho da dona Maria e dos seus dois filhos, e de muitas outras Marias, Anas e Joãozinhos.

Por isso, é importante que os educadores, com o apoio da dona Maria, dos seus vizinhos e filhos se juntem numa luta comum pela Educação pública de qualidade para todos, com a valorização dos profissionais da Educação, exigindo do governo do estado (ou federal, ou municipal), o correto cumprimento da Lei do Piso.

Pergunta-se: o que se pode fazer para que a lei seja cumprida? Por que será que os governos não investem na Educação e nos educadores? O que a comunidade pode e deve fazer para exigir os seus direitos, como: Educação pública de qualidade, Saúde pública decente, moradia digna, segurança, lazer, entre outros?

Fonte:Blog do NDG http://blogdondgmg.blogspot.com.br/2012/03/dona-maria-educacao-e-o-piso.html


Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

P.S.: Em breve, uma reunião ampliada dos educadores da Capital e do Interior para discutir as ações do NDG em todo o estado.

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Frei Gilvander:





Nota da CPT / AFES sobre assassinato de sem terra, lideranças do MLST, em Uberlândia (MG)

O tríplice homicídio, que ceifou as vidas de Milton Santos Nunes, 52 anos, Clestina Leonor Sales Nunes, 48 anos, e Valdir Dias Ferreira, 39 anos, líderes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), barbárie realizada dia 24 de março de 2012, clama por justiça. Há muito, os movimentos sociais do campo, pastorais e organizações da sociedade civil vêm denunciando a violência do latifúndio e sua impunidade, na região do Triângulo Mineiro. Não é possível que a vida humana seja considerada como um nada, diante da voracidade do agronegócio e das ações de grupos armados, ligados a latifundiários.

As famílias sem terra do Triângulo Mineiro, e em particular aquelas acampadas na Fazenda São José dos Cravos, estão vivenciando na carne a Semana Santa, que se aproxima com a paixão e morte de Jesus Cristo. O sangue derramado por Clestina, Milton e Valdir, covardemente executados pelo latifúndio, se junta ao sangue de Jesus Cristo e de tantos outros irmãos e irmãs, martirizados por causa de conflitos agrários e dos crimes do agronegócio.

O ser humano tem o direito sagrado a terra, base da vida. Não é justo que famílias fiquem neste nosso país, acampadas sob tensão e em condições inumanas, enquanto sobra terra, nas mãos de uns poucos. Não é justo que monoculturas, como a da cana, se espalhem tomando territórios, para satisfazer as necessidades de lucro dos negócios de mercado. Não é justo que o direito constitucional e a função social e ambiental da terra, não seja aplicado, e não se desapropriem os latifúndios.

Que a ressurreição, já vivida pelos que foram assassinados, venha para os sem terra com a reforma agrária e que se faça justiça em mais essa tragédia na luta agrária, no nosso querido Brasil.

Uberlândia, 28 de março de 2012

Comissão Pastoral da Terra - CPT/Triângulo Mineiro

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES


Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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sexta-feira, 23 de março de 2012

Duas atividades para mobilizar os trabalhadores e os estudantes das escolas de Minas Gerais



Duas atividades para mobilizar os trabalhadores e os estudantes das escolas de Minas Gerais

Havíamos comentado aqui, em texto recente, que seria necessário construir novos mecanismos de mobilização da categoria, que não se restringissem apenas às greves. Claro está, para todos, que as greves constituem importante instrumento de luta dos trabalhadores. Mas, após duas grandes greves no estado - a de 2010, de 47 dias, e a de 2011, de 112 dias, a maior da história de Minas -, faz-se necessário buscar formas diferenciadas de mobilização da categoria. Até porque as greves citadas revelaram que uma parcela muito expressiva da categoria ficou de fora. O que denota que precisamos melhorar a nossa organização de base e o envolvimento da comunidade, como pontos cruciais para a nossa vitória.

Em função disso, e em conversa com o nosso combativo colega Rômulo, já quase recuperado da recente cirurgia, achamos que seria interessante propor para a categoria uma forma de mobilização que envolvesse a todos os colegas e aos alunos também. Já havíamos mencionado aqui o impacto que seria se todas as escolas de Minas (e do Brasil), discutissem, num mesmo dia, um mesmo texto, abordando tema ligado à Educação pública. O Rômulo lembrou que no próximo dia 06 de abril completa-se um ano da decisão do STF, que considerou a Lei do Piso plenamente constitucional e definiu o conceito de piso, como vencimento básico, salário inicial, e não remuneração total. Seria importante discutir com os alunos um mesmo texto, bem simples e objetivo, sobre a Lei do Piso enquanto política de valorização dos educadores e sua relação direta com a Educação pública de qualidade para todos. Mostrar a importância da Educação na vida das pessoas, e como o piso na carreira é parte essencial para se construir um ensino público de qualidade, hoje sonegado pelos estados e municípios. Esta seria uma primeira atividade coletiva, que envolveria todas as escolas de Minas, nos três turnos.

Uma segunda atividade aconteceria por ocasião do Fórum que o MEC deve patrocinar para discutir, com as secretarias da Educação estaduais e municipais, a realidade do piso salarial no país. Seria um momento importante para organizarmos algum tipo de protesto, para ficar evidente, para o país, que o piso não está sendo cumprido em nenhum estado, apesar da propaganda contrária. Não pensei sobre que tipo de protesto ou quais as formas poderíamos realizar para chamar a atenção do Brasil e do mundo para a nossa realidade. Mas, este protesto deve envolver os alunos e os pais de alunos, além dos educadores, claro. A Carta ao ministro Mercadante, que a nossa combativa colega Marly Gribel escreveu poderia se transformar num abaixo-assinado para ser encaminhado ao ministro do MEC. A combativa colega Ivete sugeriu, no Facebook, a colocação de um outdoor, a exemplo do que fizeram os educadores do Paraná. Aguardaremos outras sugestões para voltar ao tema. Há também a proposta do bravo colega Joaquim, de se queimar o diploma em praça pública, ainda que seja simbolicamente, com cópia, para mostrar a desvalorização do profissional da Educação em Minas e no Brasil.

Em relação ao primeiro ato de mobilização, seria importante que todos discutissem o mesmo texto, com ampla liberdade para trabalhá-lo em sala de aula, podendo enriquecê-lo com vídeos, imagens, etc, procurando reservar um espaço significativo para a participação dos alunos. Seria importante que o resultado dessa mobilização aparecesse nas redes sociais, com frases, produção de textos realizada nas escolas, ou mesmo notícias, dando conta do ocorrido em cada unidade escolar do estado.

A proposta de texto não está pronta. Se algum colega desejar escrevê-lo e apresentar como proposta aqui no blog, fique à vontade. Se os colegas concordarem, esta atividade conjunta seria realizada no dia 04 de abril (uma quarta-feira), já que o dia 06 é feriado nacional. Neste caso, o texto teria que ficar pronto no máximo até terça-feira, dia 27 de março, para que todos tenham uma semana, pelo menos, para planejar o trabalho com este texto em sala de aula.

Quanto ao ato de protesto, aguardamos as sugestões. É tempo de construirmos a nossa organização e unidade pela base, envolvendo a comunidade escolar - alunos, pais de alunos e apoiadores -, para que a Educação pública seja salva dos ataques que os governos realizam visando o seu sucateamento. E a carreira e o piso são partes integrantes e essenciais nessa luta. Sem a valorização dos profissionais da Educação, não se pode falar em qualidade do ensino.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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Frei Gilvander:

32 anos do martírio de dom Oscar Romero: profeta e mártir da Teologia da Libertação, das CEBs, da Igreja povo de Deus, da luta por justiça...

Prezada/o amiga/o, amanhã, dia 24/03/2012 celebramos 32 anos do martírio do arcebispo Dom Oscar Romero, de El Salvador. Partilho com você, no link abaixo, um power point, fruto de uma visita que fiz a San Salvador, capital de El Salvador.

clique aqui para ter acesso ao power point

Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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Por e-mail:

Montes Claros, 21 de abril de 2012.

Aos colegas da educação

Eu me chamo Rosi Mary Mendes Trezena, tenho 44 anos e resido em Montes Claros, Minas Gerais. Sou formada em filosofia e atuei como professora no período de 1998 a 2009 na rede pública estadual. Em 2009, fui acometida por uma doença grave (carcinoma mamária - CA) ao afastar para o tratamento conheci a triste realidade de um funcionário público estadual efetivado. De imediato tive o meu salário reduzido para 170,00 (Cento e setenta reais) mensal, o que corresponde as duas aulas que efetivei, mas estava na ativa com 13 aulas. Atualmente, com o subsídio “melhorado” estou recebendo 153,00 por mês. Como vocês sabem bem, o tratamento mesmo realizado pelo SUS tem gastos extras para complementação (alimento, remédios, etc.). Diante de tal situação, abri um processo no Conselho de Administração Pessoal – CAP, fundamentado nos direitos do servidor público que garante o salário integral em caso de doença grave. Foi julgado procedente e publicado no Jornal de MG, no dia 28 de Junho de 2011. Porém, a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado recorreu e minhas expectativas foram frustradas, o Estado ganhou a questão. Enviei uma contra razão ao Excelentíssimo Senhor Governador que acatou a decisão final. Em seguida, fui liberada para voltar ao trabalho, mas com ajustamento profissional, ou seja, fora da sala de aula, pois não consigo mais escrever. Não trabalhei nem um mês e a doença atingiu o baço, fígado, abdômen e pulmão. A minha indignação é: será que sou cidadã somente quando estou com saúde e na hora de votar? Eu sempre acreditei no senso de justiça de Deus e dos homens, mas confesso que hoje, ainda sobrevivo pela justiça de Deus que se faz presente em cada colega que envia doações espirituais e materiais que sustentam também minha mãe e meus dois filhos de seis e onze anos.
Portanto, sinto a necessidade de expor a minha situação para alertar a todos os colegas que efetivaram. Seremos sempre vistos aos olhos da lei pelo número de aulas efetivadas, não importa que estejamos trabalhando com treze ou dezoito aulas, quando buscarmos algum recurso ou aposentadoria teremos as aulas efetivadas como parâmetro dos nossos benefícios. Hoje, agradeço a Deus por cada momento de superação em cada quimioterapia, pelos amigos, colegas, que mesmo com a difícil situação salarial do professor, estes têm contribuído para que eu tenha o mínimo necessário para sobreviver.

E deixo a minha mensagem aos políticos, que elaboram e fazem cumprir as leis: o povo carece de justiça dos homens, que Deus abençoe a todos.

Obrigada!

Rosi Mary Mendes Trezena


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Frei Gilvander:

MASSACRE DE SEM TERRA NO TRIÂNGULO MINEIRO exatamente no dia em que celebramos 32 anos do assassinato/martírio do arcebispo dom Oscar Romero, 24/03/2012.

Três lideranças do Movimento Sem Terra são assassinadas em Uberlândia, Minas Gerais.
Cf., abaixo, Nota do movimento de Libertação dos Sem Terra - MLST.

MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO DOS SEM TERRA - MLST

O MLST DENUNCIA O ASASSINATO DE TRÊS LIDERANÇAS NO TRIANGULO MINEIRO

Ontem, dia 24/03/2012, os companheiros Valdir Dias Ferreira, 40 anos e Milton Santos Nunes da Silva, 52 e a companheira Clestina Leonor Sales Nunes, 48, membros da Coordenação Estadual do MLST no Estado de Minas Gerais, foram executados na rodovia MGC-455, a dois quilômetros de Miraporanga, distrito de Uberlândia. O bárbaro crime aconteceu na presença de uma criança de 5 anos.
Os companheiros e a companheira eram acampados na Fazenda São José dos Cravos, no município do Prata, Triangulo Mineiro/MG. A Usina Vale do Tijuco (com sede na cidade de Ribeirão Preto/SP) entrou com pedido de reintegração de posse apenas com um contrato de arrendamento. Diversas usinas vem implementando na região o monocultivo da cana de açúcar, trabalho degradante e o uso intensivo de agrotóxico e destruição do meio ambiente.
Essa área foi objeto de audiência no último dia 8 de março de 2012, não havendo acordo entre as partes. Dezesseis dias depois da Audiência as três lideranças que tinham uma expressiva atuação na luta pela terra na região e eram coordenadoras do acampamento foram assassinadas.
Trata-se de mais um crime agrário, executado pelo tão endeusado Agronegócio onde a vida e o direito de ir e vir não são respeitados. A impunidade e a ausência do Estado de Direito na região vem causando o aumento da violência e da tensão social.

Os nomes dos companheiros Ismael Costa, Robson dos Santos Guedes e Vander Nogueira Monteiro estão na lista de morte. Solicitamos imediatamente do Governo do Estado de Minas Gerais e da Política Federal proteção às lideranças ameaçadas. Não podemos mais ficar chorando a perda de pessoas, a obrigação do Estado é garantir o direito a vida de sua população, independente de classe social, cor e raça.
Por tudo isso, O MLST reivindica aos Governos Federal e Estadual a constituição imediata de uma Força Tarefa na região do Triangulo Mineiro com a participação efetiva da Ouvidoria Agrária Nacional do MDA, INCRA, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Secretaria da Presidência da República, Ministério da Justiça, Polícia Federal e o Promotor Agrário de Minas Gerais, Dr. Afonso Henrique.
Reivindicamos o assentamento imediato das famílias acampadas na região do Triangulo Mineiro.
Por fim, exigimos a prisão imediata dos fazendeiros mentores intelectuais dos assassinatos, bem como dos executores. Basta de Impunidade. Basta de Violência.

O MLST presta sua última homenagem aos três dirigentes do Movimento no Triangulo Mineiro, clama por justiça e reafirma seu compromisso na luta pela democratização da terra para construir um País mais justo e igualitário.

Viva Clestina Leonor Sales Nunes!
Viva Valdir Dias Ferreira!
Viva Milton Santos Nunes da Silva!

Uberlândia, 24 de março de 2012

Coordenação Nacional do MLST

Frei Gilvander: "Nossa solidariedade às famílias de Clestina, Valdir e Milton, mártires na luta pela reforma agrária. Nosso apoio à luta justa, necessária e sublime pela libertação da mãe terra. Que os jagunços e mandantes sejam presos, julgados e condenados! Não realizar reforma agrária é condenadar os filhos da terra à cruz. O agronegócio cresce às custas do sangue dos trabalhadores e da vida a biodiversidade. Enganam-se os que querem impedir a bala a reforma agrária. O MST cresceu muito após o massacre de Eldorado dos Carajás em 17/04/1996. O MLST se fortalecerá também. Se matam lutadores, muitos outros surgirão para fortalecer a luta. Que o sangue de Clestina, Valdir e Milton - semeado na terra antes do tempo - circule em nossas artérias. Continuaremos a luta deles. Pátria livre! Venceremos!"

Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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domingo, 18 de março de 2012

Como Minas vai provar para Mercadante que já paga mais que o piso, até a chegada do pré-sal



Como Minas vai provar para Mercadante que já paga mais que o piso, até a chegada do pré-sal

Em breve, como tem sido noticiado, acontecerá a importante reunião entre o novo ministro do MEC, Mercadante, e os/as representantes das secretarias estaduais e municipais da Educação. No fundo é uma reunião meio quadrilhesca, já que todos ali, ou quase todos, são cúmplices na prática ilegal e imoral de não estarem cumprindo a Lei do Piso. Mas vão se reunir justamente para discutir o cumprimento da Lei do Piso, que eles não cumprem, mas dizem que cumprem. Se já cumprem, não haveria nem o que se discutir.

Logo, a primeira coisa que deveriam dizer, se fossem pessoas sérias, era isso:

- Caros colegas, devemos reconhecer que não estamos cumprindo a lei federal, que não pagamos o piso, não aplicamos o terço de tempo extraclasse, que não cumprimos os artigos da lei 11.738/2008. Então devemos pedir desculpas aos profissionais da Educação, aos alunos e aos pais de alunos e a toda a população brasileira, pelo mal que fizemos. E devemos, a partir de hoje, cumprir a lei, aplicando-a na carreira que existia (no caso de Minas e de outros estados) e que nós a destruímos para burlar a lei.

Contudo, esperar essa elevada atitude moral dos governantes é mais ou menos como esperar que os deputados abram mão dos seus salários, por pelo menos uns três meses, em prol de alguma causa social. Sejamos então mais realistas e imaginemos como será o diálogo entre os responsáveis pela política educacional do país.

O ministro do MEC pede a palavra e diz:

- Senhoras e senhores, venho aqui em nome da presidenta da República trazer uma mensagem de esperança e de otimismo para com o futuro da Educação no Brasil. Trata-se de uma prioridade do Governo Federal investir cada vez mais e melhor na Educação e na valorização dos profissionais da Educação. Nosso governo planeja reservar uma robusta parte do pré-sal para garantir o financiamento do piso (aplausos acalorados acontecem).

Em seguida, empolgada, pede a palavra a representante do governo de Minas Gerais:

- Senhor Ministro, fiquei encantada com a sua fala. Quero dar o meu testemunho de que em Minas Gerais o governo vem realizando o máximo possível em favor da Educação. Cumprimos até mais do que manda a Lei do piso. Até ontem, pagávamos 85% a mais do que manda a lei. Com o reajuste do piso de 22% para 2012, ainda estamos pagando 51,62% a mais do que o piso. Acreditamos que os professores de Minas, com esta supervalorização, nem precisam esperar pelo aporte extra do pré-sal.

Neste instante, o representante do governo do Pará pede a palavra:

- Prezados, tenho inveja do governo de Minas, que paga o piso com folga, pois afinal é um estado rico. Nós, do Pará, que somos um estado com receitas bem inferiores, estamos penando para conseguir pagar o mínimo necessário exigido pela lei, que é R$ 1.451,00 para o profissional com ensino médio. Nossos professores, com este salário básico de R$ 1.451,00, passarão a receber, como remuneração total, um vencimento próximo de R$ 3.500,00 para quem está em início de carreira. Que inveja nós temos de Minas Gerais, que pagava 85% a mais e agora paga 52% a mais!

Imediatamente, o representante de São Paulo, na guerra de poder existente com o de Minas - pois os caciques dos dois estados sonham com a presidência da República -, dá uma de bobo e espeta:

- De fato, prezados, eu também estou admirado com o desempenho de Minas Gerais nesse campo particular da Educação. Gostaria que a representante deste estado nos dissesse exatamente qual é o salário inicial de um professor em Minas Gerais.

Todas as atenções se voltam para a representante de Minas, que inicia a sua fala com pequenos e proverbiais rodeios:

- Bom, pessoal, o nosso esforço tem sido muito grande, também. Criamos uma nova fórmula no estado que resultou numa remuneração única, mais transparente aos olhos da população. Antigamente, os professores tinham grande dificuldade em calcular seus vencimentos, pois havia vários penduricalhos que atrapalhavam essa compreensão. Uma coisa muito incômoda. Agora não, os contracheques vêm enxutos, com duas linhas apenas, e com valores expressivos, que dá até vontade de voltar a lecionar.

A representante de Minas ia mudar de assunto, mas o de São Paulo insistiu:

- Mas, afinal, quanto é que ganha um professor em Minas Gerais?

- Ah, já ia me esquecendo - disse. Em Minas Gerais pagamos 52% a mais do que manda a lei do piso. Um professor em início de carreira recebe, para uma jornada de 24 horas, o equivalente a R$ 2.200,00 caso tivesse uma jornada de 40 horas.

Nisso o ministro Mercadante, que teoricamente é um economista, e que assistia ao debate sem grande entusiasmo, pediu que a representante de Minas esclarecesse melhor as coisas.

- Afinal, vocês pagam R$ 2.200,00 para a jornada de 24 horas de vencimento básico, ou isso é o salário total.

A representante de Minas desconversou, claro.

- Não, nós pagamos 52% a mais do que o valor proporcional ao piso de R$ 1.451,00.

O representante do Pará, meio irritado, tomou novamente a palavra e insistiu:

- Senhora representante de Minas Gerais, eu estava aqui morrendo de inveja do seu estado e querendo me inscrever para o próximo concurso público de professores em Minas, já que nós planejamos pagar apenas o piso de R$ 1.451,00, e com isso, somando-se às gratificações, o salário dos professores do Pará vai subir para R$ 3.500,00. Agora a senhora disse que paga R$ 2.200,00, o que já me deixou desiludido com a minha pretensão inicial de me mudar para Minas. Mas, acabo de receber um torpedo via celular, de uma professora do seu estado, que diz que o salário bruto dela, que tem curso superior e mais de 10 anos de estado, é de apenas R$ 1.320,00. Isso procede, sra. representante?

A sala ficou um silêncio total. E a representante do governo de Minas tomou um gole d'água e tentou explicar:

- Olha, o valor de R$ 1.320,00 é o salário inicial, entendeu? Ou seja, é para quem está iniciando na carreira agora, hoje, entendeu? E assim mesmo para uma jornada de 24 horas, o que consideramos seja um valor muito atraente e satisfatório. Sem falar que em abril próximo vamos dar mais 5% de reajuste!

Neste instante, os representantes do Rio, Goiás, Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul pedem a palavra e tentam salvar a representante de Minas:

- Parabéns ao governo de Minas, disse o representante do Rio de Janeiro. Nós ainda pagamos um pouco menos do que vocês, mas vamos chegar lá.

- Faço minhas as suas palavras, disse o representante do Rio Grande do Sul, seguido, no mesmo tom, pelos do Ceará, de Goiás e da Bahia.

O ministro Mercadante se dá conta de que Minas se torna o melhor exemplo de cumprimento da lei do piso, já que, pagando apenas R$ 1.320,00 de salário total, o equivalente a dois salários mínimos, paga até 52% a mais do que o piso; e pede à representante do estado que detalhe para os demais colegas como conseguiu essa proeza.

- É simples, senhor ministro e demais colegas. O que eu vou dizer aqui é em off, está certo? Peço-lhes que não revelem para a imprensa, mesmo sabendo que ela é nossa aliada. Enquanto alguns governos entraram na justiça com aquela ADI 4167 pedindo para pagar o piso como remuneração total, nós, lá em Minas, que trabalhamos em silêncio, simplesmente aplicamos o princípio da remuneração total de forma diferente. Para isso, somamos o vencimento básico existente com as gratificações e aplicamos pequeno reajuste, resultando num valor total maior do que o valor proporcional do piso nacional. Entenderam?

O representante do Pará, ingênuo, perguntou:

- Mas pode fazer assim? O STF não determinou que piso é vencimento básico e que é proibido pagá-lo enquanto remuneração total, que era o que os governadores pediam na ADI 4167?

E a representante de Minas explicou:

- Vocês entendem as coisas muito ao pé da letra. Lá em Minas as coisas são diferentes. O STF disse que não podia somar vencimento com gratificações para atingir o valor do piso. Então o que nós fizemos? Acabamos com o vencimento básico e com as gratificações, e criamos uma outra forma de remuneração, o subsídio, entendeu? O valor deste novo modelo é, nominalmente, praticamente igual à soma do vencimento básico com as gratificações, mas a forma como ele se manifesta é diferente, e como ninguém questionou isso na justiça até agora, tá valendo.

Neste instante, o ministro Mercadante, atento ao interessante debate, pegou o celular, ligou para a presidenta Dilma, e disse:

- Presidenta, cancela o projeto do pré-sal que reserva mais verba para a Educação para daqui a 30 anos. Minas acaba de apresentar aqui e agora a melhor solução: como manter o mesmo com a aparência de mais. E nem será preciso esperar 30 anos. Já temos a fórmula pronta para salvar as prefeituras e os governos estaduais.

Diante da descoberta, o governo do Pará já pensa em congelar os salários até a chegada do pré-sal, no mesmo ritmo de Minas. Todos os outros estados se mostraram satisfeitíssimos com o desfecho da produtiva reunião e escolheram a representante de Minas para falar com a imprensa em nome de todos. O ministro do MEC retomou seu discurso sobre a distribuição de tablets, já que a questão salarial estaria resolvida para todo o sempre. E todos saíram dali felizes, diretamente para uma churrascaria, para um suculento rodízio, obviamente bancado com verbas da Educação.

E assim caminha o presente e o futuro das gerações de crianças, jovens e adultos do Brasil, que dependem de uma Educação pública de qualidade. Teriam antes que mudar a qualidade dos políticos que se dizem representantes do povo. Ou simplesmente abolir a representação e instalar uma forma direta de autogestão daquilo que os trabalhadores assalariados produzem. Pois se depender dessa elite brasileira, de diferentes cores partidárias, para valorizar os educadores, como meio essencial para se cumprir a constituição e oferecer ensino de qualidade para todos, estamos perdidos.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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quinta-feira, 15 de março de 2012

A nossa categoria vai renascer para novas conquistas... Apesar das aparências


A nossa categoria vai renascer para novas conquistas... Apesar das aparências


Se alguém tirasse um retrato do cenário atual dos educadores de Minas Gerais poderia pensar que a categoria está fragilizada, desunida, desencantada com a profissão, com o presente e com o futuro. A expressão desta aparência momentânea não deve ser medida pela baixa adesão à greve de três dias, que, como dissemos aqui, já era previsto. Saímos de um confronto de 112 dias contra a poderosa máquina do estado, envolvendo todos os poderes, que se uniram para nos massacrar. Esperar que em tão pouco tempo, com as perdas que tivemos - materiais e emocionais - a categoria se levantaria em massa para aderir a esta paralisação de três dias, apenas, é algo um pouco fora da realidade, pelo menos da de Minas Gerais. Teria sido mais sensato declarar que este não é o melhor momento para realizarmos uma nova paralisação e convocar a categoria para atividades de protesto, sem pressioná-la para que ela aderisse à paralisação convocada pela entidade que se omitiu durante a nossa greve de 112 dias.

Por isso, não considero que a baixa adesão a este movimento reflita a real disposição de luta e combatividade da nossa categoria. Quem apostou no tudo ou nada em relação a esta paralisação precisa repensar a forma de agir e de interagir com o movimento dos educadores.

A nossa principal luta foi travada no ano passado, com a greve de 112 dias, ainda no início do novo governo - com o forte apoio do NDG. Era inevitável travar aquela luta, se não quiséssemos pelo menos tentar conquistar e manter nossos direitos, que estavam - e foram - sonegados. Infelizmente, dadas às condições que conhecemos - a força da máquina do estado, somada à baixa organização e unidade da categoria, entre outros fatores, - fomos derrotados nos nossos objetivos, embora tenhamos dado prova da nossa combatividade e da nossa capacidade de resistência.

Mas tivemos muitas perdas materiais e emocionais. Perdemos o piso, a carreira, tivemos nossos salários reduzidos, a reposição ainda não foi paga, o governo alterou a forma de escolha de turmas sem consultar a categoria, etc. Tem havido, na sequência, práticas que não deveriam existir, como a pressão psicológica de algumas inspetoras sobre os profissionais da Educação nas escolas; a proibição de que os professores possam lanchar e tomar café em algumas escolas; a não contratação de professores; a superlotação em algumas unidades educacionais, a volta das turmas multiseriadas no ensino regular, etc. São práticas que denotam um governo pouco preocupado com a Educação pública, e menos ainda com as realidades dos profissionais da Educação. O governo continua tratando os educadores com descaso, não dialogando seriamente, não ouvindo as críticas, e apostando na divisão da categoria.

É um jogo perigoso por parte do governo, porque seguramente não será possível manter a panela sob essa forte pressão o tempo todo. Em algum momento, ela vai explodir, caso o governo não crie mecanismos sérios de diálogo com a categoria. Como e quando ocorrerá essa explosão? É impossível prever, mas é certo que a categoria dos educadores não aceitará eternamente este processo de pressão.

E isso coloca para a categoria o desafio de repensar o movimento. Se de um lado estamos diante de governos - estadual, federal - com baixa sensibilidade para com a Educação, de outro, estamos com problemas internos, na categoria, para nos organizar, nos unir, nos preparar para travar o bom combate contra os governos.

É preciso retomar a confiança em nós mesmos, na nossa capacidade de resistir, de nos organizar e lutar, de forma criativa. Mas, isso não se faz repetindo os erros do passado recente. A estratégia da direção sindical é a de realizar atividades meio espetaculosas, tipo congresso ou paralisações-relâmpago. Nesta forma de agir, tenta-se provar que a categoria está viva. Mas é preciso ter cuidado para não se provar o inverso, ainda que seja só na aparência.

A nossa categoria precisa retomar o trabalho de base, nas escolas, nos recreios - como bem lembrou a nossa combativa colega Marly Gribel em um dos seus textos - e realizar um trabalho mais intenso com a comunidade. A nossa mais poderosa arma será a adesão da comunidade escolar à nossa causa. Envolver os alunos, os pais de alunos, os moradores da região da escola, para este debate sobre o papel da Educação pública, a necessidade de uma política de valorização dos educadores como parte integrante de um ensino de qualidade, e o descaso dos governos para com a população pobre.

A nossa categoria não pode ser vista como um grupo corporativo, isolado da sociedade, que só pensa nos próprios interesses; é preciso que a comunidade nos veja como portadores de uma causa, de uma luta que é para o bem de todos, inclusive como parte da luta de toda a população pobre, que reivindica moradia, saúde pública, saneamento, transporte público de qualidade, etc.

Precisamos discutir e envolver a comunidade, mostrando-lhe o quanto a nossa luta não é apenas por um salário mais justo - mesmo sendo esta luta legítima - mas, que é parte da busca por uma escola pública que ofereça o melhor para os filhos da população de baixa renda, como principal porta de saída da situação de exploração, ou de miséria, ou de exclusão social.

Acredito que este trabalho se realize no cotidiano, diante das realidades de cada escola, e da discussão coletiva que podemos estabelecer, impulsionada pelas redes sociais da Internet. Mais importante, hoje, do que fazer uma paralisação apressada, com baixa adesão, é conseguir dialogar com a categoria. Sem imposição, sem personalismos, sem hierarquias, até. Um diálogo horizontal, verdadeiro, no qual todas as vozes que queiram participar assumam o seu protagonismo, construindo uma proposta comum, que se torne o nosso programa comum de luta.

A nossa categoria tem um número muito grande de lideranças que podem contribuir com este diálogo. Inclusive as pessoas que estão fora da categoria, pessoas da comunidade, podem contribuir com o debate, já que precisaremos de todos para essa luta.

Já imaginaram, por exemplo, os 190 mil professores discutindo, num mesmo dia, um mesmo texto com os 3 milhões de alunos? Ou os 2 milhões de professores em todo o Brasil? Já imaginaram a força que tal prática provocaria? Tudo em sala de aula, no horário sagrado para o professor e para o aluno, no espaço onde outros sujeitos não podem intervir, a menos que queiram colocar um vigia em cada sala de aula.

Citei esse exemplo apenas de forma ilustrativa, para mostrar o quanto podemos lançar mão de mecanismos criativos para discutir a nossa realidade e buscar soluções coletivas. Nada que venha de cima para baixo, num passe de mágica. Não será o Blog do Euler, nem alguma entidade sindical ou partidária, ou algum ser alienígena quem dirá como e o quê devemos fazer. O importante é que a gente comece a discutir, a botar pra fora o que cada um pensa, até que essa discussão provoque um crescimento de qualidade na nossa compreensão das coisas.

Como consequência desse trabalho, pode ser que a categoria realize uma greve geral, estadual ou nacional, que faça o chão de Minas e do Brasil tremer como nunca antes na história desse país (já ouvi isso em algum lugar, rsrs). Mas, como consequência, a médio prazo, e não como fim em si mesmo.

Além disso, é preciso repensar as nossas formas de luta e mobilização. Não se trata de negar a importância do papel da greve na nossa luta. Mas de não utilizá-la a toda hora, sem uma prévia organização e envolvimento da base da comunidade. Há outras formas de mobilização que podem conseguir resultados imediatos, sem que a categoria tenha que realizar uma greve. Um exemplo? Uma determinada superintendência manda cortar o café e o lanche dos professores. Que tal convocar os pais dos alunos para expor o problema? Explicar-lhes que o estado não paga vale-refeição, e que com o salário que recebemos, menor que o piso nacional, não dá para comprar lanche; e que os deputados, vereadores, e todos os demais da alta cúpula dos três poderes têm verbas de representação altíssimas para alimentação, enquanto os educadores não podem sequer tomar um café e lanchar nas escolas. Não duvido que alunos, pais de alunos, associações comunitárias, lideranças locais, além dos educadores, consigam organizar caravanas para pressionar o governo, seja diretamente na porta das superintendências, ou na Cidade Administrativa, o que não seria nada bom para a imagem do governo. A própria imprensa costuma abrir espaço para este tipo de protesto. Que poderia ocorrer também na Câmara de Vereadores, ou na porta do Ministério Público, por exemplo.

Na questão do nosso piso, estou convencido, como já disse aqui, que o governo federal precisa entrar em cena. Podemos e devemos entrar com ação na justiça, apresentar representação junto ao MPF, etc., mas, se desejarmos conquistar o piso na carreira num tempo mais curto, o caminho que me parece mais viável é o de pressionar o governo federal. A presidenta Dilma prometeu em campanha investir na valorização dos educadores; a maior fatia dos impostos arrecadados está nas mãos do governo federal. E uma pressão mais direta sobre o governo federal poderia forçá-lo ou a resolver a questão com a federalização da folha de pagamento dos educadores, ou a cobrar dos estados o cumprimento da lei do piso. O governo federal dispõe de poder de barganha e mecanismos para fazer essa cobrança. Só não o faz por uma questão de prioridade - ou de não prioridade da Educação. Com as bênçãos da CNTE e da CUT, que focam a cobrança do piso apenas nos estados e municípios, levando-nos à derrota.

Enfim, colegas de luta, eram essas as considerações, neste início de madrugada, que desejava trazer para a reflexão. Quero concluir dizendo o seguinte: de maneira alguma a nossa categoria está derrotada, tendo como recorte ou referência apenas essa paralisação de três dias. Somos um exército poderoso, um pouco adormecido e machucado, momentaneamente, mas que pode e deve se erguer, e marchar novamente, como em outros tempos, arrancando dos governos nossos direitos sonegados.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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Frei Gilvander:

Wiliam dos Santos está no CTI do Hospital Vera Cruz em Belo Horizonte.

Hoje à tarde, sexta-feira, dia 16/03/2012, eu visitei o Wiliam dos Santos no CTI do Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte. Ele é advogado popular e presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB/MG, um grande defensor dos pobres, abnegado na luta por justiça. Na madrugada de 2f (dia 12/03), Wiliam foi ao hospital dirigindo seu automóvel, mas chegando lá constatou-se que estava com pneumonia e teve que ser internado na hora. Hoje, ele está com pneumonia e complicações renais. Está sedado. Conversei com o pai dele, um irmão e uma irmã. O médico dele disse que o quadro clínico dele ainda é grave, mas estão tentando debelar a pneumonia e superar a crise renal, mas "isso leva tempo", arrematou o médico. "Wiliam cuidou tanto dos pobres e esquecia de cuidar de si mesmo", disse o médico. Ele está fazendo diálise 4 horas por dia. Logo, precisa de muitos doadores de sangue. Quem puder doar sangue, favor se dirigir ao Hemobel, rua Ceará, 195, Santa Efigênia, BH, tel.: 31 3218 1300. Doar sangue para Wiliam dos Santos.

Desde já, agradecemos, de coração.

Abraço terno. Frei Gilvander Moreira.

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Carta de frei Gilvander contra a Transposição do rio São Francisco.

(Essa carta de frei Gilvander Luís Moreira a Fernando Valença foi publicada no livro Trans Posição Francisco, organização de Julio Meiron, Márcia Vaitsman, Evandro Carlos Nicolau, Luzi Mizukami, Jarbas Galhardo e Paula Tubelis, São Paulo: Ed. Editorial, 2009, p. 65-72.)

Belo Horizonte, 15 de fevereiro de 2009

Prezado Fernando Valença,

Li alguns “artigos“ seu no sítio do Ministério da Integração Nacional defendendo o projeto de transposição de águas do rio São Francisco. Em um deles, você diz que “o Projeto São Francisco não tem defeito! De nenhuma natureza! É a obra de engenharia mais bem bolada que o ser humano fez até o presente, em matéria de transposição de água! Ninguém pode apontar imperfeição/erro, nele! Ao contrário, porque é a perfeição em matéria de Engenharia hídrica!“

Essa sua afirmação e outras no mesmo nível me levaram a escrever-lhe esta carta.

Assim como você, fui criado no Semi-árido, não o nordestino, mas o mineiro. Fui criado em Arinos, noroeste de Minas. Tirei muita água na cisterna, no braço, tocando um saril que trazia o balde para cima, cisterna de 22 metros de profundidade. Quando a cisterna secava, buscávamos água na grota da Onça. Quando esta secava, buscávamos água no rio Claro (que cai no rio Urucuia, um dos grandes afluentes do Velho Chico), no ombro, no jegue, à cavalo. Tomei muito banho em dois litros de água na bacia. Logo, Fernando, senti na minha própria péle o que é sobreviver no semi-árido, na escassez de água. Aprendi a ter encantamento, respeito e veneração pelas águas.

Caro Fernando, dedico minha vida e meu sacerdócio acompanhando Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, a Comissão Pastoral da Terra – CPT -, Pastorais Sociais e a Via Campesina. Lutamos por justiça social, por reforma agrária e pela construção de uma sociedade sustentável. Animado pela Campanha da Fraternidade de 2004 – Água, fonte de vida – nós da Paróquia N. Sra. do Carmo, de Belo Horiozonte, juntamente com as organizações, acima citadas, abraçamos a defesa de mananciais de abastecimento público, especificamente lutamos contra a mineração de Capão Xavier, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, onde há quatro mananciais que abastecem dez por cento da capital mineira. Lamentavelmente a VALE está, de forma autoritária e ao arrepio das leis ambientais, minerando Capão Xavier e, conforme o EIA-RIMA causará uma redução na vazão dos mananciais da ordem de quarenta por cento. Estamos também participando do mutirão para a construção de um milhão de cisternas no semi-árido. Isso tudo nos levou a abraçar a luta contra o projeto de transposição do rio São Francisco. Vivo, hoje, na bacia são-franciscana. Já morei no Pernambuco e fiz missões em vários municípios do sertão paraibano.

Seguimos a trilha do bispo dom Flávio Cappio que tem santa autoridade para questionar este faraônico e estúpido projeto. Frei Luiz ouve, há mais de trinta anos, os clamores do rio São Francisco, do povo pobre da bacia são-franciscana e do semi-árido nordestino. Ele é um profeta na luta em defesa da vida do rio São Francisco e do seu Povo. Feliz de um povo que ouve a voz dos seus profetas. Temos assessoria jurídica muito boa. E estamos bem calçados pelo parecer de hidrólogos, geólogos, doutores em recursos hídricos, sociólogos e em sintonia com a sabedoria popular do povo ribeirinho que é empobrecido assim como o povo nordestino do semi-árido. Assim, gostaria de elencar, abaixo, uma série de argumentos que moveram Dom Cappio a fazer duas greves de fome contra o projeto de transposição do Velho Chico e que nos move a continuar firmes na luta pela paralisação das obras de transposição, antes que seja tarde demais.

Fernando, a maior devastação ambiental da história do Brasil está em curso. A obra de Transposição de águas do rio São Francisco é algo muito grave que está acontecendo no Brasil. O governo federal do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se nega “com unhas e dentes” a um diálogo franco e transparente sobre o projeto. O poder midiático compactua com o Governo Federal e não abre espaço para que um debate autêntico seja feito.

O geógrafo Aziz Ab’Sáber[1], no artigo “A quem serve a transposição?”, pondera: “O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa do Araripe – com grande gasto de energia! -, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria”,

Fernando, é muito sensato o voto de Ayres de Brito pela suspensão da obra de transposição. Ele foi voto vencido no plenário do Supremo Tribunal Federal – STF -, em 19/12/2007, ocasião em que o STF autorizou o reinício das obras. No seu voto, Ayres declarou: “Se formos aplicar o princípio da precaução, as obras da Transposição teriam que ser paralisadas. Se uma pessoa está doente, não pode doar sangue. Decisões de tal envergadura deveriam ser discutidas pelo Congresso Nacional”, conforme exigência constitucional.

Concordamos com Dom Cappio, quando diz: “O Rio São Francisco é o grande fator de vida da população. É aquele que garante a vida de milhões de nordestinos. Por isso chamado de Pai e Mãe de todo um povo. A vida do povo depende da vida do rio. Se o rio estiver bem, com saúde, o povo também gozará de saúde. Se o rio ficar doente, como se encontra hoje, o povo também sofrerá as conseqüências. E se o rio vier a morrer, o povo morrerá com seu rio. A vocação do Velho Chico é a de servir, gerar vida. Mas “anêmico não doa sangue”. Se quisermos que o Velho Chico continue sendo gerador de vida para milhões de brasileiros do Semi-Árido, é necessário que antes de tudo seja revitalizado.“

Num testemunho profético, frei Luiz pondera: “Cheguei aos sertões baianos do São Francisco, há 33 anos atrás, e logo me identifiquei com o rio. Dia após dias, nestes anos todos, fui observando a degradação ambiental e social do Rio São Francisco e de seus afluentes. Os ribeirinhos diziam das dificuldades crescentes em tirar das águas seu sustento: peixe escasso, vazantes menos produtivas, bancos de areia, navegação difícil, águas poluídas, rasas ... Em um ano de peregrinação, em 1992, das nascentes à foz do Velho Chico, ficou evidente que seus principais problemas são o desmatamento, para as monoculturas e as carvoarias, que diminui os mananciais e provoca o assoreamento; a poluição urbana, industrial, minerária e agrícola; a irrigação, que além dos agrotóxicos, consome águas; as barragens e hidrelétricas que expulsam comunidades, impedem os ciclos naturais do rio e comprometem 80% de suas vazões com a energia elétrica; a pobreza e o abandono da população, a que mais sofre com as conseqüências destes abusos.“

Prezado Fernando, no artigo “testemunho acerca do bispo Dom Cappio, Leonardo Boff, teólogo da libertação, assevera: “O governo bolou o seu projeto, enfiou-o goela abaixo no povo, inventou audiências, discussões no Congresso que nunca houve (perguntei a vários deputados que negaram absolutamente que houve tal discussão). Não tomou em conta a opinião da comunidade científica como a de Aldo Rabelo, nosso maior cientista em águas, Ab’Saber e de outros do próprio Nordeste, não considerou a proposta da ANA (Agência Nacional de Águas) que fez o Mapa de Águas do Nordeste com a proposta de abastecimento urbano (omitiu a inclusão da área rural) envolvendo 34 milhões de pessoas (a do governo apenas 12 milhões) beneficiando mais de 1300 municípios (o do governo são algumas centenas) a um preço que é metade daquele orçado oficialmente (cerca de 6 bilhões de reais contra 3,6 da ANA), não incluindo o que já está em curso – o projeto da ASA (Articulação do Semi-Árido) - com a construção de um milhão de cisternas (já se construíram 200 mil) num projeto inteligente (2 em um: duas cisternas, uma para beber, outra para irrigar e um pedaço de terra). Uma audiência propalada pelo governo foi feita na quinta-feira de carnaval (imagine o carnaval da Bahia...) num hotel cinco estrelas, em Salvador, a 800 km do rio S. Francisco. Quem iria participar desta audiência? É pura formalidade....E assim outras atitudes autoritárias vindas de cima, desconsiderando a acumulação feita pelas comunidades, com discussões impositivas, cooptação de lideranças comunitárias e políticas.....algo, portanto, nada democrático. Os que vivem na região conhecem suas elites econômicas, os interesses das grandes empreiteiras, os planos do agronegócio de exportação, e a parca destinação, apenas 4% da água para a dessedentação humana e animal.”

Caro Fernando, faço questão de citar também um nordestino, doutor em semi-árido. No artigo “TRANSPOSIÇÃO: uma análise cartesiana”, Manoel Bomfim Ribeiro[2] demonstra que „“o Nordeste já possui um grande manancial de água construído pela tenacidade do homem do Nordeste. É um grande cubo de 37 quilômetros cúbicos de água armazenados nos milhares de reservatórios espalhados por todos os quadrantes do Semi-Árido. Falta apenas uma grande e potente rede de adutoras para levar essa água a todos os recantos desta grande região. Essa rede já começou, faltando tão-somente dotações e recursos para o aceleramento das obras. Essas adutoras independem do canal da Transposição porque as águas já estão acumuladas nos seus reservatórios... No ano de 2001, uma consulta ao BIRD[3] feita pelo Ministério da Integração Nacional sobre empréstimo para a Transposição, recebeu uma resposta negativa, aconselhando aquele Banco que se fizesse primeiro o aproveitamento das águas já existentes no Semi-Árido. Um bolo de palmatória. Por essa razão, essa mega obra não possui recursos externos. A partir de 2004 é a história que conhecemos. Houve muita discrepância de projeto quanto aos volumes a transportar. De 300m³/s mudaram para 260, 145 127, 64, 26, e por aí vai. Uma total incerteza do que pretendem, uma falta de análise aprofundada. O mais recente é transportar 64m³/s, mas a estrutura concebida e projetada é para 127m³/s, ou seja 2,1 bilhões de m³/ano. Vale lembrar que numa só noite chuvosa, com precipitação de 700 mm num terço do Semi-Árido (300.000 km²) desabam sobre esta superfície exatamente 2,1 bilhões de m³ de água, o volume que querem levar com tanto trabalho e despesas. Isso é realidade, não é sofisma. No meu livro, recentemente publicado, A POTENCIALIDADE DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO, detalhamos os caminhos das águas que irão ser transportadas pelos canais. Serão despejadas em oito açudes que já detêm 13 bilhões de m³ de água nos seus bojos. O total, entretanto, que o Semi-Árido já acumula é de 37 bilhões de m³ de água, que, segundo o governo, não resolveram o problema hídrico da região. Agora, entretanto, vai ser resolvido com 2,1 bilhões. Tenham a santa paciência! Isso é uma afronta aos técnicos do País, uma total falta de respeito aos engenheiros do Brasil. Até o leigo, até o analfabeto não entende porque 2,10 bilhões de m³ vão abastecer 12 milhões de habitantes e os 37 bilhões não abastecem. Ridículo.”

Fernando, desculpe, mas Manoel Bomfim tem muitos outros argumentos contra a Transposição. Diz ele: “Trata-se de uma obra inócua e desprovida de significado, pois que o Nordeste Setentrional, penhoradamente, agradece e dispensa as águas do rio São Francisco, por total e absoluta falta de necessidade, uma vez que já acumula, somente nos oito grandes açudes, 13 bilhões de metros cúbicos de água, (cinco vezes e meia a Baía da Guanabara), exatamente os oito açudes plurianuais que irão receber os magros 2 bilhões/m³ anuais (127m³/s) aduzidos do canal da Transposição. A evaporação anual dos 13 bilhões é da ordem de 4 bilhões, o dobro da água que vai chegar do rio. Mais ainda, os três estados mais ávidos por mais água, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará já acumulam nos seus imensos reservatórios 26 bilhões de metros cúbicos, 70% das águas reservadas no Semi-Árido brasileiro, 11 vezes as águas da baia da Guanabara. Pela vulnerabilidade desse grande Projeto, numa análise cartesiana, somos levados a pensar que ele não resistirá a uma travessia administrativa e pode morrer na praia.“

Caro Fernando, você deve conhecer João Abner Guimarães Júnior[4], que em inúmeras entrevistas sobre a transposição de águas do Rio São Francisco, sendo um perito no assunto, arremata: “Transposição é um projeto politicamente inconseqüente, economicamente inviável, socialmente injusto e ecologicamente covarde. Bastaria qualquer uma dessas três condições ser verdadeira para justificar o abandono do projeto. A transposição é politicamente inconseqüente porque gera um conflito na federação brasileira e nos estados do Nordeste que será permanente, com tendência a se agravar - uma briga pelo uso da água. No momento em que se tira água da bacia do São Francisco para levar para o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte (os estados receptores), uma injustiça é cometida com o povo doador (alagoanos, baianos, mineiros, pernambucanos e sergipanos) que possui disponibilidade hídrica de 360 metros cúbicos por segundo (m³/s) para abastecer uma população de 13 milhões de pessoas. No Ceará, por exemplo, a disponibilidade per capita é melhor: 215 m³/s para 7,5 milhões, sendo que fenômeno semelhante acontece também com o Rio Grande do Norte. Outro aspecto fundamental é que, na bacia do rio São Francisco, 335m³/s dos 360m³/s de água disponível já estão comprometidos. Portanto, os 25m³/s que o governo diz que vai tirar, não é pouco, mas sim o que resta de água ainda não outorgada no rio. Esse número de 1% (o governo alega que vai retirar apenas essa quantidade) é relativo a vazão média na barragem de Sobradinho, mas essa não é uma boa referência. Deve-se trabalhar com a vazão firme (aquilo que é garantido que o rio vai ter, mesmo em períodos de seca), que é de 1.860m³/s. Desses, apenas 360 estão disponíveis. O resto, 1.500m³/s, já é utilizado para a produção de energia elétrica. E essa água tem uma função importantíssima. 95% da energia do Nordeste é de fonte hidráulica - uma fonte barata. É um erro dizer que o São Francisco está jogando água no mar. Esta água tem uma função importante como geradora de energia. É daí que vem o segundo conflito gerado pela transposição. Um conflito nacional. Como o sistema CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) já está funcionando no seu limite, a transposição vai implicar uma mudança muito grande na matriz energética no Nordeste uma vez que será necessário trazer energia de fora ou gerá-la por meio de termoelétricas, o que polui mais e é mais dispendioso. Além disso, terá que se produzir energia para a transposição e para os usos da nova água nos estados receptores; para não falar da água que vai ser retirada com a transposição. A implicação disso tudo é um aumento de custo da energia elétrica em todo o sistema nacional.”

Prezado Fernando, precisamos ouvir também outro nordestino: João Suassuna[5], que no texto “Transposição do rio São Francisco: Caneco de ouro” informa: “diante do potencial hídrico existente na Região, os técnicos da SBPC recomendaram, em reunião no Recife, em agosto de 2004, que se procedesse à construção de uma infra-estrutura hidráulica capaz de atender às necessidades da população, partindo-se das bacias dos estados que seriam receptores das águas do rio São Francisco (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba), para as bacias dos estados exportadores (Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais), isto é, de jusante para montante, priorizando-se o acesso às águas das represas, dos poços, cisternas rurais, barragens subterrâneas, etc., fontes estas detentoras de volumes capazes de suprir, até com certa folga, as necessidades diárias da população nordestina, bastando, para tanto, proceder-se ao indispensável gerenciamento desses recursos.”

Fernando, não podemos esquecer também dos direitos dos povos indígenas e quilombolas. O projeto de Transposição atinge de forma violenta ainda, direta ou indiretamente, mais de 40 comunidades indígenas e 153 comunidades quilombolas localizadas nas regiões da bacia do Rio São Francisco, tornando-o totalmente inconstitucional, uma vez que não foram consultados os próprios indígenas e muito menos tramitou pelo Congresso Nacional, instância responsável para dar autorização ou não.

Fernando, não acredite na propaganda do Governo Federal. É enganosa. A verdade é que a transposição atende primeiramente aos interesses de grupos do agronegócio e das indústrias e em seguida às necessidades do povo sofredor, o que configura falta de equidade. Os dados falam por si: 70% da água deve ser destinada a projetos de irrigação, 26% para a indústria e abastecimento urbano e 4% para populações rurais do Semi-Árido. Fernando, atenção! Não se irrite! Esses dados estão escritos no Projeto. É só ler na íntegra o projeto. Não podemos ler somente a peça publicitária de Ciro Gomes e Geddel.

Fernando, imagino que você já deve estar nervoso. Tenha calma. Ouça só mais um pouquinho. Estou terminando. Para arrematar, digo: a transposição começou, mas não irá muito longe, nem muito menos terminará, pois é um projeto inviável economicamente, ilegal e imoral segundo as leis ambientais e segundo a Constituição de 1988, injusto eticamente, politicamente autoritário e ecologicamente insustentável. A história julgará o Presidente Lula e os apoiadores deste insano e covarde projeto, a obra mais cara da história do Brasil. Um camponês do Ceará disse: “Projeto grande, faraônico, não beneficia os pequenos. O que beneficia os pequenos são projetos pequenos, multiplicados aos milhares”.

Nosso projeto é muito maior. Queremos água para 44 milhões, não só para 12. Para nove estados, não apenas quatro. Para 1356 municípios, não apenas 397. Tudo pela metade do preço. O Atlas e as iniciativas da ASA (sociedade civil) são muito mais abrangentes e têm finalidade no abastecimento humano.

Caro Fernando, não deu para ser mais conciso. Se os argumentos, acima arrolados, não forem o suficiente, sugiro a leitura do livro Dom Cappio: Rio e Povo, que organizei, Co-ed. CEBI-CPT e Diocese de Barra, São Leopoldo, RS, 2008. Lá estão 57 pequenos textos de 23 intelectuais orgânicos.

P.S.: Concordo inteiramente com os argumentos de Vitorio Rodrigues de Andrade, de Petrolina, PE, exposto em carta enviada a Otávio Carvalho.

Assim sendo, com todo respeito, manifesto minha posição contrária ao projeto de transposição de águas do rio São Francisco. O Rio, a biodiversidade e o povo agradecem.

Sem mais para o momento, um abraço terno,

Atenciosamente

Frei Gilvander Luís Moreira[6]

[1] Tomo a liberdade de identificar algumas pessoas que serão citadas nessa carta para que não paire dúvida sobre a idoneidade delas. Aziz, por exemplo, é Professor-Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e Professor Convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP.

[2] Engenheiro civil, com especialização em Geologia e hidrologia; ex-diretor do DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra a seca -; ex-secretário geral do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; ex-diretor da CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco -; ex-consultor da OEA – Organização dos Estados Americanos; conselheiro da Fundação Franco-Brasileira de Pesquisa e Desenvolvimento (FUBRÁS); membro do Instituto do Sol, cidadão honorário em 27 municípios do Semi-Árido. Autor do livro A Potencialidade do Semi-Árido Brasileiro (O Rio São Francisco: Transposição e Revitalização, uma análise), Brasília, 2007. “Livro imprescindível para compreender o Semi-Árido, seu povo, sua riquíssima biodiversidade e uma imensa riqueza cultural”, diz Dom Cappio.

[3] Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento.

[4] Engenheiro civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do curso de engenharia civil da UFRN. Entre 2003 e 2004, Abner exerceu a função de diretor-geral do Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte.

[5] Engº Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.

[6] Mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia Bíblica, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT -, de Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, de Pastorais Sociais e da Via Campesina. E-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br

Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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domingo, 11 de março de 2012

Uma semana de protestos, manifestações e paralisações



Moradores de rua. Vale a pena ver esta entrevista feita por Frei Gilvander com um dos coordenadores do Movimento Nacional de População de Rua, Samuel Rodrigues.



Uma semana de protestos, manifestações e paralisações


A semana que se inicia deve mobilizar educadores de todos o país, pelo pagamento do piso salarial nacional, pela carreira e por mais investimento na Educação pública. A CNTE, confederação que teoricamente representa os educadores, com o apoio de vários sindicatos associados, chamou a paralisação de três dias, entre 14 e 16 de março de 2012. Como eu disse na entrevista, trata-se de uma paralisação um pouco tardia, que deveria ter acontecido em 2011, assim mesmo por tempo indeterminado, fortalecendo e dando visibilidade às greves que ocorreram nos estados. Em Minas Gerais, por exemplo, ficamos 112 dias de greve.

Nestes três dias, em Minas Gerais certamente haverá paralisações e também outras formas de protesto, já que nem todos estão dispostos a parar, seja pelo desgaste da última greve, com enormes perdas financeiras, materiais e emocionais; seja por discordar da direção que é dada ao nosso movimento; ou mesmo por não enxergar resultados práticos para uma paralisação deste tipo. A greve é nacional, mas as cobranças estão voltadas contra os governos estaduais e municipais, poupando o governo federal, que para mim é o grande omisso dessa história. Não haverá valorização dos profissionais da Educação se o governo federal não entrar em cena de forma decisiva, e não apenas com discursos, promessas de pré-sal e ofertas de tablets. Estamos cansados dessa demagogia.

Meu posicionamento já é conhecido, pois expressei aqui no blog. Participei intensamente da greve de 47 dias em 2010, e da greve de 112 dias em 2011. Em parte, já me recuperei das perdas materiais e também emocionais. Mas não vou aderir à paralisação de três dias. Não por temor ao corte salarial de três dias, que não me deixaria mais pobre financeiramente do que tenho estado no último meio século de vida. Mas por discordar da forma como a paralisação foi convocada, sem ouvir a base das categorias nos estados, sem discutir os objetivos a serem alcançados, a estratégia de mobilização e luta, sem envolver a comunidade nesta luta. Talvez eu esteja ficando velho demais, emburrado, teimoso em não querer seguir o que outros decidem em meu nome. Ainda mais quando considero equivocada a direção dada.

Mas respeito a todos os que participarão desta paralisação. Cada qual tem sua forma de pensar, de analisar o mundo, o contexto, e decidir de forma amadurecida. Muito provavelmente, além da paralisação, haverá outras formas de protesto, como algumas que já foram mencionadas aqui no blog, como: educadores que vão trabalhar com roupa de protesto; ou se reunirão com os alunos e seus pais para discutir a nossa realidade; ou farão panfletagem com material próprio.

Os governos de Minas e do Brasil sabem que os educadores não estão satisfeitos, e nem precisa fazer uma paralisação de dois ou três dias para mostrar isso para os governos ou para a comunidade. Pode ser até que este tipo de paralisação, caso não receba grande adesão nacional, sirva apenas para que os governos declarem que a maioria está satisfeita. Claro que não está satisfeita. Mas essa paralisação não foi preparada para ter adesão de massa, para enfrentar verdadeiramente os governos, especialmente o governo federal em Brasília. Ela foi feita para que as direções sindicais mostrem que estão fazendo alguma coisa, mesmo que não seja a coisa certa a se fazer.

A primeira atitude séria que deveria se fazer é abrir um debate franco com a categoria. Não um congresso de cartas marcadas, mas um diálogo horizontal com a base da nossa categoria. Inclusive estimulando esta mesma prática nos demais estados. Ouvir a base antes de chamá-la para uma paralisação deveria ser o primeiro passo a ser dado. Mas não dá para esperar tal prática de uma direção sindical que não tem esse costume, e que se julga dona do movimento.

Mas estou convencido - e posso estar equivocado - de que não existe solução para a Educação pública no âmbito dos estados e municípios. Os educadores são sempre a maioria dos servidores públicos, e os governos se recusam a investir adequadamente nesta área, pois isso retira dinheiro das prioridades que estes governos assumem durante as campanhas eleitorais com seus financiadores.

Enquanto a Educação básica e a política de valorização dos educadores não se tornarem uma causa nacional, uma política de estado, não haverá horizonte para o magistério. Podemos até conquistar uma coisa aqui, um reajuste ali, mas não demorará muito para que os governos conspirem contra os profissionais da Educação, e retirem as nossas conquistas.

A Lei do Piso para mim foi o maior exemplo de como as elites políticas deste país - aí envolvendo parte das direções sindicais, que foram cúmplices dos governos neste processo - são capazes de criar expectativas para iludir um segmento fundamental, como o dos educadores, que reúne três milhões de almas. Fomos enganados por essa turma, ficamos na esperança de dias melhores com o piso, e perdemos a carreira com a cumplicidade e a omissão de todos os partidos e governos envolvidos nessa trama.

Por isso, penso que a categoria tem que rediscutir nossas bandeiras de luta, nossas formas de organização, de comunicação, de mobilização, e principalmente de envolvimento da comunidade, sem o apoio da qual nossa causa estará perdida. A Educação básica precisa se tornar uma causa nacional, não no discurso, mas com atos concretos, como: um plano de carreira nacional, com piso salarial decente, jornada de trabalho com um terço ou mais de tempo extraclasse, política de progressão e reajuste salarial que dê à nossa carreira do magistério o tratamento que faça jus à importância que atribuem à Educação.

Fora deste horizonte, vejo que é preciso nos organizar para reivindicar alguns direitos imediatos em Minas Gerais, inlusive na justiça, como: recuperar as perdas ocorridas em 2011 com a redução salarial; exigir o pagamento integral das reposições; exigir o retorno do direito às férias-prêmio; exigir a implantação do terço de tempo extraclasse, exigir que seja dada primazia da escolha de turma pelos professores efetivos - reconhecendo aos efetivados outros direitos na carreira que o governo tirou -, e na justiça, ingressar pedindo a implantação do piso na carreira.

Que a categoria aproveite estes dias de luta, de protestos, de paralisação ou de reflexão para discutir os novos passos que precisam ser construídos, buscando sempre a unidade da categoria pela base e com o envolvimento da comunidade.

Um forte abraço a todos e todas e força na luta! Até a nossa vitória!

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Frei Gilvander:

EMBRAPA A SERVIÇO DA MONSANTO E DAS TRANSNACIONAIS?
Por Gilvander Luís Moreira[1]

Em tempos de Campanha da Fraternidade sobre saúde pública – CF/2012 -, a EMBRAPA[2] pediu liberação do herbicida Glifosato também para a cultura da mandioca. Essa é uma lamentável notícia que exige, no mínimo, sete breves comentários.

1 - A EMBRAPA é uma das empresas públicas que mais recebem dinheiro das transnacionais para investimento em pesquisas, melhor dizendo, aperfeiçoamento tecnológico na produção agropecuária. Um ditado popular diz: "quem paga a banda, escolhe a música", ou seja, grande parte das pesquisas feitas pela EMBRAPA no último período tem sido para beneficiar as grandes empresas do ramo de agrotóxicos, como a própria MONSANTO que no ano de 2010 passou para a EMBRAPA nada menos que R$ 5,9 milhões para investir em pesquisas para os próximos 3 anos (2011, 2012 e 2013).

2- O Glifosato é um herbicida sistêmico não seletivo, ou seja, mata qualquer tipo de planta, exceto aquelas geneticamente modificadas para resistir ao glifosato, como é o caso das plantas (soja, por exemplo) com a marca RR (Roundup Ready), produzida pela MONSANTO. Um dos agrotóxicos mais vendidos pela Monsanto no país é o Roundup, que tem como principal ingrediente o glifosato.

3 - O uso massivo do glifosato tem provocado a aparição de resistência por parte de algumas plantas, levando a um aumento progressivo das doses usadas, e assim a uma desvitalização e perda de fertilidade da terra, afinal o herbicida elimina também, bactérias que são indispensáveis à regeneração do solo e manutenção de sua fertilidade. Este processo faz com que a cada dia aumente o uso de fertilizantes químicos, que alimentam as plantas e não fertilizam a terra, aumentando ainda mais o ciclo vicioso. Só no ano passado (2011), as importações brasileiras de fertilizantes (20,7 milhões de toneladas) somaram um gasto de 9,1 bilhões de dólares. Quem está mesmo ficando com os lucros e quem está ficando com os prejuízos?

4 - Rubens Onofre Nodari, agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutor pela University Of California At Davis, professor na UFSC, afirma que além dos problemas no meio ambiente, o glifosato traz problemas à saúde pública, como o aumento da incidência de certos tipos de câncer e alterações do feto por via placentária. Reduz a produção de progesterona e afeta a mortalidade de células placentárias atuando como disruptor endócrino, ou seja, ele aciona genes errados, no momento errado, no órgão errado. O glifosato também causa, por exemplo, diminuição da produção de espermas, conforme vimos em experimentos feitos em ratos, ou produz espermas anormais. No caso do sistema endócrino, ele pode, por exemplo, inibir algumas enzimas. Ele vai alterar os hormônios que entram na regulação da expressão gênica.

5 - Desta forma vemos que a EMBRAPA, criada no início da década 70 do século XX, em plena ditadura, pelo então presidente Médici (que já fazia parte das estruturas criadas para dar suporte à imposição da chamada "Revolução verde", agricultura altamente mecanizada, que por sua vez impôs sobre a agricultura o lixo da 2ª Grande Guerra, incluindo, além de máquinas pesadas, armas químicas que foram transformadas em agrotóxicos) segue ainda hoje cumprindo o papel de criar condições para o avanço do Capital na agricultura, na qual umas poucas empresas lucram, melhor dizendo, furtam, e o conjunto da sociedade fica com os problemas gerados, sejam eles sociais, ambientais e até mesmo econômicos. Injustamente é a estrutura do Estado, que se diz Democrático de Direito, atuando em favor do Agronegócio e consequentemente em favor do beneficio das empresas transnacionais que dominam a produção e comercialização de agrotóxicos.

6 - Vamos deixar o Brasil se tornar a maior lixeira tóxica do mundo? O Brasil já é o campeão mundial no uso e consumo de agrotóxico. Confira o Filme-documentário “O Veneno está na mesa”, do diretor Sílvio Tendler. Por esse motivo, o deputado federal Padre João (do PT) está travando uma batalha na Câmara Federal contra o uso de agrotóxicos.[3]

7 – É inadmissível que a EMPRAPA continue com projetos de melhoramento na produção agropecuária que fortalecem os projetos das empresas transnacionais, agridem o meio ambiente e adoecem o povo brasileiro. A coluna mestra da EMBRAPA deve ser pesquisar nas áreas de agricultura familiar, com adubação orgânica. A EMBRAPA precisa assimilar em todas suas pesquisas o paradigma da Agroecologia. Só assim estará contribuindo para que a saúde se difunda por todo Brasil.

Enfim, quase todos os venenos devem ser proibidos. O uso deles só é tolerável como exceção e não como regra geral, o que lamentavelmente vem acontecendo. Roundup e muitos outros agrotóxicos são desenvolvidos para matar, não fazem parte da ética da vida. Há uma aliança macabra não confessada entre o agronegócio e a indústria farmacêutica. Produz-se alimentos envenenados para adoecer as pessoas e, assim, jogá-las nas garras da indústria farmacêutica que é a segunda que mais lucra, melhor dizendo, furta - após a indústria bélica. Em nome da Campanha da Fraternidade sobre Saúde Pública repudiamos a liberação do glifosato para a mandioca e todos os seus derivados.

[1] Frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor Teologia Bíblica; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira

[2] Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

[3] Acompanhem mais informações no site do mandato: www.padrejoao.com.br

Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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